Pão

Foto de Maria Goreti

O TREM DA VIDA

Lá vai o trem...
Leva pessoas...
Traz recordações...

“Café com pão, manteiga não!”

Ainda bem pequenina,
A menina cantarolava.
Mal sabia caminhar, mas sabia distinguir
O ruído do trem do murmúrio das ondas do mar.

Da janela acenava para a vida a passar...

E a vida passou...

Hoje,
Já não mais tão menina,
Ainda ouve o barulho das ondas do mar.

E o trem...
Continua levando pessoas...
Não as mesmas, outras...
Ela, a menina, continua a acenar...

Da janela, nem percebeu a vida passar!

Lá vai o trem...
Leva pessoas...
Deixa recordações...

E ela a cantarolar:

“Café com pão, manteiga não!”

©Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES - 22/03/07

Foto de Carmen Lúcia

É Natal...E o Amor?

Não sei bem quem és,
Mas sei que Tu existes,
Ao colocar no riacho meus pés
E ouvir baixinho o que dizes.

Me falas de Amor,não de forma banal,
Nem mesmo do que machuca,possessivo e carnal,
Mas daquele que se doa,que perdoa,
Que apazigua,que engrandece,que compactua.

Não sei bem onde estás...
Mas te sinto em toda a parte,
Na intensa luz que me invade
Quando clamo por Ti e sei que virás.

Dezembro...o mundo Te reverencia...
Natal...Era isso o que querias???
Os pobrezinhos choram pelo pão,
Os abastados fecham o coração.

E o Amor que semeaste
Humildemente por toda parte?
E o "Ajuda o teu irmão,a esmo,
Ama teu próximo como a ti mesmo?"

Oh,Cristo,Teu nascimento não terá sido em vão,
Porque Tu és a fonte de luz e salvação...
Que o Natal acenda a alma da humanidade
E que a chama se intensifique por toda a eternidade.

Foto de Daemon Moanir

Interlúdio - I

É esta dor que não passa,
É esta ânsia que me trespassa,
O amor que corta e recorta,
A mente que me vai e não me volta
Que me mantêm de ti a pão e água.

São gritos de tormentos
De caras vistas e revistas.
São sombras de vidas sobrevividas
Em abismos oprimidos,
A respirar palavras de ajuda
E a engoli-las a seco e em vão.

E o pânico, o medo,
As faces de horror e desalento
Espelhadas na minha as encontro,
A dar-me o frio, o gelo como certo.
Cerro os olhos que não consigo ver-me assim.

Os sonhos, as esperanças?
Perdi-as de uma vida melhor.
`
Ó tu que tanto m'encantas,
Dai-me a boa nova. Canta o interlúdio.

Foto de Sentimento sublime

Heroi do cotidiano! Osvania Souza

Herói do Cotidiano!

Seja você mesmo pessoa simples.
Que sorri sofre e chora.
Que luta, cansa e não desiste.
De ser na vida feliz insiste.
Você um homem de sorte!
Que não fica esperando a morte.
Colocando o pão na mesa.
Suor digno com certeza.
Em tuas idas e vindas.
Não pára para curar tuas feridas.
São marcas da luta pela vida.
Tentando sobreviver.
Sai cedo chega ao anoitecer.
Mal tem tempo de ver teu filho crescer.
É teu orgulho sempre maior.
Vê-lo alimentado com teu suor.
Quando te achares cansado.
O futuro virou passado.
Não teve tempo de abrir a cortina.
Da vida que passa e você não vê.
Digo a você herói do cotidiano.
Mesmo que seja dura esta luta.
Seja feliz nada custa.
Guarde um tempo só pra você.

