Direção

Foto de William Contraponto

Praça da Paz

Nunca pensei estar
Um dia naquele lugar
Entre os prédios centrais
Fervendo em loucuras
E flutuando nas alturas
Certo de como voar

Cheguei ouvindo promessas
Para quem tem pressa
No aliviar da pressão
Desses dogmas, frases feitas
Que insistem indicar
Qual deve ser minha direção

O mundo alternativo
Na praça se cria
Num instante contemplativo
Restaurando o equilíbrio
Da mente ao coração
A paz de viajar
Sem sair daquele chão

A paz que me faz
Aceitar a realidade
Muito além dos jardins
Pelo menos um pouco mais
...me deixe na paz

Foto de giogomes

Eu e ela em quatro estações

Vivia acuado em meu mundo acomodado.
Parado.

Com a vida passando junto aos carros das grandes avenidas.
Em ambas as pistas

Algemado a uma rotina sem rumo ou sentido, cíclico.
Um pássaro ferido, amargurado, impedido.

Quando a encontrei pela primeira vez,
foi quando o meu mundo se refez.

Entrou em minha vida como brisa de primavera.
Fria, mas com promessa de acalentar a quem espera.

Por algum tempo manteve-se a parte.
Como se observasse tudo do alto de um estandarte.

Aos poucos conheci suas grandezas de menina,
que espera uma mão acolhedora para cruzar a esquina

Mas ela cresceu, mudou os rumos de sua vida.
E, me disse que estava de partida.

Como a adolescente que tem medo, mas enfrenta a sua vez,
nesse momento o meu mundo novamente se desfez.

Ela se foi, mas não por muito tempo,
pois algo maior mudou a direção do vento

Ao encontrar seus olhos, vi que algo tinha mudado.
Só não entendia a intensidade do que tinha enxergado.

E ao encontrar toda aquela altivez,
disse adeus ao velho mundo e um novo se fez.

Com a primeira manhã de verão,
acordamos cedo para aproveitar toda a estação.

Vivemos o melhor possível tudo isso,
mas não mencionei a quem lê, que era um amor bandido ?

Tudo era farra, alegria e nada comedido.
Afinal, não é gostoso tudo o que é proibido ?

Por um tempo, tivemos tudo o que precisamos.
Amor, carinho, cumplicidade e até planos.

Aprendemos muito e rimos um com outro.
Mas ela começou a se questionar, se isso não era pouco.

Nossa relação oscilava entre o calor e o frio do abandono.
Então, ao fim do verão, entramos no outono.

Ela percebeu que não é só o amor que mantém,
e sim as provas de amor que se obtém.

O que eu podia provar já não era suficiente,
pois a maior de todas , era totalmente inconseqüente.

Minha adolescente, finalmente cresceu,
e com a fase adulta, a dor das escolhas apareceu

Ela não podia viver desse jeito.
Vida de concubina não era algo perfeito.

Ela resolveu por um fim da "sua" melhor maneira possível,
e o resultado foi dor a ambos, de maneira indescritível.

Ela disse o que não podia ser dito.
E eu respondi o que não podia ser respondido.

O estrago estava feito.
Conhecemos o lado negro do amor que parecia perfeito.

A primeira bonança, minha vez de ser humano,
cometi o erro de mentir e ser desumano.

Esquecemos tudo o que tínhamos dito.
Finalmente descobrimos o fim de um amor bandido.

E ao fim do que parecia eterno,
finalmente chegamos ao inverno.

Após ânimos contidos, tentamos ser amigos, pois restava emoção.
O único dia quente desta fria estação.

No começo foi bonito.
Um vínculo assim, não podia ser partido.

Mas ela tinha outros planos, queria outras emoções,
viver novamente a sua vida, sem se lembrar das outras estações.

A cada encontro, ela tomava mais decisões.
Infelizmente, não era levado em conta minhas emoções.

Minha vida tinha se tornado um lugar tórrido, sofrido.
O quê mais em nossa relação seria restrito ?

Não poderíamos fingir amizade,
se o que desejávamos era nos possuir de verdade

Finalmente o inverno tinha se firmado.
O vento frio, desta vez não tinha como ser enfrentado.

Até a última vez, ao tomar sua última decisão de dor.
Tomei coragem, e pela primeira vez disse não ao amor.

Estava sofrendo muito, totalmente corroído.
Sentindo as dores dos anjos caídos.

