Expressão

Foto de Costa e Abrantes

És mesmo desta Terra?

Conforme prognosticado pelos anjos
Passei a amá-la no decorrer dos dias
Busquei pensar mais em ti
No bem mais seleto que a tua presença faz a mim

És mesmo desta Terra?
Ou tu és a lindeza vivificada?
A grandeza jamais quantificada?
A obra de arte jamais pintada?
Ou será que és a paz em ouro banhada?

Um diamante lapidado pelos anjos?
Uma das obras primas do arcanjo?
Vinda da fonte do Santo?
A incrível expressão do superlativo?
A essência da matéria humana?
A inenárravel honra?
A mulher feita sob medida?
A razão áurea?
A constante jamais esquecida?
O resultado da equação da minha vida?
És mesmo daqui?
Digo, desta Terra?

Foto de Riva

A VOZ DO POETA

A VOZ DO POETA

Versifica o amor com o coração tão sentido!
Ó poeta! Deus das rimas e flórido trovador!
Das palavras faz o verso mais compungido,
Para na espectativa lenificar sua grande dor.

Os seus poemas são magias para o ouvido,
Quem os declamam, embriaga o sonhador,
A arte das trovas lhe faz o grande querido,
Rapsodo e arauto do mais piançado amor.

Pervaga por entre as estrofes, adormecido,
Fazendo do soneto seu romântico sedutor,
Flui o pensamento nas estrofes, absorvido
No versar sensível que o torna encantador.

Os céus inspiram-no, e o faz o enternecido,
Expondo no seu cântico o aedo devaneador;
Lirismo, a expressão imo por haver ele vivido
A estesia dos versos, na voz do declamador!

Rivadávia Leite

Foto de janie

Escrever..

de onde nos nasce esse influxo?
Esse tão nosso momento
De expressão e sentimentos
Coisas tão singulares?
De onde é que nasce esse influxo?
Porque tanto lhe apetece
Deslizar, condizer, desdizer
Fluir como água e dar de beber?
De onde é que nasce essa artéria?
Que escorre e produz veemente
que mina da alma da gente
nascente em letras e formas
que surge mansinha, transborda em vida
molha e se retira, e sempre retorna?

Foto de Rosamares da Maia

Por Elas

Por Elas, Mulheres em longos caminhos,
Histórias marcadas, trajetórias turbulentas,
Por Elas, em vidas paralelas ou transversais.
Por Elas, que a violência machuca e subjuga.
Por seu sexo infibulado, anatomia e pecado.
Por Elas que oprimidas amamentam sob burcas,
Como meros apêndices reprodutores,
Sem cor, expressão, prazer e amor.
Por Elas, de todas as origens, castas e classes,
Pelas Anastácias amordaçadas,
Objetos esquálidos e viciados, nas passarelas,
Abjetos produtos no padrão do mercado.
Por Elas, escravas brancas, negras e exóticas orientais,
Vendendo o gracioso prazer de sua natureza.
Por Elas, meninas “cachorras”
Apregoando que “um  tapinha não dói”.
Por Elas, reviradas do avesso, lado reverso,
Toscas mariposas do lado fosco da luz.

Por Elas, Homens – gênero Humanidade - ergam a voz,
Por Elas, cantem hinos à beleza da dignidade,
Partilhem espaço, sem crenças aos tabus de gênero,
Por Elas, façam eclodir a luz.
Por Elas,... por  elas, ...por nós.

Rosamares da Maia

Uma homenagem ao dia Internacional da Mulher

Foto de Riva

NOITES DE SERENATAS

NOITES DE SERENATAS

Noites de serenatas, tempos idos que pranteiam,
Magistrais menestréis com suas modinhas ao luar,
Violões sonoros com seus belos acordes deleitam,
Fascinantes donzelas que se faziam ouvir e cantar.

Valsas fagueiras eram poemas de encantamentos,
Sob o breu da rua escampada, versos a declamar,
Momentos romanescos de regozijos e acalentos,
Em noites olentes e orvalhadas à seresta aclamar.

Janelas se abriam para escutar o canto melodioso,
Dos trovadores com seus soantes pinhos a dedilhar,
Fulvos raios lunares aplaudiam em gesto afetuoso,
As madrugadas frias e calmas do seresteiro a trovar;

Expressão do romantismo em espetáculo suntuoso,
Das líricas cantigas de amor, sempre hei de lembrar.

Rivadávia Leite

mrxriva14@hotmail.com

Foto de Alexandre Montalvan

Fantasia

Era na solidão
tão profundamente penetrava
que já não havia mais paixão
tão íntimo respirava
e no cerne desta razão
onde a essência se escondeu
já não é lugar, nem dor, nem eu.

E o mar já não existe
é no vai e vem das ondas
que o triste
sumiu também
ainda ardia em febre a madrugada
enrodilhada em sonhos olhava

Com olhar de fantasia
nem quem era não sabia.
na lareira o fogo ainda crepitava
quando quase a chama apagava
ele chiava
melancólica melodia que não escutava

Perdão por este desabafo
pelo crepitar das chamas
pela expressão nua
é que no peito os espinhos
se cravam e esta busca de amor
se perpetua.

Foto de Rosamares da Maia

Façam Backup

Façam Backup
Eu tenho medo de que as ideias fujam de mim e por essa razão aprendi a usar o computador.

E não é bobagem, eu já vi muita ideia fugitiva, que simplesmente abandonou a cabeça de seu dono. Não é exagero!

