Leito

Foto de Sonia Delsin

NOSSO AMOR DE ONTEM

NOSSO AMOR DE ONTEM

Corríamos nos prados.
Éramos enamorados.
Vivíamos grudados.
O que foi feito de nosso amor de ontem?
O que foi feito do leito de flores?
Estas estórias de amores...
Nosso balanço sob a árvore frondosa.
No vaso uma solitária rosa.
O que foi feito de nossos abraços?
Dos laços?
Onde andam nossos passos?
Ainda, em algum canto mora.
Na minha memória.

Foto de Ana Botelho

A UM AMIGO

A UM AMIGO

"Furto-lhe a atenção, o tempo e o interesse,
E, invade-me logo todo o pensamento,
Apropriando-se das minhas fraquezas
E nelas, absorve tantas angústias...
Nesse exato e precioso momento
Disfarçamos cada óbvia intenção,
Falamos então, de conceitos e sonhos
E em nossos belos ideais viajamos...
Eu, como sonâmbula noturna da dor,
Vagueio em meio a um leito obscuro
Para só acordar, pelo seu precioso resgate,
Nesse traiçoeiro rio caudaloso da solidão.
Você, com a sua alma lavada e balsamizante
Alavanca-me docemente até segura margem
Desprendendo-me com uma incomum sutileza
Das torrentes confusas em que me achava,
Olho para cada fibra do seu interior
E o vejo tão querido, tão próximo, tão íntimo
E, justamente esse especial e ímpar instante,
Que você me faz sentir em luz e em paz!
Abraçamo-nos e, em pleno aconchego,
Ficamos quietos, patéticos e apascentados
Em energias afins, com certeza etéreas,
Que irão sempre nortear esta nossa vida,
Ou quem sabe grandes futuros cumpliciados...
Só sei que quero você aqui comigo
Não importando a que tempo, ou a que hora
E assim serei feliz, muito feliz, anjo de amor
Tendo você pairando por perto de mim,
Néctar da minha alma, amigo sem fim..."

Ana Botelho, 12/06/2006

Foto de Mentiroso Compulsivo

ESPÍRITO DO MAR

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Até longe vaguei a minha alma
Com o espírito pesado de mágoa,
O meu barco fustigado pela água
Fez dolorosa a vigília sobre a proa
Quando à noite ouvia rochedos falar
Meu corpo encrespado de frio gelado
A fome impiedosa, a comida se havia esgotado,
Sentia o sabor quente do mar glaciar
Defrontado e gasto pelas tempestades
Esmagando o meu coração com o peso da dor
Amargo destino condenado a esperar
Um amor de mulher ausente lá na cidade
Onde amantes podem viver seu amor
Consolo de amigos a festejar a agradável noite
Na mesa o vinho e o pão em risadas de alegria
Gozo e barulho na balbúrdia da cidade
Luzes na ribalta da noite em rebeldia
Não oiço nenhum som, apenas o rugido do mar
Não! Oiço um eco, um gritante gemido
Parecia vindo de um leito em voz de mulher
Mas que me trouxe de volta a realidade do mar
É o choro agudo da tempestade que se aproxima
O grito de uma criatura que é ave inocente
Tão pequena e ténue, de nítida voz de água transparente
Por entre o lamento do vento cruel e insensível
Trazido na noite branca escurecida de neve
Pelas sombras de granizo que caía no mastro
Ondas violentas a querer o seu grande ego
Da sua maior monstruosa grandiosidade
A caírem como turbilhões de lágrimas salgadas
Que o meu bartedouro não consegue vazar
E no meu barco sozinho andava perdido
Não havia gaivotas que me pudessem guiar
Ansiava só pela voz que me pudesse ouvir
Aprisionado naquele mar imenso, sem fim
Desejei lançar-me ao caminho do mar
Naquele instante vi portos distantes
Perto dos meus parentes aquém, para lá do além
Um romper de uma nova aurora de luz
Trazendo o rumor de uma nova terra
E vagueei com os amigos a caminho de casa
Esperando minha amada, ansiosa porque tardava
Livre do medo eu fiquei da longa viagem
Senti a voz que me dava a esperança terrena
E o meu coração ficou apaixonado pelo espírito do mar
Arvores verdes floresceram nas águas
A cidade bela que tanto ansiava, ergue-se no mar
Campos de flores, planícies verdejantes de amarelo
O meu espírito pairou sobre a extensão dos oceanos
Ansioso e desejoso de mergulhar em suas águas profundas.

© Jorge Oliveira

Foto de Teresa Cordioli

Para Sempre...

Para Sempre...

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Hei de deitar-me um dia em teu leito
Hei de olhar em teus olhos e sorrir
Hei de dizer sem medo de mentir
De quantos sonhos este amor foi feito...

E neste dia amor!... Serei toda tua!
Dar-me-ei com toda minha doçura
Desatando todas as armaduras
Soltarei meu coração, quando nua.

Com amor de uma mulher madura
(Te abraçarei como menina imatura)
E me entregarei na maior loucura

Quero amor, neste dia poder provar
O néctar do amor que tens para me dar
E para sempre, todo o sempre, te amar!