Pensei comigo , "Se esse é o preço que tenho que pagar",
"Infelizmente não estou mais disposto a lutar".

Já haviam sido ditos vários "Adeus",
mas dessa vez foi com a convicção dos ateus.

"O que ela sentiu ? O que fez ? Aceitou o fim ?"
Sinceramente, creio que sim.

"E as outras duas perguntas estreitas ?"
Não procurei saber as respostas feitas.

"Ela ficará bem ? é o fim ?"
Acredito de coração que sim.

Ela é uma mulher corajosa.
Qualquer homem desejaria sua pele de rosa.

E o cheiro dela que sentia em mim tão profundo,
se esvai a cada minuto, segundo.

E agora, com toda esta convicção e a vida que me espera,
aguardarei uma nova primavera.

Foto de P.H.Rodrigues

Uma certa sensação

Se eu soubesse que o fim chegaria, eu teria olhado mais vezes em seus olhos
se eu soubesse que o chegaria o fim, mais vezes teria dito eu te amo
se soubesse, ia te abraçar todo dia mais forte
ia não te desejar, mais sim ficar perto de você
não me perder no olhar, mais sim te encontrar em meu coração
sempre que começasse uma discussão, com um beijo eu ia te cala
não reclamaria em ter que acordar cedo, ou dormi tarde
se eu soubesse ....
talvez as coisas tomassem um rumo diferente
tanta coisa eu ainda quero te dizer
tantos segredos quero te contar, duvidas, perguntar
te deixar sem graça, ficar bobo, te chamar de minha ...
as músicas que não toquei, as palavras que não falei
o que deixei de fazer, o queria poder ter feito
mais hoje já não tenho o direito
sou apenas um apaixonado, tentando encontrar seu lugar
talvez um iludido, como todo apaixonado
querendo apenas, sonhando, em estar ao seu lado
já não escondo minha vontade, sim! ao contrario de muitos
eu digo o que sinto de verdade!
não ligo mais pro meu orgulho! o perdi
toda noite, ouço um som, um barulho
de batidas aflitas, batidas desesperadas
procurando um rumo, uma estrada,
tentando não caminhar sem direção
procurando uma luz, uma lanterna, uma saída
de dentro dessa caverna, querendo sair da escuridão.

Foto de P.H.Rodrigues

Amor, Amar, Tempo, Esperar

Sabe, muitos desistem de amar, a maioria, prefere não tentar, desejam, e querem, mais por amor a si próprio se entregam ao medo de deixar de lado e não se arriscar. Amar .... amar é viver, é enxergar cada coisa de um ângulo diferente, é dizer, sentir e fazer, coisas que antes não se imaginava, é conhecer, e por pra fora, o que se guarda. No amor, não existe, perdedor ou ganhador, ganham os dois, no amor, existem sim, a dor, que não se sente, pois alguém cuida da gente.
A sensação de perder quem se ama, seria mais claramente como dizer, que você corre, anda, em um caminho que não se sabe onde vai chegar. Que se acredita no que se vê, e não sabe se é certo ou errado, ou seja, é ficar perdido! desamparado.
Nessa procura, só podemos esperar, mesmo quando o sentimento dilacera nosso peito! Mesmo quando perdemos noites e noites pensando! mesmo quando a saudade e incompreensão nos preenchem e nos deixam mais ainda sem direção! Pois podemos compartilhar o amor, mas não podemos obrigar a ninguém que nos ame! Como vamos dizer a alguém que ela tem que nos amar? simples! Não da!
A confissão e melhor amigo de um apaixonado, deixa ser alguém físico, e passa a ser o tempo, que ao mesmo tempo que te deixa desamparado, pode mudar e trazer seu amado parar o seu lado.

Foto de SANDRA FUENTES

ÚLTIMO ANDAR

Maquiava os olhos às cinco da manhã e ficava em seu quarto olhando para o espelho. Não havia traços do tempo em seu rosto, mas o coração, com rugas profundas, se fazia de desentendido. Fumava um cigarro que deixava pela metade. Olhava o mar pela janela do apartamento minúsculo e pensava em seus sonhos-pesadelos. Nem sempre é possível distinguir um do outro quando se dorme. As cores se confundem e os personagens mudam de cena durante um sono profundo. Mas a mulher vestida de segredo, tirava suas meias transparentes e caminhava descalça em direção à porta. Gostava quando ia sentindo nos pés o frio daquele piso do corredor pintado de verde. Sentava na escada e acendia mais um sonho, que deixava pela metade.Ela quer descer. Passa pelos degraus como fumaça. Em silêncio caminha até o portão. Desconhece aquele lugar. Sem olhar para trás, faz o caminho de volta. Pega a chave que estava sob o tapete. Surda-muda. Sonho-pesadelo. É lá seu lugar, é onde ela mora: no último andar, na última porta.

Sandra Fuentes

Foto de giogomes

Vôo da Rosa

Com as mãos já calejadas,
pelos espinhos afiados.

Observo atento aos ferimentos,
cuidando dos machucados.

Olhando a Rosa que tanto amo,
sempre cuidada com amor e carinho.

Nunca pensei que poderia me machucar,
com algum dos seus espinhos.

Eu sempre a protegi do mau tempo, das pragas.
Estava ao seu lado, zelando, a todo momento.

A coloquei protegida em um belo vaso,
sem entender os seus próprios sentimentos.

A dependência começou a ser sentida,
quando em momentos, eu não estava lá.

A Rosa só, em seu vaso pequeno,
sonhava em sozinha, também poder voar.

Em um dia de ventania, e a favor do vento,
fez um grande esforço, para as raízes soltar.

Desabrochou e se foi em um momento.
Quando voltei, não estava mais lá.

Triste, deprimido e preocupado.
Comecei a minha busca. A procurar.

A encontrei tão bela como sempre foi.
Estava bem, sobreviveu sozinha.

Fui então, devolvê-la ao vaso.
Tirá-la de perto das ervas daninhas.

Quando para minha surpresa,
fui ferroado, machucado.

Pela Rosa que tanto amava,
e que sempre esteve ao meu lado.

Depois do impacto inicial. O entendimento.
Como pude ser tão relapso, e não entender ?

Toda a Rosa pede cautela no trato,
como pude a mão perder.

Ela estava bem e aonde queria.
Não precisava que eu fosse me intrometer.

Não significava que não me amava,
só queria a todos provar...

...que poderia sobreviver sozinha,
e que tinhas forças para poder lutar.

Ao entender o que realmente queria,
decidi compreendê-la e aceitar.

Prometendo que a amaria sempre,
mesmo estando só, em outro lugar.

Que se um dia, realmente precisasse,
poderia simplesmente me chamar.

Temos que ter a capacidade de resolver,
os problemas que a vida insiste em nos mostrar.

Para que todos tenhamos a capacidade,
de um dia também poder voar.

Espero com amor no coração, observando o vento.
Para que sopre forte em minha direção.

Esperando que a Rosa volte para ficar comigo,
por que essa foi a sua decisão.

Para que ambos fortalecidos, possamos aproveitar,
tudo o que o nosso belo amor, venha a nos dar.

Foto de MALENA41

SWING

Eloísa chegava às quartas-feiras à tardinha e trazia sempre um presentinho para Nara.
Dava-lhe um beijo selinho e em seguida beijava Antero. Outro selinho. Ele a apertava nos braços chamando-a de gostosa.
Nara e Antero conheceram Elô quando fizeram uma viagem de excursão para a Argentina. Eles estavam casados há seis anos e Nara sempre tivera desejo de trazer uma mulher para a relação deles. Ela tinha muitas fantasias a respeito e quando comentava com o esposo ele dizia que se encontrassem a pessoa certa poderiam fazê-lo. A amizade entre eles cresceu e depois de seis meses conversaram sobre o assunto. Há dois anos mantinham este relacionamento e tudo ia bem entre eles.

Eloísa conheceu Nélio numa sala de bate-papo e o romance estava evoluindo. Acabou contando-lhe sobre o relacionamento que mantinha com o casal e Nélio perguntou se eles não tinham interesse em trazer mais um componente para o grupo e contou que gostaria de participar. Então ela lhe falou que precisava reunir-se com os amigos para saber o que eles pensavam a respeito e nesta quarta-feira a decisão seria tomada.

Antero no começo rejeitou a ideia, mas como as duas mulheres ficaram insistindo, acabou concordando.
Decidiram que já no próximo encontro Nélio estaria presente.

Na semana seguinte Eloísa chegou acompanhada de Nélio.
Apresentou-os aos amigos e beijou-os como sempre fazia. Desta vez caprichou ainda mais quando abraçou Antero.
Nara a olhou e ela se desvencilhou do abraço.
Beijou a amiga na boca e acariciou seus seios.
Logo em seguida foram os quatro para o quarto do casal que era amplo e tinha uma cama redonda e grandes espelhos nas paredes.
As duas foram tirando a roupa uma da outra e beijando-se na boca.

Nélio ainda estava meio sem jeito. Ele nunca estivera em encontros de swing.
Estava separado da esposa há seis meses e com ela sexo era meio papai e mamãe. Vez ou outra praticam sexo oral e anal nunca.
Nos tempos de juventude ele tivera alguns encontros com moças que permitiam tudo.
Nélio estava agora com 50 anos.
Achava um pouco estranho estar com aqueles três jovens. Antero tinha 32 anos e as moças 28.
Ele era pai de dois gêmeos que completariam naquele mês 25 anos. Mas não queria pensar no assunto naquele instante. Estava ali para ser feliz. Quando conheceu Nara na sala de chat não pensou que chegariam a tanto. Swing. A palavra Swing lhe soava estranha.
Olhar as moças se beijando lhe provocara ereção e agora as duas já estavam realizando um 69. Como gostavam da coisa!
Ficou olhando Antero se despir e notou que ele era muito bem dotado. Ver o avantajado pênis do amigo deixou-o ainda mais excitado.

Eloísa veio em sua direção e Nara a antecipou pegando na mão seu pênis que estava tinindo de duro. Nélio até gemeu.
Ela o acariciou de leve e depois foi fazendo pressão. Ele até chegava a tremer de desejo.

Antero e Eloísa se beijavam e ele acariciava as nádegas dela. Elô puxava sua mão para a vagina e ele ia enfiando o dedo e puxando-a mais de encontro a si. A outra mão deslizava pelo bumbum redondinho da moça.

Nara ajoelhara em sua frente e Nélio achava bom demais o jeito que ela o chupava. Era delicioso aquilo. A boca estava quente demais. Ela colocara o quê na boca? Sentiu vontade de perguntar. Não tinha sido bom assim com a esposa.
Ela continuava e ele estava achando aquilo sensacional
Via Eloísa deitando-se e Antero beijando-a toda. Ela gemia e se contorcia.
De repente Nara deitou-se no tapete e ele também começou a lambê-la toda e a chupá-la.
Ela também se contorcia. De repente Nara se afastou e foi beijar a amiga.

As duas começaram a se esfregar e os dois homens ficaram parados olhando.
Elas estavam sentindo grande prazer e não se contentavam com pouco. Gemiam e se contorciam.

Antero veio acariciar o bumbum da esposa e ela se afastou da amiga. Começou a acariciar o avantajado pênis do esposo e ele a colocou na cama. Foi se deitando lentamente sobre ela.

Eloísa começou a beijá-lo e encostou os seios fartos em seu peito correndo as unhas por suas costas peludas.
Elô era bem farta de carnes e fogosa demais. Apertava-a enquanto olhava o outro casal. A essa altura o esposo já a penetrara e Nara gozava.
Queria que ela gozasse com ele.

Foram se abaixando lentamente e no chão Eloísa abriu as pernas. Então o outro casal se aproximou e Nara tomou o lugar da amiga oferecendo-se para que ele a penetrasse.

Elô passou a chupar Antero que apesar de ter gozado continuava muito excitado.

Como Nara era gostosa! Seu corpo se contorcendo e os movimentos da vagina fizeram com que ele gozasse quase que imediatamente.

Então Antero se aproximou e deitou-se por cima dele e esfregou o avantajado pênis em seu anus. Nélio adorou aquilo. Sentir a ereção do amigo o excitava e desejou que ele o penetrasse. Continuava deitado sobre Nara e Nélio continuava esfregando-se nele.

Eloísa começou a beijar Nara na boca e acariciar seus seios enquanto Nélio gozava sentindo o pênis de Antero tocar seu anus.
Nara gemia de prazer e acariciava a vagina da amiga.

Por fim Elô puxou Nélio. Deitou-se sobre ele e começou a se movimentar rapidamente. Gozou intensamente enquanto Antero e Nara os observava.
O casal comentou baixinho que acertaram em cheio em trazer aquele homem para o grupo.
Eloísa sentia-se satisfeita nos braços Nélio e pensava em como ficara excitada em vê-lo ser tocado pelo amigo. Aquilo fora excitante demais...

