Guarda-chuva

Foto de Ivone Boechat

Meu pai

Gosto de rever
a imagem forte do meu pai,
tremendo o assoalho
ao caminhar.
É doce me lembrar
como se temia
quando ele perdia
a abotoadura,
o guarda-chuva,
a chave de fenda!
Hoje é lenda
a figura enigmática,
a disciplina dura,
a rotina sistemática.
Pai não morre,
corre na frente
pra levantar o segredo do véu
e guardar pra gente
o lugar mais estrelado do céu.

Ivone Boechat
Publicado no meu livro Amanhecer 3ª.edição Reproarte RJ 2004

Foto de Allan Dayvidson

"SAYONARÁ"

"Mais um poema empoeirado que encontrei por aqui... O passado é o tema dele, uma despedida deste passado, ou melhor, há contidas nele três despedidas importantes. Este poema foi (e ainda é) o último de uma fase, e, logo, o primeiro de uma nova fase..."

“SAYONARA”
= Allan Dayvidson=

Pela janela, a paisagem fica para trás
e os respingos no vidro não são apenas os da chuva.
Momentos como aqueles, insubstituíveis
e minhas cicatrizes, um souvenir...

Debaixo do meu guarda-chuva vermelho,
escondi um sorriso encabulado,
mas você já deve ter encontrado uns cacos do meu coração
varridos para debaixo do tapete do seu quarto.

Não dá para negar, ter uma queda por você foi divertido,
apesar dos arranhões nos joelhos
E agora, daqui de dentro do ônibus
o vidro da janela também serve de espelho.

E pela janela, vejo você correndo
pedindo para eu jamais esquecer
aqueles momentos em que nenhum de nós estava no controle
e ainda assim sabíamos o que fazer.
Pela janela, digo “Sayonará!”.
Não se preocupe, ficarei legal.
Momentos como aqueles me concedem razões
para escrever novas histórias no próximo cartão-postal.

Bem agora, estou com os fones de ouvido
ouvindo algumas de suas faixas,
enquanto reviro minha mochila bagunçada
atrás dos resquícios de você que irão para minha caixa.

Incalculáveis lições aprendidas
e seu número na agenda do meu celular.
Queria poder te ligar qualquer hora dessas
e dizer o quanto aquelas equações me fazem falta.

Pela janela, vi em seu rosto
aquilo que você jamais conseguiu dizer.
Momentos como aqueles parecem não caber em palavras.
Mas saiba que eu sei...
Pela janela, digo “Bye bye!”
e espero que consiga entender,
pois momentos como aqueles não exigem muitas explicações.
Resuma-os apenas a mim e você...

Esta cidade não será a mesma coisa sem nossa bagunça,
sem momentos como aqueles,
sem seu jeito de me deixar vermelho,
mas fui até onde essas ruas me permitiram.

Pela janela, observei seu ato final
E aproveitei meus últimos momentos como um grande fã
expectante diante da possibilidade de me sentir...especial.
E pela janela, a paisagem ficou para trás
Enquanto eu escrevia meus agradecimentos no embaçado do vidro
Momentos como aqueles ficaram resignados a uma única palavra:
“Adeus”

Adeus...

Foto de Talu audiovisual

Video Clipe concurso Oswaldo Montenegro - obra: Memórias

Memórias é uma obra criada para o concurso Oswaldo Montenegro por Talu Audiovisual, curtam ai mais uma e nossas criações.

Eu Quero Ser Feliz Agora
Oswaldo Montenegro

Se alguém disser pra você não cantar
Deixar seu sonho ali pro um outra hora
Que a segurança exige medo
Que quem tem medo Deus adora

Se alguém disser pra você não dançar
Que nessa festa você tá de fora
Que você volte pro rebanho.
Não acredite, grite, sem demora...

Eu quero ser feliz Agora (2x)

Se alguém vier com papo perigoso de dizer que é preciso paciência pra viver.
Que andando ali quieto
Comportado, limitado
Só coitado, você não vai se perder
Que manso imitando uma boiada, você vai boca fechada pro curral sem merecer
Que Deus só manda ajuda a quem se ferre, e quando o guarda-chuva emperra certamente vai chover.
Se joga na primeira ousadia, que tá pra nascer o dia do futuro que te adora.
E bota o microfone na lapela, olha pra vida e diz pra ela...

Eu quero ser feliz agora (2x)

Se alguém disser pra você não cantar
Deixar seu sonho ali pro um outra hora
Que a segurança exige medo
E que quem tem medo deus adora

Se alguém disser pra você não dançar
Que nessa festa você tá de fora, que volte pro rebanho.

Não acredite, grite, sem demora...

Eu quero ser feliz Agora (3x)

Foto de Rute Mesquita

Tempestade

Tempestade,
porque vens nesta altura
acabar com a minha luz?

Tempestade,
porque levas a minha cura,
nessa ventania que me seduz?

Partirei sobre ti,
com o meu vestido preferido,
e com um guarda-chuva aberto.
Seguirei, os teus sinais assim,
em busca do céu deserto,
por ti prometido.

Caminho descalça,
sobre esta terra que irás inundar.
Peço-te: Realça,
esta relva pela qual irei deambular.
Abre-me um caminho,
dá-me uma orientação.
Só não queimes este pergaminho,
com os raios da tua designação.

Tempestade,
aqui me tens, tu que tanto me procuraste.
Não sei a nem metade,
porque vens,
se foi porque assim juraste,
ou por desejo de me cobrir,
ou pela tua vaidade.
Só sei, que és tu a única que agora vejo,
e não tenciono desistir.

Tempestade,
será que me vais atingir com os teus raios?
Ou me beijar com a tua água?
Majestade,
levarás tu os meus paios?
Ou, vindes deixar mágoa?

O que quer que seja,
irei descobrir,
com a calma de quem colareja,
a minha sombra do meu existir.

Foto de Marilene Anacleto

Dia de Chuva

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Contemplo o mar
Neste dia de chuva
Caminhadas,
Só de guarda-chuva.

Nem pescadores,
Nem surfistas,
Nem crianças
Ou banhistas.

O mar está em paz
E, com ele, o sossego
Volta ao seu lugar.

Marilene Anacleto

Foto de Amandynnnha

A Insatisfação e o Amigo Verdadeiro

Um certo dia caminhava pelas veredas da vida um jovem muito descontento e insatisfeito com a vida que vivia e com o único amigo que tinha. No decorrer do caminho encontrou-se com um sábio, tremendo e com muita timidez, perguntou-lhe:
_Senhor, o que tenho que fazer para encontrar um amigo verdadeiro?
O sabio intrigado com essa pergunta exclama: _Filho, e esse jovem que está com você? Por acaso não é seu amigo?
O jovem gaguejando tenta se explicar: _ sim, que...q..quero dizer não...por favor senhor, me diga aonde posso encontra-lo!!!
_Ta bom...falou o sábio, para encontrar-lo terá que subir mais além dessa montanha( indicando-a com os seus dedos), terá que enfrentar o calor intenso, o frio congelante, sem mensionar as fortes tempestades no final de todas as tardes...
O jovem sem esperar que o sábio terminasse de falar, com muito entusiasmo altera sua voz e fala: _Obrigado senhor!!! agora mesmo eu vou!!!
O que ainda não tinha percebido o jovem é que o amigo ,rechaçado por ele, lhe acompanhou.
Ainda no começo dessa grande aventura pela montanha, veio sobre eles uma forte tempestade, mas o amigo recolhendo cada folha que trazia o vento, improvisou um pequeno guarda-chuva para proteger o jovem.
Na metade do caminho, o calor era tão intenso que causava neles um profunda desidratação,mais o amigo mais uma vez ajuda ao jovem com as últimas gotas de água que tinha em sua vasilha.
Quando faltava pouco para o destino tão esperado, um frio congelante não os permitiam caminhar.O jovem não se aguentando de frio, observa que o amigo demora em ajudá-lo, depois de longos minutos de espera, com muita ira e com voz imperativa grita ao amigo: _ Você não está vendo que estou morrendo de frio? Não vai vir me ajudar?
O amigo quase morrendo e sem forças para falar,com as últimas forças do seu corpo, se disfaz do único casaco que tinha e veste ao jovem,que nem se quer lhe agradece.
Agora o frio já se havia passado, o jovem havia chegado no seu tão esperado destino, cheio de felicidade começa gritar pelo amigo tão esperado, que simplesmente não lhe responde.
Decepcionado, ferido , com a roupa rasgada e sem forças, encontra-se com o sábio e desabafa:
_Senhor eu fiz tudo quanto o senhor me mandou fazer, não desisti em nenhum momento e tudo que consegui para a minha vida foi graves feridas e dores em todo corpo!!! O senhor me mentiu?
O sábio, olhando dentro dos olhos do jovem, lhe pergunta: _ Quando você enfrentou a forte tempestade, quem te ajudou?, e quando você sofreu o calor do deserto e teve sede, quem te deu de beber?...Ah! filho...o amigo verdadeiro sempre esteve ao seu lado e você nunca o percebeu, nunca o valorizou, você desaproveitou a oportunidade de conhecê-lo, você nem percebeu que o corpo do seu único amigo não pode enfrentar o frio congelante daquela noite, que à tua ingrata petição, te sedeu o seu único abrigo...Tudo o que você precisava estava em suas mãos...que pena que agora já é tarde demais para reconhecer!!!

Foto de Mentiroso Compulsivo

O Actor

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Cansei-me.
Desliguei o leitor de CD’s, fechei o livro, e rodei do sofá para o chão. Cheguei à janela, afastei as cortinas. Chovia a “potes”.

Fui comer. Voltei à janela. Já não chovia. A noite estava escura, o ar, fresco da chuva, cheirava a terra molhada; a cidade lavada. Vesti a gabardine e saí.

Cá fora, a cidade viva acolheu-me. No meio dos seus ruídos habituais, nas luzes do passeio. Percorri algumas casas e vi um bar um pouco retirado. Era um destes bares que não dá “muitos nas vistas”, sossegado e ao mesmo tempo, barulhento.

Com alguns empurrões, consegui passar e chegar ao balcão. Pousei o cabo do guarda-chuva na borda do balcão e sentei-me. O bar estava quente e o fumo bailava no ar iluminado. Senti o cheiro a vinho, a álcool. Ouvi as gargalhadas impiedosas de duas mulheres e dois homens que se acompanhavam. Deviam ser novos e contavam anedotas. Eram pessoas vulgares que se costumam encontrar nas pastelarias da cidade, quando vão tomar a sua “bica” após o jantar. Estes foram os que mais me atraíram a atenção. Não, esperem... ali um sujeito ao fundo do balcão, a beber cerveja...
- Desculpe, que deseja? – perguntou-me o empregado.
- Ah! Sim... um “whisky velho”, por favor.
Trouxe-me um cálice, encheu-o até ao meio e foi-se embora.

Bebia-o lentamente. O tal sujeito, desagradável, de olhos extraordinariamente brilhantes, olhou para mim, primeiro indiferentemente, abriu a boca, entortou-a, teve um gesto arrogante e voltou o rosto.
Estava mal vestido, tinha um casaco forte, gasto e sapatos demasiado velhos para quem vivesse bem.
Olhou-me de novo. Agora com interesse. Desviei a cara, não me interessava a sua companhia. Ele rodou o banco, desceu lentamente, meteu uma das mãos nos bolsos e veio com “ares de grande senhor” para o pé do meu banco.
O empregado viu-o e disse-me:
- Não lhe ligue... é doido “varrido” e “chato”.
Não lhe respondi.
Entretanto, ele examinava-me por trás e fingi não perceber. Sentou-se ao meu lado.
- É novo aqui?!... – disse-me
Respondo com um aceno.
- Hum!...
- Porque veio? Gosta desta gente?...
- Não os conheço – cortei bruscamente.
Eu devia ter um ar extremamente antipático. Mas, ele não desistiu.
-Ouça, - disse-me em voz baixa, levantando-a logo a seguir – devia ter ficado lá donde saiu, isto aqui não vale nada. Vá-se por mim... Está a ver aqueles “parvos” ali ao canto? Todos reparam neles... levam o dia a contar anedotas que conhecem já de “cor e salteado”...Vá-se embora. Todos lhe devem querer dizer, também, que não “ligue”, que sou doido...

