Manhã

Foto de Cretchu

CESTA DE PÁSCOA

Você foi o que de melhor eu recebi nesta Páscoa. Quando chegou à minha casa, na manhã, meu coração se acelerou. O seu abraço me fez sentir seguro e em paz, como sempre. Conversamos e rimos, dividindo a cesta de Páscoa que você me deu com um sorriso infantil. Você caminhou lentamente para meu quarto, e eu a segui. Dançou para mim, de um jeito lânguido, enquanto se despia lentamente. Veio até minha direção e retirou, também lentamente, todas as minhas roupas. Deitou de bruços em minha cama, e se espreguiçou. Olhei para você, excitado. Observei suas pernas, suas curvas, suas reentrâncias, suas costas. Curvei-me sobre você e lhe beijei as costas. Você se virou para mim, sorrindo.
Sorri, também, e fui até a cozinha, onde havia chocolate doce e cremoso. Trouxe o recipiente para o quarto e, com uma colher, fui derramando o creme de chocolate em seu corpo. O chocolate inundou seus seios, escorreu por sua barriga, até sua vagina, descendo devagar por entre suas pernas. Lambi seus seios, sua barriga, provando o chocolate que se tornou mais delicioso ainda com seu gosto. Uma poça de chocolate cremoso se alojou em seu umbigo, que chupei deliciado. Suguei todo o chocolate que havia em sua vagina. Você riu quando brinquei com seu clitóris. Terminei lambendo o chocolate que escorrera entre suas coxas.
Você me empurrou para a cama, deitando-me de costas, e derramou chocolate em meu pênis ereto. O chocolate cremoso escorreu por meu pênis, até meus testículos. Você colocou meu pênis em sua boca, devagar, e foi sorvendo o chocolate que lá estava. Desceu sua boca até a base de meu pênis. Senti sua respiração excitada em meu púbis, seu queixo roçando meus testículos, seus lábios contra a base de meu pênis. Você retirou sua boca e lambeu meus testículos por toda a parte, mostrando que ainda não se satisfizera apenas com os ovos de Páscoa.
Sentou-se sobre meu pênis e o cavalgou sofregamente, depois que ele entrou como mãos gulosas numa cesta de Páscoa. Eu me ergui e abracei seu corpo, e você continuou me cavalgando, e nós dois em posição de lótus. Joguei-a na cama, e penetrei novamente sua vagina, fazendo com que meu pênis entrasse e saísse enquanto estávamos deitados de lado. Deitei você de costas e me atirei sobre seu corpo, penetrando sua vagina até o fundo. Nos movimentos ritmados e circulares que eu fiz com meu pênis, pude sentir todo seu interior molhado. Puxava seu corpo contra o meu, chamando por você, dizendo seu nome. Vislumbrei, excitado, seus olhos se revirando e sua boca aberta, por onde saíam gritos e gemidos. Passei minha mão em sua testa suada. E assim jorrei dentro de você, que acolheu feliz o meu gozo. Deste modo, você é o melhor presente que recebi nesta Páscoa, pois você me libertou e me fez reviver.

Foto de Sandra Ferreira

Débil de solidão...

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A saudade dilacera o meu coração,

Débil de solidão, mantém o seu ritmo,

Esmorecendo lentamente,

Formando um rio de sofrimento…

Longas noites, irrequieto corpo,

Olhos cansados, encarando a escuridão,

Ansiando pelos raios da manhã

Que trespassaram as fendas da janela

Aquecendo um pouco o meu coração…

O Silêncio invadiu a minha vida,

Apenas ouço o meu pausado respirar,

Que me indica, que perdi o sentido da vida,

Da alegria, do brilho, da cor…

Só a saudade permanece,

Sufocando, o que resta de vida em mim…

Foto de DeusaII

Entre o sonho e a fantasia

Os dias passam num arraial de sonhos e fantasia,
O sinal dos tempos quase não se nota
Quando as rédeas do nosso coração
Permanecem soltas,
Quando a esperança da nossa vida
Nos faz sonhar,
Com um mundo ilusório mas real.
O sol nasce nesta visão que nasce dos sonhos,
Para se pôr logo de seguida
Num horizonte distante.
A chuva fina e fria molha minha pele seca,
mas quase não a sinto,
Inebriada que estou por este sentimento de pura magia,
E por esta realidade que deixa-me atordoada.
Nesta manhã cinzenta
Em que a chuva cai e o sol brilha,
Os anjos dançam sobre mim,
Entoando suas canções de amor.
Sinto-me extasiada com seus cânticos,
Que apelam aos céus que o amor se realize,
Num perfeito arraial...
Entre os sonhos e a fantasia.

