Graça

Foto de Jamaveira

À tona

À tona

Aflora aurora perdida

Vem transformar dias novos

Trazer de volta aquela praça

Teu sorriso sem graça

Revoar dos pássaros ao entardecer

O beijo inocente que enlaça.

Tão distante parecem os anos

Tão perto as emoções do coração

Diante do espelho semblante sorri faceiro

O pente desliza nos cabelos brancos

Nos lábios o queimou da saudade

No peito ofegante desejo...

Jamaveira

Foto de Sonia Delsin

ACORDO SORRINDO

ACORDO SORRINDO

Fico um tempo a me espreguiçar.
Acordo sempre sorrindo.
Achando o mundo lindo.
Mais um dia que tenho a graça de acordar.
Neste planeta adoro morar.
Mesmo com todo sofrimento adoro este lugar.
Não devemos acordar mal humorados.
O mundo é feito de sonhos encantados.
A vida é leve.
Não percebe quem não quer enxergar.
A vida vive a nos oferecer um pouco de tudo.
É para aprendermos, é para vivermos.
Brancas nuvens e mar de rosas não nos favorecem.
Nossas forças não crescem.
Estamos aqui como numa escola.
Estamos aqui para provar, para experimentar.
Para receber, para dar...
Estamos aqui porque ganhamos de presente o viver.
Não estamos aqui para sofrer.
Mas para crescer.
Imagino tantas vezes que tenho fortes raízes que penetram a Terra.
E tenho outras igualmente fortes que me conectam com o Infinito.
É assim que entendo meu ser.
Acordo sorrindo e vou me deitar também a sorrir.
O sorriso enfeita o meu existir.

Foto de JGMOREIRA

POEMA DO MENINO JESUS - ALBERTO CAEIRO

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Foto de belladona1963

Pensando em Ti

Quando estou calada estou pensando em ti, estou pensando em ti quando fico parada, estou me lembrando de ti, quando fico mais na cama, e só sonhar contigo...Porque quando a gente se ama, não consegue se esquecer... De repente eu me pergunto se tu foste ilusão, foi apenas um encontro e eu te dei meu coração... O que foi que acontecer para eu te amar assim??? Seja lá o que for, ficou dentro de mim. Desccobri que a vida só tem graça contigo, quando as coisas tem que ser não tem explicação... O amor é invensão do coração!!!
Para ti meu amor

Foto de tadeu paulo

TEU BEIJO... DOCE VENENO!

TEU BEIJO... DOCE VENENO!

passa com graça
fica e me abraça
escondido me acha
descoberto me beija
sou tão pequeno
teu beijo é veneno
vontade que seja
'morrer' em teus braços...
dormir mais sereno!

(Tadeu Paulo -- 2007-09-09)

Foto de HELDER-DUARTE

Poemas sobre Maria

Maria

Se Maria, mãe de Jesus,
Entre nós estivesse!
E falar, vos podesse,
Oh gente sem luz,

Certamente vos diria:
O que vossa alma ouvir, não queria.
Eu não sou Deusa!
Adorai ao Deus do céu e da terra;

Ele é o Senhor;
Eu sou humana;
Ele é amor!

Só o Senhor é Deus!
D'ele tudo emana!
Adorai-o, oh santos seus!...

Avé Maria

Avé Maria!
Santa és...
P'ela graça, caminharam teus pés...
Para, que teu ser fosse, o que querer, não queria.

Tua fé te salvou.
Por ela, Deus te usou...
Para que meu, teu Salvador,
Fosse, Jesus o Senhor...

Diz oh Maria!Jesus, é o meu Salvador.
Por isso, tenho Alegria.
Ele é o Senhor;

De todos o Salvador;
De Israel,
Rei e Pastor!

Helder Duarte

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"FRIO"

FRIO

Embora minha pele queime de frio...
Meu coração esta bastante quente...
É triste quem tem um peito vazio...
Parece até estar doente!!!

Minha alma já esteve sozinha...
Mas há muito vive tranqüila...
Hoje sou feliz, pois tenho carinho...
O frio da alma é o que nos aniquila!!!

Nada vem de graça...
O amor temos que dar...
Só percebemos que o tempo não passa...
Quando não temos alguém para amar!!!

Tudo que distribuirmos...
Lá na frente vamos receber...
Se foI frio ou calor, o que nós plantamos...
É exatamente o que vamos colher!!!

Foto de Marta Peres

Hora da Morte

Hora da Morte

Reza o ato de contrição
E expunge de tua alma suas nódoas.
Venturosos são os que,
Fortalecidos na graça do perdão,
Se alinham no caminho do bem,
Quando, então, suas almas conhecerão afinal,
O Reino dos Céus.

Livra minhas culpas por misericórdia,
Estou arrependida e hoje sou penitente...
Me encontro nos estertores da morte
Levando minha cruz,
Neste cruento Calvário.
Misericórdia Senhor!

Humildemente rogo ao Filho de Deus como
O fez o bom ladrão...
Sim, pequei e me arrependo...
Mereço o perdão!

