Mal

Foto de P.H.Rodrigues

Desconcertado

Chega de coisas inacabadas
sonhos sonhados e não realizados
metas, rotas, percursos traçados
porem, abandonados

Perseguidores de ilusões
que ficam parados em uma estação qualquer
esperando por um meio de transporte qualquer
para chegar a um lugar... comum

A linha sem fim, a estrada mal asfaltada
o navio sem timão, não se percas
em meio a uma imensa multidão

Faça uso do ponto final e de recursos, afinal,
renováveis ou não, é de suma importância caminhar
sem se importar com tempo ou distancia, apenas com final.

Foto de Paulo Gondim

Serca

CERCA
Paulo Gondim
05/05/2012

Não me deixes só, antes que me perca
Pois que aqui o mal nem é a seca
Mas a pouca terra, em tanta terra
Pois se há terra, há também a cerca

E como mar que se navega a esmo
Não me cobre rota ou destino
A terra alheia me faz tão pequenino
A terra existe, mas não é minha
Ela não dá pão e nem farinha

A mesma terra infértil, morta,
Por muito tempo adormecida
Vista de longe com olhos fundos
Suspiros doídos, profundos
De quem até a vida é esquecida

Não me deixes só, antes que me sirvam
Como restos aos urubus que se ativam
Sobre a carniça fétida da fome
Nessa terra, poucas espigas se cultivam

A chuva escassa foge em sua pressa
E na terra seca, a vida logo cessa
Mãos ossudas estendem-se no ar
Num sinistro grito, sem brecha
Mais uma vez a seca, o ciclo se fecha

É assim, sem vida, sem guarida
A cerca impede qualquer saída
A terra cercada se faz abandono
Se tem cerca, também tem dono

E a terra não dividida
Em poucas mãos, possuída
Se torna estéril, impura
E de quem dela precisa
Serve apenas como sepultura

Da série, “No Sertão, é assim”

Foto de Carmen Lúcia

Vivo?

Vivo alternando instantes de alegria
com enfadonhos dias de monotonia.
Vejo o futuro chegando tão depressa
e o presente passando às avessas
sem dar tempo de viver o que eu queria.

Essa inquietude atípica que atravesso
é sombra de um passado não vivido,
fruto não saboreado em tempo devido
amargando o depois mal digerido.

Vivo meu restrito mundo de experiências
em confronto com a modernidade
onde o carinho, o toque, o abraço
nem se aproximam da felicidade,
são trocados pela tecnologia
onde a exatidão da (incons)ciência
prevalece à imaginação e à fantasia.

Vivo...vou vivendo essa nostalgia
com a sensação de vida desfalcada,
pedaços que ficaram pela estrada,
lacunas que eu mesma esbocei
na pressa de chegar onde parei...

Vivo?Ou morro um pouco a cada dia...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Sou...e não sou...

Sou arredia, um bicho acuado,
Que foge de carinho por não ser acostumado.
Sou o escárnio, o sarcasmo, o pútrido,
A queixa a se manifestar no púlpito.

Sou a esquina úmida e vazia,
A conseqüência da noite de euforia...
Sou o rio que nunca chega ao mar
E morre na praia sem saber amar.

Sou a dor que pulsa quando o amor se vai...
A lágrima triste que rola e se esvai,
Sou o incesto que não foi amado
E o mistério jamais revelado.

Sou a tempestade que o barco afunda,
O fantasma que surge da penumbra...
Da alma, a amargura...
Da vida,a desventura...

Tijolo podre de uma construção
A desabar em qualquer ocasião...
Dependente...carente...mal amada,
E mais que isso...Sou nada!

