Cordões

Foto de Allan Dayvidson

PROJETO

"Meu desejo não é pela diferença ou pela indiferença, pela desordem ou uma nova ordem... Mas pela pura e simples espontaneidade..."

PROJETO
=Allan Dayvidson=

Vestiram-me dos pés a cabeça e disseram qual cor melhor me caía;
Cortaram meu cabelo do modo certo;
e mostraram-me em quais lugares me esconder.

Mandaram-me esperar a deixa enquanto editavam o que eu sabia;
Mantiveram-me sempre por perto;
E assopraram em meu ouvido o que dizer.

E nada disso me seduz...
então, será do meu jeito.

Não precisa repetir,
ouvi em alto e bom som.
Mas não pretendo ser novamente seu protótipo,
seu projeto de ajustamento

Fizeram uma cela para meus pensamentos;
Elegeram os mais aceitáveis comportamentos;
Decidiram um limite modesto para meus inventos.

E tudo isso só me reduz...
sufoca e viola meu peito.

Não se atreva a repetir
e não peça que eu modere meu tom.
Porque não pretendo caber em seus estereótipos,
seu projeto de confinamento...

Sei que estamos até certo ponto presos no embaraço das relações,
e atravessados por tantos e os mais diversos comprometimentos,
mas é preciso tecer outras pontas nestes cordões.

Disseram-me o que apreciar e como me divertir;
Escreveram em minha ementa, quem e como eu poderia amar...

E tudo isso só me restringe...
Ao menos, esta tem sido minha desculpa.

Não precisa repetir...

Foto de Marilene Anacleto

Fios da Vida (Imagem - Inspiração)

Entre as mãos,
A circular os dedos,
Cordões encantados.
Diante da vida
Escolhas com esmero
Caminhos arriscados.

Entre as mãos,
Caminhos perfeitos
Não quero mudá-los.
Na trama da vida
Quero ficar no centro
Mas preciso arriscar-me.

Caminho incerto,
Dono dos meus ais
Traz-me experiência
No momento certo
Em que eu invocar
Deus e sua presença.

Volto ao centro das mãos
Caminho por sobre os fios
Apoio-me no meu centro
Decido com o coração
Ouvir o canto dos rios
Ouvir-me a partir de dentro

Surgem palavras poéticas
A procurar liberdade.
A aventura contamina
Sem rima e sem métrica
Encontram a felicidade
E querem sair da linha.

As estradas equivocadas
Não deixam olhar para trás
Procuro um novo fio
Pois a todos sou ligada
Pus-me a criar e curar
Danço, escrevo, sorrio.

Encontro novos amigos
E vêm novos sentimentos
Sem o medo dos vazios,
Por palavras colorido
Riqueza de pensamento.
Contemplo assim, encantada
Nas mãos, os meus ricos fios.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Desapaixonado

Existem pessoas no mundo que passam a vida inteira sem ter uma paixão sequer. Se este for seu caso, vá procurar coisa melhor que se faça, ou caso contrário vai se entediar com a história que contarei agora. Citado aqui como homem, masculinamente, o Desapaixonado sempre fazia questão de gabar-se dessa condição. Era assim o modo com que se relacionava com as pessoas a sua volta, ou o imaginava.

O Desapaixonado vivia emoções fortes, gostava delas, talvez pelo fato de nunca tido experimentado uma paixão de verdade, fosse por gente, coisa, ou animal. Gostava de encarar riscos. Não era do tipo sentimental. Mesmo assim tinha lá os seus momentos de alguma fraqueza. Um dia, um tanto distraído, pensou até em chorar. Em outro, mais deprimente ainda, até em sorrir.

- Eu tenho coisa melhor pra fazer! – pensou alto, já entretido por um desses afazeres mundanos que se esquecem rápido.

O Desapaixonado era heterossexual no sentido sexual da palavra. Ele achava que mulher tinha um gosto bom, que era um produto liso e macio. Quem sabe, poderia amar uma por usucapião. Gostava também da sua família, que nunca havia lhe deixado passar por necessidades, ou, pelo menos, nunca o deixara tomar-se conta do mesmo. A perda dos pais doía por ser desvantajosa no sentido financeiro da palavra. Mas por outro lado, o Desapaixonado tinha bom discernimento, sentindo algumas vezes saudades daqueles velhos ingênuos, babacas. Até que não tinham sido tão ruins para dois pobres coitados. Os outros parentes, irmãos, tios, primos, já não o interessavam, como parte de um passado inglório que devia ser esquecido.

Mas, como era de se esperar, certa vez o Desapaixonado passou por um grande apuro. Quase morreu, mas diriam os mais íntimos que vaso ruim não quebra. O homem, então seguro das suas certezas, viu-se estremecido pelas veias que carregam seu sangue pelo corpo que tinha ganhado ao nascer. Sentia-se enfim vulnerável. Sentia-se enfim vivo! O medo que antes atrapalhava seus planos, agora os atormentava, os colocava em choque com sua liberdade. As amarras eram seu motivo para buscar a redenção. Então veio o arrependimento.

O Desapaixonado, na sua razão solitária, nunca havia enxergado de verdade o que se tem de bom nas suas limitações, que esses seriam os cordões da sua catapulta, arremesso ao real, que é triste sim, mas mordaz. Viu que se não amassem aqueles no seu entorno, não os considerasse, tudo o que havia feito na sua existência não teria sentido. E, com a vertigem de um grego, pulou no precipício de se alcançar a felicidade. Desnecessário dizer que quebrou a cara no chão, mas com um sorriso provocador de quem sabe o porquê dos sacrifícios.

