Condenados

Foto de Diario de uma bruxa

ERRAR É HUMANO

Errar é humano
A vida é tão difícil, tão complicada. Fazemos escolhas, tomamos decisões, muitas vezes sem pensar, achamos que estamos fazendo certo, mas depois é tão difícil acompanhar, ficamos sem saber como viver... Temos que aprender.
Se pudéssemos voltar atrás, mudar tudo... se tivéssemos outra chance, faríamos diferente! Ou erraríamos novamente.
O se humano tem o dom de errar, mas dizem que errar é humano... Por isso erramos, e nos justificamos nesse dito popular.
Somos tão complicados que nos apoiamos em justificativas tolas, temos que aprender com os erros, assumi-los e corrigi-los se possível. Assim poderemos conviver com os nossos erros, sem sermos apontados e julgados muitas vezes até condenados por erros banais.
POEMA AS BRUXAS

Foto de sofiaclarisse

ESTRANHO HOJE

ESPEREI TANTO ESTE INSTANTE,
EM QUE O SENTIMENTO,
BRUTO COMO UM DIAMANTE.
QUE, MAIS ADIANTE,
É LAPIDADO
E CADA SENTIR,`
À LUZ EMERGE
E FAZ REFLECTIR,
CADA VEZ MAIS LONGE
E REFINADAMENTE,
A VERDADE
DOS OLHARES PENETRANTES
CHEIOS DE MENSAGENS
QUENTES E BRILHANTES.

VIESTE MAIS BELO DO QUE NUNCA,
SE ISSO É POSSÍVEL,
MEU ADÓNIS DE TEZ MORENA,
TEUS OLHOS DIÁFANOS NOS
OLHOS MEUS.

REPENTINAMENTE,
SEM DEMAIS DELONGAS,
TUDO SE APLACOU.
ATROPELÁMO-NOS
SEM QUERER SABER
QUE DEPOIS DISSO
IRÍAMOS SOFRER
COMO CONDENADOS
DESTINADOS A VIVER
MALTRATADOS,
TROCANDO DISSABORES
E RANCORES,
NÃO SEI ONDE PLANTADOS
E AGORA DESENTERRADOS
ESPALHADOS PELO CHÃO
DA DOR.

SAÍ E TU NEM OLHASTE,
NEM SEQUER ME BEIJASTE.
ABRISTE A PORTA
PARA QUE SAÍSSE,
COM O DESEJO PRENHE
DE QUE NUNCA MAIS VOLTASSE.

OLHEI UM POUCO PARA TRÁS
MAS EM SAL ME TRANSFORMASTE.
PARTI A CHORAR.
SEI QUE O TEU OLHAR
NEM ME SEGUIU
COMO ERA HÁBITO,
DE TÃO FERIDO
QUE FICASTE.

Clarisse.

Foto de LUIZ NEVES

ESPIRITUALIDADE

ESPIRITUALIDADE

Partindo da idéia de que cada religião tem a sua verdade e importância, por que não ser, então, todas religiões verdadeiras? Vamos ver: ____Segundo as Testemunhas de Jeová existe o céu e nele estará reservado um determinado lugar para uma quantidade escolhida de simpatizante da tal religião, ou seja, alguns viverão no paraíso, enquanto que outros estarão renegados a um lugar menos apropriado.

Os Católicos dizem que o corpo morre junto com o espírito, que vira cinza e fica a espera da ressurreição para no fim, os condenados irem para o inferno {queimar no fogo eterno}; os bons irão para o paraíso.

Os muçulmanos esperam o fim do mundo e, será recriada uma nova terra para eles {a terra prometida}. É, talvez, a religião que se registra mais fanáticos.
O Candomblé absorve a idéia de que o espírito se liberta do corpo e sobrevive numa outra esfera, volta mais tarde num outro corpo, uma espécie de reencarnação.

A Doutrina Espírita diz o seguinte: ____O corpo morre, o espírito é eterno e reencarna diversas vezes até chegar a um aperfeiçoamento espiritual. Diz o espiritismo que fazemos por merecer o nosso sofrimento e, ou a nossa felicidade; construímos e, possivelmente, destruímos nossa estrada, tornando assim a estadia mais ou menos aprazível aqui na terra.