Teresa Cordioli

Foto de Henrique Fernandes

LAMAÇAL DE PAIXÕES PERDIDAS

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É permanente a voz solta no meu escuro
Um vulto invoca o amor que desconheço
O destino contra a vontade deixa de ser puro
Acorrentando-me aos desejos que confesso

O silêncio é um pântano de ansiedade
Um lamaçal de paixões perdidas
Adormecido no pesadelo da realidade
Deambulo sonâmbulo em fantasias ardidas

O luar mancha de vida o meu peito
A madrugada é carimbo de que existo
Colecciono estrelas que iluminem meu leito
Rebolando-me sobre espinhos não desisto

Uma lágrima aplaude a minha emoção
Um arrepio na pele indica-me o caminho
No labirinto que separa o corpo do coração
Enquanto perseguir o sonho não estarei sozinho

Foto de Sonia Delsin

MARCAS

MARCAS

Eu me envergonhava de minha nudez.
De minha pequenez.
Era tão grande o mundo.
E a vida veio me ferir tão fundo.

Mãe, você não foi só mãe.
Você foi minha maior amiga.
Companheira.
Tantas vezes eu chorava a noite inteira.

A cabeça no leito eu cobria.
Da realidade eu fugia.
Afastava o alimento que você me oferecia.

Lembra que mesmo doente e acamada eu escrevia?
E lia?
Até colares de conta eu produzia...

Mãe. Sei o quanto a minha doença lhe entristecia.
Tão fraquinha eu lhe parecia.

Mas, querida. Na minha vida tudo mudou.
Deus no meu ouvido falou.
Esta foi uma etapa de meu viver.
Faz tanto tempo...
Já passou.
Só que me marcou.

Foto de Teresa Cordioli

Para Sempre...

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Hei de deitar-me um dia em teu leito
Hei de olhar em teus olhos e sorrir
Hei de dizer sem medo de mentir
De quantos sonhos este amor foi feito...

E neste dia amor!... Serei toda tua!
Dar-me-ei com toda minha doçura
Desatando todas as armaduras
Soltarei meu coração, quando nua.

Com amor de uma mulher madura
(Te abraçarei como menina imatura)
E me entregarei na maior loucura

Quero amor, neste dia poder provar
O néctar do amor que tens para me dar
E para sempre, todo o sempre, te amar!

Foto de Minnie Sevla

Doação de órgãos (um ato de amor)

Um acidente fatal
A princípio ambulância, hospital...
Cirurgia tentando recuperar uma vida em agonia
Cérebro parou!!!
Coração forte não se inibe com a morte.
Não tão longe um órgão tenta pulsar compassado no
peito de um desconhecido, desamparado.
No leito um ser franzino faz uma oração:
-Jesus! Faça com que venha me visitar logo um novo coração.
Espera ansioso o tamborilar congelado, para soar quente, ritmado
e devolver a vida a um corpo quase estagnado.

Minnie Sevla

Foto de Joaninhavoa

Beijos, mel...

Estou aqui e agora
bem presente! Mas hoje
logo pl`a manhã, fui sereia
e deitada sobre a areia
saboreei teus raios de Sol...
beijarem afoitos a minha pele!...

Óh! Beijos ardentes...
Paixão! Favos de mel sobre
o mel! Vinde leve levemente
como quem chama por mim
e assim em sussuros... d`amor
como é este de só te querer a ti!

Caminharei pl`os Jardins Encantados! Não serei Marília
nem rosa nem outros tipos
de flores! Serei só uma Joaninha
que voa voa sem parar... mas paira
no ar a contemplar!

E vendo vejo-te e beijo-te
num doce e refinado... desejo-te
hoje! Logo pl`a manhã
fui sereia fui amante e aceitei-te
como jamais havia feito...
foi deleite em meu leito!...

Joaninhavoa, in "Jardins Encantados"
(em 2008/02/10)

Foto de Ana Botelho

MEU PRIMEIRO AMOR

MEU PRIMEIRO AMOR.

De repente, distante de tudo eu me senti,
Foi-se a luz que me sustentava e reluzia
A minha vida e, com isso, esta se apagou
Por tudo que a sua ausência me causou ...
O meu mundo caiu em doídos pedaços
Arrastando-se ao chão e em meus passos.
De lágrimas se fez todo o meu jardim
E a minha alma em tristezas sem fim.

Você era o caudaloso rio que passava
E deslizava, lá, e nem sequer se tocava,
Que eu houvera nascido em suas margens
E que grudada, entrelaçada às amoreiras,
Banhávamos as nossas longas cabeleiras
Continuamente, apinhadas de longas mágoas
Na pureza das suas corredeiras e frescas águas.

Se era estio, escasseava nosso sugar em seu leito,
Mas nas chuvas, nos saciávamos, e tudo ficava perfeito.

Verdejantemente, rebrotávamos na primavera,
Estação dos amores, flores e mil quimeras.
E assim fora por meses e muitas, muitas estações
Todos nós em um só tom, nos mesmos diapasões,
Afinados na melodia da vida, amando e mais amando...
Mas veio o tempo e foi logo nos separando,
Porque ele já sabia o que o destino guardara,
E assim, distantes, consumou-se o que tramara.

Numa tarde fria de chuva, bateu-me uma agonia sem fim
Era a má notícia chegando, tomando conta de mim
Falaram que você havia partido, pro outro lado da vida,
Fiquei uma eternidade parada, cuidando da minha ferida
Que não cicatrizou ainda, só fica quietinha pulsando
Por isso eu vivo sozinha, e aqui, de tristeza falando.
Ninguém vai encher de amor o meu pobre coração
Ele é uma casa vazia, mal assombrada por esta paixão.

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