Frio

Foto de Carmen Lúcia

7º Concurso Literário: "Flor"

Nascera Flor.
Flor-de-maio, Flor-da-noite, Maria Flor...
Em meio aos encantos de oferendas matinais,
batizada com fragrâncias de essências florais,
banhada em gotículas orvalhadas de cristal,
predestinada a conduzir o bem e extirpar o mal.

Crescera Flor.
Livre, entre flores tantas de verdejantes prados
fora desde a rósea tulipa à camélia descorada,
seduzida por suspiros de fogosos jasmins, de jardins.
Abandonada!
Perdeu-se pelo campo sangrando o seu pranto.
Conhecera a dor! O primeiro amor...

Vivera Flor.
Rosa se tornara. Vermelha! Rubra estrela!
Brilhante e bela! Insinuante donzela!
Amara mais que a vez primeira! Estremecera!
Rosa rainha, no cais aportou...Desabrochou.
E com soberania, mudou seu destino. Desatino.

Quis aquecer o inverno, o frio da estação.
Florear noitadas, enlouquecer paixão...
Como dama-da-noite, na noite se fartou,
na dança se encontrou, o tango coroou!
Pelos caminhos se despiu...Despetalou.

Morrera Flor.
Hoje suas pétalas derramadas inundam...
Seus espinhos cravados causam dor,
seu néctar desejado não mais libera.
O perfume desimpregnou a Flor!
Quem sabe ainda renasça n’outra Primavera...
Plena de amor!

(Carmen Lúcia)

Foto de airamasor

Devaneios....

Não sei porque
repentinamente meu coração ficou mergulhado na sombra da tristeza...
É talvez efeito da solidão,
respondeu-me a voz da razão .

Eu já estive solitária,
mas jamais triste como agora.

Olho a noite embalsamada de perfumes primaveris
e fico sem compreender a razão do ser dessa melancolia.

Tudo é belo,
o por do sol,
depois o luar cor de prata,
a noite transparente e azul...

Você está presente em tudo,
no luar cintilante que hoje me parece tão triste...

No sussurro da brisa que toca levemente os meus cabelos com suas mãos de sonhos...
Nas estrelas que piscam silenciosamente no céu...

Agora compreendo porque estou triste...
Você está em toda parte,
mas não está ao meu lado,
apesar de estar dentro de mim...

Minha alma tem frio e meu coração pulsa fortemente inquieto...
como se estivesse desfalecendo...
apagando aos poucos,
como todos os sóis de minhas tardes sem você...

Morrendo de mansinho...
como o riacho que se vai...
Ficando mudo...
como a música que termina....

Mas, o sonho retorna como o som que recomeça...
Como o novo sol,
de um novo dia...
A esperança volta...
E com ela o desejo doido...
de ver....
de sentir você!!!
(Aira, 15 de janeiro de 2011)

Foto de Ariano

7º Concurso Literário - Senhor

Café frio, o grisalho solitário,
Silêncio no sofá, sequer tevê,
Levanta as sobrancelhas para ler
Um defunto jornal – de meses vários.

Cavou uma vida vazia de gente,
Amor, não reconhece; assim, não sente.
O olhar negro enrugado implora aos céus
E espera o inferno ou o próximo aluguel.

Foto de Eddy Firmino

FAZ FRIO

Faz frio
E desde que você partiu
Ficou um sentimento, um vazio

Faz frio
E já é madrugada
A cama está vazia e molhada

Faz frio
Meu cobertor é o sofrimento
O aquecedor o lamento

Faz frio
Saudades da noite cálida
A realidade é sombria e pálida

Faz frio
O dia amanhecendo
E a tristeza que vai me entorpecendo

Faz frio
Lembranças do amor e do flerte
Estou te esperando inerte

Foto de KAUE DUARTE

Contraste Social (Realidade)

Pés descalços
Camiseta rasgada
Com fome, com frio
Drogado, alcoolizado
Roubando e furtando
Até onde a miséria leva o homem?
Miséria é a embalagem descartável da sociedade
É o aterro dos sonhos não vistos
É a escória que o mundo escolheu
Porque eles ?
Certamente quem ja passou fome
Sabe bem do que falo
Que não existe perca pra quem não tem nada
Sonhos pra quem não dorme
Prisão pra quem é escravo da droga
Medo de perder?
Quem?
O que?
Feliz daquele que não tem apego
Pois o que importa não está nas coisas
Nem em ninguem
O importante é saber que é possível viver
Mesmo na miséria, que o zelo é pessoal
E que o julgamento humano é falho
Mas o divino não.

Foto de Arnault L. D.

7° Concurso literário (As faces do amor: Conto ) Estatua branca

Na beira de um estrada, aonde a grama se perdeu entre ervas daninhas, existe uma estatua branca. Agora nem tanto... Porque a Lua e o Sol seguindo a cruzar o céu, muitas, e muitas vezes, datas, anos, décadas, a tingiram de tempo.

Ela retrata um lindo rosto... com o olhar cheio de amor. E uma história, triste, que ninguém mais sabe, ou quase.

Figura alguem que fora muito e muito amada, e por estocadas, cuidadosas, de cinzel, este amor foi eternizado, talhado ao mármore frio. Uma ternura tanta, que não deixa espaço à duvida, e fala em voz alta, ser obra de quem lhe dedicou este amor.