Foto de Margusta

Unos

Um dia conheci " Maresia" num dos meus passeios matinais pela praia. Era um mulher de olhar triste e sofrido. Nem o sorriso que parecia habitar nos seus lábios, conseguia disfarçar, o que a alma traiçoeiramente lhe espelhava no olhar.Com o passar do tempo ficamos amigas e uma certa manhã escutei da sua boca uma estranha, incrível, mas belíssima história de amor e paixão...
Como a história termina, foi por mim imaginado. Já que a única coisa que sei, é que " Maresia" partiu numa linda manhã de sol. Pelo que me contaram no seu rosto transparecia a felecidade...
Chorei quando soube que " Maresia" tinha partido...sinto a falta dela quando vagueio pela praia ao amanhecer...

“Unos”

Descerrou as pálpebras. O sol já entrava pela janela do quarto. Sentou-se na cama com dificuldade, e compôs os cabelos alvos como a neve. O rosto pálido mantinha ainda os traços da beleza que tivera na juventude. Sorriu. Depois de trinta anos tinha sonhado com ele. Existiria história de amor como a que tinham vivido?...Talvez não!...Como se tinham cruzado as suas vidas ?...Nem eles o sabiam explicar. O “Sol” e a “Maresia” assim se chamavam carinhosamente um ao outro.

- Somos unos...uma alma em dois corpos, separados pela vida e pela distancia. – costumava ele dizer .Viviam um amor etéreo. Os contactos que mantinham eram diários , quer por telefone, cartas ou ainda pelos poderes sensoriais de que eram dotados, ele mais do que ela. Uma coisa eles sabiam, só lhes era permitido encontrarem-se uma única vez nesta vida. Depois o contacto seria suspenso. Preço demasiado alto a pagar. Embora o desejassem muito, conseguiram adiar o encontro por onze anos. Até que um dia o inevitável aconteceu. Finalmente foram unos de corpo e alma . Ah...como foram unos!...Os seus corpos explodiram em ondas de prazer durante horas , culminando em orgasmos cósmicos...
.....Depois desse dia “Maresia” nunca mais foi a mesma, e do “ Sol” não mais chegaram notícias .

Ao recordar tudo isto uma lágrima rolou-lhe pelo rosto levemente enrugado e veio aconchegar-se nos lábios ainda rosados. Um raio de sol ainda mais luminoso incidiu sobre a sua mão direita. E foi então que ouviu aquela voz inesquecível.
- Maresia...Maresia...sou eu minha querida. Vim para te levar comigo!
- Sol...finalmente!
Se a felicidade tivesse rosto, por certo estava espelhada no dela naquele momento. Fechou os olhos e adormeceu. Desta vez para sempre....

@Margusta

*Direitos de autor do texto reservados*

Foto de Sonia Delsin

ABRINDO PORTAS PRA TI

ABRINDO PORTAS PRA TI

Eu estava fechada.
Fechada.
Me sentia tão desesperada.
Vivia assim do mundo afastada.

Me magoara tanto o passado.
Criei à minha volta uma cerca de arame farpado.
Meu coração era como um cofre trancado.

Mas talvez os anjos de mim tenham se compadecido.
Numa manhã acordei muito cedo e te conheci.
Nem imaginei naquele dia o quanto te tornarias para mim querido.

Fui abrindo portas e janelas.
Que teu sol me invadisse
fui deixando.
Um dia me senti tão diferente.
Estava te amando.

