Blog de Evandro Machado Luciano

Foto de Evandro Machado Luciano

Soneto

Na gelada aurora pluvial
De um verão traquina, desobediente
Chora na ara quem de langor divinal
Curou as lágrimas do pecador inocente

Levou consigo jubilosa tarde
Deixando ao verme alimento vespertino
De amor meu coração não mais arde
Mas de langor, por seu sumiço matutino

E que consolo encontrar irei?
Se no tenro leito fenecem flores,
Tornar-me anjo? Feliz serei?

Deixar na lama tantos amores,
Sorrir no Éden como um rei?
Ou dar ao cinza, mi’as cores?

Foto de Evandro Machado Luciano

Jazidas Aluvionais

Um estampido acorda a madrugada
Predizendo na aurora, os homens do rei
Fardados, gritando: - Vigésima Brigada!
Trazendo nas mãos, o sangue da lei

Nos bolsos cheios de ouro
Choram anjinhos perdidos no céu
Nas patas vermelhas do pingo crioulo
A herança da triste ganância cruel

Mal sabem que a volta é mais curta
Para os que traçam intricados caminhos
Quando notarem a barba hirsuta
Estarão jazidos sob o ouro – sozinhos.

Foto de Evandro Machado Luciano

O Casamento

Despedaço minh’alma com rimas
Mantendo-a imaculada dentro de meu peito
E depois do casamento fúnebre
Declamá-las no nupcial leito

Caso-me novamente por tua culpa
Negaste beijos meus
Como renego agora
As lágrimas dos olhos teus

Digo adeus aos vossos lábios
Por tua Desgraça ou Sorte
Beijo agora outra face
Minha donzela – Venerada Morte.

Foto de Evandro Machado Luciano

A Solução

Procurar em estradas vazias
A razão dos devaneios
É o mesmo que achar no veneno
O triste fim dos anseios

Mas espere!- na rua vejo a musa
De inéditos pensamentos
Sorrindo como se não soubesse
De todos os meus tormentos

Então se valha de sua vantagem
E cause-me ardor extremo
Mate-me com seu júbilo
E morrerei como um feliz enfermo

Mas se ainda navegar por esses mares
Onde se afogam as loucuras
Vou contra meus nobres princípios
Devaneando nas solitárias ruas

Foto de Evandro Machado Luciano

Nada Sentir

Não sei como escrever
O que não sinto
Ou se sentir fosse fácil,
Dizer que minto
Ao sentir esse insípido
Nada sentir

E desprender-me
Tentei por vezes e falhei
De um nada amar que me magoa
Tentei chorar e não chorei
Por esse nada amar, a mim mesmo magoei,
Por nada sentir

Tentaste ler e não leu
Ou então, viraste o rosto a quem pediu,
Que num súbito amor frágil
Amor trêmulo, infantil
Fosse escrito em papel de anil
Um nada sentir

O que magoa o tenro corpo
É o velho coração
Cansado de ver em outro
O florescer de uma paixão
Em quanto em sua mão
Emerge o nada sentir

***

Aquele nada sentir
Que outrora tanto atordoou
Tanta falta faz agora
Um louco tormento que retornou
Fazendo tolo aquele que chorou
Por tanto sentir

Deturpado fico aqui
Amor dos fracos que se renderam
Pode-se achar a vida nos piores momentos
Mas todos os que viveram
Esse langor, ao destino responderam
-Que falta mo faz, o nada sentir

Foto de Evandro Machado Luciano

Profundo

Espero estar errado
Quando falo de meu coração
Parece estar afogado
Em um mar de depressão

Mi’a vida tornou-se um castelo de cartas
Esperando pelo misericordioso vento
Que dará fim a meu desgosto tenro
E acabará com todo o tormento

Lastimo por todos os que ficam
Enquanto fujo para um melhor lugar
Esse mundo tornou-me insano
Desde o dia em que aprendi a amar

A vida nada mais é
Do que um cruel patíbulo
Vão-se as mentes, e ficam os corpos
O amor é apenas mais um falso ídolo

Esta visão que tenho da vida
É o que resta para escrever
Se tirarem-me as palavras de mi’a boca
Não haverá razão alguma para viver.

