... é aquele que se fez no início das manhãs
quando o mundo estava em suspenso.
E denso, imprimiu sua trajetória na alma insana,
na febre tamanha que ocupa os desejos.
Febre de ti, que aos ritos de amor louco me compelia,
Febre de mim, que aos poucos e sem saída me perdia,
Febre de amor, que era a loucura daquele encanto,
Febre da dor, que era a ternura, ao avesso e tanta.
O poema que nasceu em silêncio
e tem a robustez de uma estória em apenso
tem a altura do grito desesperado,
que o mundo consolida nas memórias e nos lenços,
perde-se num sopro cansado
como a voz que vira acorde sussurrado e lento.
E eu gritava por ti, para dentro de todos os silêncios;
e eu gritava por mim, habitado por teus mistérios;
gritava o amor, num sonho acordado e intenso;
gritava a dor, entre soluços e esperas.
E meu grito é tropeço do coração
no tênue ponto entre a sagração e a insensatez,
entre a paixão e a lucidez de a ela não ceder,
entre a busca das palavras e do encontro
entre uma lua inquieta e a voz do poeta.
O poema que nasceu em silêncio
tem a magia das manhãs e é fonte de luz,
reflexo da alma em agonia. É língua em sintonia
com o fogo da existência
ecoando por mil vozes arrancadas de suspiros
que gritam, em todos os meus medos, por ti.
Nada faço, porém, que não faças antes por mim,
e o silêncio que pensas ouvir
é em verdade o clamor dos instantes em rodopio,
é a claridade de uma salva de assobios
que o peito amante verte, qual clarim.
O silêncio que pensamos ouvir
são parecenças do vazio repleto de nossas presenças,
são vontades que escapam das palavras, arredias...
são olhares arrancados da fotografia
do porvir, e instalados pelo oráculo da cumplicidade
na beleza límpida dos lírios brotados em nosso jardim.
Prelúdio da revelação mais pura,
o silêncio que trocamos tem a simetria do universo,
suas estrelas e luas, que amamos!
Tem a vibração primordial dos sinos
e soltam as amarras e viram este grito mudo
que só nossa amante alma reconhece, enfim.
Obs.: este poema foi feito em parceria com a poetisa Carol Marisco.
Comentários
Poulit p/ Mauro Veras
Belo seu trabalho, poeta. Há de acrescentar qualidade ao nosso "Poemas".
Poesia caudalosa, de versos largos, vocabulário rico e equilibrado, belas imagens líricas, jogo de palavras, enfim... Parece revelar uma identidade poética definida, transpondo a linha sutil e da maturidade. Um risco que temos que correr: exercer o arcabouço da nossa experiência, sem permitir que nosso ego seja seduzido por si próprio.
Bem vindo, Pássaro! Sinta-se entre amigos.
Brade abraço do Passarinho.
Lou Poulit
Agradecimentos, meus e de Carol!
Mauro Veras
Obrigado pelos comentários amistosos e, claramente, elaborados por quem conhece o trabalho com a linguagem. Tenho percebido, nesta nova empreitada, que é a escritura amorosa, que o fazer poético necessita mesmo e sempre do "músculo", imagem criada por João Cabral para simbolizar o trabalho, esforço criativo do poeta trabalhador da palavra. E, no caso específico da poesia de amor, o outro músculo, o coração, também é vital - desculpas pelo jogo vocabular e a repetição, mas a intenção é reiterar a importância de duas etapas fundamentais da criação: o trabalho e a inspiração!
Esse encontro deveu-se, sobremaneira, à ajuda luxuosa de uma grande poeta, Carollina Marisco, parceira que tem me ensinado a medida exata entre sentir e elaborar, dando a cada uma dessas etapas a importância a elas devida: a de 100% para cada uma (rsrsrs!).
Obrigado, mais uma vez! E que eu possa merecer sempre seus comentários críticos e pertinentes!
Mauro Veras
Perfeito
Não me sobram palavras para falar deste lindo poema.. vc e a poetisa Carol foram muito felizes em vossa construção. Resta-me apenas lhes congratular depois de ter admirado tamanha obra de arte!
bjs poetas
frozen kisses
frozen kisses
Eu e Carol é que devemos agradecer ...
Mauro Veras
... ao carinho com que poetas como você dividem com a gente as suas impressões! É também reconfortante saber que parte da missão de uma obra poética está sendo cumprida, a de sensibilizar pessoas! E é essa "sensibilização", que você relata em seu comentário, que nos dá a informação de que fizemos realmente ... Poesia!
Obrigado!
Mauro Veras
Stacarca - Mauro Veras
Realmente seu vocabulário é bem fecundo, isso às vezes faz a diferença, eu particularmente prefiro poemas com rimas, e as suas ficaram bem sonoras, parabéns a vocês dois!
Stacarca
Parabéns poetas
Simplesmente maravilhoso esse poema.
De uma sensibilidade apurada,mágica...
Parabens!
Abraços
MaUrO VeRaS
Oi poeta! Como vai? Que beleza de versos..podemos nos banhar com essa chuva de emoção.Lindo! Um beijo carinhoso de quinta-feira!
ô meu querido Veras e então estás aqui?
** Gaivota **
Gosto deste seu poema e existe nele uma frase que me arrepia:
"...o silêncio que trocamos tem a simetria do universo,..."
Como tudo que vagueia em seu cérebro, vagueia tbém a beleza...
abs
** Gaivota **
Oi Mauro
E no silêncio se faz presente em noites ausentes.
"São olhares arrancados da fotografia", sentimentos descritos em apenas uma frase.
Impossível não aplaudir de pé.
Parabens a você e a Carol.
Fernanda Queiroz
Grande abraço.
Fernanda Queiroz