Suponhamos que todos estejam corretos, que tudo o que acreditam realmente virá acontecer, por que não? Ora, Deus é ou não é um ser que tudo pode? Então vejamos que seja realmente dado a cada crença, o poder de fazer realizar-se o desejo de cada um. Se as Testemunha de Jeová acreditam na terra prometida, por que Deus não pode conceder a tal terra prometida? Por que existir uma só verdade, se na verdade, ninguém conhece realmente nenhuma? Os seguidores de Alá podem seguir o caminho que achar verdadeiro, por que não? Acredito que Deus, na sua sapiência, concede ao homem o poder de fazer existir o que imagina existir; para não desagradar a nenhum, ele liberta a imaginação do homem. Ele nos concede uma espécie de Universo paralelo, cada crença determina o caminho para o seu rebanho. Deus faz com que imaginemos o paraíso, o inferno, o fim do mundo!

Na verdade, quem criou tudo isso, transforma cada religião numa única salvação para os seus seguidores, portanto, existem neste universo, lugares para todos, todo tipo de verdade mesmo não sendo a verdade dos outros a nossa verdade.

Agora vejamos: ___Alá, Jeová, Maomé, Cristo, Buda e, ou o Espírito Santo, não importa, todos estavam certos, para cada religião uma realidade; uns vão para o inferno outros para o céu a depender da religião.

Assim, acreditando nos desígnios, cada um segue seu caminho a procura da paz, da perfeição de uma eternidade ao lado do seu criador. É a criatura buscando uma identidade.
É assim o condicionamento espiritual do ser humano, sabemos que a verdade é uma nota desafinada e que ninguém saberá tocá-la perfeitamente; sabemos que o Deus que criamos foi o mesmo que nos criou e, fez de nós, prisioneiros de uma sensação única que intimamente chamamos “vida”. Na realidade é tudo uma fantasia, tudo uma busca fútil que no final descobriremos.

Sigamos então o percurso que melhor nos fizer bem, não importando muito se isso ou aquilo esteja fora do contexto de outras pessoas; buscamos apenas a felicidade e a paz do espírito.

LUIZ NEVES

Foto de pttuii

Lerá você a falta que lhe faz?

A ser o nosso não lugar nalgum lado,
Chamar-se-á utopia,
Sobre a imaginação vive quem espera,....

Ousarão saber onde
estão quem está aqui
só por a ciência o permitir,
Não se sabe,....

Mudar é transformar
sem factos que
namorem a estagnação,
Que estagnem os que
para a frente mudam
sem transformar a sombra
que derretem,,....

A mais do que isto,
estaremos condenados
no Gólgota,.
Ou a via sacra de
quem não tem biblioteca organizada,....

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"CORPOS NUS, ALMAS APRISIONADAS"

“CORPOS NÚS, ALMAS APRISIONADAS”

A grande necessidade de exposição...
Leva a uma alegria artificial...
Quando se tranca os anseios do coração...
Transitas em um mundo virtual!!!

O excesso de glamour...
Empobrece a verdade...
A tristeza pela falta de amor...
Condena-te a superficialidade!!!

Pobres fantoches monitorados...
Condenados a recitar modismos...
Marionetes amarrados...
Pelo laço do egoísmo!!!

O desespero pelas palmas...
A suplica pelo brilho...
O enclausuramento da alma...
O riso estridente no vazio!!!

Foto de Luiz Islo Nantes Teixeira

A FESTA DA PIZZA

FESTA DA PIZZA
(Luiz Islo Nantes Teixeira)
Baseado no Hino Nacional Brasileiro

Ouviram pela nacao os choros das maes entristecidas
E os pais com seus coracoes nas dores agonizantes
E a mancha da impunidade, em passadas atrevidas
Brilhou no ceu de nossos dias em todos os instantes
Se o temor dessa criminalidade
Sentimo-nos cativos pela mafia forte
Em teu seio , o impunidade,
Sera ferido nosso peito por qualquer tipo de morte

Ó Patria abandonada,
Maltratada,
Chora! Chora!

