Prosas

Foto de SANDRA FUENTES

Copacabana

Recupero-me da queda de ontem. Assombrada ainda com o impacto do meu corpo no meio fio. Boca sangrando lágrimas. Afinal, onde dói mais? Permaneço olhando o teto branco de gelo que derrete e molha minha nudez. Meu corpo rígido desfalece e, por uma eternidade de duas horas e quinze minutos, sente apenas o que foi o calor que aquecia este planeta de seis metros quadrados que eu chamava de santuário. Não sei se o que ouço é música. São ruídos que vêm da rua e é provável que seja efeito ainda da overdose dos abraços que chegavam de surpresa. Meu corpo levanta e caminha até a sala, mas sinto que estou deitada e presa neste espaço sendo banhada aos poucos pela água gelada. Observo de longe minha imobilidade. Chame de saudade quem quiser. De queda, tombo, atropelamento, surra, que seja. Muitas de mim não existem desde ontem. Houve uma chacina. Duas sobreviveram: uma deitada no frio molhada pelo teto que derrete e outra ensandecida contando as pedras do calçadão de Copacabana.

Foto de Ana Rita Viegas

Senti

Senti que me querias
Mas o escuro do teu olhar nada disso dizia
Aproximei-me de ti
Muito lentamente
Tua mão estava rija
Tua voz estava demente
O teu olhar nem com o meu queria cruzar
Arrepiei
Agarrei-te
E com o olhar supliquei
Por um beijo teu.
Sussurro-te
Palavras, frases, sentimentos verdadeiros
Abraço teu corpo
Ali no cume do edredão
Com a mão percorro-te
Suavemente
Finalmente o olhar sereno
E brilhante vejo
No teu lindo rosto
Ouço-te
E sinto-te deslizar em mim

Foto de Anonimo EU

Conversando de mim para mim mesmo

Acabou??
Nunca desista dos seus sonhos. Se parece que não deu certo, tenha calma. se seu sonho ainda não se realizou é porque ainda não esta na hora de acontecer.
Deus sempre tem um proposito em nossas vidas, basta seguir em frente com honestidade que você vai descobrir o proposito que ele tem pra você.
Nunca esqueca, seu maior inimigo e sua maior barreira é você mesmo. Não deixe o persimismo tomar conta de você. Não pare no meio do caminho, tenha curiosidade, tente descobrir descobrir o proposito qu e Deus tem pra você, tenha sede de conhecimento e va em busca de sua realização. Não há nada mais prazeroso e gratificante que mostrar a vc mesmo que hoje você esta realizado.
Nunca deixe seus medos lhe impor limites. Lembre-se, que escreve o seu destino é você mesmo, então não deixe q o medo lhe dite as regras do jogo.

By. Douglas Bispo

Foto de João Victor Tavares Sampaio

A Última Cruz

Não foi o primeiro pai de família que existiu, nem o último que faleceu. Sua vida, assim terminada, refletiu a solidão que quer queremos ou não, nos faz sentir saudade, amor, essas coisas de gente viva. Deixou uma falta que não se sacia nos dias de finados, aniversários, missas de sétimo dia. Foi, e não voltou mais. Quem sabe um céu lhe aguardava.

Sua morte foi trágica, solitária, isolada. Ninguém deu-se conta de tanto, ou melhor, poucos. Seu corpo ficou ali, largado por dois dias entre o chão da cozinha e a entrada do banheiro, era uma casa de pobre, mas bem assentada, na periferia de uma cidade periférica. Morreu e o esqueceram, ali na sua morte. Houve um vizinho não se preocupou com sua recente podridão, razão de seu óbvio enterro.

Uma coisa deve ser explicada, para melhor entendimento do texto. Ninguém quer a morte. Ela é um processo doloroso, traumático. Não há um ser humano que não responda aos seu instinto de não sofrer, sentindo uma dor que só se apagar com a entrega ao sono final, o último descanso injusto ao redor que lhe agride, a última cruz que se carrega para se manter a existência.