Foto de Anderson Maciel

POETA FELIZ

minha vida a caminhar
minha vida a proceguir
minha vida a despertar
o que ainda estar por vir
pois sou poeta sou poeta feliz
sou aquela pessoa que ainda vai amar
sou aquela que esta aqui com deus a caminhar
sou poeta, sou feliz
estou nessa vida porque eu quiz
pois amo recitar
amo amar
amo ser poeta
amo poder aqui todos os dias estar
recitando para vcs com todo o meu coração
dando a vcs as notas da minha eterna canção
fazendo vc refletir
e talvez até mudar
fazendo vc perceber que o que vale é da vida gostar
amando a um só deus que comtigo sempre esta
pois sou um poeta feliz
fui mandado por deus para te fazer feliz
nesse seus caminhos escuros vou te eluminar
nesses caminhos tão estreitos vou te guiar
nesta manhã tão linda vou pra vc me declarar
pois sou um poeta feliz
amo aminha vida e o meu destino
que foi mandado por deus
para eu seguir e ao mundo poder mostrar
que a vida é dada por ele para a nois amar
poeta feliz
poeta vida boa
poeta feliz
poeta rindo atoa
poeta livre
poeta a amar
poeta aqui
poeta sempre a cantar
poeta eclético
poeta romantico
poeta elétrico
poeta clamando.
pois poeta eu sou ou tento ser
mais o que emporta é que eu estou recitando pra vc
mostrando a minha vida para vc poder ver
dando a ela a esperança de um dia continuar
dandoa ela vida eterna a onde ela está
pois sou um poeta feliz
amando ou não amando mais com a certesa que estou aqui
nesse mundo de desalegrias a viver
com deus para me dizer
caminhos a caminhar
ser apenas um poeta feliz sem ter quem amar. Anderson Poeta

Foto de von buchman

Você em minha vida e nos meus poemas....Due resposta Von & Deuza

Nesta minha vida conheci muitos lugares pessoas ,
muita gente bonita e bela...
Encontrei pessoas que
me marcaram e que me deixaram algo de mui especial.
Mas um dia, deparei-me com você...
Linda e bela mulher...
Cheia de vida , de um olhar sensual e apaixonante...
Uma alma linda ...
És o sonhar de muitos...
Ao ler seus poemas, me tornei um admirador seu...
Fez um eterno apaixonar por cada verso seu...
Você está sendo mui especial em minha vida.
Já ganhou um espaço íntimo em meu coração
Gosto muito de você e quero te falar
que eu estou feliz em poder te ler...
Poder conhecer do teu coração
nos teus belos poemas de amor e paixão...
Pois através deles pude ver como posso sonhar...
Que ainda existem pessoas belas...
Que paixão não é fabula,
pois ela mora no meu coração...
Meus versos tem um destino que é teu coração...
Linda e bela mulher, que me fez viajar...
Nenhum bem tenho...
Mas o que tenho te dou ...
O mais puro amor que transborda do meu coração..
Von
.....
Em resposta Deusa ...

Em teus versos me revejo,
Alma pura que ainda sofre.
Meus sentimentos também se viram para você.
Minha vida perde sua existência,
Meus sentidos morrem, quando não estás.
Não sei quem és,
Mas já fazes parte da minha vida,
Para de todo o meu ser.
Minha alma, vira-se para ti
E meu coração,
Outrora triste, aprendeu a sonhar novamente.
Quando te leio,
Começo a divagar, sobre o amor.
Sobre a vida e sobre a paixão.
És o meu mais profundo amor,
A semente que nasceu em meu coração,
A chama que incendeia meu ser,
Que nem a água consegue apagar.
Quando escreves,
Atinges-me como uma flecha
Que não doí,
Sem ti, minha existência seria impossível,
Meu mundo estaria morto.
E a sombra do que fui
Seria persistente.
Com tuas palavras sou mulher,
Sinto-me realizada e sou feliz.
....
Minha eterna Deusa,
e doce Catarina...
Meu anjo da manhã...
És bela como a primavera...
És linda como o luar...
De sorriso puro e singelo,
Tu moras no meu coração...
És a Deusa dos poemas...
Minha fonte de inspiração...
Tua resposta aos meus poemas,
fez-me emocionar...
Meu coração transbordou de emoção ...
Em cada poema teu,
amor, paixão e sensualidade,
jorram como um vulcão...
Teu lindo e aconchegante coração,
deixa muitos a te desejar...
Como uma única flor de um penhasco,
Só em sonhos e poemas,
Conseguimos a ti chegar...

AS SEMENTES DO MEU PURO AMOR,
SÃO COMO FLOCOS DE NEVE...
ELAS SÃO REGADAS COM AS LÁGRIMAS DO MEU CORAÇÃO. . .
• ICH LIEBE DICH ...

Foto de Sonia Delsin

FLORES PARA QUEM PARTIU

FLORES PARA QUEM PARTIU

Ela caminhava observando tudo. Os pássaros livres a recordavam que também conquistara sua liberdade.
A máquina fotográfica dependurada no pulso. Os cabelos ao vento, um agasalho de caminhada, um bom tênis, óculos de sol.
Caminhar é tão bom. Respirar o ar da manhã.

Quatro anos se passaram. Quatro anos.
Uma outra vida dentro de sua vida.

