Frio

Foto de Jessik Vlinder

O Poder dos Teus Olhos

É como olhar para dentro de mim mesma e sentir quão pouco eu sei sobre mim.
É como me perder num labirinto abstrato de emoções desconhecidas.
É como naufragar em águas calmas e esperar lentamente a dor chegar.
É como dançar com a hipnose das estrelas cadentes.
É como receber a notícia de uma sentença perpétua.
É como domar uma fera e querer ser dominado por ela.
É como se olhar no espelho e ver a imagem de outra pessoa.
É como estar preso em grades invisíveis.
É como ser rendido por mil homens armados.
É como ser roubado pelo melhor amigo.
É como estar submisso a quem se mais despreza.
É como perder a noção do espaço, do tempo, do chão.
É como ficar nua em meio à multidão.
É como ser invadida por centenas de finas agulhas.
É doloroso, é fúnebre, é tenso...
É atraente, é ofensivo, é invasivo.
É ácido, é sutil, é amargo.
É frio, é carregado, é temeroso.
É inseguro, é preciso, é lascivo.
Olhar-te é, por fim, é um plácido suicídio de sentimentos.

Foto de raziasantos

Um Grito na Escuridão.

Um grito na escuridão!
Um grito na escuridão.
Crianças perdidas na triste garra dos vilões.
Caminham saltitantes em busca de sonhos dourados
Muitas do alto do sertão; vêm para sua própria destruição.
Outras arrancadas de seus rotos lares com promessas de uma refeição.
Caminha errante sem nem uma direção.
Caindo nas garras do vil gavião.
Homens malignos disfarçados de gentil cidadão.
Dilaceram suas presas sem nem uma compaixão.

Crianças puras e sorridentes se entregam - se as serpentes.
Perdendo sua inocência, destruída sem compaixão.
Que dor! Amarga suas almas entrando nas covas dos leões.
Laboratório do diabo, outrora fixação.
Hoje a realidade de nossa nação.
O grito na escuridão só ouvido por seus vilões.
Ah!Se eu somente gritar bravamente o mundo não me escutara!
Mas se um exército se levantar um brado de vitoria vamos escutar.
Derrubando os gigantes que o próprio povo ajudou a levantar.

Recuperando as crianças para que novamente voltem a amar.
Pobres pequeninos indefesos gentis, destruídos por em seus próprios pais.
ÒH terra adorada e idolatrada tu és mãe gentil...
Olhai pelas crianças do nosso Brasil.
Hoje mais um corpo inocente esta na dura pedra do necrotério:
Ate quando continuara essa dor sem mistério...
Os hipócritas e covardes tampam seus ouvidos,
Para não escutar os gritos na escuridão...
Feliz daqueles abortados, pois não sofrem agora vendo seus
Corpos esquartejados.
Que desejo insano e maligno tem esses vilões.
A criança perde sua inocência ainda nos braços o brinquedo segurar.
Onde estão as promessas de amor a derramar;
Se nem por nossas crianças podemos lutar!
Do rosto inocente desapareceu o sorriso, desamparado
No meio das travas foi lançado, na cova do diabo.
Por homens engravatados.
No meio da escuridão os gritos de desilusão.
Apaga - se a vela do amor e compaixão.
Com um frio grito na escuridão.
Ouvi-se o gemido, mas tampam os ouvidos!
Brasil mostra tua cara...

Foto de raziasantos

A Última Carta!

Há ultima carta.

Entre mil novecentos e trinta nove, quando estoura a segunda guerra mundial:
Estávamos com nosso casamento marcado, por opção de meu noivo com seu patriotismo, resolveu alista-se para a grande batalha, não sei se sabia o que o esperava...
Seus pais como eu tentamos persuadi-lo a desistir, de lutar, mesmo porque se abreviássemos nosso casamento ele não seria convocado.
Mas quando amamos verdadeiramente não podemos podar os sonhos de quem amamos seria como se quebrássemos as asas de um pássaro.
As famílias dos pracinhas reuniam-se para despedida:
Da cidade onde morávamos eles eram transportados por trens, para um destino que nem eles sabiam onde seria.

Marcos este empolgado e orgulhoso em sua farda engomada, e bem passada.
Marcha sorridentes em direção á estação, onde eu e seus pais já o esperávamos, juntamente com outras famílias.
Eu usava um vestido de organza florido, meu cabelo dourados solto:
Estava ali ansiosa e aflita me orgulhava de meu amor, mas sabia que nosso destino agora era incerto, neste momento Marcos perdia a solidez da família e nosso calor, mas ganhava os aplausos e solidariedade de todos como também
Os demais soldados.

