... Regressas a casa, entras, sorris e olhas-me!
Mentes!
Mentes pois o coração entende os factos e as falas da alma.
O coração sofre por te deixar ser livre e feliz.
Já não me és a mesma de todos os dias, escondeste entre o falso e o deixa-andar, amas com o coração de mulher que se sente traido pelo meu silêncio.
Sofres porque te deixo navegar nesse lago de sentimentos novos e místicos, para que percebas e entendas, se sou justo e te mereço.
Não me sinto de algum modo arrependido por te ter libertado desse tédio em que vivias, ainda que efémero; antes pelo contrário, sinto-me emancipado e conhecedor dos meus limites.
Não tenho medo!
Hoje não sofro... deixei que os ciúmes acabassem para entender o âmago da minha existência. Divido-te com outro, mas não te minto.
Mentes!
Mentes e não sabes como lidar com esse sentimento.
Sabes que eu sei...
Não entendes o meu silêncio mas também não tens a coragem de romperes com tantos anos de passado.
Sabes que nada mudou em relação aos meus sentimentos; apenas partilhamos camas diferentes, dormindo no relento das noites de costas voltadas, neste fragor de ilusões como se não pudéssemos terminar com esta saga de tormentos.
Ficamos!
Todos nós julgamos que temos sempre uma justificação para os nossos actos, e que os outros são sempre culpados pelo bem ou mal que cometemos.
Mas esquecemo-nos que não existem motivos para a raiva e para a vingança, pois somos todos culpados pelo que fazemos.
Podemos não estar acordados e não percebermos os sinais, e, muitas vezes é tarde...
Tudo segue, e aceitamos esse destino, como se ele fosse uma coisa culposa de nós.
Aceitamo-lo na nossa infidelidade, de continuar-mos sempre no mesmo sítio e nada mudar, seguindo assim pelas noites afora, zangados com o mundo.
Paulo Martins