MESES
Saio de dezembro atrasado
Vestindo um janeiro apertado
Já quase chegando a março
Pulando fevereiro aos pedaços
De abril faço azuis e maio
Junho marrom, de desmaio
Julho sem gosto quase insosso
Imitando agosto, o do desgosto.
Setembro é mês de virada
Ridícula parada armada sem graça
De casa nem saio, me cubro
Adormeço esperando outubro
Que passa desvairado, nem lembro
Arrastando às pressas a cruz de novembro
Para atirá-la ás costas do Nazareno
Que morreu no coração de dezembro
Assim levo meu tempo, sem pensar em nada
Aguardando uma época mais naturada
Aguardando que chegue um dia de vento
Que sopre tempo para não matar o tempo
Tempo que transborda pela vida
Como água na fonte esquecida
Aos poucos criando limo
Que cobre do fundo ao cimo
As pedras não se mexem, estagnadas
Nessa poça de água parada
Que não corre para nenhum rio
À espera de que voltes, meses a fio.