Mas o mundo é um quente, corrosivo, oxigenado pelos ares das novidades. Não há lugar para o sofrimento eterno e improdutivo, ainda mais o próprio. Sua dor cessou, mas foi uma pessoa útil. Assim merece essa homenagem.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O verdadeiro terremoto

Vemos, todos os dias, pessoas sãs cometendo crimes dos mais diversos, promovendo chacinas para proteger sua normalidade, destruindo valores para manter os mais variados vícios, e seus respectivos cíclos, especializando-se em banalizar cada vez mais a existência de menos para concentrar poderes pequenos, estéreis, vulneráveis, tossindo palavras sujas e contagiosas e escovando suas bocas com suas lâminas de barbear.
Necessário o seu poema, Carmem, diante da surdez das tragédias.

Foto de Stacarca

Declaração de Amor

A tua beleza formidável exala recônditos turbilhões de sonhos na nevrose de minh’alma luminosa de paixão, sua formosura que concede aos olhos e a pele prosperar emoções contra veneráveis cloroses aos sonhos mais grotescos de meu ser, fazendo o doloroso se tornar miraculosamente tiaras de felicidade e maravilhas indeléveis de orações milagrosas, essa sua beleza perpetuamente contínua que divinamente faz as constelações soarem frêmitos que traduzem e materializam o amor. Essa sua prodigiosa forma de etéreo fascínio que contagia o mais rigoroso e trêmulo dos seres de virtudes perspicazes, Essa dádiva que treme o alicerce dos infernos e que excita o leproso numa tormenta excessiva de prazeres translúcidos. E esse azul de seus olhos que vão além das fúlgidas paisagens de todo o paraíso azúleo e tênue criado por Deus, e que consegue ser mais belo que o mais límpido céu esplendoroso de clarividências. Não sei quanto esse sorriso alvo é capaz de triunfar florescência de ritmos a um romanesco libidinoso e estéril, e o quanto essa brancura estupenda e contagiosa vibra melodias além das harpas dos anjos mais belos e elegantes. Essa sua voz que deixa as cordas à lira em desgosto com a sonoridade tão perfeita e infinitamente perpétua aos ouvidos, e que arroja uma sinfonia de constelações explêndidas. Essa mocidade imune a frigidez e que beneficia ao corpo uma pelúcia de desejos que sensualmente constrói um hipnótico olhar. Com sua gracilidade essas perfeições assombram o pensamento e o coração mais sepulcral e noctâmbulo de indiferenças, e com essa beleza e perfeição faz meus dias e noites serem mais belos e quentes com uma variabilidade absurda de idéias e pensamentos vorazes além do tempo e do espaço.

Foto de Elenildo

Tardes Solitárias

Tardes solitárias, estou sentado no banco da praça, vejo que os namorados que passam, nem notaram minha solidão, tardes como as outras tardes,
tardes vazias, onde a tua ausência é minha companhia, tardes iludidas por uma normalidade falsa onde a tranquilidade superficial que no meu rosto
se reflete nada retrata o transtorno que sinto por dentro.
Tardes tenebrosas com claridades obscuras que só ilumina minha amargura, tardes que me fazem lembrar das vezes em que eu sonhava e até mesmo
planejava planos para uma eternidade que só existia nos meus sonhos alimentados por uma realidade passageira, tardes com ventos frios que me causa
calafrios aterrorizantes, e como as outras tardes, essa tarde se despede com o decline do sol levando consigo todos os que estavam a minha volta.
agora, o silêncio que prevalece do lado de fora não é mais forte do que a guerra que permanece do lado de dentro de um coração atormentado
pela solidão...

(Elenildo Soares)

Foto de Jessik Vlinder

Dor e Silêncio...

E agora começa a chover só para completar minha tristeza. Na verdade, não sei nem se é tristeza o que sinto. Não tenho vontade de chorar, tenho vontade de gritar! De sair correndo nessa noite fria. Porque frio assim está meu peito. Um gelo pulsando do lado esquerdo.
E se de fato assim eu fizesse? Provavelmente nenhum príncipe iria aparecer para me salvar de mim mesma. Para me olhar e ver como são lindos meus cabelos molhados escorrendo pelo rosto, confundindo a água salgada com a da chuva. Ou perceber como o tom arroxeado combina com o tremor incontrolável dos meus lábios. Muito menos se apaixonar pela donzela indefesa largada na rua e jurar seu amor eterno... Não, essas coisas só acontecem em filmes e livros. A verdade é que estou tão perdida... tão sozinha e vulnerável... A verdade é que ninguém vai chegar para mim agora e me abraçar por longos minutos enquanto eu me desmancho em lágrimas como uma garotinha. A verdade é que por mais que eu necessite de alguém para me ouvir e não me julgar, para fazer um carinho e me aconselhar... esse alguém não vem, nem virá. A verdade é que sou mais uma que sofre calada, que espera a madrugada para enfim se mostrar...