Foto de Evandro Machado Luciano

Soneto (Ai de mim!)

Perdi-me de minha razão
Quem me dera que fosse assim
Tão fácil perder-me de meu coração;
Mas é tão árduo Senhor... Ai de mim!

Se longe ela está a sonhar
Há quilômetros de meu jardim
Prometo aos anjos meu amor buscar;
Mas é tão longe Senhor... Ai de mim!

Se me permite fazer um pedido
- Dê-me asas como destes ao teu Serafim
Para encontrar meu sorriso perdido;

Voar por essas terras sem fim
E esquecer de um passado sofrido
Seria um sonho Senhor... Ai de mim!

Foto de Evandro Machado Luciano

Quem és tu?

Quem és tu?
Donzela de louros cachos que nunca antes vi
Fazeis de mim seu doce pólen
Minha musa, meu belo colibri

Quem sou eu?
Perto de tua beleza sou doudo e insano
Debulho-me em lágrimas por ti
Sem saber se é verdade ou engano

Quem és tu?
Que nesse simples retrato
Desprendeu-me de minha lucidez
Tornou-me um mendigo embriagado.

Quem sou eu?
Agora um delirante sonhador
Desprendi-me da verdade e da vida
Inebriado desse falso plangente amor

Quem és tu?
Como não suplicar um beijo teu?
Este sorriso alvo, estes lábios rosados
Desenhados no mais profundo dos sonhos meus

Quem sou eu?
Um mero anônimo admirador
Não conheces meu nome, minha idade
Não sabes que é a causa de meu furor

Quem és tu?

Foto de Evandro Machado Luciano

Astro Pálido

Esse astro pálido
Que inebria a mente
Deixa-me triste ou contente?

Esse astro pálido
Que me ilumina os olhares
Mostra-me a beleza dos mares

Dos lagos...
Da pureza dos pássaros

Esforçaste-te ao máximo
Para ocultar este doudo lugar
Em que o ouro é razão para matar...
E a idade... a desculpa para não amar

Astro pálido: - podes me ouvir?
Mesmo que não possas, tenho que lhe confessar
Preciso de alguém p’ra desabafar
de um ombro amigo para chorar

Conto-te agora, meu doce astro pálido
As minhas lamúrias
Mesmo que sejam, por vezes, injúrias
São verdadeiras
Podem não ser o que o mundo quer ouvir
Podem não ser as palavras mágicas p’ra fugir
Mas, confie em mim...
são verdadeiras...

Astro pálido
Foi tão bom, uma vez mais lhe observar
foi tão bom... devolveu-me meu doce olhar
...sobre o cárcere a qual fui mandado
Não reclamo! -fui muito amado

Amado pela doce mulher
Que está prestes a chegar
Chega cansada, o significado da palavra “amar”
Jovem mulher
Que mo viu nascer (e com muito louvor)
Que desde meu primeiro suspiro, me mostrou o amor

Permita-me que eu me despeça, astro pálido
Conheces agora, todos meus segredos e desejos
Espero que esteja, também, admirando seu brilho
Aquela que, a vida, eu daria eu daria por um beijo.

Foto de Evandro Machado Luciano

Liberto

Não escrevo há muito tempo
Pois há muito não sofro
Dei fim aos devaneios
Fiz da morte um esboço

Abriu-me os olhos
A dona de meus transactos pesares
Pesava-lhe na consciência
A tristeza demonstrada em meus olhares

Por tal motivo, lhe fiz denodado juramento
-Não escrever sobre trespasse ou sofrimento
Dirijo-me a ti, ex-dona de meu tormento
E que estás a ler agora meus pensamentos:

“- Sabeis perfeitamente
Que não vivo há muito tempo
Prefiro guardar a vida em uma folha
Do que deixar levar-me a vida, o vento.”

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