Corpo

Foto de Fernanda Queiroz

Tarde cinzenta

Tarde cinzenta

Como todas as outras
Mesmo quando o sol aparece, a derreter a neve
No ar paira a sombra da noite sempre presente.
O ar úmido penetra pelas frescas das semicerradas persianas
O cenário é o mesmo.

O que mudou?
Os sonhos se foram?
A espera findou?
Serei eu a protagonista
Do “E agora José”?
Sem roteiro e sem fé,
Sem canto, sem solo,
Sem saudade, sem colo,
Sem melodia, sem pranto
Sem o dia, sem o encanto.

O que mudou?
Rebusco na vida
O ponto de partida.
Relato o fato
Busco contato
Vago no espaço
Das cores o opaco
Do corpo a sombra
Que reside na penumbra
Dos dias....
Que não voltam jamais....

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

Foto de jeankarlos

HIPOCONDRIA ( JK INSANO )

Melancólicos são nossos passos em nossos caminhos estreitos.
Inseguros são nossos sorrisos em nossos rostos indefinidos.
Triste é tempo solitário e eterno dos nossos dias.
Escreveram com tinta preta em nosso peito “Hipocondria”.

Acrobáticos são nossos sonhos que duram alguns segundos.
O desanimo do nosso corpo é interminável.
O medo inevitável.

Depressivos são nossos ambientes, desbotadas nossas certezas.
Extensas são as frases negativas que podemos criar.
O melancólico depressivo é capaz sequer de amar.

E as nossas flores, as crianças, nossos amores e alegrias.
Guardamos numa caixa chamada “HIPOCONDRIA”

JK ( INSANO ).........................................................................

Foto de dayseduate

Carinhos e Carícias ...

Carinhos e Carícias ...

Em cada carícia, em cada olhar,
O desafio para mim é bem maior.
Cada vez mais eu te quero,
E mais e mais me sinto melhor...

Sem igual é o prazer que me dás,
Em cada beijo, em cada carinho.
Já não sei mais o que é realidade:
Se o meu ou se o teu caminho...

Teu beijo na minha boca a procurar,
Todos os desejos que em ti plangem.
Nossas bocas sugando o suave sabor
Do mel que nem as abelhas consomem...

Teus sussurros tão e sempre acariciantes,
Em meu ouvidos fazem minha pele arrepiar...
Por todo o corpo sinto tremores,
De tesão e de volúpias a desejar...

Em cada toque de tuas másculas mãos,
Um sorriso feliz tento eu esconder.
Quase em êxtase pareço anunciando,
Que o clímax vai agora acontecer...

Autora: Daisy Duarte

Foto de Sonia Delsin

AMO EM TI

AMO EM TI

Amo tuas mãos.
Pequenas fadas que deslizam no meu corpo.
Amo tua boca.
Sempre e sempre ela me deixa louca.
Amo tua voz.
Ela é gostosa e vai me penetrando.
A medida que ela vai entrando eu vou me despojando.
De todos meus receios.
Fico cheia de anseios.
Belo amor meu.
Amo em ti tua postura.
Tua formosura.
Tua alma pura.
Amo em ti o que tenho guardado.
De hoje, de ontem e lá distante...
Do passado.

Foto de DeusaII

Almas gémeas

Num outro tempo, num outro passado,
Fomos um só.
Nossos sonhos foram unos,
Nossos desejos inseparáveis.
Juntos éramos inquebráveis
E vivíamos num mesmo corpo.
Numa outra reencarnação,
Fomos almas gémeas
Que se perderam na correnteza da vida.
E seguiram caminhos diferentes.
Mas o destino chegou,
E uniu-nos de novo,
E no meio de um turbilhão de sonhos e pesadelos
Vivemos aos tombos,
Até que nossos pobres corações agonizados
Pelo decorrer dos dias,
Não encontraram mais paz um no outro e afastaram-se.
Nossos corpos, meros meios de transporte de nossas almas,
Perderam a magia e toda a razão de quererem permanecer unidos.
A força invisível que nos mantinha
Foi quebrada, e eles tornaram-se dois.
Nosso olhar perdeu também o brilho,
E começou a seguir direcções diferentes,
Até mais nada restar...
Apenas ficou um pó,
Escuro e opaco,
Que agora arde os meus olhos
E os faz chorar.
Neste tempo, nesta vida,
Não somos um só..
Mas ainda temos outras vidas para viver,
E talvez em alguma delas,
Nossas almas voltaram ao seu destino,
Percorreram o mesmo caminho,
E baterão de novo num mesmo corpo.

Foto de furriel

Morena

Morena chocolate
Teu brilho me chamou atenção
Teu corpo sem defeito, perfeito
Teu beijo deve ser molhado e doce
Teu pescoço puro veneno
Tuas curvas um delírio
Não demonstro, mas desejo senti-la em meu peito
Segurar-te com firmeza pela cintura
E levar com um sussurro minhas palavras ao pé de seu ouvido
Então te direi que te quero
E preciso sentir teu calor
Te nego interesse com atitudes,
Mas palavras não pouco em contar-te
Com isso espero um dia, que volte teus olhos para mim.
Não prometo vivermos amores
Pois desejo é o que agora arde em mim

Foto de Osmar Fernandes

Onde o sonho também morre...

Onde o sonho também morre...

Não há conforto em palavra alguma.
Não há tristeza maior que a despedida última.
Onde a dor não tem remédio.
Onde no sentimento ferido só há o tédio.
Onde o desespero não tem socorro.
Onde o sepulcro é o fim do corpo.

Não há pior partida a que de um morto.
Onde o adeus é para toda vida.
Onde o lenço não enxuga o choro.
Onde no coração fica a ferida.
Onde o luto é uma revolta.
Onde a vida fica para sempre morta.

Não há nada mais fútil que a morte.
Onde o sonho também morre.
Onde a graça da vida perde a sorte.
Onde a passagem... É uma incógnita.
Onde a saudade é o que fica e move
Um amor, que não se explica, nem se esgota.

(Texto que escrevi no dia que Deus chamou meu pai... Foi o dia mais triste de minha vida – 29/07/2000)

Foto de SonhoReal

Medo

Desencontrei-me da vida
Tornei-me sem medos louco
Por ti deixei-me
Entreguei, alma e corpo
Sem medo e pensamento
Sou inconsciente do amor
Todo o pensamento
Emergiu em sentimento
Não consigo conter dentro mim
Este indescritível
Apetece gritar loucamente
Explodir de sentimento
Sempre, sempre sem medo
Ódio não é contrario de amor
É pois o medo
Quem medo tem ,amor não transmite

Foto de Rozeli Mesquita - Sensualle

Espelho - Poema Resposta ao poema "Simples Assim"

Esse poema resposta é de autoria de Nellyra

A loucura de nossos corpos
Ainda se estampa na cama desarrumada
No cheiro do cio, no desejo vadio
No prazer da lembrança, já tão desejada

Com lábios entreabertos
Qual menina serelepe num grito proclama
Sou teu homem, teu olhar espelha
O prazer que adivinha, já deitada na cama

Que frescura amiudaria o calor
Que inflama o desejo, nua, vadia
Minhas mãos, o toque, teu sexo já umido
Aceita o prazer, na alcova a magia

Nos tocamos... libertos no prazer
Bocas se abrem, olhos se fecham, a alma acalma
Sem limite, padrão, nem restrições
Descobrimos um mundo de luz e de paixões

Meu cheiro te marca o corpo com meu gosto
E tu me invades pronta para amar
Excitada, faminta, loba descontrolada
A mim entregas teu desejo, a gana de gostar

Devassa em cárcere de amor confesso
Qual Cleópatra, me faz teu César
Submissa e louca, sempre amada por mim
É..."Nosso amor é simples assim!"

Foto de Osmar Fernandes

Promessa é dívida (Sexta-feira treze no cemitério...)

Promessa é dívida
(Sexta-feira treze no cemitério...)

Era meia-noite, sexta-feira treze. A noite estava escura e sem estrelas. O portão do cemitério estava lacrado. E Wilson e Eliezer, com as velas nas mãos, pensavam que pecados haviam cometido para estarem ali, naquele lugar.
Medroso, desconfiado e já arrependido, Eliezer, gaguejando, disse ao amigo:
— Sinto-me pesando uma tonelada e meia. Esse negócio de pagar promessa é bobagem. Já passamos de ano mesmo! Vamos embora, cara?!
— Não! Nós fizemos uma promessa e vamos pagá-la, custe o custar! Prometemos acender três velas no cruzeiro da igrejinha do cemitério e vamos cumprir o nosso juramento à Nossa Senhora. Lembre-se de que estávamos praticamente reprovados.
— Ah, mano, pelo amor de Deus! Vamos para casa! Estou com muito medo de entrar lá dentro. Alguma coisa me diz que isso não vai dar certo. Nossa Senhora vai entender, afinal como vamos entrar se o portão está lacrado com cadeado?
— Vamos pular o muro!!
— Pular o muro?! Você endoideceu, está maluco!
— Maluco! Maluco eu vou ficar se você começar a me irritar com esse papo. Pegue aquele pau ali e coloque-o, em pé, encostado no muro.
Ao encostar o toco junto ao muro do cemitério, as luzes todas se apagaram. Eliezer deu um grito... e pulou, abraçando o amigo:
— Não falei? Não falei? Vamos sumir daqui!
Wilson, corajoso, do signo de Leão, teimoso feito uma mula, respondeu-lhe:
— Se você repetir essa conversa mais uma vez vou amarrá-lo aqui neste portão e vou deixá-lo aí sozinho a noite inteira.
— Se você fizer isso comigo pode encomendar meu caixão, porque só de pensar nisso já começo a morrer agora.
Depois de tanta lengalenga saltaram o muro... Do local onde estavam até o cruzeiro tinha mais ou menos trezentos metros.
Eliezer quis segurar na mão do amigo, mas Wilson não o deixou. Começaram então a andar a passos lentos. Os dois, uniformizados, vestidos de camisa branca e calça azul, pareciam fantasmas... A cada tumba que passavam, Eliezer tremia e enrijecia todo o corpo, batia o queixo, dando a impressão de estar com a febre malária.
Dentro da igrejinha do cemitério um velhinho cochilava tranqüilamente. Jamais concordara com os filhos em morar num asilo. Por esse motivo, e sem ter onde morar, abrigava-se ali.
De repente, Eliezer tropeçou num túmulo e gritou:
— Valha-me Deus!!!
Wilson, imediatamente, tapou-lhe a boca e disse:
— Cala-te, infeliz, aqui é um lugar sagrado!
— Então não me solta, não me solta! Deixa eu segurar na sua mão?
E continuaram em busca do lugar sacrossanto.
O velhinho, seu Mané, como era conhecido, levou um susto com o grito. Nunca ouvira nada igual antes. Ficou agonizado e começou a tremer de medo e a pensar: “Meu Deus, o que foi isso?!”. Levantou-se do chão, olhou pela fresta da janela, e viu um vulto vindo em sua direção.
Eliezer teve uma idéia fascinante e falou baixinho no ouvido do amigo:
— Mano, nós somos dois idiotas, mesmo!
— Por quê?
— Vamos acender as velas, rapaz!
Alegre com a idéia, pegou o fósforo... Mas Wilson, mesmo tenso, lembrou-se de que a promessa era acender as velas no cruzeiro, não no trajeto do cemitério, e retrucou:
— Não faça isso! Se acendê-las agora quebrará a promessa. Não acenda as velas de jeito nenhum. Se fizer isso vou amarrá-lo aqui neste túmulo.
Seu Mané pegou seu rosário e começou a rezar... Apavorado, pegou um lençol branco e se enrolou, tentando se proteger. Mas, de olho arregalado pela fresta, imaginou:
“Meu Deus! Hoje é sexta-feira treze. Dia das bruxas! Dia de fazer despacho, macumba... Estão vindo me pegar”.
Os dois amigos estavam a dez metros da igrejinha. Seu Mané, vendo a aproximação fantasmagórica em sua direção, sentiu o seu coração disparar e soltou um Pum... O desgraçado soltou barro por todo lado, tinha mesmo defecado; mas o medo do fantasma foi tão grande que nem sentiu o mau cheiro, nem se deu conta de sua obra-prima. Não pensou duas vezes, abriu a porta da capelinha e saiu em disparada...
Os dois amigos, vendo esse fantasma desabar na frente deles, gritaram:
— Meu Deus!!!