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Vervloet

Anjos sem Asas

Nascemos anjos,
à medida que crescemos
absorvemos conceitos
e preconceitos,
cresce a razão...
E a dimensão do corte das asas...
Por um tempo ainda
somos Anjos com pequenas asas,
sonhadores insistentes,
contra mentiras,
contra injustiças, contra o mal!
Mas sobreviver é preciso!
Somos mortais indecisos,
imprecisos, imperfeitos, anuentes,
ausentes, indulgentes,
carentes, viventes, duais!
As injustiças sociais, a descrença,
o desamor, a desilusão, a mesmice,
a falta de espaço
amputam de vez nossas asas.
Inertes... machucados, sangrando
já não podemos voar...
Pés colados ao chão,
transigentes,
somos arrastados pela procissão
onde o santo carregado no andor
é o “santo poder dos influentes”
cego, surdo, mudo,
“santo do pau oco!”
A nós só cabe dizer amém
ou então
usar o voto como arma
e em união vencer a guerra
contra a corrupção,
ferir mortalmente este
“santo” hipócrita,
que nada entende de sonhos
e que nós faz desistir dos vôos
além da rotina da sobrevivência.

Foto de Paulo Gondim

Confissão

CONFISSÃO
Paulo Gondim
14/04/2012

Eu sei quanto mal te fiz
Da mesma forma, quanto te fiz infeliz
Sei também, confesso, não merecias
Mas fiz. Fato consumado
Não posso ser perdoado

Magoei quem tanto me amou
Mesmo de longe, mas me amou
Verdadeiramente, quem sempre me deu valor
Quem sempre me deu colo
Nunca negou seu calor

Mas na minha estupidez, dissimulei
Não tive a sensibilidade, fui rude
E, mais uma vez, destilei minha insensatez
Fiz sofrer a quem muito me amparou

E o que sou? O que restou?

Somente a mágoa, pela indelicadeza
A indiferença justa, pela certeza
Da decepção da amizade rompida
Pela descrença do desamor da pessoa querida

E que faço eu diante dessa confissão
A não ser pedir perdão?

Preciso de colo

Foto de von buchman

A onde eu errei...