A me ver Marcos corre ao meu encontro tira sua boina e coloca no bolso, me abraça forte depois me toma em seus braços, me levanta como seu fosse uma pena, tão forte vigoroso.
Estávamos apaixonados, e nosso coração confirmava nosso amor.
Beijamos-nos longamente um beijo com sabor de despedida, mas cheio de desejos.
Ao som do hino nacional os soldados embarcam em busca da vitoria.
Como crianças inocentes estão eufóricas, como quem se espera um presente cheio de surpresas.
O trem fecha as portas e os sonhadores, exibem suas boinas nas janelas do aglomerado trem:
Entre os apitos, e fumaça desaparecem nas curvas das montanhas.
Marcos prometeu-me que me escreveria todo mês que para mim seria uma eternidade.
Quando o barulho do tem cessa, meu coração também se silencia.
Ainda sinto em meus lábios o sabor de sua boca, mas jê é grande a saudade.

Os dias passam lentamente, e para minha alegria recebo a primeira carta.
Marcos me escreve, com entusiasmo, e positivismos, diz estar tudo ótimo

Diz minha amada não se preocupe estou bem instalado em uma humilde hospedaria, mas tenho lençóis, limpos e comida quente, a guerra não é tão mal como se dizem.
Ele só se torna melancólico ao falar do nosso amor da saudade que sente do desejo que arde em querer me abraçar, me beijar, estar ao meu lado.
Neste instante eu o vejo sorrindo ao nos despedirmos, mas apesar da tristeza de sua ausência, fico feliz ao saber que ele esta sob um teto limpo com comida quente.
Começo há contar os dias para receber a segunda carta.
Assim meus dias passam mais rápido.

Por doze meses recebia suas belas cartas, a cada trinta dias eu já esperava o carteiro, com um copo de refresco ou uma xícara de café.
Sentia meu coração disparar quando o carteiro gritava meu nome ele já estava habituado, a todo mês me entregar à carta tomava seu refrescou ou café e assobiava acenado feliz por me dar boas noticias.

Eu me sentava ao lado da cachoeira nos fundos de minha casa, e com os pés na água espumante eu lia e relia todas as cartas.

Ardia em meu peito à dor da saudade e uma longa e intensa espera.

Mas as cartas tão cheias de incentivos e positivismos me deixavam, mais animada por saber que me amado Marcos estava bem.
Na pequena cidade que morávamos nunca recebíamos jornal.
E eu não tinha radio.
Meu coração por vezes apertava e sentia meu amor em perigo
Às vezes sonhava com ele sujo, e chorando...
Um amigo de Marcos volta para casa mutilado, depois que seu acampamento foi torpedeando.
Com a chegada de Mauricio entendi a dor de meu coração e razoes de meus sonhos, Marcos mentiu para mim, por todos esses meses, não tinha hospedagem com lençóis limpos, nem comida quente, tudo era sujeira e rastro de destruição, sobrevier não era uma opção, mas sorte.
Marcos não sabia que Mauricio tinha voltado, e continuava a falar coisas boas sem nunca deixar de me declarar seu imenso amor.
Meu coração agora é só dor, e medo, de perder meu grande amor.
A espera de suas cartas já não me deixa feliz, pois sei que ele mente.
Meus dias passaram a ser eternos, pois nunca via o tempo passar.
Todos os dias eu orava por todos que lutavam nesta guerra sem propósito.

Depois de onze meses as cartas cessaram!
E o silencio-me fez adoecer de amor, a saudade e incerteza tomaram conta do meu viver.
No dia vinte e dois de março de mil novecentos e quarenta e dois depois de mais de um ano no silencio, ouço novamente chamar meu nome, corro para abrir o portão, mas sei pela voz que não é carteiro, logo que abro o portão vejo um carro oficial militar parado em frente á minha casa um comandante tira a boina e faz continência me cumprimentado meu corpo estremece algo dentro de mim me diz que vou ter a pior noticia de minha vida, mas por outro lado eu rejeito esse pensamento e penso__ ele meu amor esta dentro do carro esta é a surpresa, o comandante olha em meu olhos um olhar distante e frio, com voz tremulas me diz meus pêsames senhorita, estou aqui para lhe entregar estas duas cartas,em uma eu reconheci imediatamente a letra do meu amor,mas no momento não tive coragem de abrir.
A segunda abriu diante dos olhos do comandante era uma medalha de honra á um herói morto.
Senti um vazio tão grande seguido de grande revolta, pois me lembrei de Marcos entrando naquele trem cheio de esperanças, e orgulho, por ir lutar por seus pais.
Olhei para o comandante que insensível a minha dor começou a detalhar a morte de Marcos.
Sem me despedir do comandante fui para nossa cachoeira ali eu li minha última carta.