O Brasil, um pesadelo intenso, um raio apagado
De temor e de desesperanca a terra gira
Se em teu perigoso ceu, tristonho e palido
A imagem do Cruzeiro ja nao brilha
Gigante pela propria natureza
Es duro, es temivel, impavido e perigoso
E o teu futuro espelha um prato de pizza

Terra ensanguentada
Entre outras mil,
Es tu, Brasil
O patria abandonada!
Dos filhos deste solo es cruel e vil
Patria abandonada
Brasil!

Derrubado eternamente em berco de sangue
Ao som de tiros que atravessam o ceu profundo
Criticas, o Brasil, o vilao da America,
Chegam de todo as partes do mundo!
Do que a terra mais sofrida
Teus tristonhos, grandes campos tem tantas dores
Nossos bosques enterram-se a vida
E em nossa vida perdemos nossos amores

Ó Patria abandonada,
Maltratada,
Chora! Chora!

Brasil, da dor da perda seja livre
O braco da justica alcance os culpados
E diga a todo o povo calado e triste
Paz no futuro, e cadeia para os condenados
Mas, se ergues da justica a clava forte
E convoca uma reuniao para uma festa da pizza
O Brasil continuara nesta agonizante morte

Terra ensanguentada
Entre outras mil,
Es tu, Brasil
O patria abandonada!
Dos filhos deste solo es cruel e vil
Patria abandonada
Brasil!

Globrazil@verizon.net
http://www.islonantes.com/

Foto de JGMOREIRA

CHUVA-CRIADEIRA

CHUVA-CRIADEIRA

A chuva dos anos amainou as chamas
Que crepitavam em meu coração.
Do incêndio que devorava cada ato
Restaram fagulhas que alumiam o passo
De quem anda cauteloso admirando vulcão.

À medida que chovem anos
Os montes se tornam planos.
O ar menos denso de fumaça
Deixa ver o que a mim negava
O fogo que ardia meus sonhos.

Na pressa louca dos condenados
Corria afoito por fora dos dias
Executando a foice meu tempo
Sem deter o golpe um momento
Para ver que não havia ali misericórdia

Passei em chamas pelos amores
Ardendo em fúria, atropelei a paixão.
Exalando fumaça ignorei os sinais
Que a vida acenava prevendo os ais
Que suspiraria no tempo da compaixão.

Não via os sinaleiros se desesperando
Com suas bandeiras acenando perigo
Passava ao largo de tudo, sem medo
Sempre era constante, nunca era cedo
Deus era vogais e consoantes de abrigo.

Quando choveu anos em minha vida
As chamas reclamaram comburente.
Era o tempo derramado nos dias
Reclamando quem dele se aproveitaria
Já que não havia nada de urgente.

Enquanto os anos desabam na cabeça
Num chuvaréu que não termina
Vou caminhando calmamente
Apreciando o homem virar gente
Admirando vulcões explodindo cinza.

Foto de Dirceu Marcelino

ESTÓRIAS QUE SE REPETEM

“ESTÓRIAS QUE SE REPETEM”.

