Blog de Evandro Machado Luciano
Tão bela
Tristemente feliz
O retrato da felicidade
O sinônimo de minha tristeza
A face banhada de luz
Ainda assim
A escuridão superava sua pureza
Lembrar de alguém que comigo
Nunca sonharia
Mas que por um sorriso apenas
Minha vida lhe daria
Um sorriso que nunca mais verei
Um sorriso tão puro
E que tanta falta sentirei
-Estou em meu quarto-
As paredes não vertem mais lágrimas
Parece que a dor amenizara
De tristezas estou farto
São apenas palavras póstumas
De um poeta que na mocidade agonizara
Não mais derramo
Uma gota sequer de langor
Não mais declamo
Uma palavra sequer de amor
E daquelas frases românticas
Apodrecidas pelo indefectível senhor do esquecimento
Resta um estampido de palavras cândidas
-O tempo foi o curador de meu tormento...
Sempre escrevi em meus textos
sobre a vida,só a morte...
Sobre a exclusivista sociedade a qual ainda sofro ao pertencer
Mas por tamanha complexidade
A vida, a sociedade
não podem ser definidas
em tais desprezíveis rimários
Desprezíveis e desprovidos de conhecimento
Eruditismo que para um poeta
é fundamental em suas obras
Por fim, concluo que escrevo apenas para mim
Apenas para saciar minha sede de desvencilhar-me desta
que é a vida como vejo
Não sou aclamado
como foram os grandes
Não sou bem visto por aqueles que podem me ver
Mas àqueles que meus versos estão lendo
À estes vos digo:
-Perdestes vosso tempo
ao ler os versos de alguém
que sofre por não ter amor
que sofre por não ter sequer um vintém
A fronte revela o êxito externo
Que a mente insiste em esconder
Nos lábios trago um sorriso eterno
Mas à sorrelfa morro de tanto sofrer
Relato a dor em demasia
Por ser a única forma de aliviar-me o coração
Para que futuramente veja minha fantasia
E imagine ser apenas uma triste ilusão
Tórrido langor, sou teu escravo até o nascer d’alva
E quando o crepúsculo retornar
Irrompas novamente meu corpo, minh’alma
Deixe somente a lembrança
Da mulher que com dubitável amor
Trouxe-me um pouco de esperança
A vida não é uma eterna adolescência
E diante de tal incumbência
Que o tempo nos força a admitir
Aprendo diariamente a chorar
Aprendo diariamente a sorrir
Rabiscar em velhos papiros
Ou em cadernos carcomidos
Os dias que restam de minha existência
(essa que não é uma eterna adolescência)
Tem sido minha principal razão de viver
Alertar àqueles que virão, sobre as chances de sofrer.
Não é uma simples questão de ver o mundo
Com olhos de um pessimista, derrotista imundo
Ah, não! Não é a volta do dito mal -do- século
É apenas a visão de olhos incrédulos
Vendo seu tempo acabar
Tempo que mal acabou de começar
Mas não um “acabar” por completo
Tal indefectível tempo
Age como se escrevesse um decreto:
-Não sofreis até sua meia vivência,
Após isso, descubra por si mesmo
Que a vida não é uma eterna adolescência
Um ciclo agora termina
Todo ser passa por isso, é uma espécie de sina
Eu encaro como a morte
Agora nascerei em uma nova vida
A mercê da própria sorte
Nos dias que estão por vir
Não haverá espaço pra sorrir
Não haverá espaço para velhos papiros
Ou cadernos carcomidos
Rabiscados de tolices, como em outrora
Sei que é difícil sobreviver à selva
Com tão pouca experiência
Mas é a lei natural da sobrevivência
Aprender desde tenra idade
Que a vida... ah!
A vida não é uma eterna adolescência...
Estou tão seco de vida
Quanto um indigente ateu e solitário
Seco de palavras e rimas
Procuro o amor em cada lágrima caída
E minha inspiração em um dicionário
Com meu coração aprisionado em masmorras longínquas
Que espécie de poeta sou?
Perco horas procurando palavras
Que levantem o lábaro da alegria
Mas viro noites com Edgar Allan Poe
Lendo frases criadas
Para atiçar-me a agonia
E o que dizer de Byron?
A morte era o que lhe dava o prazer de viver
Não desejo esse mal a ninguém
Uns chamam de insanidade, outros de dom
Na verdade é a busca pelo sofrer
Por não ser hipócrita, admito: Já busquei por isso também.
Estas são as lamúrias de um pobre perdido
Como nos disse Álvares de Azevedo
“São as páginas de um livro não lido”
É a vida justificando a morte
O destino atirando suas facas
Sem medo de nos deixar cortes
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