O dono da cabeça fica com aquela expressão meio apalermada de quem come alguma coisa sem sal e sem açúcar. Tudo fica sem nenhum sabor.

Armazeno todos os dias um pouquinho de mim, enquanto lembro.

Eu vi a parafernália que ficou a cabeça da minha mãe, que inesperadamente desencontrou-se da sua vaidade de mulher, da mão para cozinhar, das opiniões sobre o mundo. Não! A memoria humana não tem backup, por isto quando um Cavalo de Tróia chamado Alzheimer de instala no nosso sistema, tudo se desalinha. Os programas armazenados na memória entram em total colapso. Na maioria das vezes somos obrigados a formatar, para tentar realinhá-los, mas, com a ausência do providencial backup, que particiona a memoria em algum lugar do disco rígido ou no HD externo, tudo simplesmente some.

Toda uma vida de estudo, trabalho, casamento, descasamento, filhos, netos, pais irmãos e amigos, tudo o que você amou, construiu e conquistou vai embora, tornando a vida um imenso vazio, onde a incapacidade de reter o conhecimento, ou pior, os sentimentos sobre tudo o que conhecemos escorre pelo ralo da memória, ou da ausência da memoria e nos tronamos indigentes.

Aprendi a usar o computador, nele protejo desta indigência todos os pedaços de mim, todas as minhas coisas, desde atos importantes da vida civil, fotos, filmes, conquistas, ideias e coisas tolas, muito tolas também.

Santa tecnologia! Saibam todos que se algum dia eu me perder na teia estranha da memoria, que aceita um trojam chamado Alzheimer, tem um botão bem na minha frente, apertem e voltem cada pedaço de mim, cada momento, em tela total, bem grande.

Salvem-me do anonimato, da perda da credibilidade humana, de não saber mais tomar banho ou escovar os dentes, de não passar rímel ou batom, de não reconhecer o meu filho e ser capaz de expressar meus sentimentos, em fim, de ter autonomia para dizer sim e não.
Por favor, me façam reaprender me revendo todos os dias enquanto a cura não vem.
Mantenham o backup da minha dignidade intacto, ou então, me deletem para sempre.

Rosamares da Maia

Foto de Carmen Lúcia

Morada da poesia

Ainda não sabia de poesia...
E seus olhinhos percorriam a fantasia.
Tudo podia...
Estar aqui ou alcançar estrelas...
e sem nenhum esforço, conseguir detê-las.

Ainda não sabia de poesia...
E de seus passos, a mais linda coreografia...
De sua alma, a expressão que traduzia
naquela dança, a vida que em si surgia...

Ainda não sabia de poesia...
Fixava seus olhos no desabrochar da flor.
E a via pequena, gigante, de toda cor...
Nenhuma outra magia a tiraria desse torpor...

Ainda não sabia de poesia...
Seus pés descalços na água do mar
transformavam sal em açúcar;
E as ondas brancas, golfadas de algodão-doce,
batizavam seu corpo de menina e moça.

Percebeu a poesia...
Ao descobrir o descompasso de seu coração;
Pulsações irreverentes, batidas diferentes,
e no papel
registrou o que sentia...

Sentiu a poesia...
Descobriu sua morada...
Por todos os cantos, recantos,
encantos e desencantos...
Viu-se cercada...

E a poesia mora
na lágrima que rola,
no sorriso que esconde a dor,
no riso anunciando amor...
No botão que se transforma em flor...

Ela está por toda a parte...
Basta apenas perceber
e do estado latente,
fazê-la acontecer.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Via Crucis

E então decidi...
Despojar-me de todos pecados,
Ser meu próprio Pôncio Pilatos,
Ter meu corpo crucificado...
Não pra salvar a Humanidade,
Não me crivaria de tamanha dor,
Cristo foi mais sonhador...
Não, foi mesmo autopiedade,
Da alma, em busca de serenidade...

Caminhei com a cruz...A que me impus...
Não caí somente três vezes...Foram muitas!
Já havia tombado tanto,
Pelo peso de meu pranto,
Por minha consciência pesada,
Não ouvir a voz da razão,
Nem mesmo a do coração,
E agora, Via Crucis, levo-me à condenação.

Fui Verônica...Cantei o meu desencanto,
Limpei sangue de meu âmago
Deixei registrado no pano
O meu triste desengano...
A Madalena arrependida,
Pelo homem incompreendida
Agora cheia de dores e acatos...
Vítima dos desacatos...

Tentei levantar-me, ser o meu Cirineu,
Reacender a chama que um dia morreu...
Momento sublime...Maria, mãe que redime,
Um encontro...Um olhar...
Nem foi preciso falar...
A única expressão...a de nosso coração!
Sedenta de amor, bebi o seu mel...
Desnudei minha alma, arranquei-lhe o véu...
E chorei...Implorei...Me ajoelhei...
Finalmente, enxerguei uma luz,
Semi-apagada, de um sol eclipsado
Recomeçando a acender...

_Carmen Lúcia_

Foto de Chácara Sales

Menina Cristalina

Quando olhei pela janela
Vi que estavas ali tão linda!
... Contemplei tua beleza de menina cristalina...

Ao chegar a ti, tão pertinho,
Viajei por entre o céu
Ao roubar-te um beijinho...

E na intimidade do teu olhar
Que me espiava por inteiro
- Percebi de leve o sorriso
que o acompanhava satisfeito - .

O rostinho tão singelo delineava as covinhas
Que se formavam sutilmente na expressão de alegria.
Eu feliz do teu lado, feito bobo apaixonado
Me entreguei a teu carinho sob o gosto de um afago.

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