Este conto se baseia na estória de “Eros” e “Lara” e de “Marcílio”, os dois primeiro personagens fictícios de nossa poesia denominada Súplica.
As estórias de “Eros” e “Marcílio” podem ser comparadas a do francês Jean Genet .
Sabe-se que “Genet nasceu de uma união ilegal. Sua mãe abandonou-o na primeira infância, tendo sido criado até a adolescência por uma família substituta e depois teria passado alguns anos em orfanato do governo, em Paris. Sempre se sentiu ‘um enjeitado’, pois seus irmãos adotivos o chamavam de ‘bastardo’, consideravam-no “ovelha negra” da família, a quem imputavam os atos mal feitos que fizessem e consta até que fora vítima de violência sexual”.
Aos poucos até os demais membros da pequena comunidade passaram a lançar-lhe a responsabilidade de todos os atos anti-sociais que aconteciam na localidade e passaram a chamá-lo de “ladrão” e “homossexual”. Desse modo, não tendo pai, não mantendo contatos com a mãe, sem ninguém com quem se identificar, foi assumindo a única identidade que poderia internalizar.
Porém, nosso personagem “Eros”, apesar de ter estória muito parecida com a de Genet, ao contrário, tinha pais e vários irmãos. Aliás, estes se destacavam no pequeno vilarejo em que moravam por serem trabalhadores, construtores de “calçadas de pedrinhas”. Eram muito requisitados para fazer seus serviços e “Eros”, com cerca de quatorze de idade podia ser visto acompanhando-os quase todos os dias pela manhã quando a família saia para o serviço diário e só à tardezinha retornava para casa.
Ao entardecer observa-se que “Eros” se associava ao grupo de adolescentes do bairro, pequeno grupo da vizinhança, grupo de amigos, autênticos. Passava a gozar dos folguedos juvenis típicos daquela região e sempre terminavam as brincadeiras em “peladas de futebol”. Após as mesmas, permaneciam por algumas horas conversando, raramente seu grupo mantinha contatos com meninas, apesar de que nas proximidades e no mesmo horário formar-se outro grupo de moças.
O primeiro dos adolescentes que passou a se associar com as moças foi “Eros”, que logo começou a namorar uma delas, a mais bonita por sinal – “Lara”. Esta aos dezesseis anos se destacava por sua beleza. “Eros” também era um rapaz bonito e logo começou a namorar “Lara”, um casal lindo de namorados e inseparáveis. “Lara” engravidou e apressou-se o casamento que sequer havia sido programado. Casaram-se e passaram a morar em uma casa doada pelos irmãos de “Eros”. Tiveram um casal de filhos, duas crianças que se destacavam por sua beleza e gentileza.
No mesmo período em outra pequena cidade vizinha eis que surge - “Marcílio”. Também, ao contrário de GENET, tinha pais. Mas eram ambos sexagenários. Alguns dizem que essa é uma grande dificuldade de pais que concebem muito tardiamente, pois quando alcançam a terceira idade já não tem energia suficiente para cuidar dos filhos adolescentes e acompanhá-los nos primeiros anos e após atingirem a maioridade. Parece-nos que foi o que aconteceu com “Marcílio”. Não teve o privilegio de ser assistido por seus pais já idosos, na sua infância e adolescência.
Mesmo sendo um belo rapaz, ao contrário de “Eros”, não se interessou por namoradas. Ao contrário, diziam que se interessava por rapazes. Apesar desses comentários na realidade nunca ninguém comprovara tal fato. Destacava-se no colégio onde estudava por ser inteligente e vivaz. Logo começou a ser chamado pelos colegas adolescentes de “Marcília”. Percebeu-se que não se preocupava com essas difamações, e aos poucos foi assumindo essa “identificação diferencial”. Como Genet assumiu a identificação de homossexual.
Porém, mais grave do que a assunção dessa identidade foi o fato de “Marcílio”, num mecanismo de fuga e evasão, passar a fazer parte de outro grupo pernicioso, uma “gangue” de usuários de drogas.
Talvez, tenha passado a associar-se a este grupo inconscientemente, induzido pelo casal que praticamente o adotou, fazendo-nos lembrar do slogan que hoje vemos afixados nas traseiras de ônibus caminhões e em alguns locais públicos:

“Adote seu filho, antes que ele seja adotado”.

