A Gênese
Se cada folha seca
Caísse num lago
Ela não pereceria
E seria livre
Para ver o mundo.
Mas tão poças folhas
Vivem perto de um lago,
As outras perecem na areia.
Se cada pingo de chuva
Caísse numa pétala de rosa
Ela não murcharia
E exalaria um perfume
Para adoçar o mundo.
Mas tão poucos pingos
Regam as rosas
Os outros secam-se nas pedras.
Se cada semente madura
Caísse no solo,
Ela vingaria
E daria vida
Para enfeitar o mundo.
Mas tão poucas sementes
Espalham-se no solo,
As outras se dispersam com o vento.
Se cada olhar
Fosse correspondido
Não haveria solidão,
E a paixão nasceria
Para dar sentido ao mundo.
Mas tão poucos olhares
São compreendidos,
Os outros se encharcam de lágrimas.
Quando uma semente madura
Caiu no solo,
E os pingos de chuva regaram-no,
Nasceu uma flor.
Os olhos que a viram primeiro
Levaram-na como presente.
Esse olhar foi correspondido
E daí nasceu o Amor.
Mas a flor que nasceu na areia
Não resistiu e murchou.
Os olhos que tarde chegaram,
Encontraram o olhar já distante,
E daí, nasceu a Dor.
Fábio Almeida dos Santos 31/08/08