Dia

Foto de pttuii

Eugenia

Sol dará de nós frutos,
enquanto luas de pretas,
mundos de mães que
corujas adoptaram,
desfazem o que refeito,
não dá pouco menos que sequer o dia
a nascer,....

o suficiente dos
muitos que berram,
filhos loiros,
agoiros pretos,
sinais de maledicência,
e luas a tratar,
luas a descansar,...

é o país eufónico que
merecemos,
no bojo de um novo dia,
repousamos como larvas....

Foto de pttuii

Reformados

não somos tão poucos assim
que nem nos reste discernimento,
sôfrega batelada de nada é o que é,
depreendo que nos reste o
arrastamento pelos bicos
das mesas de esplanada,
a mirar tetas,
a mirar cus,
seremos poucos
quando fecharem as
ruas do sofrimento neoplásico,
meninos de ranho fácil
ganharão nesse dia,
as esquinas melancólicas
serão balizas dos vossos berlindes,
lençóis brancos amarelecidos,
sim, irá de assoar nesses trapos
pois as velhas desleixadas merecem,
até lá,
seremos cada vez menos,
os senhores de clemência
misturada com fortuna,
as almas centrípetas que se
portam pior que gatos em lutas jónicas...
com os próprios rabos,
em suma,
os controlos remotos de fugida,
(epitáfio de punheteiros, na minha linguagem)
para o fim ficam os sonhos,
nunca feliz soma de nadas,
é como os chamo,
odeio-os.....

Foto de pttuii

Processo de fermentação

O desgosto de uma Florbela Espanca, aliado ao idealismo de um Fernando Pessoa, consubstanciado na alienação de um Luís Vaz. Junte-se umas pitadas de obstinação maometana, e frieza Visigoda. Mexa-se tudo muito bem, antes de finalmente deitar a irracionalidade romana.
A gosto, polvilhe-se tudo com fatias de uma carne multisabores, leia-se, bife do lombo da imigração. Serve-se tudo com um cocktail de vinho do Quadro Comunitário de Apoio, e no fim....Caros comensais, no fim tem-se um manjar que, espremido, não dá para encher nenhum estômago. Bom povo português, é o nome do prato.
Já passou do prazo há séculos, e continua a fermentar na quieta melancolia do imobilismo. As bactérias que gerem o processo usam todas gravata. Têm assessores, andam de 'espada', e,...cúmulo dos cúmulos, não têm a menor contestação do produto que fermentam. É o que elas querem. Usam, abusam. E o produto quietinho.
Chega a ser confrangedor. Refugiam-se no folclore. Nos festivais de gastronomia. Tudo micro, não esqueçamos das dimensões a que nos referimos. Mas não seja por isso!!!! Que no contexto minúsculo a quem nos referimos, há quem saiba viver à grande. É só ter estilo, acordar depois do meio-dia, ter um 'free-pass' no health-club mais caro, e transparecer que se vive de rendas. Facílimo, não é?
Pois, o pior é quando se passa tudo no 'passe-vite', e no final, não sai nada. Tristezas de quem nada espera deste grande processo de fermentação chamado vida.

Foto de cathy correia

Fruto...

És doce fruto
Com que sacio
Minha boca gulosa
Quando sem pressa
Te procuro o corpo
Em prazeres de silêncio
Que te fazem delirar
Pedir mais
Deixando inscrito
Nessa cama sem nome
O teu perfume
Que depois do adeus
Me persegue
E me aprisiona
Fazendo-me tua
Uma e outra vez
Enquanto o dia
Tarda em vir!

Foto de Sirlei Passolongo

Faça Uma Lista

Faça uma lista
Dos teus sonhos
Dos risos que iluminaste
Das canções que cantou
Em silêncio...

Faça uma lista
Das manhãs de encontros
Das tardes de despedidas
Das noites de reencontros
Dos planos para o dia seguinte...

Faça uma lista das tuas conquistas
Verá que são bem mais
que tuas derrotas.

Inspirada na canção A Lista
De Oswaldo Montenegro

(Sirlei L. Passolongo)

Foto de Arion Do Vale

Nuvens....

Nuvens...

Hj olho para o ceu vejo nuvens brancas.
Vejo cd uma delas.
Cada uma com um formato diferente.
Oq vejo nelas e o formato de seu rosto.
Olho para elas em prantos de choro.
Choro pq nelas vejo seu rosto.
Vejo nas nuvens seu olhar que nunca vi antes.
Vejo nas nuvens meus erros que cometi com vc.
Vejo nas nuvens oq deveria fazer pra te-la ao meus braços novamente.
Mais choro pq vejo coisas que jamais poderia realizar sem que vc permitisse que meu coração demonstre todo meu carinho e Amor por vc...
Choro pq perdi vc.
Mais estou feliz tbm pq jamais pensei mal de vc eh jamais le desejarei mal algum nessa vida.
Sei que vc sera eternamente feliz sem mim...
Le desejo com minhas lagrimas toda felicidade desse mundo.
Ñ quero q esqueça que um dia Amei vc como ninguem Te Amou...
Quero que vc lembre de todos os momentos bons que passamos juntos.
Quero que vc olhe para as nuvens ao ceu e veja tudo que pretendia realizar ao seu lado.
Vc foi uma pessoa que entro em minha vida de uma forma maravilhosa eh saiu da pior forma possivel de pensar...
Sempre vou le desejar toda a Paz e Amor desse mundo...

Foto de Sonia Delsin

CIRANDANDO

CIRANDANDO

Eu posso brincar de roda.
Posso cirandar.
Posso brincar.
Cantar, rodar, dançar, rodopiar.
Ah, eu posso!
Eu construí uma casinha de boneca na árvore.
Eu construí um castelo de areia.
Eu coloquei dentro da garrafa a mensagem que nunca chegou pra ti.
Eu não sou daqui.
Mas aqui eu vivo cirandando.
Meu coração vive batucando.
Com as coisas que o mundo me oferece.
Sei juntar as mãos.
Entrar em prece.
Brinco na casinha que construí.
Capricho nos detalhes do meu castelo.
E a mensagem ainda aguardo que te chegue um dia.
É tudo fantasia?
Digamos que viver já seja uma utopia.

Foto de pttuii

Poemas vingativos nunca venderei

Vendo poemas que não indiciem atrocidades comuns.
Negoceio com base no acompanhamento espiritual de um xamã, doutorado em mistérios ininterruptos.
Dos seres inquisitórios, que comem aparições de santas redentoras ao pequeno almoço, e acompanham com uma meia de leite.
Servindo uma causa, um equilíbrio precário, vendo poemas que não prestam. Sonhos remelosos, em que crianças anafadas, soberbas redomas de culpabilização de casais de meia idade, morrem. Sentadas em secretárias acinzentadas de uma escola de interior, revezam-se com o colega do lado na procura por um amanhã de sonhos cumpridos. E, de repente, tombam. O colesterol poderá escorrer pelos pavilhões auriculares, dependendo do jantar do dia anterior.
Pegar em livros de cheques, e eu vendo um poema. Prometo acompanhamento em versos de chumbo. Metáforas oleosas, seborreicas mesmo. Cliente,....deixe a folha ao sol, e no ângulo certo, sentirá a melanina pronta a invadi-lo em ondas de prazer inefável.
Talvez, um dia, venda poemas de esperança. Aforismos preparam-me para composições evolutivas. No primor de um amor que não desilude, e que termina num miradouro, a contemplar um pôr do sol vermelho, que comeu feijoada de ozono ao almoço.
Agora nunca. Jamais. Em tempo algum me verão a vender poemas que o homem pode considerar vingativos. Recorrer a neurónios que dormem mais de 23 horas por dia para, num carrossel de minutos, dar mostras de personalidade doentia. Recorrer a imposições de um bom gosto duvidoso, para espezinhar conceitos. Pessoas mal formadas. Situações que o tempo se enganou a produzir.
Considerarei, Deus assim mo permita, vender poemas de lua rabujenta. Injuriar daquelas senhoras que fazem amor com o treinador de golfe, e depois masculinizam maridos que chupam havanos como se ornamentos fálicos fossem,...isso sim.
Mas poemas vingativos. Nunca venderei.

Foto de pttuii

Monta-me

As letras eram bem desenhadas. Perfeitas de mais.
Um preto afirmador parecia realçar cada curva.
Sete letras, e um tracinho pelo meio, escritos ao fundo de umas costas que brilhavam ao sol do meio da tarde.
Monta-me
Assim se lia semelhante palavra. Chegou à terra a dona da referida incrustação, na única carreira rodoviária de que o povo dispunha. Nada tinha de cavalo, embora uns traços de mula até que assentavam bem no todo que galgou os dois degraus da coxia da viatura.
Ventava um pouco, coisa que até veio por bem em dia de semelhante calma. E a mulher a mostrar o umbigo. Na praça central, junto ao coreto onde o autocarro normalmente pára, estava sentado o homem mais velho da povoação. E o
Monta-me......,
saltou logo à vista.
Pouco instruído, Ti Gama de sua graça dominava as letras o suficiente para perceber coisas pouco habituais. E se aquilo era pouco habitual. Saltava à vista um pedacinho de tecido curto, pouco abaixo do peito da fêmea. Quarenta graus, e dois bicos tesos como as tetas de uma vaca a pedir ordenha.Chegou armada com uma mochila dos estrangeiros. Aquelas coisas enormes, que quase só se vêem na televisão às costas do ‘cámonis’ de pêlo louro. A bagagem era maior que aquela meia leca. Ti Gama não conseguiu ver os olhos à pequena. Mas o sol.
O raio do reflexo que aquilo fazia no fundo das costas da moça.A bengala do velhote cravou-se na poeira do alcatrão, o homem levantou-se....e andou. As botas cardadas pesavam em dia de torreira, mas Ti Gama não descravava os olhos do preto daquela coisa. A jovem entrou na cabine da Rodoviária da terra. Pareceu ter ido comprar o bilhete de regresso.A cena, em poucos segundos, transferiu-se para um tascozito rafeiro. Coisa sem classe, mas que ia aguentando por ser o único na aldeia.
- Indicava-me o WC?
Voz maviosa tem a rapariga. Ti Gama estava hipnotizado. Sentou-se ao balcão e esperou. Tirou do bolso das cerolas um estojo dourado. Lá dentro meia onça de tabaco. Uns restozitos assentaram nos dedos do velhote, e foram cair em cima da mortalha. Enrolou o cigarrito, e antes de o acender já a jovem tinha voltado.
- Uma cerveja sem álcool, por favor.
O dono do tasco, cujo nome não vem ao caso, disse que não tinha. Só ‘mines’. A rapariga pediu uma cola. Ti Gama esperou que o gargalo se encostasse aos lábios da cliente, e disparou, ....sem pudores.
- A jovem desculpe, mas é alguma égua?
Resumindo uma longa história, em poucas palavras, quem sofreu foi a bochecha direita do idoso. A menina saiu à pressa, Ti Gama deixou cair o cigarrito, e o dono do tasco brindou-o com um:
- Você não tem mulher em casa?
Ti Gama nem respondeu. A bengala cravada no soalho, as botas cardadas a arrastar, e uma dúvida a assombrar-lhe a moleira debaixo da boina...Terá Deus criado mulheres cavalos?

Foto de Sonia Delsin

BOM DIA, CINDERELA!

BOM DIA, CINDERELA!

Acordar em sua cama.
Acordar.
Dormir e acordar.
Abrir os olhos e ver meu amado bem do meu lado.
Era meu sonho.
Eu vivia dizendo que queria dormir contigo.
E acordar banhada pelo teu olhar.
Acordo Cinderela dos contos de fada.
Me sinto tão amada, tão amada.
Bom dia, meu príncipe!
Bom dia, Cinderela!

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