Tinha os olhos raiados de sangue. Devia estar bêbado. Havia qualquer coisa nos seus olhos que me fez pensar. Era um homem demasiado teatral, havia nos seus gestos e segurança premeditada, simplicidade sofisticada do actor. Cada palavra sua, cada gesto, eram representações. Aquele homem não devia falar, devia fazer discursos.
Estudando-me persistentemente, disse-me:
- Você faz lembrar-me de alguém que conheço há muito, mas não sei quem é... Devia ter estado com esse alguém, até talvez num dia como este em que a chuva caía de mansinho... mas, esse alguém decerto partiu... como todos... vão-se embora na noite escura, ao som da chuva... nem olham para ver como fico.
Encolheu miseravelmente os ombros, alargou demasiado os braços e calou-se.

Eram três da manhã. Tinha agarrado uma “piela” com o ilustre desconhecido. Tinha os olhos muito abertos, os cotovelos fincados na mesa da cozinha e as mãos fechadas a segurarem-me os queixos pendentes. Ele tinha um dedo no ar, o indicador, em frente ao meu nariz, abanava a cabeça e balançava o dedo perante os meus olhos. Ria às gargalhadas, deixava a cabeça cair-lhe e quis levantar-se. O banco arrastou-se por uns momentos e cai com um estrondo. Olhou para mim com um ar empobrecido, parou de rir e fez: redondo no chão. Tonto, apanhei-o e arrastei-o para a sala.

Deixei-o dormir ali mesmo. Cobri-o com uma manta, olhei-o por uns instantes e fui aos “ziguezagues” para o meu quarto.

No dia seguinte acordei com uma terrível dor de cabeça. Dirigi-me aos tropeções para a casa de banho. Vi escrito no espelho, a espuma de barba; “Desculpe-me, obrigado. Não condene a miséria!”

Comecei a encontrá-lo todos os dias à noite. Fazíamos digressões nocturnas, íamos ao teatro. Quando percorríamos os corredores dos bastidores, que ele tão bem conhecia, saltavam-nos ao caminho actores que nos cumprimentavam; punham-lhe a mão no ombro e quando ele se voltava, davam-lhe grandes abraços. Quase toda a gente o conhecia.

E via-lhe os olhos subitamente tristes, angustiados. Ele não se esforçava por esconder a tristeza: era uma tristeza teatral. De vez em quando, acenava a cabeça para alguns dos seus amigos e dizia:
- Não devia ter deixado...

Inesperadamente, saía porta fora, certamente a chorar, deixando-me só. Quando saía via-o pelo canto do olho encostado a uma parede mal iluminada, mão nos bolsos, pé alçado e encostado à parede, cenho franzido e lábios esticados. Nessas ocasiões estacava, por momentos, e resolvia deixa-lo só. Estugava o passo e não voltava a olhar para trás.

O seu humor era variável. Tanto estava obstinadamente calado e sério, como ria sem saber porquê.
De certa vez, passei dois dias sem o ver. Ao terceiro perguntei ao “barmen”:
- Sabe o que é feito do actor?... Não o tenho visto.
- Ainda não sabia que ele tinha morrido? Foi anteontem. A esta hora já deve estar enterrado...foi melhor para ele...
Nem o ouvia. As minhas mãos crisparam-se à roda do corpo, cerrei os dentes. Queria chorar e não conseguia. E parti a correr pelas ruas. Por fim, cansei-me. Continuei a andar na noite, pelas ruas iluminadas. E vi desfilar as imagens. Estava vazio e, no entanto, tantas recordações. Não sentia nada, e apenas via as ruas iluminadas, as montras, os jardins.
Acabei por me cansar, de madrugada tive um sonho esquecido.