Minha querida hoje te escreve para te dizer que estou indo com uns amigos para um novo lar, ainda não sei como será viver neste lar, mas sei que para sempre irei te amar, jamais se esqueça que nasci pra te amar.
Quando a saudade te sufocar lembre-se estarei entre as nuvens, e por todo firmamento a te olhar.
Lembre-se minha ama da nossa cachoeira, como as águas espumantes estão sempre, a nos abraçar, amo-te amor, amo-te
Adeus meu grande amor.
Assinado Seu unicamente Marcos.

E assim eu recebi sua última carta!

Foto de Amy Cris

Meu suicídio

Estou intorpecida, não tenho alma
Meu espírito dorme em algum lugar frio
Estou esperando minha vontade de viver perdida me encontrar
Me mantive no escuro por tanto tempo que nem sei se quero voltar à luz
Deve haver algo mais que ainda não descobri
Isso não é o que parece, nem o que todos pensam
Meus medos apenas se tornaram verdade
Preciso de ajuda, mas não posso pedi-la a ninguém
Não há motivo para contar aos outros, eles só me atrasariam mais
Vou para qualquer outro lugar agora
Sim, preciso ir e ninguém pode me parar
Acho que minha vida nunca foi real, era tudo ilusão
O isolamento é meu lugar
Estou caindo para sempre
Já é difícil respirar
Estão todos errados
Vou embora
Morrerei e minha alma chorará sobre minha própria sepultura
Não há mais salvação
Essa é a hora, é meu suicídio
Mas não pelo que parece, nem pelo que todos pensam
É apenas minha vontade de viver que ainda não encontrei.

Foto de SYLVIO ÉDISON MARTINS

BOA NOITE AMOR

BOA NOITE AMOR

boa noite amor de minha vida
anjo que ronda meu ser
anjo que povoa meus sonhos
amor que nunca esperei encontrar
amor que anseio em ter em meus braços
amor que desperta a paixão adormecida
que amolece meu coração letárgico
meu coração que andava quieto, frio
amor que faz meu coração bater forte
no compasso do desejo
nas batidas do querer
nas ondas fortes do desejar
do ter
do beijar
do se dar
do se acariciar
do se fazer amor
com sofreguidão
com ânsia
ah! minha menina
ah! minha
minha alma anela por ti
beijos de boa noite
durma com Deus
sonhe comigo e com anjos
beijos
meu grande amor!
que bom te encontrar... que bom!

Foto de LillyAraujo

Dorme Peito

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Dorme Peito
Dorme.
Dorme peito.
Dorme um pouco para descansar
os olhos meus.

Dorme.
Porque a noite já vai alta
e estás ainda revolto e bravio como as ondas
que rebentam nas encostas.
Acalma-te!

Dorme.
Ficas tranqüilo e esperançoso do amanhã.
Que amanhã será melhor,
menos frio, menos vazio,
menos lágrimas, menos despedidas.

Dorme.
Dorme e sonha meu peito.
E deixa que os sonhos se descortinem
e revelem o dourado das relvas
os azuis do céu e mar,
e a paz de gaivotas a voar.

Dorme.
Dorme peito, que logo passa a tempestade.
Breve cessa os estrondos dos trovões,
e o medo da solidão.

Dorme.
Dorme em paz peito
Amanhã será um novo dia.
Amanhã...

© Por Lilly Araújo-Direitos Autorais Reservados.