Lara ia pensando que a vida é feita de ciclos. Recordou a infância, a juventude, o dia que se apaixonou por Leonardo. Como ele era bonito! Lindo mesmo...

Uma vida ao lado dele e o fim. Quatro anos se passaram desde aquele dia. O adeus doeu demais e ela sabia que precisava esquecer tudo que se passara. Tudo.

Mas esquecer vinte e tantos anos ao lado de alguém?
É possível esquecer do primeiro beijo ao último olhar, as últimas palavras?
O grande vazio que ficou?

Um pássaro tão lindo numa cerca lhe chamou a atenção. Claro que o fotografaria. Claro.
E as buganvílias floridas então! Não podia deixar de fotografar.

Ia distraída a olhar tudo e as lembranças começaram a aparecer como ondas que o mar insiste em trazer para a praia.

Ela era um rochedo. Nada a abalaria. Nada.
Virou a máquina e tirou uma foto de si mesma ao lado de um arbusto. Cadê o sorriso? Ele não chegou, mas a foto não ficou feia. Todos diziam que ela era linda quando sorria. Talvez mais tarde o sorriso chegasse.

Apanhou uma florzinha azul e lembrou do tempo que apanhava flores do campo para levar ao marido. Ele não a acompanhava nas caminhadas. Preferia ficar na cama deitado e depois se levantaria, tomaria um café e fumaria.
Como ela odiava vê-lo fumando tanto. Quando pedia que fumasse menos ele discutia. Nos últimos anos tudo era um pé de briga.

Esmagou as florezinhas na palma da mão. Tanto tempo e o esquecimento não chegava, não chegava.

Não que tivesse esperanças ainda. Não. Em absoluto. Compreendera neste tempo sozinha que não tinham afinidades. Nem conseguia crer que viveram tantos anos juntos. Mas ficara uma dor, uma vontade de mudar o que o já não podia ser mudado.
Não era remorso. Era vontade que tudo tivesse sido de outra forma. Sem discussões, sem lágrimas.
Mas existe um casamento que termina sem brigas? Pelo menos quando acontecia era algo raro. Ou não?
Ela queria que tivesse sido sem brigas. Queria... tanto isso. Sem brigas.

Passou por uma árvore carregada de amoreira carregada e resolveu apanhar algumas amoras madurinhas. Gostava tanto que nem ligava a mínima em sujar as mãos.

Continuou a caminhar e o pensamento mudou de rumo. Pensou noutras coisas. Esqueceu a dor. Era sempre assim. Aquela dor vinha e ia. Como ela e suas caminhadas.
Pegou rapidamente a máquina para fotografar duas andorinhas que revoavam ao seu lado. Esqueceu o passado. Pelo menos por hora.
Olhou o relógio no pulso. Era hora de voltar para casa. O sol já estava ficando forte e ela não passara protetor solar.

Outras manhãs a aguardariam até que o outro ciclo se fechasse. Ela apertou de encontro ao coração a máquina pensando que tirara boas fotos naquela manhã.
Não levaria flores. Ninguém a esperava. Ninguém.

Foto de Teresa Cordioli

EU SÓ SEI TE AMAR...

EU SÓ SEI TE AMAR...
Teresa Cordioli
*

EU SÓ SEI TE AMAR...

(Teresa Cordioli)

Abro a janela e vejo que o sol nasce,
É de manhã.
Os pássaros cantam um novo dia,
E voam o vôo da liberdade.
O sol brilha...e o tempo passa.
As flores desabrocham
Enfeitando todo o lugar.
Anoitece, a lua desponta no horizonte,
E as estrelas brilham.
E aqui meu coração ainda te espera...AMOR...
Nada, nem a natureza tão bela,
O ar,
O sol,
Os pássaros,
A lua,
As flores,
O vento,
As estrelas
Preenchem espaço que é teu em mim...
Anjo meu,
este espaço é só teu
Sei que estás em algum lugar
Me esperando.
Então "te aguardo em mim". Volta...
Vem me buscar...
A solidão dói em meu peito
Não tem outro jeito:
Eu só sei te amar...