“Marcílio” após ser adotado pelo casal, de alguma forma começou a se relacionar com outros jovens, pessoas de outra cidade, maior e próxima, e prosseguindo naquele mecanismo de busca de identificação, e de evasão, passou a fazer parte de um grupo formado por pessoas de fora do circulo familiar e da comunidade local, membros clandestinos, ocultos, que compareciam à pequena cidade para adquirir alguma coisa que só o “respeitável casal” comercializava muito livremente, pois além de vendedores de roupas – mascates – também eram respeitáveis no círculo dos ricos, dos mais abastados, pois moravam em uma das mais belas casas da pequena cidade e assim seus relacionamentos se estendiam aos altos círculos sociais.
Provavelmente, os pais legítimos de “Marcílio” gostaram do interesse do casal por seu filho, mesmo porque além de morar bem, do aparente sucesso material o varão exercia respeitável cargo público.
Com bom grado deixaram que “Marcílio” com eles permanecesse, trabalhasse, até morasse. Pensavam que ele trabalharia no bar, dormiria na casa do casal, mas na realidade o jovem passava os dias no bar, no recinto de jogo e à noite passava ao relento a perambular pela outra cidade vizinha, a “trotoir” pela praça e pelas ruas quase desertas até o amanhecer.
Ainda que se resumisse à jogatina ou a promiscuidade sexual o casal de velhos não teria muito com o que se preocupar. O problema era ainda mais grave. “Não percebia o velho casal que seu filho passava por problemas individuais que ‘induzia-o’ à fuga e ao refúgio no consumo de estupefacientes e ao cometimento de infrações conexas”
Aos poucos o respeitável casal que o “adotou” começou a utilizar “Marcílio”, para outros comércios que faziam além das vendas de roupas, que ofereciam para seus clientes de casa em casa.
Percebeu-se então que era um comércio clandestino e ilegal quando alguns cheques emitidos pelo casal foram objetos de registro de boletim de ocorrência na delegacia de polícia local e nas investigações procedidas constatou-se que apenas a assinatura era verdadeira, as demais escritas eram todas falsificadas. O casal dono do cheque, mesmo prejudicado desejava apenas resgatá-los, mas de forma alguma queriam que fosse aberto inquérito. Pois diziam que não pretendiam responsabilizar o adulterador, pois este era “Marcílio” “seu filho adotado” que já tinha naquela ocasião algumas passagens nesta mesma delegacia, por pequenos furtos e não pretendiam prejudicá-lo ainda mais. Por que será?
Ninguém sabia o que estava acontecendo, pois, geralmente, esses atos anti-sociais são imperceptíveis aos que não conhece a subcultura da localidade.
No seio dos grupos secundários que se interligam de modo imperceptível, através de um mecanismo de “transmissão cultural”, “alimentam uma tradição delinqüente com o seu peculiar sistema de valores anti-sociais, que se transmite de uma geração de residentes à seguinte”.
Na realidade “Marcílio”, não era apenas um pequeno delinqüente, hoje reconhecemos, também era vítima. Vítima tão culpada quanto aos delinqüentes traficantes de drogas. Durante as investigações dos estelionatos praticados por “Marcílio”, percebe-se que ele usava apenas camisas de mangas longas, com o propósito de esconder as inúmeras marcas de picadas intravenosas nas dobras dos cotovelos.
Mas como de fato cometera delito de estelionato, foi indiciado em Inquérito Policial e respondeu ao respectivo processo criminal.
“Marcílio” até então conhecido como “homossexual”, agora, também, passou a ser considerado “toxicômano” e “ladrão”. Embora a comunidade local o rejeitasse como sempre, surgem não se sabe como, pessoas abnegadas que espontaneamente oferecem ajuda nas horas de desespero e assim com colaboração de representantes de uma grande indústria local, conseguiu-se sua internação na instituição especializada na recuperação de toxicômanos.
Lá permaneceu por algum tempo nesta instituição, esperando o julgamento do mesmo processo a que respondeu, sendo condenado, foi recolhido à Cadeia Pública da Comarca, para cumprimento da pena de um ano e quatro meses de reclusão. Permaneceu recolhido no regime fechado até ser beneficiado com progressão para o regime de prisão albergue e passou a pernoitar na casa de albergado.
A Casa de Albergado era uma das poucas existentes, que pouco a pouco foi desativada, como as demais.
No mesmo período em que “Marcílio” permanecia internado, o “respeitável casal” que o adotara, também, foi preso, em flagrante por tráfico de entorpecente e ao final condenados as penas de três anos.
