Fuga

Foto de Naja

ILUSÕES E REALIDADE

ILUSÕES E REALIDADE

È fato que ao sentirmos algum tipo de sentimento por alguem, criamos ilusões a respeito, como se fosse caso concreto, como se fosse como sonhamos, ou gostaríamos. Não sendo assim, pode acontecer dessas ilusões esgotarem nossa energia.
Antes que se esgotem todo nosso sistema sensitivo, nossas emoções, as sensações de alegria, prazer, ficaríamos sem nada; precisa-se verificar os sentimentos negativos que temos em nosso interior. Podemos dar início a um sentimento de desvalorização de nosso EU, de nós mesmos, bloqueio de nossas emoções e ficarmos sem nossa auto-confiança.
A pessoa sente como se a vida estivesse vazia, sentimento de perda total, no caso, como se a alma fugisse de nós nos deixando ôcas.
O difiícil para casos assim, geralmente de perdas, é analisar os próprios sentimentos e poder agir com o que achamos mais correto. No caso descrito, fica quase impossível que consigamos chegar a uma conclusaõ sobre nossas atitudes, se certas ou erradas. Auto-análise é bem dificil de ser feita para quem está num estado de sofrimento.
É bom lembrar que seja homem ou mulher, os dois têm sentimentos, o que não significa que, por exemplo, um casal que se separa, mesmo um deles sentindo amor; nada que se faça, fará o outro amar também.
Para se lidar com isso, o que pode ser pior é o desespero, nem sentir-se desprezo por si mesmo, numa condençaõ por não deixar de sentir o amor não correspondido.
Se houvesse uma auto-estima nessa pessoa, isso não aconteceria, pois não permitiria ser ou sentir-se desmerecida. O caso é que, quando nos sentimos abandonadas (os), é dificil se sentir com uma grande auto-estima, o gostar de si mesmo, já termina no momento em que se entra em depressão ou apenas uma grande piedade por si , por não ter coragem de enfrentar a desilusão e tentar outra vida com outro alguem ou só..por que não?
A auto-cura está na proporção em que se tenta procurar uma atividade que, de alguma forma. impeça ele ou ela, de tentar comunicação com quem não nos quer.
O parceiro´pode aceitar ter uma amizade com o outro, por realmente gostar da pessoa, mas não amar; ou pode repelir qualquer tipo de comunicaçõa de dizer claramente, o que nos causaria grande sentimento de repulsa, de negativismo.
E nossa auto-estima iria acabar de desaparecer.
Temos a capacidade de olharmos para dentro de nós mesmos e verificarmos o que estamos fazendo de nossa vida, e por fim , tomar uma decisão, mesmo se sabendo que haverá um tipo de sofrimento, mas é um passo para começarmos a sentir que somos pessoas merecedoras de amor, amizade, paixão por outro, sem precisar mendigar amor a ninguem.
Poucas pessoas com que lido, dizem ter condições de ser amigo de quem se ama, mas não é amado. (a). É uma decisão que só a pessoa pode tomar, num momento de lucidez e amor próprio
É bastante triste, quando declaramos nosso amor por alguem, abrimos nosso coração mas não temos o retorno desejado. Se aceitamos condições para termos a pessoa amada, de algfuma forma, corremos o risco de nos tornarmos um nada na vida. Sem sentimento, seríamos vegetais.
O importante e mais correto, mesmo dificil. seria levantarmos a cabeça, seguirmos a vida tentando, se não outro amor, algo que nos desse prazer, um pouco de alegria e aos poucos retomar a vida normal...
Li um livro de Tennessee Williams em que um dos personagens, para fugir de sua vida miserável, por se sentir sempre infeliz. vivia nos cinemas. Era uma fuga, pois durante duas horas, ele em nada pensava,, pois dedicava-se a se transformar em algum personagem que a ele se assemelhasse. Sei de pessoas que fazem isso na vida real. Algo precisa ser feito para se sair de uma situação sem nenhuma esperança. Impossivel é viver a espera de milagres que não acontecem, de quem não voltará, de quem não nos ama, perdendo tempo útil de vida, a espera do nada.
Não é nada fácil, mas que é necessário, é.! Acredutar e si mesmo e sair em busca de seu novo destino.
naja
Publicado no Recanto das Letras em 02/11/2007
Código do texto: T720014

