Naquela noite escura
Eu estava sonhando
E devagar veio até mim
Uma sombra caminhando.
O escuro ocultava
O vislumbre de um olhar.
E na sala escura
Ele pôs-se a dançar.
Rodando, rodando
Em volta de mim,
Eu conheço aquela sombra
Quem é que dançava assim?
Segurou as minhas mãos
E eu o vi pálido e frio.
Mas eu sei que não havia ninguém ,
Que estava tudo deserto e vazio.
Convidou-me para dançar
E eu aceitei o seu abraço
Aquele olhar só tinha um dono -
O susto feriu-me como aço.
Aquela expressão tão doce
No rosto branco como o mármore
Ele estava parado
Como no jardim as árvores.
Mas ele sorria para mim
E alegre ele estava
Eu novamente estava abraçando
Quem eu mais amava.
De onde ele veio,
Será isso possível?
Será apenas um sonho
Ou um pesadelo horrível?
Meu amado esta noite
Deixou seu túmulo silencioso
E veio ver-me de novo,
A saudade é um sentimento horroroso.
Talvez ele nem saiba
O que aconteceu
Talvez não tenha percebido
Que ele morreu.
Então vem ver-me de noite
O escuro é mágico e misterioso.
O frio da noite
É um conto amoroso.
Eu beijo seus lábios frios
E acaricio seu rosto pálido
Minha cabeça em seu peito –
É ainda o seu abraço tão cálido!
Então adeus amado
Eu sei que chegou a hora
De se despedir
Que você tem de ir agora.
Tão alegre é o encontro
E tão triste a despedida
Sem você é tão vazia
E cinzenta a minha vida.
Vá com a minha lembrança
O seu beijo me fez sorrir
E lembrando a nossa alegra dança
Nós vamos em paz dormir.
Comentários
Oi Allegra
Olá:
Quanto amor tu colocaste num poema só.
As pessoas que já amaram alguém de verdade e perderam esse mesmo alguém sabem perceber os teus versos um a um.
vou enviar-te um poema que fiz dedicado a meu pai, após a sua partida fisica.
Meigo olhar
Meu querido pai, olá,
Apetece-me contigo falar,
Anda, volta, aparece por cá,
Preciso de teu meigo olhar.
Quantas noites já deitado,
Sinto em mim a alegria
De sentir-me acompanhado,
Mesmo tendo a cama vazia.
Ti Martinho te chamava,
Num gesto de carinho,
E como tu, gostava
Vir a ser um terno paizinho.
Foste o meu, o grande, pai,
Ainda és o meu grande amigo,
Eu sei que tua vida já lá vai,
Mas lembra-te, quero falar contigo.
Podes ter partido, estar ausente,
Mas continuas sempre comigo,
Sentir-me-ia mal, como doente
Se não pudesse falar contigo.
Francisco Ferreira D’Homem Martinho
2007/04/03
Francisco Ferreira D'Homem Martinho
Francisco Ferreira D'Homem Martinho