Foto de Tehana Madra

O VENENO QUE CIMENTA A ALMA

De todos os sentimentos, a culpa é sem dúvida o mais forte porque reduz seu campo de ação. A culpa destrói sua capacidade analítica, aumenta sua sensação de fracasso e te reduz a condição de um espectro. Para solucionar esse sentimento nefasto você precisa primeiro ter humildade, segundo; coragem, porque é muito difícil para o ser humano admitir sua falibilidade, ele quer vencer sempre. Logo, prefere ignorar um sentimento que o atormenta que admitir o erro. Todavia, a culpa é como um germe que vai degustando paulatinamente seus nervos, infectando sua carne, te deixando combalido; cheio de escaras até você gritar por morfina para aliviar a dor. Como você tem consciência desse mal estar que a culpa causa, então não é melhor reconhecer a falha e pedir perdão? Ou você prefere se decompor até ser atirado na sarjeta como um alienado mental? Pense, reflita sobre sua finitude diante da vida e veja como é bom cultivar dentro de si sentimentos positivos como, amor ao próximo, humildade, solidariedade e liberdade para pôr a cabeça no travesseiro e refugiar-se no sono dos justos. Essa é uma postura leve, profunda e reflexiva de quem é filho daquele que gerou todas as formas de vida na terra e presenteou você, criando-o á sua imagem e semelhança.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Pequeno Ditador

Era uma era, onde não havia vez. Nesse tempo vivia um pequeno ditador, cujo nome só podia ser entendido na sua própria língua, e esse pequeno ditador massacrava seu povo, e esse pequeno ditador promovia orgias com as riquezas acumuladas por meio da sua opressão. Num lugar esquecido pelo resto do mundo, ele, figura exótica, de nada lembrava as caricaturas chaplinianas do cinema ocidental. Era o fragelo da era, há meio século no poder. Quase um imortal.

Mas acontece que ele não era imortal. Certo dia, após uma entrevista para uma televisão estrangeira, o pequeno ditador teve de esperar a chegada de seu motorista oficial. Logo ele, o pequeno ditador, tendo que esperar! Não costumava ter um minuto de sossego, com bajuladores indo e vindo. Mandou todos para longe da sua presença e, aborrecido, pôs-se à meditar solitariamente na solidão de seu poder.

Teve a idéia de rezar. Não soube bem explicar à si mesmo a causa. Não precisava de mais nada. Viu-se na obrigação de orar por proteção divina, mas com tantos seguranças, e um exército à disposição, não tinha tanto o que pedir. No seu país era mais poderoso que Deus. Sua palavra era o que apontava a salvação e determinava a morte.

Mas, que poder era esse, poder de bombardear a própria pátria; de destruir sonhos de mães, filhos, irmãos; de arrasar um deserto, vejam só, um deserto, tornar a vida impossível num lugar que já é árido; prender aqueles que tanto sofrem pela liberdade, ao ponto de viver num lugar onde ninguém mais poderia para preservá-la.

O Pequeno Ditador, como um Narciso que lambe a própria imagem, curvou-se hipócritamente diante de seu superior imediato, e implorou brandamente a piedade de seu universo. Por um momento se envergonhou. Por um momento foi humano, em se titubear. Por um momento acreditou que o mundo é bom, mas as pessoas são egoístas e o estragam por besteiras. Um instante que revelou toda a sua vida.

Mas foi somente um instante. Alguém bate forte à porta. Será o motorista? Tomara? Ou não, será o inesperado, pedindo a passagem do imponderado...?

Nesses tempos nada é tão improvável.

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