Foto de Ronita Rodrigues de Toledo

FUGA

FUGA

Hoje não vou sair
sem ter a onde ir...
Andando de bar em bar,
fugindo desse amor,
tentando te encontrar...

Vou ficar em casa
curtindo a solidão,
recordando nossa vida,
ouvindo nossa canção

Hoje não vou beber
e em sorrisos esconder
toda dor que estou sentindo

Vou tentar adormecer
para minha alma não sofrer

E se num sonho eu chorar,
as lagrimas perdidas
vão o amor Atenuar.

Quando o amanhã chegar
vou sair pra festejar,
vou saber a onde ir,
sem fingir, sem fugir,
vou tentar recomeçar...

Ronita Marinho - BN

Foto de tadeu paulo

D E L Í R I O

D E L Í R I O . .

E te vi então à-toa
numa roupa branca
transparente...
mostrando o que
mais tens de amor
e amar pra gente
e me beijar a testa
e me acordar mansamente

E me vi em meio
a esse mar e orei temente
em substrato
de sóis em sustenidos
surdamente te ouvi
em teus gemidos
loucos, murmurantes...
bemóis de fogo
jogo, fuga
lágrima leve
livre’indigente

(Tadeu Paulo - jan/2007)

Foto de tadeu paulo

EU COM VOCÊ; EU SEM VOCÊ . . .

EU COM VOCE; EU SEM VOCÊ . .

em presença do fato,
tudo permanece,
menos os ausentes;
em presença da ausência,
nada permanece,
só um imenso vazio;
em tua presença,
presente o mundo,
o plano das idéias,
o plano dos sonhos,
o plano das loucuras;
em tua ausência,
a presença da tristeza,
da angústia, do medo,
da revolta;
e coisa alguma
de esperança, de crença,
de vontade de viver e sentir;
o que fazer dos que amam,
e se perdem, e choram,
e enlouquecem...
porque o objeto desse amor
-- forte e eterno –
insiste em ocupar
o melhor espaço
do nosso coração
e da nossa mente(?)...
a fuga surge de repente,
como resposta,
mas é só, e
um grande engano;
ausente, pois,
é como num teatro:
final de ato;
por favor,
baixa o pano!

(Tadeu Paulo -- 2007-09-14)

Foto de JGMOREIRA

O AMOR QUE ACABA

O AMOR QUE ACABA

O amor que acaba
produz vazio,
cratera de canhão.
Urgem sertralinas
na fuga de endorfinas
remédios para o coração.

O amor que acaba
amor não era
que amor fica
amor resta
presta atenção no amor
pronto para qualquer dor.

O amor que acaba
era amor que não amava
que amor não esquece
Se o amor desaparece
se ausenta do duplo
permanece vivo nos unos

que amam em separado
guardando cada um
um amor isolado
que nunca esquece o amado
Que seu fim seja torvelinho:
do amor que é amor fica o carinho.

O amor que não acaba
é o amor que suporta
que se esconde atrás da porta
dá sustos nas noites ardentes
que brinca de paciência
nos dias de ausência

O amor que acaba
deixa apenas solidão
Rasga a carne
enfia as unhas em desespero
puxa entranhas
para matar o desejo

Quando o amor acaba,
sei bem, urgem sertralinas
que o amor, minha cara
é pura química
que a gente não entende
a ciência não explica.

Quando o amor termina
ficam os vazios repletos
as noites no deserto
nebulosas no universo
que astrônomos não atingem
a poesia não define.