Foto de Marilene Anacleto

Distância

Mesmo se longe estamos
Estás sempre em meus poemas
Passem meses, passem anos.

Ora és face da lua
Ora olhos do sol
Ora a carta-folha da rua

Às vezes, bailado de árvores,
Em outras, o cheiro da grama,
Bem como o olhar do lago.

Tudo me traz os momentos
De intensa sintonia,
De enlaces em harmonia.

Lembro as cirandas de abraços
Nas tantas rodas dançantes
A coreografar com os braços.

Às vezes me surpreendes muda
Clarão do raiar do sol
Estranhamente desnuda.

Então a vida acontece
À luz da dança divina.
Com cordões de borboletas

No jardim das flores raras,
Os corpos e almas anima.

Marilene Anacleto
18/02/00

Foto de maria guimaraes

CHUVA PERFUMADA

CHUVA PERFUMADA

Há uma chuva risonha caindo dentro de mim...
Perfumada, macia, encantada...
Minha alma ri, brinca com os pingos da chuva
Que caiem lá fora...
Pérolas... cordões de diamantes...
Beleza sem fim.
O sol está com ciúmes,
Esconde-se, teima em não aparecer,
Tal é a luz que vê dentro de mim...
Leio um poema, poeta só meu...
Riu-me como uma criança,
Tenho mais que o mundo...
Tenho-te...
Com quem sempre sonhei,
E ao acordar estavas lá...
Real como eu te imaginei...

SONHA COMIGO

Sonha comigo, ainda que o sonho
Seja uma mentira, sonha comigo...
Sonha que há purpurinas na noite
Em que me amarás...
Sonha comigo, no lado de lá da vida,
Imaterial, como uma nuvem, um elemento...
Sonha comigo, enquanto vês
Um quadro de Van Gogh
Ou uma escultura de Rodin,
Sonha comigo, com risos abertos na madrugada
Do sonho, com cânticos
Que nunca ouviste mas saberás inventar...
Sonha comigo, quando o sol
Tomba no poente, e te doira o olhar
Perdido no tempo...
Sonha comigo, quando já não
Há mais nada em ti com que sonhar...
Sonha comigo...

PENSANDO EM TI
Lentamente abro as cortinas da janela,
Que dá lá para fora. O sol bate no muro branco,
As sombras das arvores dançam na sua brancura...
O céu está imensamente azul,
Um par de rolas namoram além...
E eu fico aqui olhando o nada,
Pensando em ti...
Penso em palavras que dissemos,
E outras escondidas nas metades das que não dissemos...
Penso em risos, e olhos a brilhar...
Em ficarmos parados, calados,
Como que a definir sentimentos,
A criar uma corrente que atravessa
Os nossos pensamentos...
Depois, falamos e lembramos tempos, coisas...
Fico aqui a ver o sol, e as folhas das arvores
Desenharem sombras, no muro branco...
E perco-me na memória do tempo, e em ti....

LENDA

Há um vento sibilante entre as fragas.
As ondas trazem consigo as algas
Verdes que se espalham pela praia.
Olhando o mar, sento-me aqui e espero.
Espero como Penelope esperou Ulisses,
Tecendo o manto de palavras não proferidas, adiadas...
O sol caminha para o ocaso,
Nostalgicamente belo, esplendoroso...
O dia caminha para a noite, e eu, como Penelope,
Desfaço o manto de palavras que urdi
Neste dia que chega ao fim.
Amanha, recomeçarei, e noutro dia,
E noutro , infinitamente,
Com os olhos presos no horizonte da vida,
Esperando acabar de tecer este manto
De palavras, para um dia te oferecer...

GUARDA EM TI...
Guarda em ti tudo o que trazias quando nasceste,
E os Deuses, e as fadas te fadaram, e predisseram...
Guarda em ti, a fala da cigana que te sinou...
Guarda em ti o coração antigo da sabedoria,
Da vontade, e da razão.
Guarda em ti também o coração novo,
Do homem nascido em ti,
Que ri, que brinca, que sonha...
Guarda em ti, todos os rituais antigos,
Que os Deuses te ensinaram...
Guarda em ti, as lagrimas como pérolas,
Que só o coração puro pode doar...
Guarda em ti, a força da vontade, e do querer.
Guarda em ti, como dádiva
Divina, o riso, o amor, e o sonhar...

Foto de Marta Peres

Cigana

Cigana

Grande roda formada,
Violinos
Ciganos prontos para a dança.
Toque de melodia no ar
pares a dançar
e ela chega,
bela,
cabelos negros,
presos por rosas vermelhas
nos lábios o carmim.
Os violinos afinados e compassados
Com rimas e cordões...
Ela dança freneticamente
E todos embevecidos,
Ali parados, extasiados
Admirando a bela cigana.
Jovem apaixonado
Dela não desvia o olhar,
Tenta entrar na roda
Com ela quer dançar...
Cigano observa tudo,
Cego pela raiva
Cerra os punhos,
Ela tudo vê,
Coração pulsa forte
Querendo pular do peito
Ciúmes,
Um tiro ecoa no ar
Nada pode fazer,
Silêncio,
Não se ouve mais a canção
Apenas um grito tudo emudece
E uma procissão muda começa
Ritmo fúnebre,
Taças quebradas
E o vinho derrama a cor de sangue.
Bela cigana chora
E seu pranto é dorido
Pétalas caem dos seus cabelos
Em desordem,
O sorriso murchou nos lábios
Apenas cinzas restaram...

Marta Peres

Subscrever Cordões

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma