Desalento

Foto de Carmen Lúcia

Adeus!

Se eu chorar, disfarça...
Finge que não viu...
O que é uma lágrima
Ante a chuva que desaba,
Ante a dor que não acaba...
Que devassa e alastra,
Levando os sentimentos meus?
Lavando as marcas de um amor
Que não vingou, que não calou, que já morreu!
Ah...uma lágrima!...Diante de tudo que passou!
Se eu sorrir, não creia...
É só pra disfarçar meu sofrimento,
Sorrio pra esconder o desalento
Tentando calar o pranto
Preso na garganta,
Calado, contido, sofrido...
Se eu pedir que fique, vai...
Pra que prolongar a despedida
Se destruiste todos os sonhos meus?
No amor também existe despedida
E o mais triste e doloroso adeus!

Foto de Carmen Vervloet

Terceiro Ensejo da Criança (Aquecimento Global)

Terceiro Ensejo da Criança
(Aquecimento Global)

Passaram-se alguns anos...
Já não posso chorar tantos enganos...
Minhas lágrimas se evaporaram...
Junto à terra, secaram...
Tudo virou deserto... Dias incertos...
Estou perplexo!...
O mar aumentou seu volume
E revoltado devorou
O que o homem dele roubou.
As cidades litorâneas desapareceram
Em meio a sustos e desalento...
Já não existe encantamento...
Já não reconheço o verde das florestas...
Hoje tudo é cinza...
O fogo brota da terra
Num clima de guerra!
A minha luz se apagou...
Voou com a esperança da minha criança
Junto à água potável que se esgotou...
Estamos morrendo à míngua!...
Fracos... Magros... Desidratados...
Maltratados... Famintos...
E tudo o que sinto
É um imenso desespero
Entre dor, revolta, destempero!...
Nós as crianças de ontem...
Seu neto... Bisneto... Filha...
Caídos nesta armadilha
Nesta desértica ilha!...
Sem alimento... Sem ação...
Sem água... Sem solução...
Só dor... Sem cor...
Já não me lembro da flor...
Do seu perfume...
Tudo cheira a estrume...
Esqueci qual foi meu derradeiro banho...
E o meu último sonho...
Brigo por um copo de água...
Dentro de mim só medo e mágoa...
Terremotos... Maremotos...
Ciclones... Tufões...
E a sede que me consome!...
Hoje só me resta o verso do poeta
Que num grito de alerta
Profetizou o fim
Que eu jamais escolheria para mim!...

Carmen Vervloet

Foto de Mor

CONVITE

CONVITE

Mário Osny Rosa

Foi naquele momento
Que o convite recebeu.
Tal foi meu desalento
Que nem ela percebeu

Que estava entregando
Pois nunca a tinha visto.
Foi nesse, entretanto.
Que houve um imprevisto.

Para um sarau de poesia
E logo do que gostava.
Era o que eu ouvir queria
E no dia lá estava.

A bela poetisa a declamar
Em sua poesia clamava.
Pela beleza do mar
Que todo mundo sujava.

São José/SC, 27 de abril de 2.007.
morja@interagte.com.br
www.mario.poetasadvogados.com.br

Foto de Daemon Moanir

Interlúdio - I

É esta dor que não passa,
É esta ânsia que me trespassa,
O amor que corta e recorta,
A mente que me vai e não me volta
Que me mantêm de ti a pão e água.

São gritos de tormentos
De caras vistas e revistas.
São sombras de vidas sobrevividas
Em abismos oprimidos,
A respirar palavras de ajuda
E a engoli-las a seco e em vão.

E o pânico, o medo,
As faces de horror e desalento
Espelhadas na minha as encontro,
A dar-me o frio, o gelo como certo.
Cerro os olhos que não consigo ver-me assim.

Os sonhos, as esperanças?
Perdi-as de uma vida melhor.
`
Ó tu que tanto m'encantas,
Dai-me a boa nova. Canta o interlúdio.

Foto de josedourondo

DESESPERO

Mergulhado em nostalgia
por caminhos inacabados,
sinto minha vida oca e vazia
e os sonhos jamais realizados.

Perdido o sonho de outrora
o amor deu lugar à dor,
meu coração sofre e chora
na insana procura do amor.

Percorro o mundo inteiro
e deixo-me pelo sonho embalar,
fingindo que o amor primeiro
como ave partiu e vai voltar.

Esta angústia e desalento
ao relembrar os tempos idos
é desespero e sofrimento
pelos sonhos não vividos.

Foto de Marta Peres

Sem Rumo

Sem Rumo

Com pensamento carregado de apreensões
A poeta põe-se a cismar,
Testa franzida e vencida pelo desalento
Esquece-se de si mesma,
Aturdida e perplexa julga-se fantasma
E a vagar vê-se perdida
Entre o céu e a terra.