Osvania

Foto de Osmar Fernandes

Histórias que o povo conta (atenção! - se tiver medo não leia)

História que o povo conta

Cafezinho das três no cemitério

Três horas da tarde, sol ardente. Hora sagrada do cafezinho dos quatro coveiros, que, sentados em um túmulo, contavam histórias de arrepiar.
De repente, o sol se põe. O tempo obscureceu. Começou a trovejar. O céu anunciou chuva, vento forte, temporal. Amedrontados, perceberam que isso só estava acontecendo dentro das limitações geográficas do cemitério. Foi coveiro correndo pra todo lado.
Nesse momento tremularam catacumbas, túmulos, covas abertas, etc. As folhas das árvores choveram sobre o cemitério. Ninguém enxergava mais nada.
Um dos coveiros, espantado, notou que o portão grande do cemitério ora abria, ora fechava, e batia uma parte na outra assustadoramente. Parecia o badalo do sino de Deus anunciando o fim do mundo. De súbito, observou uma silhueta vultosa, esbranquiçada, tentando se esconder da tempestade. Não compreendendo o mistério e tremendo de medo, de sua boca ecoou um grito pavoroso, dizendo: É alma penada! É bicho feio! Valha meu Deus!
Começara a rezar para São Miguel Arcanjo (A Oração contra as ciladas do demônio...).
Dos outros coveiros, viam-se apenas seus olhos esbugalhados fitando aquela figura estranha que parecia bicho de outro mundo.
Um dos coveiros, tenso, pasmo, seguiu com os olhos aquela “coisa”, que flutuava perdidamente, em ziguezague, em busca de abrigo.
Outro, apesar do momento esquisito e do ser fantasmagórico, só pensava nos túmulos que já tinham sido saqueados. Imaginava que se tratava de mais um vândalo ou de um ladrão, tentando assustá-los. (Poucos dias atrás tinha pegado um idiota defecando em cima de um túmulo. Ao flagrá-lo, lhe dera uns safanões, pontapés – este nunca mais se atreveu a importunar o sono sagrado dos mortos.)
Outro dia, dera falta das inscrições douradas, prateadas, de muitos jazigos. (Os parentes das vítimas exigiram das autoridades, justiça.)
O instante era de apreensão, medo, nervosismo. A ventania não parava. Aquela “coisa” esvoaçava como assombração peregrina... E de repente, sumira.
Um coveiro que não a perdera de vista foi ao seu encontro. Por sorte... se viu diante de um vulto mágico dentro duma cova, levitando. (Aquela cova aberta estava pronta para receber seu ilustre morador, que já estava a caminho.)
Assustado, o coveiro chamou um dos colegas, que ao se aproximar, deparou-se com aquela “coisa” dentro da cova. Foi tomado por uma síncope descomunal... Ao sentir-se vivo novamente, tratou de abandonar seu companheiro, seus pertences e deitou o cabelo...
Outro coveiro vendo aquela cena, aproximou-se, e ao ver aquilo, gritou: Sangue de Cristo tem poder! Isso é alma penada mesmo! Minha Nossa Senhora da Boa Morte! Saiu em disparada com as mãos à cabeça, tropeçando, caindo, se levantando, e aos berros dizia: Deus me livre! É o fim dos tempos! Socorro!
O coveiro, o corajoso, que olhava – a “coisa” resolveu lhe perguntar de supetão: - Que faz aí dentro dessa cova que não lhe pertence?!
E “a coisa” com uma voz trêmula do além, lhe respondeu sem pestanejar: - Vocês não me deixam em paz. Sentam em cima de mim contando histórias cabeludas, mentirosas; e ainda por cima, sujam meu túmulo com farelo de pão, de bolacha, café.
O coveiro, o corajoso, então lhe disse: - Vou chamar o padre para lhe dar a estrema-unção. Você não diz coisa com coisa. Ta louca! Ta na ânsia da morte.
E aquela “coisa” ali, como uma alma penada, engoliu a língua por uns segundos, e lhe respondeu: - Não precisa! Já to morto há muito tempo. Não ta me conhecendo? Sou o Luiz. Você que me sepultou. Não se Lembra de mim, Roberval?
O coveiro perturbado pensou: Santo Deus, isso não ta acontecendo comigo!... Vou buscar água benta e vou jogar em cima desta “coisa esquisita.”
A “Coisa” lhe respondeu aborrecida: - Você e os seus colegas estão usando meu túmulo como cozinha de cemitério. Não façam mais isso. Deixem-me descansar em paz. Quero ter o sono eterno que mereço.
E, falando isso, a alma penada elevou seu espírito até seu túmulo – que se abriu sozinho; ao adentrá-lo, pôde enfim dormir em paz para sempre. Ao repousar em sua última morada, fechou-se o túmulo, e misteriosamente, o temporal cessou.
Os coveiros do cemitério ficaram extáticos ao ver aquela alma se refugiar.
Prometeram que nunca mais usariam túmulos para tomar o costumeiro cafezinho das três.

