Pressa

Foto de Bruno Silvano

Amor de Primavera

Primavera, ahhh a primavera... Era meados do mês de setembro, a estação ainda era o inverno, mas os dias passavam de pressa e se aproximava da primavera, as temperaturas eram bastante altas para a época, soava um vento típico da estação, não um vento qualquer, mas daqueles que sopram sem rumo, que são abafado, que nos prendem e trazem uma serie de pensamentos, reflexões. Estava sentado ali em uma rede improvisada em meio a natureza na fazenda de meus pais, tentando a todo custo ler um livro sobre astronomia, mas aquele vento não deixava, foliava as paginas, e me sacudiam na rede, provocando um nó no estomago.
Era apenas um garoto de 15 anos, sonhador, pouco sociável, possuía vários amigos, mas muitas vezes me alta excluía, me sentia diferente por nunca ter “ficado”, com uma garota, não por falta de vontade, sim por muitas vezes ter sido rejeitado, ou talvez não ter feito nada certo, como geralmente acontece.
O vento varria as folhas das arvores, carregava os pássaros mesmo contra sua vontade para o norte, que mesmo sem saber seria o melhor lugar para eles, e o vento me fez refletir sobre todos os meus quinze anos de vida, sobre o que faria de errado de errado, sobre o vazio que sentia dentro de mim, me deixava ainda mais cabisbaixo, não sei de onde tirava forças de passar uma aparência de uma pessoa forte e feliz para os outros. O vento se intensificou e me recolhi para dentro de casa. Estava bastante cansado, o dia seguinte seria bastante corrido, logo fui dormir.
Acordei cedo, com o barulho do carro de som que anunciava sobre um festival de balonismo que aconteceria próximo a cidade na semana seguinte, para marcar o inicio da primavera, fiquei surpreso ao saber que o grupo de voluntários da ONG do hospital poderia entrar de graça. Meus pais já haviam saído para o trabalho, e meu café estava pronto no microondas, comi rápido e parti para o hospital, onde vestido de palhaço faria uma espécie de Standart Comedy em prol de ver ao menos um sorriso de esperança e felicidade e o brilho nos olhos, daquelas pequenas crianças, que faziam tratamento contra o câncer, essa satisfação não tem preço e com certeza era o que me fazia dormir em paz e dava força para continuar sorrindo.
Nunca esperei ser recompensado com meu trabalho, sim eu era sozinho, sentia falta de alguém para abraçar, beijar, mas mesmo assim mesmo entre trancos e barrancos conseguia ser feliz. Muitas vezes ainda chegava em casa e tinha que arranjar ainda mais forças, pois meus pais brigavam constantemente. Pouco sobrava tempo para conversar com meus amigos.
Os dias passavam muito rapidamente e comecei a sofrer com a mesmice da rotina, estava um pouco quanto animado para assistir ao festival, que aconteceria no dia seguinte, mas meus pais não concordaram muito com a idéia, meu pai chegou bêbado em casa e pela primeira vez bateu em minha mãe, fiquei completamente sem saber o que fazer, corri para pedir socorro, mas fui atropelado por uma moto, cai com tudo no chão, meus pais não reparam, apenas se entreolharam quando me viram chegar em casa com a perna quebrada. Nunca me senti tão mal quanto nesse dia..
O dia do festival havia chegado, havia me desanimado um pouco, mas fui convencido por uma amiga a ir.
Era o primeiro dia de primavera e as flores já haviam todos brotadas, eram um espetáculo de cor, perfume e harmonia, é a estação da magia havia chegado e eu ainda não tinha encontrado um par ideal pra mim, uma garota que me quisesse, me amargurei mas logo esqueci com os show que estavam por começar.
Não era muito bom em detectar cheiros, parecia uma rosa misturada com uma dama da noite, era um perfume irresistível, não percebi que vinha de um garota que estava atrás de mim, até esbarra-la. Estava vestindo a camisa do Criciúma, o maior time de SC, as cores davam ainda mais ênfase a sua beleza, não consegui falar nada, tinha medo de fazer tudo errado como de todas as outras vezes e deixar aquela guria espantada, o silencio foi quebrado por minha amiga, que nos apresentou.
Seu nome era Júlia, para mim a mais formosa flor do campo, tinha cabelos pretos, media perto de 1,60m, não era da cidade, mas também se fascinava por espetáculos. Seus olhos brilhantes me hipnotizavam, me chamavam a atenção. Não era perfeita, mas era a Garota ideal para qualquer garoto, esperta, cheirosa, linda, e ainda acima de tudo torcia para o Criciúma.
O dia foi passando e ficava cada vez mais encantado, não consegui para-la de olhar, de conversar, o papo se estendeu até o fim da tarde. Já temia me despedir e nunca mais vê-la.
O sol estava se pondo e deixava o céu cada vez mais tricolor, que se entrelaçavam com Júlia, o sol com seu sorriso, seu olhar, e o amarelo e preto com sua camiseta. Me considerei o cara de mais sorte do mundo, por ter passado ao menos um pôr-do-sol com ela, fiquemos bem agarradinhos, fiquei com medo de beija-la.. Não sei se terei outra oportunidade, mas rezo para que ano quer vem ela apareça nesse festival novamente.

Foto de WILLIAM VICENTE BORGES

SARÇA ARDENTE

SARÇA ARDENTE
Por: William Vicente Borges
CANTO I

1
Há um fogo que arde na sarça.
Ela está na minha frente.
Eu tremo. A terra treme!
A sarça arde, mas não se queima.
Continua viva, continua verde,
continua sendo sarça.

2
Há um fogo que arde na sarça.
E meu coração é pequeno demais
para entender este fogo que não queima.
Esta sarça que arde e não se consome.
Esqueço quem sou quem eu fui,
esqueço de tudo, até de meu nome.

3
Há um fogo que arde na sarça.
O deserto está muito quente.
Mas o fogo, este é diferente.
Fogo sem combustível, mas ardente.
Não sei o que faço, se corro, ou fico,
mas não dá pra ficar indiferente.

4
Há um fogo que arde na sarça.
Nunca vi nada assim antes,
como isto pode acontecer?
Será miragem de sol escaldante?
Será que fiquei louco neste instante?

5
Há um fogo que arde na sarça.
Não consigo ver nada ao redor.
Só eu e esta sarça que arde.
O chão não pára de tremer.
Ou são minhas pernas que tremem.
Será aqui que vou morrer?

6
Há um fogo que arde na sarça.
Ouço o crepitar do verde que não queima.
Ouço o crepitar de meu coração batendo forte.
Meu peito também está ardendo.
Sabe que está diante de algo não natural.
Será isto do bem, ou do mal?

7
Há um fogo que arde na sarça.
Devo me aproximar, ou não?
Há algum perigo que a espera?
Não sinto o perigo, mas temo.
Sairei daqui, machucado? Ferido?

8
Há um fogo que arde na sarça.
Quem me trouxe aqui pra ver?
O acaso? O destino? Não sei.
Não acasos ou destinos, creio.
Há propósitos e caminhos,
há na minha mente muito receio.

9
Há um fogo que arde na sarça.
Minha vida, sempre sem pressa, espera.
Preciso aqui aguardar.
O que vem depois da espera?
Deveria ser outro neste lugar.
Não eu diante de estranho queimar.

10
Há um fogo que arde na sarça.
Não irei mais me preocupar.
Uma paz estranha invade minha alma.
Posso neste fogo confiar.
Quero ficar aqui afinal.
Não preciso realmente recuar.

CANTO II

11
Há um fogo que arde na sarça.
O tempo parece que parou.
Começo a pensar em muitas coisas.
Lembranças antigas de outro tempo.
Não sei por que penso nela aqui,
parece que encontrei o infinito.

12
Há um fogo que arde na sarça.
Lembro-me menino ouvindo histórias.
As histórias de um único Deus vivo.
Ouvi de um menino lançado num rio.
Que não foi almoço de crocodilos.
E se tornou um príncipe no Egito.

13
Há um fogo que arde na sarça.
O meu povo escravo naquele país.
Tantos anos longe da terra de seus pais.
Da terra dos antigos adoradores.
Terra que mana leite e mel.
Vivendo, hoje, todo tipo de horrores.

14
Há um fogo que arde na sarça.
As lembranças não param de vir.
De minha mãe ouvi tantas histórias sem fim.
Dos sonhos do jovem José, que sofreu,
que usava capa colorida,
e que em terra estranha venceu na vida.

15
Há um fogo que arde na sarça.
Que faz arder meu peito.
Tenho um povo, tenho uma missão?
Mas não volto mais de onde saí.
Estou velho, tenho medo, não sei falar.
Nada posso fazer nesta situação.

16
Há um fogo que arde na sarça.
Melhor eu parar de pensar.
Esta loucura tomou conta de mim.
Meus olhos doem, estou tonto aqui.
Não quero mais recordar tanto.
Não quero lembrar que fugi.

17
Há um fogo que arde na sarça.
Isso não faz o menor sentido.
Ou será que todo sentido faz?
Não parece haver caminho de volta,
Perdi o sentido de direção
Por quer arde tanto este coração?

18
Há um fogo que arde na sarça.
Quer confrontar minha identidade.
O que espera de mim?
Não respeita minha liberdade?
Como pode me afetar tanto
logo eu nesta minha idade.

19
Há um fogo que arde na sarça.
As lembranças, teimosas, vem e vão.
Objetivação ou subjetivação?
Sim, eu feri, eu matei, em vão.
Meus pecados queimam meu interior.
Não vou reviver mais esta dor.

20
Há um fogo que arde na sarça.
Não vou lutar com estas recordações.
Queria eu, não ter mais memória
Aqui fiz nova vida, estou muito feliz.
Tenho esposa, família, filhos.
Estou como sempre esperei e quis.

CANTO III

21
Há um fogo que arde na sarça.
Volto-me finalmente para o hoje.
Detenho-me diante deste instante.
Como a vida se me apresenta dura.
Mas nada muda o que observo
A sarça cujo fogo perdura.

22
Há um fogo que arde na sarça.
Numa desconhecida relação universal.
Neste dia de um tempo qualquer.
Quem sabe na história ficará.
Ou apenas na lembrança de um homem velho.
Definitivamente não sei o que será.

23
Há um fogo que arde na sarça.
Parece elaborar uma nova ordem.
Acabará com o caos da minha vida.
Sabe bem aonde quer chegar.
Irá iniciar uma jornada definida.
E nada vai lhe embaraçar.

24
Há um fogo que arde na sarça.
Não há como isto contestar.
Há saída para o sofrimento.
O mal não irá triunfar.
Há dia para o fim do tormento.
Heróis com ou sem medo irão lutar.

25
Há um fogo que arde na sarça.
Há belos hinos angelicais.
Há milagres sendo gerados.
Há ventos que sopram do norte.
Há uma obra metrificada.
Há cheiro de vida e de sorte.

26
Há um fogo que arde na sarça.
Há segredos que nele se escondem.
Há verdades que serão reveladas.
Estou perdendo a respiração.
O fogo não vai se apagar?
Não sinto mais nenhuma aflição.

27
Há um fogo que arde na sarça.
Algo que jamais irei esquecer.
Momentos que jamais passarão.
Parece sonho, mas é vulcão em erupção.
A sarça arde com grande poder.
Aumenta minha palpitação.

28
Há um fogo que arde na sarça.
Que beleza sem igual esta visão.
Que mais eu poderia ver depois disto?
O que me chamaria mais a atenção?
Nunca mais esquecerei tal dádiva.
Será minha maior recordação.

29
Há um fogo que arde na sarça.
E que grande ponto de interrogação.
Quantas perguntas me estrangulam.
Quão grande minha imperfeição.
De onde me virão respostas?
Quem me dará a solução?

30
Há um fogo que arde na sarça.
E ninguém segura minha mão.
Que profunda é esta situação.
Como roda minha mente.
Estou ficando sem forças.
Tenho que ficar alerta novamente.

CANTO IV

31
Há um fogo que arde na sarça.
O tempo vai passando sem passar.
Minhas pernas continuam bambas.
Há um silêncio difícil de explicar.
As respostas ainda não vêem.
E eu não paro de suar.

32
Há um fogo que arde na sarça.
Estou com os nervos à flor da pele.
Este lugar parece não existir.
Quero gritar, mas não consigo.
Como suportar este mistério?
Preciso que alguém fale comigo.

33
Há um fogo que arde na sarça.
Uma voz retumba no ar.
É perturbadora, forte, tensa.
Fico paralisado de pronto.
Meu coração reconhece o estrondo.
Minha emoção se torna imensa.
34
Há um fogo que arde na sarça.
Uma voz sem igual sai dela.
Uma voz que não confunde.
Não posso estar delirando.
Não é o calor do deserto
É a voz que estava esperando.

35
Há um fogo que arde na sarça.
Tudo está tremendo mais.
Eu tremo absurdamente.
Não haverá misericórdia?
Quantas coisas na minha mente.
O coração e a razão entram em discórdia.