Hoje me pergunto que é que fiz da minha vida...
Amei e talvez fui amado ...
Me dediquei e fui traído....
Fui abandonado sem uma palavra....
Largado ao relento como um papel sujo...
Joguei 32 anos de minha vida no lixo...
Abandonei minha formatura, meu pós graduação na Alemanha e meu doutorado no Japão...
Tudo isto para cuidar, amar, zelar e ficar apaixonado por uma mulher com duas crianças...
A mulher que mais eu amei desprezo-me e no final foi embora sem um adeus,
sem uma palavra de explicação, vendeu todos os nossos bens,
mudou-se escondeu-se e depois sumiu para outro estado,
fez como ela sempre me ameaçava e eu que nunca levei a serio...
- Vou viver minha vida, vou pra meu cantinho, viajar, curtir e ser feliz,
e sempre o dizia o meu cantinho ...
O filho que gerei com ela, amei como nunca, fiz do meu coração pedaços para ele ter o melhor,
ele sempre dizia, nunca te pedi nada você deu por que quis, o problema é seu...
Armou contra mim , tentou me estrangular, preparou e ajudou a me separa de minha esposa
que é a razão da minha paixão, e ainda acha que fez certo! Me reduzindo ao nada
,me maltratando, me deixando lesões e sequelas, irreversíveis no meu corpo,
no meus sentimentos e na minha mente...
Hoje vivo a base de corticoide pra retarda perda da voz,
e antidepressivo em doses cavalar por causa da depressão
e da síndrome de pânico...
Quem era eu e a que ponto chegeui...
Milhas filhas nem um oi me dão, como uma dela me disse você é
uma pagina virada na nossa família...
Eu acho que eu sou um doente metal,
um bandido
um terrorista,
um estrupador,
ou um leproso terminal...
Que fazer...
Muitos na minha condição de excreto de uma vida, daria um final a ela...
Alguns sairiam da central do raciocínio sã e iria matando a muitos...
Outros pelo choque e a depressão ficaria no fundo do posso eternamente e vegetaria na demência...
E eu faço o que...
Lastimo, choro, deprimo-me, isolo-me na solidão...
hoje fico jogado em um canto de um quarto esperando uma esmola de alguém,
em um gesto de carinho ou a um afeto, muitas vezes penso em dar um ponto final a tudo...
Assim resolveria o problemas de toda minha ex família...
Que bom que tenho membros de igrejas que me ajudam em palavras e em medicamentos...
e uma linda irmã que me ama!
Amei tanto meu lar...
Catei 2 meninas órfãos e uma viúva a beira do buraco da depressão...
Dependente de tranquilizantes, bebidas e cigarros...
Dei meu amor, meu carinho, minha paixão e meu zelo...
Abandonou os vícios e medicamentos e ganhou amor e paixão...
Cuidei das meninas, formei, instrui pelo caminho do amor e do evangelho de Jesus...
Eduquei as crianças como fossem ou melhor sendo minhas com todo amor de pai,
sempre atento a princípio da palavra de Deus, da familia e do lar cristão...
Nunca deixei faltar nada, de uma boa comida a uma família integra e pura,
por aperto todos passamos, faz parte da vida...
Nasceram dois filhos deste casamento evangélico,
fiz por merecer a eles tudo que um bom pai devia dar
,mas nunca mais que as outras que acolhe, com muito amor
e carinho, estas sim dei o que eu tinha e não tinha...
Para superar a ausência do pai biológico, eu nunca as bate e
sempre eduquei no conselho e na explanação do bem e do mal,
sempre no bom costume, sem vicio , nem roubos, no bom exemplo,
não fazendo nada que desonra-se o nosso nome ou do Sr. Jesus.......
Para minha esposa e mulher, procurei ser um bom namorado, acho que bom marido,
e tentei ser um ótimo amante,
de flores no café na cama ao poemas no vidro do banheiro...
Fiz dela minha rainha, minha deusa do amar e do meu altar...
Sempre confiei cegamente nela e nunca esperei um sequer pensamento errôneo dela ou contra sua fidelidade...
Ela sempre esteve acima de qualquer deusa ou mulher, muitas vezes acima de minha própria mãe...
Minha unica magoa é nunca escultar dela eu te amo, pois ela dizia que
não conhecia esta palavra e não a usava...
Hoje eu estou só abandonado, sem ninguém na rua da amargura. na dura solidão,
entrando no final da vida, sem ninguém, ecoando na minha mente, as palavras de meu filho.
.( Quero lhe ver na miséria, mendigando na rua seu safado...)
Que é devassadora a tal praga e maldição de um filho a um pai...
Vivo no zumbido de um quarto isolado e só, que me foi cedido, por não ter como pagar moradia,
pois todos meus pertences foram-me subtraído, nada disse,
não reclamei ou se quer me opus só orei e lastimei em lágrimas, agradeço a minha irmã,
por sua bondade e amor, pois eu estaria no abandono,
na rua ou em um chão numa esquina qualquer como um mendigo...
Hoje vivo a mercê da sorte do amanhã...
Vivendo de ajudas de minha irmã e da igreja, para não morre da fome e
não me faltar os medicamentos,sei que sou peso para ela, e não me sinto bem e
muito me constrange por ser um peso na sua vida...
Hoje estou sofrendo uma devassadora e desencorajador profunda depressão,
junto com um mal que chama-se síndrome do pânico....
Olha que ganhei de minha família...
Que devo fazer..
As lágrimas, esta já nem lembro-me o dia que não as a ative no meu rosto...
Muitas vezes pela perda de minha lucidez, por orientação medica não devo andar só, nem dirigir...
Me da uns brancos e fico sem sabre quem sou e o que estou fazendo naquele lugar...
Sofro mui e muito me dói chega a arder meu peito pela perda de meu lar
e de minha amada família a saudades que sinto me é sufocante, não acredito que vivo isto e não quero aceitar...
O lastimar e a dor latente da perda familiar é o que esta cheio o meu coração...
Já os perdoei a todos, não me importa a razão do que ou para que fizeram ...
Mas para eles a vida continua, sem nenhum remoço ou arrependimento!
Fui alvo fácil, fui pego na armadilhas que eles mesmo fizeram,
na falta de atenção, falta de prudencia, total confiança
nas pessoas que estavam ao meu lado, e de minhas inexperiências,
de empresário, pai sem maldade e esposo sem nenhum receio ou qualquer cuidado,
total confiança na minha amada.....
Confiei de mais e fui traído por quem nunca esperei...
E a minha vida serve para que hoje...
Ajudo e sempre ajudei e vou continuar a ajudar
os mendigos, doentes, pessoas terminas e drogados...
Amo ser assim, fico sempre junto a quem precisa, fico até um dia no celular ajudando alguém
ou tentando resolver o problema de uma pessoa ou de uma família..
É a minha realidade...
amo ser um homem bom e de coração limpo
sem maldades, o odio e a rejeição...
Hoje nada me tem renovado a não ser a dor e o sofrimento...
Talvez eu já esteja a um passo da loucura...
Ou de um suicídio
Pois tenho escutado vozes que pedem ou me velam a crer que
e melhor dar um ponto final em tudo...
Não me resta mas nada do que sofrer e sonhar que um dia tudo se terminara quando,
os meus olhos se fecharam por total...
Ai talvez eles possam olhar e ver que fizeram com um pai, esposo e servo de Deus...
Que nunca fui perfeito, mas sempre soube reconhecer meus erros e minha imperfeição,
pedia perdão e arrependia-me tentando nunca mas errar ou pecar...
Perfeito só Jesus ...