Autor: Osmar Fernandes,

Foto de Cecília Santos

HOJE VAI SER ASSIM:

HOJE VAI SER ASSIM:
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HOJE VAI SER ASSIM:
Comer pão com manteiga e açúcar,
Manga com sal,
Morango com mel.
Sentar na janela, deixar o
relógio andar.
Observar o céu, sentindo a
brisa passar.

HOJE QUERO SER ASSIM:
Menina sapeca, levada,
mas muito amada.
Aconchegada no colo da mãe,
ouvindo cantigas ao luar.
Brincando de esconde-esconde,
dentro do armário do quarto.

HOJE SOU ASSIM:
Mulher amadurecida pela vida,
Sábia pelos ensinamentos
que recebi.
Que já conheceu todos os tipos de dor.
Mãe que ama, chora e ensina.
Esposa que ama seu lar, seu marido.

MAS HOJE QUERO SER ASSIM:
Anjo, fada, pássaro, borboleta.
Ter asas e poder voar, alcançar as nuvens.
Trazer algodão doce pra você.
Usar a magia das fadas, transformar o céu,
num lindo manto pra te embelezar.
Mas sou simplesmente uma mulher.
Sem asas, sem varinha de condão, que admira o
canto dos passarinhos, e a beleza das borboletas.

Direitos reservados*
Cecília-SP/06/11/07

Foto de Carmen Vervloet

Lobos Famintos

Lobos Famintos

O grito da fome
Escapa do estômago da periferia...
E soa por vários palácios
Sem eco...
Ensimesmado, Maria,
Trêmula... Doente...
Barriga oca... Roncando... Vazia...
Num semáforo qualquer...
Estende a mão fria
E suplica em nome de Deus,
Uma esmola!...
Trocados para enganar
A fome de seus filhos
Cujo teto é o céu...
A escola é a vida...
E a dor é seu sempre...
Vivendo da sorte, sem norte...
Ludibriando a morte!
Sem futuro... Sem esperança...
O palácio onde mora
Aquele que se fez Rei
Pela mão do povo...
Covil de oportunistas... Alpinistas...
Oferece apenas migalhas...
O pão fermentado com os nossos impostos...
Assado no forno da corrupção...
Nunca sai das mesmas mãos...
Elas o detêm engordando suas contas
Em paraísos fiscais... Devolver jamais!
E gulosos que são, tem um refrão:
Quero mais... Quero mais... Quero mais...
Insaciáveis insanos! Vis macrômanos!
Os palácios unem-se em blocos
De opulentas alegorias
E cegam o povo
Com suas tendenciosas fantasias...
Jogam algumas migalhas
Nas panelas vazias dos pobres
E se fingem nobres!...
Unem-se guardando o mesmo tesouro...
Barras de ouro!...
E se protegem
Na sua desenfreada loucura de poder!...
Não mais vêem a dura realidade
Dos homens da periferia
Dizimados pela ambição,
De quem entregou ao Diabo o coração!...
Mas em algum momento,
No meio de tanta revolta,
Haverá uma reviravolta!
O reverso da medalha!...
A coroa cairá das cabeças dos falsos reis
Que por sua vez, deixarão cair às máscaras...
Mostrando as verdadeiras caras!
E eles se envenenarão com o próprio veneno!
Ou engolirão uns aos outros!
Lobos famintos!...

Carmen Vervloet

Foto de josedourondo

PENSO EM TI

Penso em ti quando enamorada
navegavas num mundo de ilusão,
teus olhos meigos na face rosada
eram liras dedilhadas com emoção.