36
Há um fogo que arde na sarça.
Não sou tão corajoso.
Algo então me acalma.
A voz entra no meu interior.
Sinto que ela me abraça.
Ela é expressão maior de amor.

37
Há um fogo que arde na sarça.
Voz que é igual a de muitas águas.
Que faz até o céu enrolar.
Simplesmente Toda Poderosa.
Voz que tudo transforma.
E ao mesmo tempo formosa.

38
Há um fogo que arde na sarça.
Uma voz que está a me chamar.
Quem fala me conhece bem.
Sabe tudo o que sinto.
Sabe o que penso se,
digo verdades ou minto.

39
Há um fogo que arde na sarça.
Ela não se consome nunca.
Dela vem a voz não natural.
Nada pertence a este mundo.
É tudo para mim estranho,
Tudo é muito profundo.

40
Há um fogo que arde na sarça.
Sei agora que alguém comigo.
Nesta voz que tudo estremece.
Mas sinto nela um amigo.
Estou mais descansado,
Aqui se tornou meu maior abrigo.

CANTO V

41
Há um fogo que arde na sarça.
Há um comando que dela vem.
Ouço em alto e bom som:
E eu obedeço de pronto
__ Tira as sandálias dos pés.
Este lugar é santo!

42
Há um fogo que arde na sarça.
Há foco também na voz.
Há fogo em cada ordem.
Não há como não obedecer.
É a verdade personificada.
Sou parte do seu querer.

43
Há um fogo que arde na sarça.
Tirei as sandálias empoeiradas
Meus pés sentem o chão santo.
Nada é como dantes era.
O passado, o presente, o futuro.
Não existem mais nesta esfera.

44
Há um fogo que arde na sarça.
Uma voz que se deixa ouvir.
Um solo de santificação.
Pés descalços então.
Um poder que sente no ar.
E quase pára meu coração.

45
Há um fogo que arde na sarça.
Ouço atentamente quem fala.
A voz que os antigos ouviram.
O sonho que se tornou real.
O poder que os antigos sentiram.
Neste tom e sobrenatural.
46
Há um fogo que arde na sarça.
Ele esteve comigo no rio.
Guiou meus débeis passos.
O que quer ainda comigo?
Logo aqui no meu sossego.
O que quer meu amigo?

47
Há um fogo que arde na sarça.
Esse fogo existe e não come.
Muita coisa para este finito ser.
Diminuto verme neste mundo.
Tão pobre quanto inútil.
Um simples pastor imundo.

48
Há um fogo que arde na sarça.
A voz continua a falar.
E eu a ouço forte e potente.
O chão treme, estou tremendo.
Um misto de emoções me surpreende.
Mas eu escuto e compreendo.

49
Há um fogo que arde na sarça.
Eu vejo, escuto e sinto.
A cada dito sou atingido.
Não posso sair daqui.
Estou preso fora do tempo.
Não há nem como fugir.

50
Há um fogo que arde na sarça.
Tudo isso é tão possível.
Àquele que fala; àquele que vive.
Nunca de mim se esqueceu.
Em todo tempo me preparou.
Mas porque logo eu/

CANTO VI

51
Há um fogo que arde na sarça.
Ele ouviu o clamor dos aflitos.
E eu aqui livre e contente.
Sem ouvir de todos os gritos.
E daí, se um dia fui valente.
Hoje sou sombra de velho mito.

52
Há um fogo que arde na sarça.
Eu digo que não quero ir.
Vendo o fogo, ouvindo a voz.
Mesmo assim me mostro covarde.
Mas ele transforma a mão e o cajado.
Fortes argumentos de sua parte.

53
Há um fogo que arde na sarça.
Eu não imaginaria jamais isso.
Ter agora este “chama-mento”.
Sair da paz deste meu momento.
Para buscar um povo que chora,
Por que ele viu o seu tormento.

54
Há um fogo que arde na sarça.
Não há como a ele dizer não.
Convence-me de forma plena!
Subjugou minha teimosia atroz.
E quando me indagarem quem és?
Dirás que “Eu Sou” enviou a vós.

55
Há um fogo que arde na sarça.
Uma jornada de volta vou enfrentar.
Um grande inimigo me espera.
Mas este amigo me acompanhará.
Não sei o que verei daqui em diante.
Mas o poder me acompanhará.

56
Há um fogo que arde na sarça.
E tudo se transforma novamente.
Com Ele é assim, não há discussão.
Nada do que pensamos, quase? Vale.
Planos? São todos em vão.
Mas é melhor repousar em sua mão.

