Acordo nesta ensolarada manhã de segunda feira que teria todos os motivos para ser mais uma agradável manhã de verão. Moro no bairro mais nobre de Vitória, a Praia do Canto. Uma belíssima vista para o mar, hoje calmo e azul. Da minha janela vislumbro uma paisagem capaz de inspirar os mais lindos versos de amor e devoção à natureza. Mas não. O que grita dentro de mim é a revolta de ver minha cidade coberta por nuvens negras vindas do Porto de Tubarão. Nuvens que poluem minha cidade e trazem em suas garras graves problemas de saúde à população. É o nosso “famoso” pó de minério, um pó preto que cobre os pisos, os móveis, as cortinas das nossas residências. Que as invade sem dó nem piedade. Que chega ao sopro do vento nordeste. Entra por portas, janelas, passa por entre frestas e causa danos irreparáveis a nossa saúde. Pobre coitado do nosso aparelho respiratório! Ele já não suporta mais tanto pó! Mas esse pó preto não é apenas sinônimo de luto. Ele também faz com que algumas pessoas fiquem cada vez mais ricas. Ah!... E como ficam... Pessoas envolvidas no processo de camuflagem dessa devastadora poluição. Basta passar a mão sobre qualquer canto da casa e a mão fica negra do maldito pó. É um negro que nos remonta a triste morte e ao luto dos nossos corações face ao descaso de tantas “autoridades” envolvidas em altíssimos jogos de interesse. A imprensa fala superficialmente sobre o assunto. Ela tem na Companhia Vale do Rio Doce um de seus maiores anunciantes e precisa de anúncio para sobreviver. E então a quem recorrer? Ao bom Deus, incomodá-lo lá no céu? Creio ser a única alternativa que nos resta. Conversando casualmente com uma funcionária de determinada Secretaria (que deveria zelar pelo meio ambiente) disse-me ela que apenas em véspera de eleição é que o referido órgão “abre os olhos” numa campanha eleitoreira. De vez em quando, creio que quando o povo pressiona mais, durante o dia o pó é mais ou menos filtrado e a noite os filtros são desativados para que se dobre ou mais a produção. Mas daqui eu tudo observo. Nada me passa despercebido. E sofro na carne esse tormento. Falo como cidadã que paga seus impostos, que com seu voto ajudou a eleger esses dirigentes que fazem “vistas grossas.” Falo porque esta é a terra da qual tiro meu sustento e eu a respeito. Falo, sobretudo porque amo essa cidade, minha terra mãe, sempre tão calorosa e acolhedora! Vou gritar sim... E brigar pela minha querida Vitória e pelo seu povo que também é o meu. Ninguém mais agüenta respirar tanto minério de ferro. Afinal nosso pulmão não é contêiner para carregar tanto pó! O nosso grande cientista e ambientalista capixaba, conhecido internacionalmente, Augusto Ruschi, na época ainda do projeto para a construção deste Porto, foi totalmente contra a sua atual localização. Já previa todos os malefícios a que viria ocasionar a população de Vitória. Mas o jogo de interesses prevaleceu e o Porto nasceu no lugar errado. Já condenado por antecipação, pelo grande cientista. Agora é limpar a casa no mínimo duas vezes por dia e carregar nos nossos pulmões, que todos juntos já devem valer uma pequena fortuna, todo o minério de ferro que inspiramos em cada segundo das nossas cada vez mais curtas vidas. E conviver cordialmente com bronquites, rinites, sinusites e tantas outras “ites”. Hoje tenho a mais absoluta certeza de que os PODEROSOS não sentem com o coração e nem pensam com a cabeça. Pensam apenas com a conta bancária ou quem sabe com a BUNDA que se instala na poltrona do PODER e fica viciada e defeca sobre a cabeça do povo.
Carmen Vervloet
Comentários
p/Carmem Vervloet da Sempre-Viva
Minha cara amiga Carmem , eu te aplaudo de pé, a você e a todos aqueles, que vão contra ao que é maléfico, ao que degenera a nossa saúde, nos causa mal, mesmo que seja em nome do progresso, fazem tanto mal em nome do progresso!
E na verdade penso que "em nome do progresso" não existe!
Se fosse em nome do progresso, dobrariam os filtros, espalhariam pela cidade para ajudar , para que o povo não fosse tão prejudicado.Tem que falar mesmo, tem que reclamar, tem que por a boca no trombone, eu se fosse você, publicaria esse escrito no jornal mais popular da cidade , e que viessem as broncas.
Esses poderosos, deviam ter hemorróidas de tanto que ficam sentados contando dinheiro, deviam ter uma otite agude de tanto que ficam no telefone de conversa fiada com aqueles que lhes aumentam a conta bancária.
Não se pode deixar passar em branco esse tipo de coisa, muitas vêzes nos calamos, mas não é o certo, o certo é fazer barulho, é gritar à plenos pulmões,é também não esquecer que quando chegam as eleições, é a nossa hora de vingança, é a hora em que podemos cobrar , é com o voto que jogamos na cara desses "filhos daquela" toda a nossa decepção.
A luta contra esses "poderosos"e muitos outros, não pára, nunca pára, não pode parar....
Por isso...vamos à luta!
abraço Carmem
Sempre-Viva
Sempre-Viva
Carmen/ Sempre Viva
Querida Sempre Viva,
Nosso grito será eternamente solitário. Juntar-se ao a nós uma meia dúzia de gatos pingados e nada mais. Tristemente o povo é acomodado e adaptável a qualquer situação. Quanto aos jornais escritos (uma grande massa falida) não tem interesse em perder os grandes anunciantes. E o resto é o resto, uma corja que só pensa no seu próprio bolso.
Antes de publicar a crônica mostrei-a a meu marido e ele achou o final grosseiro, quando falo na bunda dos poderosos, que se vicia na cadeira do poder. Sugeriu que eu colocasse nádegas em vez de bunda. Eu respondi que talvez devesse apelar e colocar no título “Bunda Viciada” quem sabe assim teria mais leitores. rsrsrs... Não dá mais para se ter paciência, nem para ser educada quando se trata de sobrevivência do nosso planeta e conseqüentemente nossa. Penso no futuro dos meus netos e fico imaginando quão trágico será se os homens não tomarem consciência. Agradeço minha querida, sua solidariedade com meu grito solitário.
Um grande beijo,
Carmen