MALENA

Foto de MALENA41

O ÚLTIMO POR DO SOL ANTES DO ADEUS

Olhava meus dedos dos pés e chorava. Chorava por ele, por ele que logo partiria.
As malas estavam prontas...
Era a última noite que dormiríamos sob o mesmo teto. Na mesma cama já estava fazendo alguns meses que não dormíamos.
Eu já passava dos quarenta e cinco, porém, me sentia tão imatura.
A borboleta amarela e o beija-flor vieram me visitar. A tarde devagarzinho morria. Como eu, como eu.
Eu poderia chorar, desfazer as malas, me esgoelar. Ele desistiria da partida se eu implorasse.
Mas ficar com alguém desta forma? Como se ele estivesse me fazendo um favor?

A franja me caía nos olhos e eu a afastava, molhava suas pontinhas com as lágrimas que ensopavam meu rosto. Esfregava a boca e assoava o nariz. O lenço de papel estava ensopado. Precisava pegar outro. No entanto entrar na casa àquela hora?
Queria vê-lo chegar. Queria. Queria falar com ele.
Sofrer mais um pouquinho? ─ Diria minha sábia mãe.
Esticava a perna e recolhia, esticava de novo. Ela estava adormecendo de tanto tempo que ficara sentada ali. Uma hora, duas. O telefone cansou de tocar, o celular também. Não atendi.
Devia ser algum chato. “Poderia ser até meus filhos – mas eles ligariam outra hora”. Ou minha mãe. Ela também ligaria depois e faria milhares de perguntas. Sabia que não estávamos bem e estranharia meu silêncio. Conhecia meus hábitos e sabia que eu estava sempre em casa no final da tarde.
E se fosse ele? Ele não ligaria. Terminamos tudo e ele estava apenas aguardando que terminassem uns detalhes de pintura na casa que alugara. Levaria tão pouco, o indispensável eu diria.
Havia me dito que partiria bem cedinho.
Não brigamos desta vez. Só escutei e foi como se uma montanha de gelo despencasse sobre minha cabeça.
Nos últimos dois anos discutimos tanto que tudo se esgotou. O carinho morreu.
Houve um tempo que o medo de perdê-lo era maior e aí eu tentava reconquistá-lo. Depois fui me sentindo tão vazia e via que tudo era inútil.
Ele dizia coisas que me feriam fundo. Será que tinha noção do que estava fazendo? Não sei.
Acabei por feri-lo também. Não entendia ainda que estava agindo de forma errada.
Cada carro que passava fazia meu coração disparar, pois pensava que era Augusto que estava chegando.
De onde estava podia ver o sol descendo lentamente na linha do horizonte. Tínhamos uma vista privilegiada.
Quando compramos a casa comentamos que ninguém no mundo tinha uma vista igual. Até nosso ocaso era diferente, porque éramos muito especiais e nosso amor era exclusividade.
Nunca que terminaria um romance destes, nunca.