57
Há um fogo que arde na sarça.
Jamais irei saber por que eu?
Diante de tantos outros mais fortes.
Logo a mim, fugitivo de outrora.
Um homem sem nome ou atrativos.
Completamente destituído de glória.

58
Há um fogo que arde na sarça.
Este fogo agora arde em meu coração.
Sigo em frente, cajado na mão.
A voz ressoando em meus ouvidos.
Caminho agora para minha missão.
Ouço como ele dos irmãos os gemidos.

59
Há um fogo que arde na sarça.
Fogo para consumir a escravidão.
Que faz tremer o pior opressor.
Ai dos que oprimem o povo do grande “Eu Sou”.
Ai daqueles que tocam em seus ungidos.
Pois é o povo que ele sempre amou.

60
Há um fogo que arde na sarça.
Olhando-os livres, e dançando após o mar.
Vendo os milagres que Ele realizou.
Vendo as mulheres sem correntes nos pés.
Ainda me ressoa a voz onipotente:
__ Agora vai! Moisés!

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Foto de Arnault L. D.

Um pouco da eternidade

O amor escrito não tem pressa,
se desprende de sua fonte.
O seu sentir em nada cessa,
cristalizado à cada que conte.

Talvez, secas as flores e as vidas,
que as linhas suspendem ao presente.
O amor nelas todas contidas,
de um coração, talvez, já ausente...

Espera nas gavetas, cadernos,
na memória, mas diluindo na idade...
No escrever, talvez, o Deus eterno
sopra um pouco Sua eternidade...

A urgência da palavra dita,
da boca, que deseja e inflamo.
Sonha o perene da tinta escrita
que tal veia sangrando derramo.

Pois, além de mim ainda será,
amor, latente à cada novo olhar.
Por cada vez que outro a lerá,
junto ao novo amor, tornarei a amar.

Foto de Bruno Silvano

O Pais das Borrachas

O fim de semana havia passado muito de pressa, já era domingo a noite, quase na hora de ir dormir, ainda estava me sentindo mau, com um “galo” na cabeça, o porque disso mal me lembrava, apenas sentia que havia infligindo alguma constituição. Por mais que queresse me lembrar mais aumentava a dor, circunstâncias essas que jamais havia tido, custei a dormir nessa.

Estava novamente me deparando frente a frente com uma borracha, me confundia fácil, e a dor so me atrapalhava com isso. Senti que esta preso a uma cadeira, foi quando as luzes ascenderam, não consegui me controlar, era uma mistura enorme de cores, entrando em contraste com os diferentes canhões de luz que jogavam diretamente ao meu olhar, jamais me conformei com tal situação, nas cores se destacavam preto amarelo e branco, de um tigre em uma grade ao lado, pronto para me devorar.

Ao baixarem as luzes pude ver que estava em pleno de tribunal, em um lugar tão, tão distante, cercados por borrachas gigantes e falantes, tão logo começou o julgamento, não lembrava eu qual o crime tinha cometido. Todo o júri era formado por borrachas fêmeas, e pedaços de papeis rasgados. Minha defesa era a mais forte possível, uma lapiseira “bic” de ultima geração, a que mais havia usado na minha vida. Contra mim pesava a acusação da mais bela das TPM’s daquele lugar, a qual dois dias antes havia sido nomeada rainha das borrachas.

Espertamente, consegui rebater todas as acusações formuladas contra mim, mas quando que por vez, a loira misteriosa interrompe novamente e apresente provas anticonstitucinonais contra mim. Em suas mãos um caderno amassado, com a curvatura exatamente igual a da minha cabeça, um dos crimes mais bárbaros para aquele local. Fui julgado novamente e fui condenado por ter agido “inconstitucionalissimamente” e fui punido com o mais perverso castigo.. No outro dia quando acordei, era notável a quantidade de neurônios que havia perdido.

Foto de Maria silvania dos santos

A vida é um mistério.

