Olho-me ao espelho
Nunca estive tão bonita como hoje.
Sinto uma admiração crescer dentro de mim,
Como se fosse a pessoa mais importante do universo.
Contente comigo própria,
Saio à rua, bela a sensual,
Com o meu vestido brilhante,
E sapatos de brilhantina,
Meu ar confiante, demonstra a beleza de meus passos,
Como se as pedras que piso,
Tivessem que pedir licença aos meus pés.
Meu ar encantador, domina tudo o que existe em mim.
Sem medo, avanço pela rua,
Metida comigo própria.
Minha mente divaga, por meu corpo,
Por minha perfeição...
Todos me olham admirados,
E continuo a passear-me,
À espera que alguém fale da minha beleza,
Mas ninguém me diz nada.
Meu corpo quase perfeito,
Contorna a esquina da rua,
E então, um sentimento incompleto,
Começa a dominar-me.
Vejo apaixonados de mãos dadas,
Num amor quase completo e repleto de sentido.
Vejo pessoas idosas passeando,
Com um ar de felicidade estampado no rosto.
E eu, que sempre me admirei
Que nunca procurei outro amor, que não eu própria,
Deixo-me abater por um sentimento de solidão.
Revejo então, os dias que passei em minha companhia,
Os risos disfarçados pelas conversas comigo própria,
Os sentimentos de amor eterno que nutri apenas por mim,
E então, uma onda de paz toma conta de mim,
Enquanto avanço destemida pela rua,
E penso que minha beleza nunca terá fim.