Um menino gritou na rua e fez meu coração pular e pensar nos meus filhos pequenos. Que pena que cresceram! Era tão bom tê-los sob a barra da saia.
De repente me via pensando no poema de Gibran: Vossos filhos não são vossos filhos.
Claro que não. Os filhos são do mundo. Só somos os escolhidos para colocá-los no mundo e orientá-los. E amá-los.
A menina se casara tão novinha e eu pensava que ela poderia ter esperado mais. Todavia havia o tal do livre arbítrio...
Meu filho estava cursando a universidade noutro estado. Foi o caminho que ele escolheu.
O menino continuava gritando e eu ficava ouvindo seus berros. Aquilo mexia com meus nervos que já andavam à flor da pele. O sol descia, descia.
Aí o carro estacionou. Era Augusto. Ele ainda tinha as chaves e o controle do portão. Foi abrindo e percebi que estava aborrecido.
Ele se mudaria no dia seguinte e nunca gostara de mudanças.
Na minha concepção meu esposo já tinha partido fazia bom tempo.
Olhei aquele belo homem estacionando na garagem e comecei a pensar quando nos conhecemos. Como ele era bonito!
Lógico que com os anos ganhara uma barriguinha, o cabelo diminuíra um pouco.
Mas num todo o corpo estava bem e o rosto sempre lindo.
Ele vinha em minha direção e meu coração disparava.
─ Você está bem?
─ Estou.
Minha voz saía rouca e eu pensava que precisava fazer aquele pedido, antes que nosso tempo se esgotasse.
─ Posso lhe pedir algo, Augusto?
─ Diga, Solange.
─ Não vai se aborrecer?
Que pergunta idiota! Eu o conhecia bem e sabia que estava arreliado.
─ Diga logo, que preciso tomar um banho. Tenho um compromisso daqui uma hora.
A frase veio como um balde de água fria me fazendo quase desistir de falar, Acontece que se não fizesse naquele instante não teria outra oportunidade e resolvi perguntar de uma vez.
─ Lembra-se quando ficávamos assistindo o sol se esconder de mãos dadas?
Ele pigarreou (andava fumando muito). Só que estava pigarreando neste momento para disfarçar.
E por fim falou baixinho:
─ Claro que lembro. Certas coisas não conseguimos esquecer por mais que tentemos.
─ Eu posso lhe pedir uma coisa?
─ Não se estenda, Solange. Já falei que estou apressado.
Outro balde.
─ Quero lhe pedir que sente aqui comigo para ver o sol se esconder. Falta pouco. ─ coloquei mais doçura na voz ─ Nem precisa segurar a minha mão.
Ele me olhou sem ternura no olhar, mas com pena.
Estaria eu fantasiando?
─ Augusto. Onde você vai morar dá para ver o sol se escondendo?
Ele virou o rosto na direção do horizonte e seu rosto parecia esculpido em pedra.
O telefone voltou a tocar e eu rezei baixinho:
─ Quieto, telefone. Fique quieto, por favor.
Por coincidência ou pela força de meu pedido depois do terceiro toque o telefone silenciou.
Em alguns instantes a magia daquele instante terminaria. Aquele corpo amado jamais estaria tão próximo ao meu.
Não resistindo eu busquei sua mão e ele estreitou a minha da forma que sempre fizera, apertando fortemente o mindinho.
Se eu chorasse naquela hora estragaria tudo. Ele havia me dito que não suportava a mulher chorona que eu me transformara.
Banquei a forte e nossos rostos estavam bem próximos. Os dois olhando o sol alaranjado e faltava apenas uma nesginha para o nosso astro rei se esconder.
Ele se levantaria em segundos e entraria no banheiro. Tomaria um banho e sairia. Chegaria tarde em casa e eu nem o veria chegar. Na manhã seguinte se mudaria e fim.
Um tremor percorreu meu corpo e de repente me vi estreitada em um abraço.
Aquilo não poderia estar acontecendo.
Sua boca sôfrega procurava a minha e eu me entregava inteira.
O sol acabava de desaparecer lá distante.
Eu já não via, mas sabia.
A língua dele tocava o céu da minha boca.
Estaria ficando louca?
Estaria sonhando?
Queria falar, mas o encanto se acabaria se falasse qualquer coisa.
Pressentia que não poderia me mexer, senão a poesia daquele instante se acabaria. Então fiquei bem quieta. Esperando. Esperando para saber se tinha escapado da realidade e entrado no sonho.
Eu não tomara absolutamente nada. Estava sóbria.
O corpo dele se estreitava ao meu.
Estreitava-se tanto que eu chegava a pensar que me quebraria algum osso.
