solidão

Foto de Paulo Gondim

O tempo e eu

O TEMPO E EU
Paulo Gondim
12/09/2013

Tentei ser eu mesmo
Na dúvida, esperei
O tempo passou lentamente
O tempo sempre se faz indiferente
Mas passa, independentemente
De minha vontade
De qualquer vaidade
O tempo passa

E como o tempo, as pessoas
Fechadas, ocupadas
Também indiferentes

E o que me resta?
Involuntariamente
De certa forma, ausente
Na minha procura
Do que sou e o que represento
Nesse palco torto
Num final de cena
No apagar das luzes

A vida segue
Ah, a vida exigente
De forma até inconsequente
Me bate à porta
Me pede sala
Diz que quer ficar

Nem sei o que é vida
Se Já se faz esquecida
Nem sei se vida ainda há...
Sei da solidão, no peito o nó
Nessa canção em dó
De pobre rima
De falsa estima
Cá, eu, mais uma vez, só...

Foto de imaginação

Mova-se

Se você acha que sua vida e a única que não muda pode ser por dois motivos medo de tentar ou já e tarde de mais.Não entregue a chave nas mãos dos outro tenha atitude Deus sabe a hora de tudo mas reaja que vai ajudar bastante.

Foto de Paulo Gondim

Eco triste

Eco triste
Paulo Gondim
28/07/2013

Tudo se iguala
Na ausência da fala
Do que não se disse
Quando se cala

Vai-se a calma
No vazio da alma
No limiar da perda
Do que se vai entre mão e palma

Resta a dor
Numa áurea incolor
Que no peito fica
Murcha-se o que era flor

E no gesto aflito
Da vida em conflito
Tudo é solidão
No eco triste de meu grito

Foto de P.H.Rodrigues

Senhor do Papel

No papel escreve o criador.
Possuidor do lápis, negro carbono,
risca o branco papel puro e sem cor.

Linhas tão extensas quanto a antiga Babel;
Linhas tortas que se revoltam contra o papel;
Linhas que são apagadas pela borracha;
Linhas tortas que não podem fazer nada.

Conteúdo que não sabe de sua existência;
Existência que faz a diferença;
Diferença que mostra resistência;
Resistência que garante a sobrevivência.

E o poeta com alma de bardo
escreve sua canção sem um canto cantado,
mas em em versos simples rimados.

Foto de Carmen Vervloet

Clausura

Outra vida enclausurou sua vida
Já não vive o que gosta de viver
Deixou sua vida ser invadida
E agora não sabe o que fazer.

Fragilizado não consegue arrancar os laços
Acomodou-se entre amarras que não gosta
O seu corpo retrata o cansaço
Mas a alma sufoca a resposta.

Acostumou-se a viver uma vida que não é sua
E vive a reclamar desta clausura
Chora, sofre, mas não recua,
E assim vai cultivando esta amargura.

Busca na poesia um pouco de alento
Só ela lhe traz migalhas de alegria
Nos versos encontra encantamento
Só neles liberta sua rica fantasia.

Foto de Carmen Lúcia

Raro momento

Quero beber esse momento especial,
raro encontro da alma com a paz,
sorver o mel e as delícias do instante
tão fugaz, em fina taça de cristal.

Extasiar-me dos belos sonhos
carcerários do medo,
vítimas de enredo isento de ousadia,
pintá-los no rosto com mestria
e num segundo
viver toda felicidade do mundo.

Brindar comigo mesma...
Só a lua a me espreitar,
enfeitiçar-me do luar
a transpor minha janela
e plena de alegria
rodopiar com ela.

Ainda que não perdure e tudo acabe de relance
e num tapa o tempo se vá, longe de meu alcance.

Breve momento, perpetuado...
A emoção em festa, flagrada num flash,
a essência da essência apregoando meu semblante
e a vida a reprisar esse mágico instante.

_Carmen Lúcia_

Foto de Ronita Rodrigues de Toledo

ABISMO

Vou andando por aí
meio afobada
a procura de mim...

