Sou o autor de uma obra patética,
Orador de uma ode a ninguém,
Sou o bardo que se demora ainda
Em cantar belezas além.
Sou filho da incultura,
Pai de pobres rimas,
Irmão de estrofes disformes,
Tão tortas como a vida.
Porém juro, não sou eu o culpado,
Se meu verso é triste, e são tort´as linhas,
Culpe este coração maltratado
Pois tais palavras não são minhas.
Mas sim, de minh´alma peregrina
Que traz consigo ainda os sonhos da puerícia,
Esta que sempre a caminhar tão sozinha
Faz-me agora dizer algo que não disse.
Hoje não me queima o peito o furor da juventude
Vivo tedioso uma velhice adolescente,
E meu coração como a criança arrependida
Teima em sentir algo que não sente.
Birra que nasce em mim a alma de um poeta,
Alma esta que já nasce abortada.
Grita que pode ouvir a voz do gênio
Depois se cala, e não diz nada.
Então meu idear se acaba
E ele assume o comando,
Vassalo, vou às vezes escrevendo,
E muitas vezes chorando.
Mas que posso eu fazer?
Parar meu coração?
É ele que faz fluir a vida
E qualquer outra emoção.
Logo, deixo aqui torta
Esta pobre linha,
E também quase morta
Minha curta vida.
Deixo o idear do gênio,
O pulsar de minh´alma,
E do coração fica somente
A batida mais calma.