Amar esses olhos como escravo,
beijar essa boca colorida,
e tuas lágrimas secar com afago
era o maior sonho da minha vida.

Meu amor era um rio em caudal,
era o pão na mesa do apaixonado
e o fruto amargo e desejado…

Era a dor que abraçava divinal,
o fel que me queimava como lume
e me enchia a alma de azedume.

Foto de Maria Goreti

Lembranças

Hoje acordei cedinho,
Abri o baú de lembranças,
Retirei as bonecas,
Os vestidos de chita...
Laços e mais laços de fita.

Corri com os pés descalços,
Cortei o dedo no caco de vidro,
Queimei o braço no ferro de soldar,
Pisei no espinho da roseira, ai...
Como coça o bichinho de pé!

Comi o doce de goiaba,
Lambi os dedos e sorri
Com a cara suja,
De doce e de terra,
Nariz escorrendo... Eca!

Lavei o rosto na água da fonte,
Tomei banho na bacia.
Dei as mãos às amiguinhas
E brincamos de roda
E amarelinha... Jogamos peteca.

Fomos à Missa...
O padre bebeu vinho
E nos deu um gole
Num pedacinho de pão...
Foi a nossa Primeira Comunhão!

Papai e mamãe se beijaram...
Eu os vi, na cozinha, abraçados.
Enquanto ela passava os bifes,
Ele os pegava e, sem que ela o visse,
Dava-nos um pedaço.

Sapatinhos na janela...
Papai Noel chegou, olhou...
Pela manhã a surpresa...
Um anel de ouro, de pedrinha azul...
Uma água marinha!

Meias e calcinha bordadas em rococó,
Um vestido branco de laise de organdi,
Rendas, e laçarotes de cetim,
Um bolo confeitado sobre a mesa,
Uma pose para uma fotografia.

Da janela olho o mar...
Meus olhos transbordam.
Uma lágrima saudosa,
Cai na areia da praia
E some...

Piratas, marinheiros, princesas,
Fadas... Fábulas de Esopo e de Da Vinci...
Bolas, bonecas, peões, peteca,
Sonhos de “Cachinhos Dourados”,
Voltam ao velho baú...

Apago as luzes do sótão...
Abro as janelas do hoje.
Há sol lá fora.
O vento canta...
Sopra as areias do tempo!

©Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES - 12/10/07

Foto de Maria Goreti

Eu Existo!

Vejo a sombra de Deus
Quando nuvens escuras
Povoam a minha mente;
Quando vejo à minha frente
Momentos de infinita dor.
Do alto uma voz, me diz: “EU EXISTO!”

Vejo a sombra de Deus
Quando estas mesmas nuvens,
Cobrindo o céu estrelado,
Desabam sobre a minha vida.
Quando estou inundada em lágrimas,
Novamente a mesma voz a dizer: “EU EXISTO!”

Vejo a sombra de Deus
Cada vez que me recuso a crer
Em sua existência, em seu amor.
Cada vez que desprezo um irmão,
E nego-lhe um pedaço de pão.
Neste momento Ele volta a dizer: “EU EXISTO!”

Vejo a sombra de Deus
Quando cega de ambição,
Esqueço que Ele nos deu um coração.
Quando esqueço a solidariedade,
Entregando-me à maldade.
Ele me lembra: “EU EXISTO!”

Enfim, vejo a sombra de Deus,
Quando em extrema aflição
Recuso-me a enxergar a Sua Luz,
E neste momento, pensando na morte como a única solução
para o que creio ser o meu grande tormento.
Ele insiste em dizer: “EU EXISTO!”

E depois de tanta insistência eu ouço.
Pela primeira vez eu ouço:
“EU EXISTO! EU EXISTO! EU EXISTO!
EU não sou a sombra de Deus,
EU SOU a face de Deus, o próprio Deus.
SOU LUZ! SOU VIDA! SOU O AMOR!
E é por isto que Eu insisto:
EU EXISTO por você,
EU EXISTO pra você,
EU EXISTO em você!”

©Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES – 03/01/06

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