Quando acaba
silencio na sala
frio no quarto
dores do parto
perda da cria
vida vazia

Foto de Marta Peres

Noturno

Noturno

O rio soprava como uma orquestra,
seu leito enfeitado de flores
e as flores caíam lentamente e com vontade,
meu coração cheio de saudades
e palavras que não foram ditas,
pensamentos em desordem a procura
dos fantasmas de mim, cruel pesadelo
que acompanha minha vida...
Quando é noite não durmo, sinto medo
Dos pesadelos que tenho, voam soltos
E não os consigo controlar...
Abro a janela e os mando embora, não entendem
Minha língua ou não querem obedecer...
Me finjo de morta tento desesperadamente a fuga,
Não morri e não consigo fugir...
Tudo retorna ao início, começa novamente
Meu martírio...

Marta Peres

Foto de Sirlei Passolongo

Fera Faminta

As folhas, fagulhas, fadigas

As folhas dos anos
Fagulhas da vida
Nas folhas do tempo
Fadigas de amor

A fera, a fuga,

A fera dos medos
A fuga dos sonhos
Nas folhas dos dias
Fagulhas feridas
Fadigas do sonhador

A filha...

A filha das folhas,
Da fera dos medos
Fagulhas nos fios
Na fera que há em mim

Faminta de amor.

(Sirlei L. Passolongo)
.

Foto de JGMOREIRA

SOUTAMÉRICA

SOUTAMÉRICA

Na América do Diabo
brilha a lua,
inocente e bela
sem saber que a espreitam
espanhóis e portugueses
somente por brilhar amarela.

Para trazer Deus aos silvícolas
urgem espadas, algemas, arcabuzes
bestas de todos os tipos.
Cortez, Pizarro e outras delas,
com a empunhadura em cruz
das lâminas afiadas
esfolam ouro nas peles que, dígnas,
postaram-se contra a fidalguia esparolada
dos cristãos que movem cruzadas
ocultando ouro na fé, esmeralda e muita prata.

Em busca do Eldorado
devastaram Potosí, Montezuma
Ouro Preto.
Venceu os índios o deslumbro,
não a força ou medo.

A América do demo propiciou,
com sua riqueza,
o requinte das realezas,
que se reerguessem reinos falidos
às custas do negro e do índio.

Contraste que emociona o esteta:
a morenez do índio
o negrume do preto
as pepitas amarelas
que guardava o chão
florindo sobre a terra
riqueza de aluvião.

América, açúcar preparando
ouro.
Negro cativo, índio massacrado,
ouro.
Ouro abrindo as portas do céu expansionista
financiando grandes conquistas.
Acumulado na matriz
gera empresas, centros urbanos
Hércules de potentíssimos neurônios
restando a América do abandono.

A América do inferno
Édem terrestre de outrora
esburacada, vazia, destripada,
assesta seus milhões de famintos
contra a América do sonho
que, herdeira protestante da crueldade cristã espanhola,
Escraviza, dizima, espezinha
impera, destrói e desola.

A América, herdeira de Espanha e Portugal,
ensarilha suas baionetas úmidas
arma seus soldados comerciantes
com desprezo por quem não lhe é igual.

Da América do sacrifício
ouve-se a voz do índio:
‘Pai de todos os pobres, de todos
os miseráveis e desvalidos,
ajudai-me a fugir de Tinta!’

Clama a voz no fundo da mina.
O pai de Todos não escuta clamores,
adormecido no seio Inca.
Mastigando coca, ouvindo tambores,
esqueceu-se dos irmãos da Mita.

‘Pai de todos os tortos, entrevados
e opressados nessa liça,
ajudai-me a fugir da Mina’’
Clama outra voz no céu de Tinta

Túpac Amaru, para falar aos índios,
necessita de língua, perdida em Wacaypata
necessita de sua cabeça, em Tinta
do braço direito, em Tungasuca
do esquerdo, em Carabaya
da perna esquerda, em Santa Rosa
da direita, em Livitaca.
Túpac quer seu tronco
lançado em cinzas no Watanay,
quer ouvir seus filhos, enviados
para o lado direito do Pai.
Amaru quer regressar à vida
para tirar de dentro da Mita
seus irmãos que clamam ajuda
contra a força que os executa.

