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É certa esta certeza,
deste meu sangue em pensamento,
a correr nas horas da tristeza
em todos dias sentida,
sem que eu percebesse o momento
da lágrima que foi perdida.
As horas que não chorei
(um homem também chora!)
presas nos dias que não amei,
escondem-se entre a alma agora,
querendo guardar todo o mal
neste lugar sombrio e saudoso,
a esconder esta dor principal
deste sentimento tão temeroso,
à espera de um qualquer final
para a vida de um mentiroso.
O tempo muda, por ventura,
bem sei, pelo passar dos dias;
mas, para minha grande desventura,
pede-me em troca as minhas alegrias
e eu não sei, se quero, se me atrevo
a deixar as palavras que escrevo
(é um engano este descanso),
este beber de eterno vício
engolindo lágrimas tão manso.
Será isto um sacrifício,
que me traz algum benefício?
A vida não muda, mas vêm os anos,
e eu tenho por esta certeza
a natureza destes próprios danos
feita de tantos pecados
(ainda que nunca tivesse pecado
a quem amo ou tivesse amado).
Quem diz que chorar descansa?
Se quanto mais lágrimas choramos,
tanto mais lágrimas logramos!
Quero ficar só com esta lembrança
da lágrima que o vento levou
- que traz de volta a esperança
nas palavras que me deixou
presas numa só vontade,
escritas na palavra saudade.