Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Transparência...

(Releitura do texto de Maria José:Ser transparente)

Como é difícil ser transparente...
Não é apenas ser sincero, não enganar.
É muito mais que isso...
É ter coragem de se expor,
cruzando mundos paralelos,
desabar em sentimentos,
deixar cair as máscaras, baixar as armas...
ser frágil, chorar,
destruir os gigantescos muros
que insistimos em levantar.

Deixar aflorar a doçura até transbordar.
Impedir que a dureza da razão
prevaleça à leveza da voz do coração...
Desatar o nó na garganta
permitindo que as lágrimas rolem
regando o intrínseco de nosso ser...
suavizando o viver.
Revelar o nosso medo
ao nos perdermos no enredo
de nossa própria história
e partirmos na busca insensata
de respostas imediatas...

Retirarmos as máscaras
que nos distanciam de quem somos,
mantendo uma imagem
que nos dê a sensação de proteção...
E que na verdade vai nos afogando
num mar de ilusão...
Ser transparente é deixar fluir
o idioma do carinho,
dos beijos e abraços
e lembrarmos, a todo passo,
que tudo passa...

Carmen Lúcia

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A última vez...

A última vez ninguém esquece,
São momentos gravados na alma
À primeira vista, inconseqüentes,
Mas tão permanentes, persistentes,
A nos perseguir eternamente
E nunca fugir de nossa mente...
O último encontro, o último beijo,
Mais marcante que o primeiro...
Os últimos passos que ainda ecoam
Pelas esquinas e ruas; a amargura,
Após o adeus, da dor que perdura
A dor de não ver, não ter outra vez
Não sentir...Lágrimas e insensatez...
O último olhar, que nos faz gelar,
A última carícia, o último toque,
A última emoção, a mais forte...
Triste sensação de perda, de vazio,
Sentir a solidão, o inverno mais frio...
Assim como ver o último pôr-do-sol,
Ouvindo seu último suspiro.

Carmen Lúcia

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Deslumbramento...

Flutuo por entre nuvens de um céu calmo,
não sei definir cores nesse meu torpor...
São tantas, irradiantes, sem definição,
não há como interpretar esse instante de encantamento...
Definir ou interpretar esse momento
seria como profanar o mais puro sentimento...

O dia começa a clarear...
Fecho os olhos e me deixo levar...
Minh’alma transcende o inexistente,
a luz intensa penetra meu sonhar
Iluminando os vazios de meu íntimo,
aquecendo-os com o calor que essa quietude exala...

Observo todo encanto de olhos fechados.
Abri-los seria perder tal deslumbramento,
desperdiçar cada instante da magia que me invade...
Rejeitar o presente que me está sendo ofertado
para que eu evolua espiritualmente
durante essa passagem que se chama Vida...

Nada fará com que eu recupere um só instante
por mim agora vivido, se o houver perdido...
Toda essa beleza que emerge pelos cantos
cobre, por encanto, o tempo sofrido...
É o belo que se aprofunda cada vez mais
e quando se inicia, não há como voltar...

Assim como os rios, os anos, as amizades
que correm livres para a posteridade
deixando em seus percursos lições de amor...
Meu sonho me leva a ouvir canções
nascidas durante o desabrochar de uma flor...
Não, não quero acordar...ou mesmo acordada,
quero sonhar...

_Carmen Lúcia_

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Reticências...

A indecisão impede-me de prosseguir...
Dúvida atroz segura meus passos.
Eu, que me julgava rica em experiências,
ter conhecido o céu e o inferno,
incapaz de retroceder ou estacionar,
seguindo sempre adiante sem temer obstáculos
que me foram apresentados durante minha vivência,
rendo-me às fragilidades, ao cansaço , aos fatos...
Dou-me a uma pausa...ou às reticências...

Percebo o quanto sou humana e incapaz.
O cristal de minha alma se trincou...
é preciso cuidaR pra não se quebrar,
restaurar o que ainda restou...
Agora me entrego às mãos do tempo...
Que elas me coloquem no trilho certo.
É preciso parar no próximo atalho,
repensar a vida, meu estado precário,
buscar clareza, viver o real, sair do imaginário...

Confundem-me os erros e acertos
e os sonhos se encontram em desacerto...
Já nem sei se mais errei ou acertei...
Paradoxos se interpõem em meu caminho
e testam, à toda hora, meus desatinos...
Preciso coordenar o sentido das coisas,
penetrar em seus significados...
Buscar o certo, corrigir o errado.
E o que é certo ou errado?

O primeiro passo já foi dado...
Confessei-me frágil, vulnerável,
revelei minhas debilitações
diante da imprevisão de um temporal.
Reiniciarei minha história...
Parei nas reticências, não no ponto final.

_Carmen Lúcia_

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Mensagem da Criança

Dizes que sou o futuro,
Não me desampares no presente.
Dizes que sou a esperança da paz,
Não me induzas à guerra.
Dizes que sou a promessa do bem,
Não me confies ao mal.
Dizes que sou a luz dos teus olhos,
Não me abandones às trevas.
Não espero somente o teu pão,
Dá-me luz e entendimento.
Não desejo tão só a festa do teu carinho,
Suplico-te amor com que me eduques.
Não te rogo apenas brinquedos,
Peço-te bons exemplos e boas palavras.
Não sou simples ornamento de teu carinho,
Sou alguém que te bate à porta em nome de Deus.
Ensina-me o trabalho e a humildade, o devotamento e o perdão.
Compadece-te de mim e orienta-me para o que seja bom e justo.
Corrija-me enquanto é tempo, ainda que eu sofra...
Ajude-me hoje para que amanhã eu não te faça chorar.