A vida é um mistério, e muitas vezes difícil de decifrar, às vezes nem conseguimos decifrarmos.
Lembro que mais ou menos a oito (8) anos atraz, mudamos para um Bairro novo de Ribeirão das neves mg.
Mas como nós ainda não tinha construído nossa casa, fomos morar em um porão do vizinho do lado, para que nós desse jeito de construirmos.
Mas acontece que só meu marido estava trabalhando e ele só não daria conta de construir rápido.
Sendo assim eu precisava arruma um emprego para ajudá-lo.
Ai que vem o mistério que ate hoje tento decifrar.
Minha avó materna eu não conheci, pois ela veio a falecer antis de eu nascer.
Mas lembro que uma noite sonhei com ela me dizendo que ia nos proteger que ia cuidar de mim. Três dias depois arrumei um emprego em um Bairro de Horizonte, o qual eu teria que tomar duas lotações.
No primeiro dia, na ida para o serviço fui com a patroa, na volta para casa ela me deu o endereço da primeira lotação para casa e o do dia seguinte para voltar ao serviço. Mas neste primeiro dia para a volta de minha casa fiquei tranqüila, pois imaginava que seria o ponto que eu já sabia, mas o que eu não sabia é que o ponto de costume tinha mudado, e fui direto para a Rua Arão Reis no centro de Belo Horizonte o ponto de costume, pois a próxima lotação se não tivesse mudado o ponto seria tomada ali, mas acontece que o ponto mudou para Oiapoque e eu nem a patroa sabiam. Cheguei na Arão reis fiquei no antigo ponto por algum tempo, mas me estranhando, pois sempre tinha movimento de quem ia tomar a mesma lotação e neste dia não tinha.
Ao lado tinha um mine restaurante onde saiu uma mulher e um homem desconhecido e acenaram pra mim.
Eu custei a entender que eles estariam acenando pra mim, quando entendi, logo perguntei se era eu, eles disseram, sim, e perguntaram se eu esperava a lotação eu disse que sim.
Eles disseram que o ponto mudou para Oiapoque, mas eu não sabia onde e estava bem longe. Eles disseram que eles também estavam indos para lá que também, que precisava tomar a mesma lotação.
Que eu poderia os acompanhar mas notaram que eu tinha medo, pois eu fiquei em duvida se os acompanhava por ser desconhecidos.
Eles disseram não tenha medo venha rápido já vai sair um agora vem.
Resolvi os acompanhar, e mesmo na pressa, praticamente correndo para não perdermos a lotação que eles diziam constantemente que já esta pra sair, eles me protegia dos carros, pois com tanta pressa eu nem percebia os carros.
Eu sempre fui muito comunicativa e durante a caminhada ate o ponto trocamos conversa, e eles me perguntaram se eu vinha do serviço, eu disse que sim e eles também perguntaram se eu voltaria no próximo dia. Eu disse que sim e comentei que eu estava preocupada com o endereço, pois eu não tinha nem noção de onde era, e mostrei o endereço por escrita o qual minha patroa teria me dado.
Mas eles mudaram o endereço me deu outro e eu fiquei na duvida se eu o usaria, pois eles eram desconhecidos.
E eles me disseram varia vezes que eu não usasse o endereço que a patroa me deu, pois aquele estava errado, que o ponto era em outro lugar.
E na preça para não perde a lotação a caminhada continuava. Dirrepente eles disseram olha o ponto ali, o a lotação já está lá, eu também vo tomar esta e não posso perdê-la, estou com muita pressa e correram e dizendo venha, venha rápido!
Ao chegar na porta de traz a lotação arranca e a mulher bateu gritou até que a lotação parou e eles chegaram até a porta da frente em posição a entrar e ainda deixaram que eu entrasse primeiro.
A lotação arranca. Mas e eles? Eles não entraram e eu logo em seguida olhei pelas janelas de um lado e outros avistei todo o ponto de um lado e outro em questão do tempo de entrada e eles não mais estava ali.
Mas estranho! Porque eles não entraram se estavam com tanta pressa e veio ate a porta da lotação?
É! Mas eles realmente sumiram! E eu queria os agradecer, Mas algum dia eu os vejo.
Fui para casa e eles não saíram de minha cabeça.
Cheguei cansada fui dormi pois no dia seguinte a luta começava, mas tudo que eles disseram repetiam em minha cabeça com freqüência principalmente, não segue o endereço de sua patroa, ele está errado.
Mas como eu ia seguir endereço de estranhos?
Pensei lógico que eu não vou deixar de seguir o endereço que a patroa me deu, para seguir o que a estranha me passou.
Bom, sai de casa as quatro da manha pois teria que tomar duas lotação e ainda tinha que cassar o endereço e ainda tinha que chegar cedinho ao emprego.
Mas durante a caminhada as 5 e 3 da manha cheguei ao centro da cidade.
Desci em frente a rodoviária e segui minha procura.
Senti uma forte vontade de ir ao banheiro, passei em frente uma lanchonete que passou a noite aberta avistei um banheiro lá no fundo.
E somente o atendente estava no local.
Como de costume, em muitos locais se compramos algo, não pagarmos para usar o banheiro.
E como eu tinha cordado e saído muito cedo de casa e nem lanchado eu tinha, eu já estava até com um pouco de apetite.
Olhei na estufa não tinha nada do meu enteresce, somente umas coxas de frango, então perguntei se não havia nenhum pastel, o atendente respondeu que não, que ali só fazia coisas que cachaceiros gosta.
Mas eu não tinha muito tempo a esperar, perguntei se poderia usar o banheiro, Ele disse que sim.
A lanchonete era bem estreita e bem comprida e lá no fundo havia um banheiro ao lado de uma escada a subir.
Mas ele não deixou que eu entrasse no banheiro ao lado da escada, mandou que eu subisse a escada. Chegando ao fim da escada havia um banheiro aberto e ao lado uma outra meia porta de ferro bem reforçada e trancada com cadeado em frente da escada.
Mas neste banheiro ao lado, ele não deixou também eu usá-lo, disse estar estragado que era pra mim entrar por aquela porta de ferro e destranco o cadeado.
Mas ali não era um banheiro, parecia ser uma sala de escritório.
Ele me ordenou que eu entrasse ali.
Eu comecei a ficar com medo e o perguntei, mas ali? Ele afirmou, sim! Entra lá.
Eu já com muito medo disse ali eu não vou entrar.
E ele com a voz mais agressiva, perguntou você não vai entrar? Entra logo!
Eu não teria como correr, pois se ao menos tentasse eu só passaria nas mãos dele.
Mas, para provar o grande mistério de DEUS, em seguida apareceu um mendigo na porta da lanchonete e gritou, à, safado! Já sei que você tem o costume de ir para o banheiro com mulheres.
E ele então desceu a escada em direção ao mendigo e eu desci a escada rapidamente e segui minha caminhada para tomar a próxima lotação para ir ao emprego.
Por incriável o que pareça, o endereço certo era o endereço que a desconhecida misteriosa me passou.
Agora ficou um mistério, quem seria aquelas pessoas que me deu outro endereço para meu emprego, me levou até o novo ponto e dizia também tomar a mesma lotação e não tomou, simplesmente sumiu?
Quem será o mendigo que me salvo?
O que teria acontecido se nenhuma destas pessoas tivesse cruzado meu caminho?
Será que um dia vou decifrar este mistério? Que é obra de DEUS é! Mas quem será o usado por ele?
AUTORA Maria Silvania dos santos!