E esta entrega foi tão linda e sincera... Que até mesmo os ateus veriam nela algo de divino.
Mas, infelizmente, acontece que o divino e o humano, são coisas distintas.... E ela se foi.

Além do amor, existem outras riquezas, riquezas estas que o homem do cinzel não possuía.
Mas, que um outro, sim.
E ela escolheu, e se foi.

Para ele, restaram aqueles olhos na pedra fria... talhada e branca, para mesmo assim teimar em pedir:
_ “...Volta, volta amor... !”
Mas, apenas a loucura respondia....
E repetiu por tanto tempo, que o tempo passou..., que o tempo acabou.

Quanto a ela, longe dali, muito longe... descobriu que o preço das “coisas” é sempre em metal, mas, o valor... não. Certos valores são incalculáveis. São pagos por primícia, presentes de Deus, coisas de divindade...

E muito rica, constatou esta verdade, e que sempre, não é para sempre. E envelheceu.
Para ela o tempo passou, na certeza gélida das coisas incompletas... Seus olhos nunca mais foram como na branca estatua.... Aquele olhar, aquele amor; preterido, diminuído...

E o tempo passou, e o tempo acabou...

Lá na beira de uma estrada, onde a grama se perdeu. Existe uma estatua branca.
Dizem que as vezes, quando o luar compete com as gotas de chuva, quem passa por ali, se prestar bem atenção, pode ver quando a agua a banhar o pálido rosto, empresta-lhe um pouco de vida, na forma de lagrimas...

Por seus olhos a chuva chora...
Na espera de um antigo amor, a pedir: Volta, volta...

Foto de Arnault L. D.

7° Concurso literário ( As faces do amor ) Mas uma coisa não mudou

Era um menino quando viu o amor.
Naquele rosto, alegre, de infância.
Não sabia de nada do que sentia.
Primavera então: O mundo em flor...
Todos os lugares, erros de inocência,
enquanto a rosa do tempo eclodia.

Era adolescente quando viu o amor.
Nos traços e curvas firmes, jovens...
Achava saber tudo e tudo podia.
Verão: O sol a queimar em ardor...
Todos os lugares, metas, e nuvens,
enquanto a flor da pele se abria.

Era adulto quando viu o amor.
Face matemática de realidade.
O mundo inteiro, um pouco diminuía.
Outono: frutos a tomar o lugar da flor.
Os lugares, opções e responsabilidade,
enquanto as verdes folhas desprendia.

Era velho quando viu o amor.
Sua cara, pelo tempo macerada.
Sábio, em saber menos que achava...
Inverno: O frio, o dormir, o torpor...
Os lugares, distantes; sol, fruta e florada,
enquanto seu calendário completava...

Foto de MarcosH

Raposa

Jovem raposa, quem é você?

A ti foi dada a chave de meu coração
Coração este sombrio, selado por espessos
cristais de gelo.

E agora você simplesmente abre-o e nele põe
uma chama viva...
Chama esta que em pouco tempo reaqueceu
o que antes era frio,
Chama esta que iluminou o que antes era pura
escuridão...

Como faz isto?
De onde vem?

A ti hoje confio de olhos vendados.
Como fez isso?
Como ganhou minha confiança em tão pouco tempo?

Tornou-se domadora de um lobo que antes, era selvagem.

Jovem raposa, quem é você?

Você realmente me assusta,
Mas me cativa.
Você literalmente me domina,
Mas me motiva.

Isso é o que chamam de amor?
Esta chama que plantaste em meu coração?
Se for, é a melhor de todas as coisas.

E quanto a ti, a mais sábia e bela de todas as
raposas...
- Marcos H. R. da Rosa

Foto de Wilson Numa

A noite

Nesta noite fria
Pensei em dormir nos teus braços
Ai mas não passou de uma fantasia

Todavia lembrei-me de uma abraço
Que te dei um dia, ah! pena que
não se repetiria não nessa noite fria

De tão frio que estava, não sentia
Os meus membros, todos paralisados
Precisava do teu calor, para poder aguentar.

Foto de Carmen Lúcia

Não digas nada!

Não digas mais nada!

Teus olhos já disseram tudo.

Mudos, fizeram-me entender

o que tuas palavras sonoras

foram incapazes de dizer.

Perderam a força, a elocução

e na indecisão mudaram de rumo,

acovardaram-se perante a missão.

Nelas eu não iria acreditar.

Não me atingiriam tão fortemente

quanto teu olhar.

Esse sim, calou-me fundo...

Tiro certeiro, profundo,

que me fez cambalear,

perder o chão, rodar o mundo,

chorar.

Como descrer da crueza de um olhar?

Final inconsolável para quem ama

e se vê inesperadamente só,

sem mesmo o consolo da ilusão

tendo a presença constante da solidão.

Dor inigualável ao ver fragmentados

os sonhos,

outrora tão sonhados...

Agora, farrapos atirados ao chão.

E os próximos passos

tornar-se-ão pesados, drásticos.

Deixar o tempo passar, tentar esquecer.

Tempo que não passa...

Teima em retroceder!

Achar motivo pra sorrir...

Como? Se a razão de meu riso

não está mais aqui?

Viver por viver.

Ou sobreviver.

É o que tento, o meu intento.

Sentindo na alma um frio gelado,

o coração pulsando fraco.

Vivendo dias sempre iguais

que projetam no ar

um quê de "nunca mais..."

(Carmen Lúcia)

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