Percorro as ruas à noite, os bares escondidos, à espera de encontrar um actor “louco e chato”. De saborear mentira inocente transformada em verdade ideal. E há anos que nada disso acontece. É verdade que há sujeitos ao fundo do balcão, mal vestidos, a beber cerveja... mas nenhum que venha e pergunte se sou novo aqui... As pessoas continuam a rir como dantes, todos os dias vejo as mesmas caras, e se me perguntarem se gosto desta gente digo-te que não as conheço ainda... e olho-os na esperança que venha algum deles e que lhe possa dizer, como a raposa de “ O principezinho”:
- Por favor cativa-me.

Acordei, tinha parado de chover, lá fora ouviam-se as gotas mais tímidas ainda a cair dos telhados, fazendo um tic-tac na soleira do chão, como quem diz o tempo da vida continua, por segundos parei o tempo e pensei, mais um dia irá começar e neste dia eu também irei pisar o palco, todos nós iremos ser actores, uns conscientes da sua representação, outros ainda sem saber bem qual seu papel, uns outros instintivamente representando sem saber que o fazem e outros ainda que perderam o seu guião....

Foto de eterno apaixonado

Sonhando acordado

A tarde é fria, a chuva cai lemtamente do céu venho caminhando pelas ruas desertas da cidade, passos lentos pensamento longe. Penso em como seria bomse você estivesse aqui comigo...andaríamos abraçados, um se aquecendo no corpo do outro, felizes se amando e fugindo da chuva, nos doi sem um único guarda-chuva ignorando e achando graça da situação. Ao se aproximarmos de casa fazer o que eu sempre fazia que te deixava louca- fechar o guarda-chuva- e te beijar sem se importar com o mundo ao nosso redor ,e como se por alguns instantes só existissem nos dois e mais nada e masi ninguém. Tomaríamso um banho quente a dois, me aquecendo no calor do seu corpo, do seu beijo, no pulsar do seu coração junto ao meu, nossos corpos em chama! E assim iríamos pela madrugada inteira, não existia inverno na nossa cama. Ops, de repente piso numa poça dágua, molho meus sapatos e asim desperto do sonho, por um instante te senti aki, por uminstante me esqueci que você já se foi, que já não sou mais eu que já não é mais o meu corpo que te aquece nas noites frias de inverno...
Só restaram as lembranças, a saudade e o meu amor por você...

Foto de eumesmo

balada da paixao do(a)...

I-... dia

Procuras-me.
Eu resido no meio dos livros de uma biblioteca,
cercado por palavras justas ao corpo.Lá procuro-te/procuras-me
incessantemente com o pensamento,
desde que o sol pela manhã,
ilumina os campos de centeio da minha cabeça,
com o voo tranquilo das borboletas
irrompendo das espigas a cada pensamento meu em ti,
até que venha a lua com os seus olhos esbugalhados,
depois de um sono profundo,
perguntar pela noite,
espantada com o halo de luz de todos os candeeiros do país
em redor dos nossos corpos guarda-chuva,
protectores um do outro do mundo lá fora,
onde as gotas de solidão chovem nas nossas cabeças
durante as nossas ausências.

II-... noite

Procuras-me.
Procuras-me na profundidade da noite,
entre os dentes caninos da noite,
que param de me mastigar a cada avanço teu,
com o teu jardim lúcido,
sobre o teu peito macio,
onde crescem as plantas ardentes da paixão.

Sabes bem que te desenhei um mapa do meu corpo,
um mapa da minha cidade com as suas artérias
e disse-te que as letras são os anti-corpos
que me protegem das doenças. As letras anti-corpos
alinham-se nas artérias-ruas do meu corpo-cidade de luz
para escrever o teu nome,
onde o sangue flui limpido,
bombeado pela casa de paredes lúcidas no meu peito,
onde o amor habita fulminante e beija cada tijolo branco,
provocando espasmos- relâmpagos de paixão.

III-Epílogo

Ainda temos muitas vácuos de nós pela frente
muitas pedras cinzentas para nos sentarmos
nas encostas do rio melancolia
e apreciarmos a sua extrema capacidade para nos cortar os olhos
por isso amemo-nos devagar ,
e celebremo-nos debaixo de um candelabro com asas aceso pela paixão,
a pairar sobre os nossos corpos sujos,
imensamente sujos.

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