I
Desenterrei meus sonhos
Soterrados há mais de vinte anos.
Fiz luminoso dia
Da alta noite sombria.
Transformei estrelas errantes
Em colares de diamantes.
Meu mensageiro era o vento
A tocar-me o sentimento.
Foi uma canção, o triste grito
Do coração outrora aflito.
Minha alma, riso aberto
Do silêncio descoberto.
A água a refletir o sol
Tornou-se gruta de cristal.
De sonhos de um coração já morto
Brotaram campos de árvores e flores.
II
Mas, como fogo fátuo, tudo passa,
Feito raio de luz tênue e difusa,
Meu sonho, entre nuvens, nada.
Um ano. Enterrei meus sonhos.
Não sei por quantas vidas ou quantos anos
Nem sei em que tipo de oceano.
Não quer dizer que perdi a alegria.
Mesmo na real frieza dos dias
Haverá sempre a mais pura poesia.
III
E, quando a aurora rasgar o véu da noite,
E os sonhos lançaram-se, de novo, em açoite,
A alma reclamará a imensidão dourada,
Ao recordar a intensidade da jornada.
Ondas ao sol tornar-se-ão anjos
A beijar o céu e voltar ao oceano.
E a vida, sonho febril de fugacidade,
Pelo amor, irá se perpetuar pela eternidade.
A alma, ao reconhecer no novo amor o paraíso,
Sem porquês desvanecerá em risos.
Afinal, viver não é preciso.
Marilene
21/01/01
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Publicado no site http://www.itajaionline.com.br/colunas/marilene/marilene.htm, em 20/05/02