Corro ruas,avenidas,
dobro esquinas,
vou de encontro
a contra mão.

Meu relógio parou,
é inverno
o sol se ofuscou...

Escrevo o passado a giz,
apago as tristezas
e arrisco dizer
que fui feliz...

E o vento da noite
vem me falar:

-A vida é mesmo assim!
Posso e falo por mim
que ontem bramia
com a tempestade no mar
e hoje sou briza solitária
na noite fria a sussurrar...

E... vou andando por aí
na companhia
do meu grito calado,
escalando o abismo
que há em mim...

Vou em busca de outros braços
para abraçar meu abraço
e eu possa, quem sabe um dia...
encontrar-me
em fim...
Ronita Marinho - BN

Foto de Carmen Lúcia

A última estrela

O dia amanhece após infindável noite
marcada pela presença tediosa da insônia.
A última estrela apaga suas luzes
cega pelo farol do sol que desponta.
Submissa ao sistema recolhe-se à reclusão
para ressurgir nova em nova missão.

Tal rotina não a obstina.Dócil e matreira
oferece à nova noite a doação rotineira.
Brilhar sempre, enquanto brilho tiver...
Brilho que é seu, oferenda para o céu
a abraçar os insones, suavizando suas noites
até que olhos afoitos lhe sorvam a luminosidade
e um dia ela se acabe
perdendo-se na soturna escuridão...

Olhos que por ela se encantam
e obcecados roubam-lhe a luz
refletida em lágrimas derramadas.
Despertos durante noites inteiras,
longas madrugadas, horas de solidão,
tendo como fiel companheira
a lucidez de uma estrela sem constelação.

_Carmen Lúcia_

Foto de poetisando

Solidão III

Sou feliz a viver na minha solidão
Com ela falo de tudo o que sinto
Só ela me compreende e ouve
Só ela me presta atenção
Viajo pela praia meditando
Como me sinto bem assim
Sem ninguém
A acompanhar-me
Sem com quem possa falar
Falar o que? E de que?
Se eu na solidão é que me sinto
Não tendo que ouvir
Também
Não tenho do que falar
Deixem me viver assim
Nesta paz que eu sinto
Não se incomodem
Se me mal ou bem eu me sinto

De António Candeias

Foto de José Bento

O velho e o rio

Navega o velho no rio
No barco velho, sentado
Ao lado o velho embornal,
Uma espingarda tacanha,
E um facão enferrujado

O olhar pregado no tempo
Absorto a contemplar
Ao longe, ao pé da serra
Uma ovelha a pastar.
E assim como a ovelha,
Também foi com os anuns
Onde haviam centenas
Hoje só restam alguns

Navega o velho do rio
Perdido em seus pensamentos
Trazendo marcas no rosto,
Sentindo o sopro do vento,
Que lhe traz recordações,
Lembranças e sensações,
Da vida em outros tempos

É assim toda manhã,
Antes do sol levantado
Navega o velho no rio
No barco velho, sentado

Segura a velha tarrafa
E a joga com cuidado
Vai lentamente puxando
O cordão todo emendado
Tenta pegar algum peixe
Se é que ainda existe
Porem o peixe não vem
Mas o velho não desiste.

Navega o velho no rio
No barco velho, sentado
Ao lado o velho embornal,
Uma espingarda tacanha,
E um facão enferrujado.

Volta pra casa a noitinha
Vencido pelo cansaço
Trazendo a pele queimada
E calões nos pes descalços
Quem sabe então amanhã
Mais sorte lhe seja dada
No despertar matutino
Ao cantar da passarada.

Lá vem o barco do velho
Descendo pela encosta
Trazendo o velho embornal
E a tarrafa que ele gosta
O barco desce sem rumo,
Parece não ser guiado
Morreu o velho do rio
No barco velho sentado

Desce o barco á deriva
Navegando lentamente
Arrastando-se nas curvas
Buscando o sol nascente
Como quem diz num aceno
Que o barco não volta mais.
Adeus meu querido velho!
Deus te guarde, siga em paz!

José Bento

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