Foto de Rosamares da Maia

Produtos da Fome

Produtos da Fome

Das sombras emergem criaturas medonhas,
Amontoam-se e escondidas, defendem-se,
Prontas para atacar, mostram seus dentes,
Ainda brancos dentes de leite – Por pouco tempo.
Em breve, serão caninos cariados, afiados.
Espúria maternidade! Profana, sem sentido.
Impunidade que certamente será cobrada ao futuro.
E o tributo amealhado em vidas.
Hediondas criaturas. Agora pulam das sombras,
Povoam as ruas, como lhes fosse um direito.
São matilhas solitárias, que solidárias,
Caçam e dividem o produto da sua pilhagem.

Mas não são cães, nem ratos!
- São produtos da miséria e da fome.

Nasceram bebês, foram crianças, meninos e meninas,
Se ainda ousam sonhar é difícil saber.
Têm nos rostos mal definidos, olhos de dor.
Agasalham a realidade sob os viadutos, entre jornais,
Espiam verdades varridas para baixo dos tapetes vermelhos.
Mastigam em sua fome, decisões e providências inúteis.
Meu Deus! Não são cães, nem ratos.
Amontoam-se em uma matilha humana,
Formam a horda dos que têm nome.

- São chamados de h o m e n s.

Rosamares da Maia

Foto de Daany

**Alguém imperfeito ...

**Seria tão bom sair por aquela porta e conhecer alguém sem precisar procurar no meio da multidão. Alguém que soubesse se aproximar sem ser invasivo ou que não se esforçasse tanto para parecer interessante. Alguém de quem eu não quisesse fugir quando a intimidade derrubasse nossas máscaras, que segurasse minha mão e tocasse meu coração. Que não me prendesse, não me limitasse, não me mudasse, alguém que me roubasse um beijo no meio de uma briga e me tirasse a razão sem que isso me ameaçasse. Que me dissesse que eu canto mal, que eu falo demais e que risse das vezes em que eu fosse desastrada. Alguém de quem eu não precisasse.. mas com quem eu quisesse estar sem motivo certo. Alguém com qualidades e defeitos suportáveis, que não fosse tão bonito e ainda assim eu não conseguisse olhar em outra direção. Que me encontrasse até quando eu tento desesperadamente me esconder do mundo. Eu queria sair por aquela porta e conhecer alguém imperfeito, mas feito pra mim.

.....

Foto de Fernando ARC

Acordar...

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.
.

Vivendo na ilusão, toda uma vida,
correndo para metas que não existiam.
Olho o passado, já muito longe e triste.

Vivi dormindo,
pensei que tudo estava bem,
criei as minhas ilusões,
acreditei nas decisões.
Mal eu poderia saber,
que um dia a luz iria ver.

Agora que tanto tempo já passou, sai do pesadelo,
este sonho que para sempre acabou, voltei á vida,
descanso na cama, vou sarar a minha ferida.

Em cada dia que agora vivo, sei e consigo ver,
que as pegadas do passado só me fizeram crescer.

Estou acordado, consciente, vivo e animado.
Já não estou no sonho, sei mais o que quero,
e melhor ainda o que não quero, sou eu de novo.

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