... Nem é má...
Nem é...
Esta ideia surgiu...
E abandonou-me.
Parou de chover...
Abriram-se os caminhos das cheias
Chegou a vitória
E as gentes cruzadas.
Perguntei-lhes nas barricadas
Se nas férreas-vias
Crescera erva daninha
Vicios e maldicência?
Ah
Mas todos partiram
Sem de mim ligarem
Se calhar
Tiveram medo
Medo!
E...
Assim me quedei
Morto nas horas do sul
Os meus restos falam
E os meus sonhos calam.
Sou a angustia
Que dói de ver
Sou soldado
Ao abandono.
Ninguem me ergue o olhar
De si
Nesta paisagem...
Todos fogem
De mim...
Choro
Ó choro
Choro por que me afliges
Porque partes a minha alma
Porque quebras a minha luz.
Porque me afliges assim?
Sou a angustia
Que dói de ver
E não mais te assim verei
Nas brisas fortuitas
Nem nas brisas prostituas
Dos meus sonhos.
Não...
Nem nas minhas ânsias
Proque me aflijo
Se partes?
Veio o sol
E o teu silencio
Embala-me.
A tua voz
É em mim
Uma ideia fingida
E faz-me navegar
Como um Apolo
Numa imensa lira de soar.
A tua voz
É a imensidão das sombras
Tristonhas
Que choram
Entre os prados
Murchos de cansar
Onde secou o teu olhar
E morreu o meu olhar.
Ah esta ideia aflitiva
De ver portos vazios
E sem navios...
Priva-me da razão
Que se acha finda.
Eis finda!
A calma ergue-se de novo
Sobre a saudade
E no abismo
Do alheamento
Os teus gestos
Não se apagam.
Não se apagam
Na minha alma ainda quente
Sou a angustia
Que dói de ver.
Ah o teu silencio
No meus seios oprimidos
E sem sentido.
Ah o teu silencio
No sonho de sermos
E não nos sermos mais.
Oh repiques de sinetas
De mim em delírios
Oh sinos
De mim aos desatinos.
O teu silencio é cego
É o sonho de te saber
... Tenho medo.
É medonho o teu silencio
De dito pelo fito
Do norte
Do sul
Da chuva
Do frio
Do destino
E da sorte...
Tenho medo.
És o meu desespero
Que não ignoro
Para não perde-lo
Porque no mundo
Assim aos sobressaltos
Me alevanto e caminho
Eu
Soldado ao abandono.
O teu silencio
É a minha cegueira
O meu sonho inerte
... Que aberto
Seria o mais belo
... Tão belo
Tão belo.
Não reparei nas horas
Que ainda cá estou
Nem o tempo que cá fiquei...
Calaram-se as tuas mãos
Sobre o meu peito
Murcharam os silencios de nós eleitos
E os meus sonhos
Não têm fim.
No ar os sorrisos gozam
O teu tédio
De me seres loucamente infinita
Ó soubessem
Soubessem nesse teu pueril horizonte
Quantas virtudes guardas
Ó soubessem!
Soubessem eles
No alheamento
E à força
Que em ti se erguem
Gementes
Crisântemos perfumados...
Soubessem!
Como me confunde o teu silencio
Como me desalegra
E ao mesmo tempo
Não existem no mesmo mundo
Sorrisos como os teus.
Ó é tarde
E a noite espreita
Arriscando-se a entrar.
Já não chove
E o céu
É imperfeito.
O céu bordado de nuvens
Anuncia mais um vendaval...
Estou triste!
A minha consciência está triste
Que raios é a minha consciência?
Que raios é
Se de ti não oiço preces
De amor
E és uma flor murcha
No meu pensamento
No meu peito
Que raios é a consciência?
Ah se fossemos um só...
Que tortura...
Sou medonho
Funesto nesta dor
Nesta unica dor
Que me dói!
Sou o cansaço
O meu ódio
Sem forças
Para te chorar.
O meu ódio corrompe a alma
De sentimentalismos
Como se uma nau desgovernada
Não achasse um bom porto
Para se acalmar
Para gritar
Berrar
Uma glória
Numa só bandeira
Duma só bandeira...
Vitória!
Ah mas eu sou a própria alma
Para além dos sonhos
Num porto
Sem navios.
E não sei se sou do norte
Ou do sul...
O teu silencio faz-me chorar
E gozam as virgens o meu tédio
Ó soubessem elas!
Soubessem elas a tua morte
..... Sim.......
..... Salva-me meu amor...
Da furia da minha ira.
Salva-me
Dos homens
Da dor
Da fome e da guerra
Leva-me contigo
Não sei viver sem ti
Minha amada.
Mostra-me o caminho
Que farei sozinho
... Salva-me.
Não me abandones nesse teu silencio
Que na hora da morte
... É morto
E eu já não sou quem era
Salva-me.
Soubessem elas
Não
Não, não
Não...................................
........................................
........................................
Porquê?
Que estranha é a alma.
Esse teu silencio
Deposto em meu peito
De sonhos aflitivo
E é morto
No infinito
E é sombrio
E é o sonho
Que se ergue
Como um muro
Na calma
Por dentro da alma
Que no fundo
Arde
Na vida que passa
E não sei quem eu sonho
Mas a vida passa.
E entra em mim
E passa
E ilumina-se
Em cada vela acesa
Purissima como o fogo
Que bate e aquece a vidraça
Para logo ouvir a chuva
Da chuva em vida
E no seu esplendor.
Que pena não poder
Através da janela
Olhar a chuva que cai sobre o meu altar
Num canto de coro latino
Que se sente chorar
Se não houver choros.
E passa o teu nome como um padre
Esta missa serena
Onde encontrar-te
É perder-me nos teus braços.
Apagaram-se as luzes
É o fim
E de repente
Escureceu!
O tempo é um abismo
Em hoje ser um dia triste
E nele te escrevo versos
Com esta pena
Que em todo o meu ser se esmaga
Numa infinita tortura
Ao som da tinta e do tinteiro
Onde o rejubilar do papel
É feliz.
E
Por onde escrevo
Os nossos olhares
Se cruzam.
E
Surge imensa a alegria
Difusa de mim...
Penso...
Tudo para...
Surges-me
Ao longe
Sobre os meus olhos fechados
Dentro de mim.
... Alguém sacode esta hora
Invadindo-nos de prazer
E sob os meus dedos
As minhas mãos
São vazias
E tristes na música que corre
Estamos em todos os lugares
Sorrio...
Pois esqueço-me das horas
E eu sou a própria alma
Para além dos sonhos.
Paulo Martins