"Pedi demissão de meu antigo emprego... Aparentemente foi de uma hora para outra, sem planejamento, sem nada. Mas acho que pedir demissão foi um ato autêntico e que refletia uma série de mudanças pessoais. Uma profusão de novos pensamentos sobre como eu percebo a vida, mas havia pouca ação de minha parte... Este poema foi escrito alguns dias depois do ocorrido e ele fala sobre alguns desses pensamentos..."
DEMISSÃO
=Allan Dayvidson=
Eu me demito!...
Eu me demito de papéis previsíveis, dos planos infalíveis, das respostas estáveis
e dos cenários confiáveis...
Eu me demito do cargo para o qual fui designado desde antes de nascido,
operário nas fábricas de corações partidos...
Estive recuperado, tive os sinais vitais estabilizados
fui novamente funcional,
Fui adestrado e padronizado
sempre a uma distância estratégica do ideal.
Mas estou derrubando pilares, desfazendo lares,
desromantizando lugares, mandando arranha-céus pelos ares...
Eu me demito da vida numa caixa, do nome numa faixa, de rótulos compulsórios
e de ser rastreado por palavras-chaves.
Eu me demito de viver no cárcere privado de minhas certezas,
farei de convicções portas provisórias e não eternas grades.
Estive diagnosticado e em permanente manutenção,
fui especializado em resignação.
Estive reformado e devidamente socializado,
e reprogramado sem coração
Mas estou derrubando castelos, desfazendo elos,
tateando nós cegos e afrouxando meu ego.
Papéis esfarelando por entre meus dedos feito pergaminhos,
perdendo os sentidos, símbolos e sinais.
A meu redor, novos elementos, novas combinações e caminhos,
compondo poemas experimentais...
E eu me demito!