(Meimei/ Psicografado por Chico Xavier)

Foto de Carmen Lúcia

"Criança"

“São as crianças que, sem falar,
nos ensinam as razões para viver.
Elas não têm saberes a transmitir.
No entanto elas sabem o essencial da vida.”

“É através dos olhos que as crianças tomam
contato com a beleza e o fascínio do mundo...
Elas ainda têm olhos encantados.
A capacidade de se assombrar diante do banal.”

“Para as crianças tudo é espantoso:
Um ovo, uma minhoca,
uma concha de caramujo,
o voo dos urubus,
uma pipa no céu...
Coisas que os eruditos não veem...”

“As crianças não têm idéias religiosas,
mas têm experiências místicas...
que é ver esse mundo iluminado pela beleza.”

“Quem não muda sua maneira adulta
de ver e sentir...e não se torna como criança,
jamais será sábio.”

(Carmen Lúcia-Releitura)

***Fragmentos de um texto do educador

Rubem Alves***

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Procurando encantos...

Procuro encantos para comprazer-me os dias
que passam tão iguais, espalham monotonia,
nada que me abale ou me venha ressarcir
da falta de sentido, do tempo que perdi.

Não sei se a vida me esqueceu
ou me esquivei da vida...
Se ela muito me ofereceu
ou se passei despercebida...
Se ainda há tempo pra retroceder
ou se ele é página esquecida,
saiu de meu contexto
quando saí de seu convívio.

Porém o que a vida não sabia
é que me entreguei aos intervalos...
Fiquei nas entrelinhas , perambulei os atos,
mudei a partitura, dei-me à pausa das canções
pra dar prosseguimento aos fatos
mergulhei nas reflexões.

Volto à tona pra recomeçar mais viva.
O que espero nem sei se um dia virá...
Encantar-me de novo somente o novo dirá...
É verso que ainda não posso escrever,
são palavras que ainda não sei falar.

Carmen Lúcia

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Retrato da vida

Num canto da sala balançava a cadeira.Por cima dos óculos ela só observava.Não dava palpites.
A rotina diária...Muita algazarra, correria. Todos apressados, em tropeços, passavam por ela.
Nem sequer percebiam que ela percebia.Olhava a todos e a tudo.Sem que ninguém a visse.
Os dedos já cansados esboçavam um bordado.Pareciam mecanizados, de tão acostumados a esses traçados.Chegavam à perfeição.
Seu rosto, sem expressão, semblante enrugado, eram marcas que ficaram, que o tempo lhe deixara.
Um tempo ausente que corria lá fora.Agora mais veloz, levando embora a vida, que ela via caminhar, além da janela, afastando-se cada vez mais.
Vieram-lhe as lembranças.Ricas lembranças.Criança correndo pelo campo, sem tempo, sem marcas, só esperança.Só risos.Sonhos.Fantasias.
Então cerra os olhos.Começa a imaginar.Ouve uma música suave.Esboça um doce sorriso e se pega a rodar, a girar, por entre flores, pés descalços na grama úmida...com o vento acariciando seu rostinho de criança feliz.De repente a criança põe-se a correr...para um lugar belíssimo, indescritível, inimaginável...
A cadeira já não balança.Permanece imóvel no canto da sala.
Caído ao chão, um bordado perfeito e já terminado.
Repousa de lado aquele rosto sem expressão, marcado agora pela morte.
A lida prossegue lá fora. E lá dentro, a rotina de sempre.É a vida!
Ninguém percebe a partida.

_Carmen Lúcia_

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Fim de tarde...

Fim de tarde...
Infinitamente tarde.
Que faço do amor
que não se finda
com a tarde...
Como a tarde.
Dos sonhos que não se acabam
embrenhados na tarde que se vai,
sem alarde.
Sem piedade, sem aviso, ela sai
e a nostalgia que fere, cai.
Como fino punhal
trazendo o final.

Por toda parte
o amor invade...
Sem saber que já é tarde,
sem saber o quanto arde
quando é infinitamente tarde.
E a tarde finita e fria
se alastra pela noite
sem sonhos, sem poesia
e acaba vazia.

E pelos cantos o amor se anuncia
pensando que ainda é cedo,
que ainda é dia...
que ainda cabe no curto espaço de tempo,
que cabe à tarde
que se finda,
levando toda magia...

Carmen Lúcia

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Esquece o tempo...

Reveste-me de carinhos tresloucados,
mesmo que por instantes alucinados
que se percam no decorrer das horas...
Ama-me mais que nunca... Agora!

Abraça-me com a ternura de sempre...
Anseio o frêmito que meu ventre sente
ao suave toque de tua pele,
à química que nos impele...

Beija-me com teu beijo apaixonado...
Esquece o tempo, perde a hora...
Entrega-te a momentos extasiados,
deixa a vida acontecer lá fora...

_Carmen Lúcia _

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