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Até longe vaguei a minha alma
Com o espírito pesado de mágoa,
O meu barco fustigado pela água
Fez dolorosa a vigília sobre a proa
Quando à noite ouvia rochedos falar
Meu corpo encrespado de frio gelado
A fome impiedosa, a comida se havia esgotado,
Sentia o sabor quente do mar glaciar
Defrontado e gasto pelas tempestades
Esmagando o meu coração com o peso da dor
Amargo destino condenado a esperar
Um amor de mulher ausente lá na cidade
Onde amantes podem viver seu amor
Consolo de amigos a festejar a agradável noite
Na mesa o vinho e o pão em risadas de alegria
Gozo e barulho na balbúrdia da cidade
Luzes na ribalta da noite em rebeldia
Não oiço nenhum som, apenas o rugido do mar
Não! Oiço um eco, um gritante gemido
Parecia vindo de um leito em voz de mulher
Mas que me trouxe de volta a realidade do mar
É o choro agudo da tempestade que se aproxima
O grito de uma criatura que é ave inocente
Tão pequena e ténue, de nítida voz de água transparente
Por entre o lamento do vento cruel e insensível
Trazido na noite branca escurecida de neve
Pelas sombras de granizo que caía no mastro
Ondas violentas a querer o seu grande ego
Da sua maior monstruosa grandiosidade
A caírem como turbilhões de lágrimas salgadas
Que o meu bartedouro não consegue vazar
E no meu barco sozinho andava perdido
Não havia gaivotas que me pudessem guiar
Ansiava só pela voz que me pudesse ouvir
Aprisionado naquele mar imenso, sem fim
Desejei lançar-me ao caminho do mar
Naquele instante vi portos distantes
Perto dos meus parentes aquém, para lá do além
Um romper de uma nova aurora de luz
Trazendo o rumor de uma nova terra
E vagueei com os amigos a caminho de casa
Esperando minha amada, ansiosa porque tardava
Livre do medo eu fiquei da longa viagem
Senti a voz que me dava a esperança terrena
E o meu coração ficou apaixonado pelo espírito do mar
Arvores verdes floresceram nas águas
A cidade bela que tanto ansiava, ergue-se no mar
Campos de flores, planícies verdejantes de amarelo
O meu espírito pairou sobre a extensão dos oceanos
Ansioso e desejoso de mergulhar em suas águas profundas.
© Jorge Oliveira
Comentários
DIRCEU / JORGE OLIVEIRA - Lindíssimo poema, parabéns
Você começa a nos lembrar os grande poetas lusitanos que escreviam sobre os mares, suas dificuldades no descobrindo das novas terras e o principal, o romantismo de lembrar das mulheres, nossas eternas e imprescindíveis companheiras.
Parabéns
P/ DIRCEU
Amigo poeta DIRCEU
Todos nós somos pescadores, marinheiros, descobridores... de facto este poema foi inspirado numa obra que li sobre o mar...
Caro Dirceu, vou deixar, por motivos profissionais, de escrever, como até aqui tenho vindo a escrever (com alguma frequência e regularidade), pois o tempo de estar parado sem quase nada para fazer, a não ser ler e escrever e mais alguns prazeres da vida, acabou. Chegou o tempo de trabalhar no duro... Pouco tempo resta...
Um grande abraço
Jorge Oliveira
Jorge Oliveira
P/ Jorge
Meu querido Jorge,
Eu até ia comentar a viagem que fiz por este belíssimo trabalho, o quanto que desejei correr para a minha praia, e navegar, navegar... inspirada neste teu momento...
Mas, depois de ler que te vais ausentar, lamento-o...
O teu espaço não será ocupado...
Possuis um estilo que nos marca...
Vou ter saudades... mas claro, trabalhar é preciso!
Felicidades... muitas!
Sucesso... todo!
Um beijo d´alma, que hoje partilho contigo, num aroma feito de maresia do meu amado Meco.
YapRose
Nota: registo que sempre estive certa, nada mentiroso, compulsivo de sentimentos maiores...e com rosto!(Risos)