A “Respeitável Senhora” depois de um mês de reclusão na cadeia local foi transferida para uma Penitenciária Feminina do Estado. Lá teve algumas dificuldades de relacionamento com as demais reclusas, em face de ser esposa de funcionário público. Porém, com apenas nove meses de reclusão ela foi beneficiada com prisão albergue domiciliar e retornou para sua casa.
O “respeitável Senhor”, também, beneficiado com prisão albergue domiciliar, permaneceu preso apenas por um ano e dois meses.
Atualmente, ambos vivem felizes na mesma casa e continuam a ser respeitados na pequena comunidade. Consta que não reincidiram.
Ocorreu que, enquanto o respeitável casal saía do sistema prisional, logo depois, “Marcílio” ingressava, justamente, em razão daquele cheque adulterado cuja vítima era a “Respeitável Senhora”, pois fora condenado por estelionato.
Neste mesmo período Eros deu entrada na mesma cadeia em que estava recluso Marcílio, chegando a morar por pouco tempo juntos na mesma cela. Em razão disso saberemos a seguir o que acontecera com Eros.
“Eros” e sua bela mulher, também eram fregueses do respeitável casal e, provavelmente, além de roupas compravam outras “mercadorias”.
Logo a toxicomania de “Eros” o subjugou.
Inicialmente, por não conseguir acompanhar seus irmãos no trabalho de construção de calçadas, passou a ter dificuldades financeiras para suprir as necessidades da família e, provavelmente, para adquirir as substâncias entorpecentes de que necessitava, então passou a praticar pequenos furtos. Logo foi indiciado em inquérito. Mas sua primeira prisão ocorreu por porte de entorpecente. Tal infração era afiançável, porém, como nenhum de seus familiares se prontificou a pagar o valor arbitrado, chegou a ser recolhido à cadeia pública.
Consta que nessa oportunidade um dos presos, também oriundo da mesma comunidade, tentou seviciá-lo sexualmente e por resistir com afinco aquele não conseguiu seus intentos. Saiu da cadeia, invicto, mas marcado por uma das mazelas da prisão. Ainda dizem que a cadeia regenera, não foi essa primeira experiência de “Eros” o suficiente para ele.
Pouco dias depois, novamente ”Eros” foi preso por violação de domicílio. Desta vez, consta que o presidiário “Bárbaro” investiu sobre ele com intenções inconfessáveis e para resistir ele fingiu que estava tendo um ataque convulsivo, inclusive, espumando pela boca. Nesse estado foi socorrido e de alguma forma separado de ala da pequena cadeia, onde não poderia ser alcançado por seu algoz.
Ao saberem do sucedido seus irmãos e esposa fizeram esforços para pagar advogado e libertá-lo. Porém, consta que sua bela esposa inconformada do ocorrido, ou seja, com as constantes tentativas de sevícia a que o marido sofria, ameaçava-o abandoná-lo, caso não se corrigisse e retornasse à cadeia.
Foi o que ocorreu, pois decorridos mais alguns meses, outra vez “Eros” foi preso em flagrante por furto. Neste terceiro período consta que, totalmente, subjugado foi presa fácil de “Bárbaro”. Pior do que isso ao saber do ocorrido, sua esposa, o abandonou de vez. Logo arrumou outro companheiro.
“Eros” não foi abandonado apenas por ela, mas também, por seus irmãos e pais. Abandonado, não tendo trabalho e condição de comprar drogas, tornou-se um verdadeiro alcoólatra “bêbado de rua” e nos quatro ou cinco anos que se seguiram, retornou à prisão por flagrantes e condenações por furtos e uso de substância entorpecente.
Este foi o relato de “Marcílio” do ocorrido com Eros, porém, reservou-se a contar se “Bárbaro” tentara alguma coisa contra si. Chegou a dar a entender, que, o que importava saber sobre isso, se ele já era conhecido como “homossexual”.
Infelizmente, não foi longo o período de observação de “Marcílio”, pois ele que era conhecido como “alcagüete”, algum tempo após revelar esses casos que segundo a subcultura carcerária deveria permanecer oculto, e ainda por dar informações sobre outros delitos praticados na região, principalmente os relacionados ao tráfico de entorpecente, em certa data ao ausentar-se, descumprindo o horário de entrada na casa de albergado, foi morto num bairro de uma grande cidade próxima.
“Marcílio” morreu por “over-dose’ de cocaína, mas segundo dizem poderia ter sido forçados a tomar uma dose excessiva, ou seja, fora assassinado. Por quem? Não se sabe, pois esta é uma das estratégias do crime organizado.
Casos como o de “Eros” e “Marcílio” nos fazem lembrar e comparam-se com o de Jean Genet, mas agravados por serem estigmatizados, além de ladrões e homossexuais como “toxicômanos”, “alcagüetes” qualidades negativas que não são aceitas na sub-cultura carcerária, colocando-os na última categoria da hierarquia existente entre eles.
Estórias como de “EROS” e “MARCÍLIO” mesmo fictícias comprovam a dura realidade de nossos dias, mas o que é interessante são estórias que se repetem. Repetem...