Estava tão magra. Ossuda mesmo.
Ele é que rompeu o silêncio.
─ Desculpe.
─ Desculpar o quê?
Deus! Ainda era meu marido. Ainda era. Não tínhamos tratado da separação.
Augusto não sentia assim e provou isso pedindo desculpas.
─ Não tenho que desculpar nada, meu bem. Eu queria que acontecesse. E acho que você também.
Parecia que meu tom melodramático não o abalara em nada.
─ Foi um momento de fraqueza. Vou tomar um banho. Espero que você entenda que me deixei levar...
Eu o agarrei pelas costas e fiz com que se virasse e me olhasse nos olhos. Ainda haveria tempo de salvar nosso casamento?
─ E se eu mudar o meu comportamento?
─ Não há o que mudar. Tudo está resolvido. Amanhã cedo eu vou embora. Nossos filhos entenderão.
─ Será? Será que tudo é tão simples como diz?
─ Não vamos recomeçar.
E foi entrando porta adentro.
Eu fui seguindo-o. Se me beijara daquela forma ainda sentia amor e desejo. Ou estaria equivocada?
Ele colocou a chave do carro e a carteira sobre o rack e eu fui ao nosso quarto.
O que eu poderia fazer ainda? Jogar charme por cima dele não adiantaria de nada. Pedir? Implorar?
Deitei na cama e ele entrou no banheiro social e ligou o chuveiro.
Imaginei seu corpo nu e senti vontade de fazer amor com ele. Senti vontade de sentir de novo um abraço apertado, como o que acontecera há alguns minutos.
Que foi feito de nós? Fiquei me perguntando.
Em seguida desligou o chuveiro e fiquei pensando.
─ Ele nunca tomou um banho tão rápido.
A porta do quarto foi aberta abruptamente e molhado como estava ele me puxou para seus braços e me carregou para o nosso banheiro.
Usou a mão esquerda para ligar o chuveiro e com a destra livre foi me arrancando a roupa.
Será que em outras ocasiões fora tão impetuoso?
Era tudo tão espetacular e louco que eu custava a crer que estava sendo real.
Ele descia a boca para meus seios e mordiscava os mamilos.
Fizera isso milhares de vezes aqueles anos todos, mas estava sendo diferente, pois parecia haver uma raiva nele. Um desespero por me possuir.
Pensei se estava me violentando.
Acontece que eu estava querendo tudo aquilo e também o amei desesperadamente.
Também eu o mordi e o apertei.
Também eu quando tomei seu órgão genital nas mãos fui agressiva. Apertei mais do que devia.
Fazia-o não como uma fêmea no cio, mas como uma mulher desesperada.
Sabia que era a última vez e estava sendo maravilhoso e maluco.
Nunca nos amamos brutalmente antes e não estava sendo propriamente brutal. Era diferente. Era como se nós dois estivéssemos morrendo de sede e água nunca conseguisse nos saciar.
A relação sexual ocorria num ritmo alucinado. Bocas e mãos procuravam, deslizavam, corriam pelo corpo todo.
Palavras não existiam e antes falávamos tanto enquanto fazíamos amor.
Eu nem conseguia pensar direito tal a intensidade do que estava vivendo. Era como estar com um estranho. Aquele homem não era o Augusto de todos aqueles anos e aquela Solange exigente eu nunca fora.
Eu queria mais e mais e mais.
Antes nunca ocorrera comigo o orgasmo múltiplo e nem tinha conhecido que de repente pudesse senti-lo e sentia. O êxtase chegaria para nós? Ele aguentaria até quando?
Taxativamente eu desconhecia naquele homem meu companheiro de tantos anos e ele também devia estar me desconhecendo.
Prolongou-se ainda por meia hora o coito e quando por fim caímos exaustos na cama estávamos suados e arquejantes. Tão exaustos que não tínhamos forças para mexer um dedo.
Envergonhada pensava que não conseguiria mais encará-lo depois de tudo aquilo e foi ele que quebrou o silencio.
─ Estou desconhecendo-a, dona Solange.
─ E eu também não o reconheci ─ falei com débil voz.
Ele tinha se esquecido do compromisso?
Fiquei quietinha e nem queria pensar que ele pudesse se levantar e sair.
Augusto colocou o braço em volta do meu ombro e me puxou para seus braços.
Pensam que ele partiu no dia seguinte?
Está até hoje comigo e nossas noites costumam ser muito agitadas. Muitas vezes ele vem almoçar e esquecemos completamente da comida.
Ele perdeu a barriguinha e diz que eu acabo com suas forças, que sou a culpada.
Eu penso que sou a salvadora.