Nesta hora sente-se perdida
como vento perdido pelos abismos do mundo,
sem alento, sem rumo a pobre vaga
como vagabunda, sem lar e sem abrigo.

Caminha por caminhos de difícil transpor
E sente pesar desconhecido...
Abatida desce ao charco mais profundo,
Imundo e cruel.

Não tem lugar de repouso
E nem sei onde mora,
Nunca teve, nem nunca encontrou.
Onde fica seu triste pouso?

Segue com seus pensamentos
E eles caminham no escuro
Já nem sabe que lado procurar
E não sabe que rumo tomar...
Pensa:
De onde vim, para onde vou?

Marta Peres

Foto de elcio josé de moraes

DESENCONTRO

De onde vieste oh! meu destino?

Que tanto tem feito eu perecer.

Minh'alma vive em desatino,

E meu peito não para de doer.

De repente...Eu me encontro em meu caminho,

Sozinho, e eu me pego a procurar,

Alguém, alguma luz no infinito,

A quem ainda queira me guiar.

Oh! que desalento, que amargura.

Oh! quanta tristeza e solidão!

Só vejo a tua imagem linda e pura,

Seguindo sempre em outra direção...

Escrito por ELCIO J.MORAES

Foto de Stacarca

Amor funéreo

Amor funéreo

"A chaga que 'inda na
Mocidade há de me matar"