Foto de Soninha Porto

SEM CENSURA

Eu sem censura
engulo teus ais
levo-te à loucura
sob à luz dos castiçais

condenados ao lírico
à ausência infinita
ondulamos oníricos,
no arder da chama que agita

hálitos frescos
sabores de menta
em beijos novelescos
sob a luz da lua birrenta

na alvura do quarto
em lençóis suaves
entregues ao desejo farto,
escondidos na alma sem chaves

gestos atrevidos
encaixes perfeitos
completamente esquecidos
a espantar a madrugada sem jeito

Foto de JGMOREIRA

CARGA

CARGA

Os autos resfolegam no asfalto
uma paquidermidez mecânica.
Acelerações desesperadas causam-me sobressaltos.
Eixos, rodas, balancins, marchas
entram pela janela da casa para dentro de mim,
o lar.
Nao durmo o sono dos justos que há
foram alcançados: gritos, notícias: jornal:
circula O DIA pelas gares da Central.

Minha casa é uma fresta às máquinas
e às bestas. Sou todo pegajosidades
nessa cidade de 38 graus.
O ventilador excita uma onda quente
de ar empoeirado, repleto de ferro
e asco que entram pelos poros, narinas
ficando depositados em minha saliva.

Assim me construo: com ferro e nojo,
honra e desprezo,
trabalho e desejo.

Urros e sussurros, gritos e maquinarias
entram dentro de mim, o lar,
erigindo outro homem em outra casa.
Um ser sem rupturas e desemocionado
que, monolito, contempla o absurdo
permanecendo inatingível e calado.

Meu sono é repleto de engrenagens
e aceleradores pisados ao fundo.
Quando durmo, o outro se levanta
para ver as hordas que se agigantam.

Pela fresta penetram os berros
de quem marreta as rochas da solidão
daqueles que, em outros lugares,
respiram ares do mais puro algodão.
Os condenados ao trabalho forçado
de viver quebrando montanhas de granito
buscando passagens para o existo,
reúnem-se, às vezes, as vozes aos gritos.

O coro de ódio impotente da matilha
rompe meus cristais, rasga as cortinas
penetra, impiedoso, em meus tímpanos.
Levanto-me, sabendo acabado
o tempo das filosofias.
Uma consciência histórica de invalidez
abate-se sobre meus ombros
que arqueiam sob o chuveiro:

O peso do desamparo de uma raça aturdida
pela ilusão incontida e homérica
de descobrir dentro da pobre prôa de suas quilhas
um rumo certo pelo qual atinja-se Américas
ricas e prósperas, fecundas e fantásticas,
de um chão que desnecessite empenho
para forrar estômagos chupados.

E é com imaginaçãoo e engenho
que a turba inventa embarcaçoes,
benze-as, invoca bons augúrios,
lança-se ao infortúnio
de um mar sem contemplações
habitado por titãs e deídades malígnas
que lhes rasgam as velas com garras latinas.
Náufragos, homens mulheres e crianças
são atirados por ondas precisas
às praias que a isso circundam.
Por cá ficam, desesperados,
a rondar bares esféricos
com o corpo na miséria
a esperança em Américas
que seus olhos avistam longe,
esperando, esperando, esperando...

(Proliferam seus pesadelos.
Juntam-se, às vezes, para relembrar
um tempo em que ousavam navegar.
Filhos, olhos de América e de choro,
engrossam as fileiras do côro
que urra suas misérias
para dentro da janela
onde um angustia-se
outro observa
e com mãos de estivador nesta página os encerra)

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