Foto de Paulo Gondim

Serca

CERCA
Paulo Gondim
05/05/2012

Não me deixes só, antes que me perca
Pois que aqui o mal nem é a seca
Mas a pouca terra, em tanta terra
Pois se há terra, há também a cerca

E como mar que se navega a esmo
Não me cobre rota ou destino
A terra alheia me faz tão pequenino
A terra existe, mas não é minha
Ela não dá pão e nem farinha

A mesma terra infértil, morta,
Por muito tempo adormecida
Vista de longe com olhos fundos
Suspiros doídos, profundos
De quem até a vida é esquecida

Não me deixes só, antes que me sirvam
Como restos aos urubus que se ativam
Sobre a carniça fétida da fome
Nessa terra, poucas espigas se cultivam

A chuva escassa foge em sua pressa
E na terra seca, a vida logo cessa
Mãos ossudas estendem-se no ar
Num sinistro grito, sem brecha
Mais uma vez a seca, o ciclo se fecha

É assim, sem vida, sem guarida
A cerca impede qualquer saída
A terra cercada se faz abandono
Se tem cerca, também tem dono

E a terra não dividida
Em poucas mãos, possuída
Se torna estéril, impura
E de quem dela precisa
Serve apenas como sepultura

Da série, “No Sertão, é assim”

Foto de Carmen Lúcia

Vivo?

Vivo alternando instantes de alegria
com enfadonhos dias de monotonia.
Vejo o futuro chegando tão depressa
e o presente passando às avessas
sem dar tempo de viver o que eu queria.

Essa inquietude atípica que atravesso
é sombra de um passado não vivido,
fruto não saboreado em tempo devido
amargando o depois mal digerido.

Vivo meu restrito mundo de experiências
em confronto com a modernidade
onde o carinho, o toque, o abraço
nem se aproximam da felicidade,
são trocados pela tecnologia
onde a exatidão da (incons)ciência
prevalece à imaginação e à fantasia.