Minha cruz é pesada, amarga
Vivo na solidão deste agreste Calvário...
Olho a Cruz mais alta, choro
Vendo sangue gotejar sobre as urzes
E transformando em contas de rosário.

Porém, luzes dela se expandem...
Novamente vi Cristo
Morrendo solitário
E eu me contorcendo e gemendo...
Fito o céu, arrependida também
Entrego minha alma.

Marta Peres

Foto de elcio josé de moraes

GRANDE PAIXÃO

Me entenda por favor.
E tente compreender,
Que eu já não posso viver,
Um segundo se quer,
Sem o seu amor.

Porque voce se esquiva e disfarça,
Me deixando, até mesmo sem graça,
Fechando o teu coração?

Não deixe o tempo correr,
Porque ele pode fazer-me esquecer,
O que ainda é, uma grande paixão...

Escrito por elciomoraes

Foto de Stacarca

Satã

Satã

Ei-lo, obumbra a sânie lisa,
Míngua de soluços dolorosos,
Corno dos exórdios chorosos
Soluços pitorescos que giza.

Contemplativas, ó sacrílego,
Formidolosas contemplativas,
Idéias, compêndios, inativas
Castas, extremoso coligo...

Conglobadas noções pitorescas,
Ah Funesto pancalismo imundo,
Débil, ó sentimento inundo
D'áurea elegíaca funambulesca.

Ó formas, figuradas felozes
Que fanam, fulgurando fiéis
Formas fúlgidas, felosas féis
Formas flamejantes, ferozes.

Indefiníveis flébeis de rasa,
Choro, lamúrias indefiníveis,
Augusto da insânia, eiveis
A'çucena ao mefítico que vaza.

Ah! Horrorosa, esquisita, feia,
Magnífica, avultada, linda,
Tantas formas, formas qu'inda
Pálpebras duvidam sobre teia¹.

Palavras que abismam medonho,
Fracas, fortes, sorumbáticas,
Teogonias imagináveis, áticas,
Escuros, leis, parvo tardonho.

Caveiras, defuntos, fantasmas,
Sarau imprescritível de beleza,
Lésbia lamentosa, delicadeza
De lamentos lesbianos, asnas.

Préstito solene d'um ressupino,
Defeitos, belos e feios defeitos
Criados, vis, molemente feitos
Da ingenuidade, cantos de hino.

Cantante da crença reclinada,
Ululadas por padres idiotas,
Professores da burrice, rota
Abismada e d'cadência assinalada.

Que céu, que inferno, que afã,
Pugilato da fé e pululante,
Que entoada, que desgastante
As limitadas litanias de satã.

Risos, gargalhadas réprobas
Da chafurdaria, gargalhadas,
Ó ridículas, ó exorbitadas
Cachinadas anátemas de probas.

Ó insânia, doudice da doudice,
Tomada p'la lúgubre orbe maldita,
Ó Sofreguidão bonita, bendita
Vida medonha, como a bela dixe².

Ah! Pungente vida fulgente
Purgada. Ah! Vida pungente!
Pungida. De figuradas entes.
Vida, vida punida fedente.

Clamores ridículos do futuro,
Futuro ridículo de clamores,
Ante a fé, de medonhos amores
Molestados do frágil aturo.

Ah finito, finito glorioso,
Eflúvio de essência infinita
Do que é zimbório, que incita
O ímpeto abstruso, lamentoso.

A calma, raiva, interrogações,
Quantidades acerbas, tratadas
De limitações treplicadas...
Languidez, ah! Lamentações

Lamentações lânguidas, funérea.
Sacrossantos versos belizes,
De rimas nevoentas, infelizes,
Pavorosos, de idéias férreas³.

Genuíno de métricas falazes,
Oh podridão falaz, cautelosas
Elocuções verrinas, chorosas
De sentimentos, audazes.

Que nesse entendimento, vã.
Onde tudo vai, onde passa
A esboroada forma da graça
Empunha. Ah! Que seja sã.

Ah! Nas Noutes, nos luares,
Nas formas, na calmaria,
Na felicidade, na melancolia,
No medonho, no degredo de ares.

Na reza embutida de quimera,
Quiméricas palavras sofridas.
Sofrimento d'enganações lidas.
Ilusões bonitas, do que não era.

Evangélicas ubérrimas d'opaco,
Labutas da religião fedorenta,
Oh! Oh! Imaginação lazarenta
D'áurea combinação. Ataco!

Atacante da crença, o tuteles
Da negridão, de idéia suspirada
Por ditas idéias conspiradas.
Assim como eu, tu, Mefistófeles.

Abastados da burrice mórbida.
'Inda gerados da fatuidade;
Maldade, maldade, maldade.
Quanta desagregação, hórrida.

Quando no préstito andar torto,
Defuntos, fantasmas e caveiras
Nela terão fé, na traiçoeira
De tudo que está vivo, morto!

________________________
¹- s. f.
²- s. m.
³- fig.

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