Blog de João Victor Tavares Sampaio

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Senso Comum - Parte 1

- Toma. Vai te fazer bem.
- Eu não quero me dopar.
- Toma. Fez bem pra mim.
- Eu não estou com vontade.
- Toma. Você não tem escolha.
- Não tomarei.

Assim perdi o que os abençoados chamam de liberdade.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro – Capítulo 6

- Setembro – Capítulo 6

Em certas realidades
Você não pode ouvir
Não pode ver
Não pode sentir o cheiro
Aliás
Não pode sentir
Não pode falar
Não pode pensar
Não pode pensar em falar
E não pode degustar
Não pode encostar
Não pode colocar a mão
E não pode querer ter ou ser
Não pode poder
Não pode nada
Não pode tudo
Não pode proibir
E muito menos pode liberar

Eta realidadezinha besta
Meu Deus...
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No nosso mundo, tudo permanecia como era antes, só que mais cheio. Os meus pares preocupadíssimos com futilidades essenciais mal se davam conta que desperdiçavam suas energias com situações que não os levariam a nada ou os satisfariam. Eram pobres e não tinham simplicidade. Brigavam por entorpecentes, por pequenas posses, orgulhos imbecis. Não que eu ache isso errado, cada um tem sua vida e cuida dela. Mas, vendo os resultados, me sinto intimamente incomodado. Não sei bem o porquê vejo as crianças brincarem no esgoto e fico incomodado. Eu deveria me importar mais comigo e menos com os outros. Como sou desprezível!
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No gueto a vida era muito boa. Os meus colegas de moradia tinham uma moral impecável. Um batia na mulher. Outro estuprava a própria filha. Uma das matriarcas espancava os filhos e os obrigava a catar restos nas lixeiras dos seres de sangue frio. Toda a pureza que de comportamento que eu não encontrava entre os meus senhores sobrava na comunidade que me acolhera. Havia toque de recolher durante a noite. Só ficavam abertos um bar e um prostíbulo para o divertimento dos que podiam pagar. E todos os produtos e serviços eram tributados em favor do nosso líder. Vivíamos em uma paz sem voz, mas ainda uma paz. Em liberdade, sem submetermo-nos às vontades de algum chefe tirano ou aproveitador aventureiro.
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Nosso líder pede a palavra:

- Amigos! É chegada a hora! Vamos enfim fazer valer a força da nossa organização! É hora do tão aguardado momento do ataque! Chega de nos espreitarmos por entre a grama! Pisaremos a cabeça da serpente! Urrem, seremos os vencedores! Nada irá aplacar nossa fúria!

Os aliados explodem em alegria. A comunidade saqueará os homens ricos. Nunca na sua história houve tanta esperança.

Dona Clarisse se mantém serena mesmo diante dos brados ensurdecedores.
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Havia uma mulher torta que não tirava os olhos tortos da minha presença. Muitas vezes era a única que percebia que eu existia e respirava. Ela me incomodava um tanto, essa mulher torta, mas torta que fosse, parecia torta para o meu bem. Já eu não perdia de vista a estranha e bela dona Clarisse. Por algum motivo que eu não sabia apesar de ter sido linchada seu aspecto era o mesmo de antes de ser banida do lado dominante. Os colegas dizem que os seres de sangue frio podem regenerar seus órgãos, igual a um rabo de lagartixa. Dizem também que sou muito azarado por atrair a atenção da mulher mais feia da comunidade. O que eu acho mesmo é que poderiam deixar a gente fazer o próprio pão, ao invés de comprá-lo a preço de ouro.
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A torta me espreitou num corredor. Ela apertou minha mão e me abraçou. Senti nojo. Quando ela olhou para mim, demonstrando uma sensação que eu nunca vi em outra pessoa, me disse algo que não entendi de verdade.

- Nosso líder é um traidor.

Agora compreendo porque dizem que ela é louca.
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O líder assumiu uma tática de guerrilha. A vitória era garantida, segundo suas palavras. Enfim, teríamos alguma chance de subjugar nossos inimigos mortais.

- Os fortes vão bater de frente com os porcos de sangue frio! Podem tacar fogo naqueles bastardos! Já os fracos vão jogar pedras de longe! Mulheres preparem a gasolina! Vamos explodir aqueles malditos!

Ele se senta sobre um escravo e orienta a premeditada baderna.

- Sai da frente, inútil!

O grito era para mim. Fiquei lisonjeado.
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Durante a dura batalha fui escondido dentro de uma caixa. Meus colegas me chutaram com o fim de que eu evitasse problemas. Ao final, tivemos uma honrosa derrota, perdendo apenas metade de nossos homens. Os seres de sangue frio revidaram o ataque com lâminas e arpões. Se nosso líder não tivesse feito um oportuno acordo, que o colocava como chefe de segurança legítimo e remunerado da nossa comunidade, tudo seria muito pior.

Eu continuei na caixa. Ordenaram-me que de lá eu não saísse.

- Então está certo... Nós te daremos os privilégios que você tanto queria sobre aquele lixo... Mas não ouse nos atacar de novo ou exterminaremos essas suas tralhas... Sorte sua ter tamanha fidelidade a nossa realidade...

A voz de Luís Maurício me esclareceu o óbvio.

Nosso líder era mesmo um traidor.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Meu Mundo

Tudo o que eu tenho é o meu mundo:
As minhas realidades
Os meus sonhos
As minhas lembranças já esquecidas
Minhas vontades

Tudo o que eu tenho é o meu mundo:
O ar que compartilho
Meu brilho
Refletindo a luz de uma existência fugaz
E passageira

Tudo o que tenho
Não fosse o fato de não ser meu de fato
Tudo aquilo que eu vivo
É pessoal e insubstituível
Único e assim diverso

Tudo o que eu tenho é o meu mundo:
Nada do que eu faço falta ao traço

O meu mundo é o seu infinito

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Simplicidade

Eu falo que a Terra é redonda e não me ouvem;

Eu falo e insisto, mas
Parecem, sei lá, anestesiados;
Estão mais preocupados com poses,
Posses,
Estilos, egos e superegos...
Eu falo que a Terra é redonda
E não acreditam pois eu vivo no mato;
Sim, eu sou um capiau
Sou um bicho
Mas ponderem:
É mais facil perceber isso assim...

Eu falo o óbvio, com humildade
O que pode e deve se enxergado por todos

Mas eu falo que a Terra é redonda
E não me ouvem...

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Robótico

'Eu sou normal
Eu bebo cerveja
Eu vou à igreja;
Eu sou um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo para nosso belo quadro social'

'Eu sou normal
Eu bebo cerveja
Eu vou à igreja;
Eu sou um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo para nosso belo quadro social'

'Eu sou normal
Eu bebo cerveja
Eu vou à igreja;
Eu sou um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo para nosso belo quadro social'

'Eu sou normal
Eu bebo cerveja
Eu vou à igreja;
Eu sou um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo para nosso belo quadro social'

'Eu sou normal
Eu bebo cerveja
Eu vou à igreja;
Eu sou um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo para nosso belo quadro social'...

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Simples Assim

Antes que o mundo acabe
Te digo
Que te amo.

Simples assim.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Dia do Poeta

Louco éden que adia o nunca
Poesia dissoluta
Aqui reinando absoluta

Eis o maldito vício da existência em arte

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Tudo Nublado (Caio Eduardo de Lima)

Por mais claro que esteja o céu hoje
Nunca esteve tudo tão nublado
As lágrimas que me cegam hoje
São o reflexo de um coração machucado

Os lírios d’alma murcharam
Os vidros da razão se quebraram
Para quem um dia sonhou ser poeta
O que restou?
Para quem um dia disse:
‘Nada me afeta’...

Tenho nojo do que escrevo
Porque em versos exponho
Tantos medos;
Tenho nojo do que sinto

Porque um dia vi estrelas!
De longe...
Hoje não quero mais vê-las
Nem de perto

Por mais claro que um dia esteve o céu
Hoje tudo está nublado.

- É um orgulho postar um poema seu, Caio. Você é um cara de personalidade forte e versos maravilhosos. Devo-lhe muito, justo aquilo que o dinheiro não compra. É indescritível ter a sua amizade.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro – Capítulo 5

Permitam-me uma pequena análise junguiana da situação: os superiores, proclamados em si próprios controladores da realidade, os superiores que alegam possuir um sangue frio, azul e nobre, os mesmos superiores que atestam sua condição de senhores da verdade, donos, mandatários da lei e da nossa ordem ordinária, tacam fogo na sua cidade, promovem a guerra, pelo motivo mais esdrúxulo possível. Se eu me atrevesse, os chamaria de hipócritas. Mas vou chamá-los de humanos mesmo.
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Uns me chamam de louco, dizem que ouço vozes. Mas tudo o que faço é dialogar comigo mesmo. Estou o dia todo comigo, desde que nasci. Vivo comigo desde os primeiros dias. Às vezes, eu acho que as pessoas deveriam prestar mais atenção nesse fato, de que fazem parte delas, sem egoísmo. Também acho engraçado que ninguém repara, mas respira o mesmo ar, indivisível para toda a realidade, sem disputas fronteiriças, brigas, ou equivalentes. Um espertinho agora me chama a atenção, me diz que os narigudos e os mal-cheirosos representam a subversão dessa regra. Não estou nem aí para ele, o ar é muito grande para que isso faça alguma diferença. Quando eu digo ar, amigos, ou meu raciocínio, posso também utilizar a palavra planeta.
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Meu líder discursa:

- Amigos, nós temos que tomar uma providência! É chegada a hora...

E continua:

- E enfim, se não fizermos algo rapidamente tudo aquilo que mais tememos vai nos ruir pela cabeça...

E continua:

- Irmãos! Uni-vos! Blá, blá, blá, blá!

E continua:

- Assim como Jesus enfrentou a cruz temos que encarar nosso destino!

Um ou outro aplaude com elogios:

- Nosso líder é bom de palanque! Nosso líder é bom de palanque! Estou com ele e não abro! Viva!

E outros tantos repetem, ao ouvir a quase heresia:

- Viva!
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Nosso refúgio é um alojamento subterrâneo. Sentiríamos-nos feito ratos, se esses não nos passassem sob as cabeças. Nosso refúgio é um bom lugar. Fora algumas brigas e mortes, a miséria dos nossos barracos, a solidão na imensidão do gueto, tudo é calmo, tranqüilo e belo. Chega até ser um lugar divertido. Não fossem as certas dificuldades para obter os recursos de fora e a má impressão que nos obrigam a provocar, seria o paraíso.

Só faltam os anjos.
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O líder nos disse para que jantássemos, muito embora não soubéssemos o horário real graças ao toque de recolher instaurado no nosso gueto. Eu comi como há tempos não me alimentava. Ingeri meu pão, os novatos no gueto comem apenas meio pão durante alguns dias, e meio copo d’água. Uma mulher torta me olhava, mas não parecia, ela olhava torto e era torta. Isso me incomodava e ainda incomoda. Decidi desviar minha atenção. Olhei para o líder. O meu amado e admirado líder. Meu maior desejo é ter uma ceia como a do líder, que devora a carne com seis mulheres e meia ao seu redor. Deve ser delicioso ser o líder, mesmo que no nosso apertado e humilde gueto.

- Gente, eu posso falar uma coisa...

Os bajuladores balançaram um sorriso com a cabeça.

- Gente, esse novato aí que vocês pescaram é um completo tonto! Poucas vezes eu vi vocês pescarem um tonto como fizeram desta vez. Ô, filho, você tem algum problema mental, é?

Até então eu não tinha feito nada de normal ou anormal.

- Não...

- Viram, é um retardado mesmo!

Todos riram, e eu ri também para não ficar isolado na mesmice.
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Uma pessoa é anunciada:

- Líder, chegou mais uma novata!

Eu não fiquei curioso sobre quem era a pessoa que surgiu no gueto, mas mesmo assim decidir ver quem estava a vir.

A pessoa tinha olhos da cor da laranja.

- Pois bem, dêem a melhor roupa a essa linda dama. Arrumem-na para que possa me servir nos meus aposentos. Uma jóia preciosa só tem o seu valor quando é devidamente lapidada.

Estava a ponto de explodir de ódio, se o sentisse.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Não se chuta um cachorro morto

Não se chuta um cachorro morto
Nem se maltrata;
Não se chuta um cachorro morto
Nem se dá paulada
Nem se quebram as patas;
Não se atropela um cachorro morto
Nem se foge sem se dar socorro
Para que agonize até morrer de novo;
Não se dão restos de comida a um cachorro morto
Nem se abandona no meio da rua
Já que o lixo se faz mais indicado;
Não se joga água fervente num cachorro morto
Nem óleo;
Não se mata um cachorro morto
Pelo sofrimento
Que já o levou a tanto.

Preserve uma vida que ainda não se foi.

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