Foto de Allan Sobral

A lenda do Amor

Prestem atenção, pois é provável que esta será a única vez em que ouvirão esta lenda, pois houve um decreto divino, proibindo a sua propagação.
Aconteceu em uma terra longínqua, mas muito parecida com a terra em que vivemos, em um tempo onde as horas não eram contadas, as noites eram mais longas e os dias eram sombrios, onde as pessoas eram feitas por sentimentos, na maior parte tristes ou covardes. Reinava sobre o mundo uma guerra inexplicável, guerra esta que já perdurava por tanto tempo, que as pessoas nem lembravam por que começaram, mais a febre por riqueza era tanta, que suas almas já eram cegas.
Deuses já não eram lembrados, e a fé era quase que inexistente. Mas no mais alto ponto escondido ponto do céu, porem o mais belo jardim, habitava o Criador, mais conhecido como Deus, que observava com grande dor, sua criação mais preciosa se destruir freneticamente, sem motivo algum, pois as mortes já eram incontroláveis, e os que ainda viviam possuíam almas mortas.
Então o Pai se levantou do trono para criar algo que compensasse sua dor, foi até o jardim, e buscou das mais puras e verdadeiras essências a inspiração. E como bom artista criou mais uma obra, mais essa era diferente, era uma flor, pétalas de ouro, raiz de cristal, seu caule era diamante, sua folhagem era alegria, seu perfume era pureza. O céu havia parado, pois era raro ver o Criador inspirado, os anjos já sentiam no ar a emoção de um artista, mas o céu inteiro se calou quando o Pai regou aquela flor, e como bom poeta ao concluir sua obra, a banhou com suas divinas lagrimas, e a batizou com o nome de Amor, e decretou que qualquer que o tivesse seria feliz, eternamente Feliz.
Mas a terra era impura e os homens gananciosos, e não mereciam o Amor, Com voz mansa, mandou que chamassem Igório, o pássaro do canto mais bonito, e do vou mais ligeiro, E ordenou que Igório teria a missão de esconder o Amor, onde jamais fosse destruído.
Imediatamente voou o pássaro, em busca do lugar perfeito para guardar o Amor, passou pelas terras tristes, pelos mares revoltos, pelos campos mais ermos, voou o deserto mais seco, mas cansado não encontrava. Sempre acompanhado do seu amigo vento, que curioso perguntava sempre:
- Igório, porque voaste tanto? O que tu procuraste? Já não ouvimos mais os seu canto.
Cansado o pássaro deixou escapar, que carregava, o Amor, algo desconhecido, mas que era o segredo para que todos os reais desejos se cumprissem, a chave para a paz, ou talvez até mesmo trazer o fim da guerra.
O vento implorou para que o pássaro o permitisse tocar o amor, ou ao menos ver, mas o pássaro não permitiu. O vento permaneceu curioso mais não se contentou.
Ao anoitecer, o vento deixou com que a noticia se espalhasse entre os ventos do Norte, Sul, Leste e Oeste. Os quais contaram para as estrelas, que não ocultaram o segredo para a Lua, Lua esta que ao beijar o Sol na hora pontual de nascer mais uma manhã, também contou ao astro Rei, o Sol por sua vez, não temeu em espalhar para todos os que o viam, que Igório carregava o segredo da paz, e da suprema felicidade.
Toda a natureza e toda a triste humanidade imediatamente começaram a buscar o Amor, sem nunca o terem tocado ou se quer visto, mas sabiam que o pássaro do canto mais belo era quem carregava o amor.
O arcanjo amigo de Igório, sabendo que todos o cassavam, imediatamente recomendou a Igório que se escondesse.
O pássaro apavorado seguiu as recomendações do amigo, e escondeu-se a traz de uma arvore seca, que ficava na beira do Lago das Lagrimas, ficou lá por horas e horas, até que algo lhe incomodou, era um choro tristonho e distante, o pássaro curioso foi verificar o que lhe incomodara, e observou que na outra beira do lago, havia um menino que chorava bastante, Igório que era o dono do canto mais belo, decidiu cantar para tentar acalmar aquele menino. Igório foi cantando, cantando, até que o menino se acalmou, e encantado admirava o canto, e ainda com os olhos brilhando pelas lagrimas, deixou manar em seu rosto, um sorriso belo e sincero.
Naquele momento, o pássaro descobriu o lugar perfeito para guardar o Amor; dento do coração daquele menino, onde ninguém o tocaria, viria, e muito menos o destruiria, e se multiplicaria através da pureza de um sorriso, ou a ingenuidade em um abraço.
Então Igório voou em direção aos sonhos, com uma lagrima que brilhava em seu olho, lagrima até então desconhecida, foi a primeira lagrima de alegria.
E até hoje o Amor vem se propagando, com sorrisos puros, abraços, beijos, piedade, compaixão ou qualquer gesto de carinho.
E os homens continuam guerreado, invejando, destruindo e chorando, em busca da suprema felicidade, sem entender que o segredo da paz, e da felicidade, está enraizado dentro do próprio coração.

Allan Sobral

Foto de Priscila Salles

Pensamentos

As vezes sinto que meu mundo despencou....sinceramente não posso, nem vou continuar vivendo como se nada tivesse acontecido...lembranças rodeiam minha cabeça...se errei, o que posso fazer? Dificil vai ser esquecer!!
Prefiro mesmo fazer o possivel para que não de certo, o verdadeiro motivo de estar longe de tudo e de todos.
Viverei minha vida como se nunca tivesse nascido...Estou contando os dias para encontrar minha direção, sentir-me preparada para olhar um novo amor...o qual tratarei com cuidado para que não tenha medo ao saber dos meus segredos!

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