Foto de Ana Vasques

Inverno na alma

Inverno na alma

Quando algo que fazia sentido
Por algum motivo deixou de existir
O que achava por entendido, de repente
Se faz confusão total

Ai vem o medo
Que domina todas as suas forças interiores
A angustia
Aquela que te faz perder a fome
O desejo reprimido
Que te faz ter os pensamentos mais insanos, daquilo que se quer e que não se pode ter

Inverno na alma
Tão frio que faz seu coração virar pedra, gelo
Seus olhos endurecerem até com as mais belas imagens
Seu corpo, bem, esse não responde a nenhum dos seus instintos naturais

Achando que somos super herões
E que podemos ter o dominio de nossas emoções
Quando caimos em si, percebemos que o universo já as dominou
E que não se tem mais nada a fazer senão, esperar e esperar

Esperar...
Porque o inverno não dura para sempre
Depois dele vem a primavera trazendo suas cores
E por fim o verão, que derrete todo aquele gelo que te consumiu
Devolvendo todos os seus sentidos e trazendo de volta suas verdades

Inverno na alma
Não deseje pra ninguem
Trás com ele uma dor mais insuportavel que fratura exposta
Mas nos mostra que estamos vivos, temos sentimentos reais
E nos faz mais fortes para enfentar os proximos invernos

Foto de Lucélia Lima

Viver como Loba

Na pureza do seu ser
Me castigo por não te ter
Esse sentimento me inflama
Me queima em chama
Nesse inverno frio aqueço
Com seu corpo quente
Me banho em suor
Te desejo, estou carente
Extrema paixão! que dor
Nem seus elogios quero
Sua carência me envolve
Te quero assim... voraz
Descobre , me sinta fugaz
Teme que deseja encontrar
Sabe que vai se entregar
Não seja amigo, nem amor
A ilusão é apenas dor
Vive e sonha com comigo
Real ou virtual sempre amigo
No caminho me encontra
No mundo estarei pronta
Se possível não esqueça
Me consome sua presença
Experiência de criança
De poeta ou de cantor
Conto ou canta para flor
Desejos e resplendor
Nesse mundo real...
Passou e a encontrou!!!

Lucélia Lima
03/01/2007

Foto de Carmen Lúcia

Demo-nos uma pausa...

Inspiremo-nos no descanso divino,
sétimo dia da Criação...
Uma pequena e indispensável pausa
tão fundamental quanto
equilibrar razão e emoção
ou amar até perder a noção...

Ainda que a velocidade do tempo
nos conduza à contramão do vento
e nos permita driblar os contratempos,
pausas se interpõem nos caminhos
e se fazem taxativas, obrigatórias.
A noite é pausa para o silêncio,
a madrugada, para os sonhos,
o frio, pausa infiltrada pelo inverno,
a própria morte, pausa para o descanso eterno.

Sem intervalos a vida corre o risco de extinção.
Porém o desejo de não parar
faz do hoje, alienação,
e do amanhã, frustração,
onde o próprio ser não mais suporta
a falta de tempo e o vazio dos dias
a serem esquecidos,
não fossem os retratos a revelar
lembranças de uma espera malograda,
não relatada, pra não se humilhar ao próximo.
Pausas são preenchidas pela internet e tevê,
que fazem companhia à insônia,
deixando solitário quem dorme.

Sem uma parada a vida corre rápida,
hábil e eficiente,
porém sem perceber a paisagem que passa
e o futuro a se confundir com o presente.

No descanso do sétimo dia
Eis a pergunta que estribilha:
“O que vamos fazer hoje?”
E com certa ansiedade,
sonhamos com uma longevidade
de muitos e muitos anos...
sem nos conscientizarmos com os danos
de quem não sabe o que fazer
numa tarde de domingo...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Flamboyant

Simplesmente ele veio,
instalou-se em meu ser,
invadiu, tomou posse,
se tornou hospedeiro,
de meu corpo inteiro...

O horizonte se abriu
libertando as cores,
explodindo os temores,
eclodindo os ardores,
implodindo os valores.

Nem dei conta do tempo,
fui deixando passar...
Qual seria a estação?
Me perdi nos caminhos
ao me encontrar na paixão!

Num cenário irreal
o mesmo Flamboyant
mudou várias roupagens...
Se floriu sorrateiro,
tingiu-se de vermelho,
de laranja altaneiro,
parecia sorrir.

Escancarei a vida,
abri todas janelas,
soprei minhas feridas,
me despi de pudores.
Quis viver...Fui feliz!

De repente...que frio,
sensação de vazio,
percebi que era inverno...
Em qual parte do mundo?
Talvez dentro de mim...

Vi a porta entreaberta,
as pegadas de alerta,
e lá fora, caídas,
desabadas, sem vida,
as folhas do Flamboyant,
que sombrio, vergado,
solitário, solidário,
lamentava a partida,
o prenúncio do fim.

_Carmen Lúcia_

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