A noute era bela como a face pálida da virgem minha. O luar ia ao cume em recôndita dentre a neblina escura que corria os escuros delírios. Eu, pobre desgraçado levava meus pés a mais uma orgia a fim de esquecer a minha vida de boêmio imaculado. - Ah! E minha donzela morta que lhe beijava a face linda? Hoje, Não esqueci de ti, minha virgem bela de cabelos dourados que com as tranças enxugava meus prantos em dias de febre qu'eu quase morria, nem de seus lábios, os doces lábios que nunca beijei em vida, os mesmos que emudeciam os rogados de cobiças fervorosas? Sim, ó donzela de pele pálida que sempre almejei encostar as mãos minhas. Hoje, êxito de sua bela morte, sete dias sem ti, minha romanesca linda dama que as floridas formas diligenciavam os mais escuros defuntos. Os mesmos que indagam da lájea fria?
As lamparinas pouco a pouco feneciam na comprida noute que seguia, a calçada de rebo acoitava outros vagabundos que a embriaguez tomara, o plenilúnio se destacava no céu escuro, como um olho branco em galardão, magnífico. Ah como era bela a área pálida, e como era de uma beleza exímia, tão mimosa como a amante de meus sonhos, como a donzela que ainda não cessei d'amar.
- Posterga a defunta! Diziam as amantes!
- Calem-te, vossos talantes nada significam meretrizes de amores não amadas, perdoai-me, o coração do poeta nada mais diz, pois de tão infame, 'inda que vive, exalta aquela que não mais poderás oscular!?
O ar frio incessante plasmava em minha fronte doente, rígida, sequiosa pela douda vontade d'um beiço beijar, As estrelas fúnebres cintilavam, não eram brilhos obtusos, eram infladas e que formavam uma tiara de cores que perscrutava a consternação do ébrio andante, solene co'uma divinal taciturnidade. A'mbrósia falaz diria um estarrecido boêmio. Aquele mesmo que sem luz entreve o defunto podre que nunca irá de ressuscitar?!
A rua tênebra na qual partia, musgos fétidos aos compridos corredores deserdados p'la iluminação tênue dos lampiões avelhentado co'o tempo, lírios, flores que formavam a mistura perfeita d'um velório no menos pouco bramante, as casas iam passando, as portas vedadas trazia-me uma satisfação soturna, as fachadas eram adiposas e de cores sombrias, ah que era tudo escuro e sem vida. Como eram belos os corredores azeviches, aqueles mesmos que as damas trazia para gozar de suas volúpias cândidas que me corria o coração no atrelar aureolo.
A disforme vida tornara tão medíocre e banal qu'eu jazia a expectação feliz. – Pra que da vida gozar? Se na morte vive a luz de minha aurora!
- Hoje, sete dias rematados sem minha virginal, ó tu, que fede na terra agregada e pútrida comida p'los vermes, tu que penetraste em meu coração como o gusano te definha, tu que com a palidez bela pragueja as aziagas crenças banais que funde em minha febre, tu que mesmo desmaiada em prantos a beleza infinda, tu que amei na vida e amarei na morte. Ó tu...
No boreal ouviam-se fragores d'um canto sanhoso, era uma voz bela e que tinha o tom lânguido de um silêncio sepulcral, bonançosa era a noute, alta, os ébrios junto as Messalinas de um gozo beneplácito, escura, os escárnios da mocidade eram como o fulcro de uma medra irrisória, e o asco purpurava uma modorra audaz;
A voz formidolosa masturbava minha mente em turbadas figuras nada venustas.
Assassinatos horríveis eram belos como um capro divinal que nunca existira, o funambulesco era perspicaz que aos meus olhos era uma comédia em dantesca, os ébrios junto às prostitutas que em báquicos meio a noute fria gritavam, zombavam na calmaria morta, as frontes belas eram defeituosas que fosforesciam no fanal quimérico. Cadáveres riam nas valas frias do cemitério donde foras esquecidos, os leprosos eram saudáveis, os bons saudáveis eram leprosos fedidos que suas partes caíam no chão imundo, as lágrimas inundavam as pálpebras de revéis em desgosto, a febre desmaiava os macilentos, pobres macilentos que desbotavam aos dias.
Era tão feio assim.
- Quem és? De que matéria tu és feito? Perguntei e os ecos repetiam.
O silêncio completava os suspiros de meu medo, a infâmia percorria a ossatura lassa que o porvir eriçava. Tão feio tão feio... – Quem és? Porque me tomas?
Riu-se na noute. Riu-se de uma risada túrbida que nas entranhas me cosia. – Não vês que o medo é o lascivo companheiro da morte? Não sentis que a tremura d'amplidão oscila o degredo da volúpia? Não ouves o troado que ulula por entre os caminhos perdidos da vida? Não crês que a derrocada és a fronte pálida do crente que escarra?
Quem és tu? Quem és? Repetia a estardalhaço.
Um momo representava como um truão, júbilo em tábido que vomitava uma suspeição incólume, do mesmo modo como espantadiço em vezes. O medonho ar que cobria as saliências da rua era fugaz, não era do algo aturdo que permanecia em risos na escuridão das sombras de escassa claridade da noute, parecia vim de longe, cheirava ruim a purulenta, como um cadáver tomado pela podridão do tempo.
A voz: – Sentes o olor que funde do leito da morte? Ei-lo, a fragrância de sua amada como és hoje, podre como a fé de um assassino salivante, oh que não é o cheiro de flores de um jardim pomposo, nem da inocência dos ramos de sua amada que não conseguiste purpurar em seu cortinado!? A voz espraiava uma fé feia, pavorosa como o cheiro lânguido em esquivo.
– Insânia! Insânia! Insânia! Gritava como um doudo ínvio.
A tom lamentoso da voz era horrível, mas... Era uma voz análoga e invariável. Nada poderia mudar o estranho desejo, ouvir a voz blasfemar palavras lindas dolentes.
- Ora, porque tu te pasmas? Quem és a figura a muladar o nome de minha donzela?
O vento cortava o esferal cerco da quelha, os dous faziam silêncio ouvindo a noute bela gemer lamúrias de quinhão. Era tão calmo, tão renhido...
- Moço, não vede os traços que figuram de minha fronte? Não vede que as palavras são como a tuberculose que nos extenua arrancando os gládios do peito? Não vede o amor que flameja e persevera perpetuando aos dias como a cólera. - Agora ouvi-me, senhor! Maldito dos malditos quem és? O que queres? – Sois o Diabo?
O gargalhar descortinava as concepções desconhecidas, era como o sulco dos velhos tomado p'la angústia das horas, do tempo, dos anos. Não era o Diabo, tampouco um ébrio perdido na escuridão da madrugada, nem menos um vagabundo escarnecido e molestado p'la vida das ruas.
A voz: - Quereria saber meu nome? Que importa? Já-vos o sabes quem sou, Pois? Não, não sou o Diabo, nem menos a nirvana que molemente viceja entre as doutrinas pregadas por idiotas vergastas. Não sou o bem nem o mal, nem 'alimária que finge ser um Arcangélico nos lasso dos dias. Não sou o beiço que almeja a messalina tocar-lhe os lábios adoçados de vinho. Oh que não sou ninguém somado por tudo que és. – Sabei–lo, pois?
- Agradeço-te. Disse-o!
Dir-te-ia as lamúrias seguintes, os ecos rompendo os suspiros meus, a lua sumira, o vento cessara, a voz que apalpadelava aos ouvidos descrido. Oh! tudo findou! Não sei se a noute seguiu bela e alta, lembro-me apenas de estar num lugar escuro, ermo, as paredes eram ebúrneas, a claridade não abundava o espaço tomado. O ar era desalento, um cheiro ruim subia-me as narinas;
- M'escureça os olhos, oh! Era um caixão ali.
Abri-o: Ah que era minha virgem bela, mas era uma defunta! Na pele amarelenta abria-se buracos que corria uma escuma nojenta, verde como o escarro de um enfermo; Os lábios que sonhei abotoar aos beijos meus era azul agora, os cabelos monocromáticos grudavam pelo líquido que corria pelo pescoço, as roupas lembravam um albornoz, branca como a tez inocente da juventude. Os olhos cerrados e túrbidos, tão sereno, a bicharia roendo-lhe a carne, fedia. As mimosas mãos entrelaçadas nos seios, feridas em exausto.
... Meus lábios em magreza os encontrou, frio como o inverno, gelado como a defunta açucena, a pele enrubescia aos meus toques, a escuma verde era viscosa e o prazer como o falerno, a cada beijo que pregava-lhe nos lábios, a cada toque na tez amarela, era tudo o amor, o belo amor pedido. A noute foi comprida, adormeci sobre o cadáver de minha amada, ao dia os corpos quentes abraçados, a adormeci em seu leito, dei-lhe o beijo, saí:
Coveiro: - És por acaso um tunante de defuntos? Perguntou-me.
- Não vês que o peito arde de amor como o fogo do inferno? E a esp'rança estertora como tu'alegria? Disse-o.
- Segues meu senhor!