Vivo...vou vivendo essa nostalgia
com a sensação de vida desfalcada,
pedaços que ficaram pela estrada,
lacunas que eu mesma esbocei
na pressa de chegar onde parei...

Vivo?Ou morro um pouco a cada dia...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Estações do tempo...e da vida (inspirada no texto de pe Fábio de Melo:Outonos e Primaveras...)

Final de inverno...
Lacradas estão as folhas
que esverdearam sonhos,
derrubadas pelo vento,
sepultadas pelo rigor do frio
no silêncio das sombras
na escuridão do chão...

Embaladas pelo outono
que tristonho se foi
e ansioso espera
ver renascer a primavera
que adormecida sob o solo
nos priva da visão
de sua germinação...

Fase que não vemos
mas que nela cremos..

É o ciclo de vida e morte...
Vida que não se finda,
morte que não se acaba...

Processo que se encaminha sem pressa,
movimento que vai se cumprindo em partes,
o cair das folhas, fecundidade,
cumplicidade do tempo,
canto das cigarras, assovio dos ventos,
o ressurgir da aquarela , o florido sobre a terra,
o renascer da primavera...

Cumprida a missão, o outono agora espera
o retorno de outra primavera...
a sua ressurreição.
Assim como a vida...
a próxima estação.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Na contramão do tempo

Ando sempre apressada
sem notar o que me acerca,
engolindo as etapas,
acelerando os dias...
E ao sufocar os sonhos,
os jogo ao abandono
pra que nenhum retorno
me incite a sonhar...

Atropelando fases
das estações da vida
mantenho-as esquecidas,
me privo de chorar...
Na ânsia exacerbada
que gera essa fobia,
na marcha exasperada
de só querer chegar...

Evito as paradas
só pra não me render
ficando nos caminhos
esquivo-me de me perder.
Me cego às alvoradas
e ao brilho das manhãs,
vou sempre em disparada
não vejo o sol nascer...

Na contramão do tempo
abstenho-me dos momentos
em que a felicidade
pode me fazer voltar...
Confronto-me com o vento,
ensurdece-me seu lamento
pra me ludibriar
e me sensibilizar...
que freia indignado
no afã de me deter
e passo-lhe a frente
ansiosa por vencer.

E a pressa me consome
não me deixando ver
que em cada parada
há novo amanhecer...
Que as curvas do caminho
são pausas do destino
que alimentam a alma
pra não retroceder...

Que as flores das estradas
compõem poesias,
as estrelas que hoje brilham
já não estarão mais lá...
Que toda a trajetória
se feita aos atropelos
não grava a história
de quem passa por passar...

_Carmen Lúcia_

Foto de Rosamares da Maia

Estradas e Destinos

Estradas e Destinos

Eu amo o serpentear desta estrada solitária.
Tangendo as vidas que passam,
Tal qual eu tangendo a minha mimosa.
Amo cada pé de ipê, rosa, roxo e amarelo,
A espalhar generosidade em sombra e beleza,
Fazendo companhia aos passantes,
Nativos definitivos ou meramente errantes.
Pensando bem, tenho facilidade em amar.
Vejo graça e serventia em quase tudo,
Até mesmo, no capim brabo,
Que nascem às touceiras na beira do caminho.

Nos infinitos desta estrada se levanta e se deita o dia,
As manhãs tem cheiro de novo com sabor de esperança,
As noites são precedidas de uma tarde preguiçosa,
De passos lentos, sem nenhuma pressa de ir,
E exalam perfumes de flores simples,
Que soltam suspiros antes de dormir.

Eu amo esta estrada, por onde serpenteiam destinos,
Misturando histórias e causos estranhos,
De nativos e estrangeiros, todos aventureiros,
Tangendo por instinto os seus destinos.
Mas eu amo com frívola facilidade.
Serpenteio contando as borboletas, suspirando,
Menino de pés descalços, bebendo a vida,
Nos canudos dos mamoeiros,
Por onde se sopram bolinhas de sabão.

Amo o serpentear desta minha vida com felicidade,
Aspirando as manhãs tranquilas, o desabrochar das flores,
No ritmo da flauta que tange a vida,
Sem buscar causas ou nexo, apenas acompanho o ritmo,
Como a criança inocente que espera o destino
E cumpre o desejo da estrada.

Rosamares da Maia
05.10.2011

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