Túpac Amaru, sentado no chão batido
de uma tribo no olvido das batalhas
chora em Potosi, Zacatecas, Guanajanauto,
Outo Preto, Colque, Porto, Andacaba, Huanchaca.
Cura as feridas gangrenadas
de Atahualpa, do Caribe, dos Maias,
Tenochtitlán, Cajamarca,
Cuzco, Cuauhtémoc, Guatemala.

Observa, com olhos sulfurados,
Colombo, Fernão Cortez, Pedro de Alvarado
Fere, com mágoa, a lembrança de Pizarro.

’Ó Pai de todos os mendigos,
inimigo dos dueños de la tierra,
ajudai-me a fugir dessa América!’
Gane uma voz no sétimo inferno da Mita
com os pulmões endurecidos de sílica

Túpac Amaru, sem lágrimas ou ferocidade,
abre seus braços de morto que dão a única fuga
abrigando, em sua redoma, os irmãos da Mita
que rapidamente ascendem aos céus de Tinta.

Os índios centro-sul americanos
acolhem-se na morte aos braços da liberdade

Foto de JGMOREIRA

FUGA Nº 1

FUGA Nº 1

Não tenho mais como me esconder
Todas as portas estão fechadas
Todas as luzes apagadas
Restando apenas esse clarão dos teus olhos
Alumiando meus suores na madrugada.

Todas os lugares são descobertos
Todos os dias decupados
Para o grande espetáculo.
Cerro os punhos com ódio
E amo em desespero alucinado.

Nada consegue separar minha vida
Das tuas lembranças.
Já fiz de tudo para esquecer
E continuo amando apesar de tudo
Embora odeie viver dentro do túmulo.

Abro a janela para a chuva de repente
Ameaço uma música antiga
Falando do paraíso
Derroto uma tristeza nociva
Embargo teu nome reptício.

Todas as ruas vão ao mar neste lugar
Os dias alimentam-se de tempo
As noites recolhem os meninos
Todas as minhas horas são nominadas
Todos os dias por ti contaminados

Não tenho como me esconder
Todas as fugas foram tentadas
Resta-me, apenas, esse alarde
Essa derrota, esse fingimento
De lembrança o que é sofrimento.

Foto de Fernanda Queiroz

Vim dizer que te amo.

Na penumbra de teu quarto,
teu corpo estendido na cama,
desarmado e indefeso,
jaz entre os lençóis amarrotados.
De semblante inalterado,
teu rosto amado.
Um pouco nublado,
da sombra azulada,
da barba por fazer.
De olhos fechado,
de riso calado.
Teu perfume no ar,
um eterno inebriar.
Teus cabelos se espalham
em contraste ao branco suporte,
que ampara pensamentos.
Adormecidos.
Ou sonhos vividos.
Entregue.
Suave.
Estás tão perto,
posso estender minhas mãos,
e acariciar tua mente.
Mais que de repente,
contornar a tua face,
tornear os lábios teus.
Afagar os teus cabelos
percorrer com os dedos meus.
Fazer viver a esperança,
que perpetua na lembrança,
De teu rosto e o meu.
Sussurrar em teu ouvido,
sem dor ou sem gemido.
Frases que ocultei.
Dizer que me libertei,
das algemas do passado,
que quero viver a teu lado.
Que para sempre serei,
mais verdade que sonho,
mais refúgio que fuga,
mais abrigo que adeus.
Dizer que te amo mil vezes.
Olhar nos olhos teus.
Mas você está dormindo,
ou é mais um sonho meu?

Fernanda Queiroz
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