Foto de Damien

Sepulta-me

Eis me aqui de novo
à beira do precipício dormente,
sentindo o fardo que é estar vivo
e esperando a sentença iminente.

Tais como cicatrizes e marcas
deixadas por quem mal o trata
estão minhas púrpuras lágrimas
jorrando ardentes como brasa.

E expelem com tristeza o ódio
que com amor sexualmente se encaixa,
como prazer e pudor,
sangue e carcassa.

Sua presença é por mim desejada,
sua imagem, sua forma.
Ó dama fúnebre e amargurada
meus anseios seu semblante forja.

Se amá-la é uma punhalada, puro ardor
Não me permita agir de maneira errada
Traga à minha presença por favor
a dor da primeira estocada.

Pois o toque de seus lábios me acalma
como por encantamento ou magia imunda
A sete palmos solitária é minh´alma
como rosa negra em cova profunda.

As sombras consegue levar
em olhos que um deus não faria
mas pra mim não consegue olhar
Hei de novamente ser minha.

Meu amor sangrento e eterno
à jovem sonhada esgueira-se insano
Estes sentimentos, louvor, desalento,
jaz à luz de um dia profano.

Foto de Max Seridó

Iluminada

Quisera eu estar contigo
Viver tão desvairados delírios,
Estar além da terra, céu e mar
Deleitar-me nas delícias
Desse teu intenso e envolvente amor,
Tanto que parece querer-me
Como duas criaturas juntas numa só
E perdidas nessa paixão sem limites
Feito as nuvens no seu doce e suave vagar,
Sem destino pelo firmamento sem fim
Poder saborear-te com todo o meu desejo,
Todas as minhas forças,
Todo o meu amor, louco amor
Passar minhas mãos pelas tuas
Para serem apertadas como quem sofre
Mas não de dor, sofre de paixão,
Esse sentimento possessivo, cruel,
Maldoso, impiedoso, tirano,
E ainda assim conquistador
Paixão que se arraigou
Em minha mente, vísceras,
Dominou todo o meu ser,
Paixão desvairada,
Irresistível prazer !
Olho os teus olhos,
Vejo-os tão pesados,
Sua face como a de quem
Passa por enorme cansaço, exaustão,
Tua respiração continuamente ofegante
E tua boca parece querer falar-me e fala,
Não são palavras
Mas vozes da brisa que soa leve
Em meus ouvidos e minh’alma,
Eregindo meus pêlos,
Excitando meus nervos,
Despertando minha firmeza carnal,
Fico teso,
Então entro, me adentro,
Me aprofundo, me arrebento,
Não lamento, desalento
Que tormento
Entre ser você e estar a te imaginar
No tédio ocioso e perturbador da solidão
Ouço o vento, fico atento,
Me recordo, me contento
De nosso delicioso momento,
Ai que prazeroso sofrimento
Imaginar tua pele com a minha,
Tua boca com a minha
E tuas pernas alvoroçadas
Me abraçando, me apertando,
Querendo me engolir, devorar,
Estão famintas, sedentas
De amor pra dar
Em nosso leito, que deito, me deleito
Em teu peito e gozo
Satisfeito, contente,
Feito azul do céu resplandescente
Com a luz do sol nascente,
Assim é entre eu e você
Paixão que acende,
Amor que não pode se apagar

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