Eliezer desmaiou ali mesmo. Wilson se escondeu próximo a uma tumba. Seu Mané, coitado, caiu desfalecido sobre uma sepultura. Wilson começou a rezar:
— Minha Nossa Senhora, tende piedade de mim e do meu amigo. A senhora sabe o que viemos fazer aqui. Imploro-lhe, por todos os santos que não deixe meu maninho morrer, é muito medroso.
E em seguida começou a rezar o terço...
Nossa Senhora, ouvindo suas preces, fê-lo dormir.
No dia seguinte, o sol já acordado... Como de costume, o coveiro veio zelar o cemitério. Ao se deparar com um corpo estendido ao chão, levou um susto: “O que é isto, meu Deus?! Mesmo acostumado a lidar com defuntos, suas pernas tremeram, mas, como era corajoso, tocou no corpo, que se mexeu e resmungou estranhamente... O coveiro exclamou:
— Credo em Cruz, minha Nossa Senhora!
O corpo perguntou-lhe:
— Aqui é o céu? O senhor é São Pedro?
— Que São Pedro! O senhor está doido? Quem diabos é você, afinal?
— Virgem Maria! Acho que vim para o inferno. E o senhor, então, só pode ser o Capeta, o Cão!
— Não! Aqui não é o inferno, nem sou o Diabo! Aqui é o cemitério da cidade, você não está vendo, seu idiota?
Somente aí se deu conta de que estava realmente na terra e insistiu:
— Então, quem é o senhor?
— Sou o coveiro.
— Então eu morri mesmo! E o senhor vai me sepultar. Valha-me meu Padim Ciço!
— Não, seu imbecil! Você não está morto! Morto não fala, não respira. Quem é você, rapaz? Como é seu nome?
Eliezer respirou fundo, já se acalmando, respondeu:
— Eu sou Eliezer! Sou estudante! O senhor viu meu amigo?
— Que amigo?
— O senhor não conhece o Wilson, o fotógrafo?
— Todo mundo o conhece, e eu também.
— Então! Ele veio comigo. E quero saber dele!
Eliezer, já de pé, viu um corpo estendido mais adiante e, de supetão, gritou:
— Olha, olha lá, seu coveiro! Eu não lhe falei que ele veio comigo?
Correram até o corpo e, ao chegarem bem próximos, Eliezer, assustado e confuso, não entendeu nada e falou para o coveiro:
— Esta coisa gorda e “cagada” não é o Wilson.
O coveiro ficou de cabelos em pé. Desenrolou o lençol e viu que era um senhor idoso. Acordou-o e indagou:
— O que o senhor está fazendo aqui, todo podre desse jeito?
Ainda meio perturbado, este lhe respondeu:
— Sei lá, moço! Eu estava aqui, dormindo no meu cantinho, quando vi uma assombração querendo me pegar. Saí correndo e caí.. É tudo que me lembro.
O velhinho tomou banho numa torneira ao lado da capelinha... O coveiro, ainda nervoso, continuou interrogando-o:
— Em que cantinho você estava dormindo?
— Na capelinha.
— Ah! Então você é o fantasma do cemitério? Seu safado! Seu velho caduco!!!
— Não, senhor! Pode parar com isso! Respeite-me. Apenas não tenho para onde ir. Ninguém me aceita, nem mesmo meus filhos, que trabalhei tanto para criá-los. Agora não venha o senhor me dizer essas asneiras, não! Nunca assustei ninguém, nem tive essa intenção.
Eliezer procurava o seu amigo, e de repente gritou:
— Seu coveiro! Hei! Hei! Aqui está o Wilson, o meu amigo. Eu não lhe disse que ele tinha vindo comigo?! Venha ver, corre! Corre!
E de fato lá estava ele, ainda dormindo, estendido ao chão. Os dois chegaram bem próximos dele e o seu Mané gritou:
— Sangue de Cristo tem poder!!!
Wilson acordou agoniado e, assustado, falou:
— Eliezer, cadê as velas?
— Estão aqui.
— Vamos pagar logo nossa promessa!
Seu Mané e o coveiro fizeram as pazes e seguiram com os dois amigos até o cruzeiro. Acenderam as velas e fizeram orações agradecendo à Nossa Senhora por terem passado de ano. Depois, foram até a casa do coveiro, tomaram o café da manhã e contaram-lhe toda a história...
Seu Mané prometeu para o coveiro que iria procurar o asilo dos velhos naquele dia mesmo.
O coveiro conta esta história para todo mundo até hoje.
Os dois amigos ficaram felizes, e nunca mais brincaram com o estudo. Passaram a ser os alunos mais estudiosos do colégio. E para todo mundo Wilson alertava:
— Promessa é coisa séria. Só prometa uma que possa cumprir, por que promessa é dívida.

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