Foto de Sonia Delsin

O JARDIM... DO ESPELHO

O JARDIM... DO ESPELHO

Acredito que para crescermos interiormente passamos muitas vezes por situações muito delicadas, muito difíceis, por fases dolorosas...
Algumas pessoas se revoltam com o sofrimento, tornam-se amargas. Perdem o amor pela vida. Mas às vezes ele é um mal necessário, mesmo que nem nos apercebamos disso.
Ninguém deseja sofrer e quando acontece de sofrermos precisamos sempre procurar tirar algum proveito disto no sentido de crescermos.
Vou contar aqui fatos ocorridos há muitos anos. Uma fase negra, que sei que devia ter apagado de minha alma, de minhas lembranças, de meu eu. Mas como nunca consigo encontrar o apagador... vez ou outra estas lembranças também voltam, vem à tona e agora mesmo estou me lembrando delas.
São dores que já não doem, doeram no seu tempo. Doeram demais e marcaram irremediavelmente minha vida.
Triunfei sobre esta fase e nem devia mais tocar no assunto, mas vou narrá-la para que alguém ao lê-la possa tirar algum proveito. Não é bem por aí, porque não é com as lições dos outros que aprendemos mais, mas com as nossas próprias experiências. Mas tudo bem! Vou contar assim mesmo para quem quiser conhecer um pouco mais de mim.
Vou contar o milagre de um espelho.
O fato aconteceu numa primavera. Naquele tempo eu mal completara dezesseis anos e estava presa a uma cama por quase um ano. Sem perspectivas de melhora eu definhava no leito, sofrendo muitas dores e causando também muito sofrimento a todos meus familiares.
Revoltada com o que a vida me oferecia naqueles meus anos de menina-moça eu me tornava muitas vezes uma doentinha intratável.
Minha mãe com muita paciência e tato enchia o quarto com revistas, com livros que eu tanto gostava e deixava que nosso cãozinho me fizesse companhia quase todo o tempo. Não tínhamos uma TV e só um pequeno rádio me trazia um pouco de distração, além da leitura.
As paredes pintadas de um verde claro, os poucos móveis, um quadro de Jesus e Maria, uma cômoda coberta de remédios, um pouco do céu que eu conseguia enxergar através da janela eram as minhas imagens visuais todo o tempo.
Eu via a vida correndo e sem poder andar, ou me sentar eu já nem sabia mais sonhar. Esperava aquela tortura acabar de uma vez. Entregava-me à dor, ao sofrer.
Um dia, mal amanhecera, minha mãe me fez uma proposta, perguntou-me se eu desejava ver o seu jardim.
Então eu argumentei com ela que nem me levantava, se quisessem me carregar eu sentiria mais dores, me sentiria mal. Não queria sair da cama, que me deixasse em paz.
Ela não aceitou a minha recusa e sugeriu que eu poderia ver o jardim através de um espelho.
Achei bobagem. Que graça teria?!
Ela deixou o quarto e minutos depois apareceu com um espelhinho na mão e foi até a janela. Botou o braço para fora e ajeitou-o para que eu visse o canteiro cheio de flores, perguntando se dava para ver a roseira carregada de belas rosas vermelhas.
Vi as rosas, também as dálias, as margaridas e tantas outras.
As flores todas, que de meu leito só sentia o seu perfume.
Ajeitando-o melhor, com muita paciência, minha mãe me trazia para dentro do quarto os beija-flores que visitavam o seu jardim naquele dia e as borboletas que iam de flor em flor.
Não a deixei guardar tão cedo o espelho. Queria ver mais. Queria trazer para dentro do meu quarto de doente, a primavera que despontara lá fora sem que eu a pudesse apreciar.
Na manhã seguinte ela voltou com o espelho e eu vi as mudanças que se operaram num só dia naquele jardim. Vi que havia mais borboletas, abelhas e que também novos beija-flores o visitavam. Até me pareceu ver ali do leito uma gota de orvalho sobre uma rosa cor-de-rosa.
Quis todos os dias repetir a experiência e minha mãe perdia um tempo enorme ajeitando o espelho, para que eu visse melhor o que acontecia lá fora enquanto eu definhava no leito.
Eu aguardava a manhã chegar para assistir todas as manhãs aquela primavera lá de fora, que um espelho conseguia me trazer.
Assim, os três meses se passaram, e eu comecei lentamente a melhorar. Comecei de novo a achar que tudo valia a pena, que a beleza não morrera porque eu não participava dela. E poderia ainda participar, havia um mundo lá fora e eu ainda o poderia desfrutar.
Na primavera seguinte eu já pude ir ao jardim numa cadeira de rodas e no outro com minhas próprias pernas, numa vitória conseguida com muita luta, persistência, esperança e fé.
Vejam o milagre que um simples espelho consegue operar numa pessoa!

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