Blog de Sonia Delsin

UM NOVO AMOR

Fiz um ninho no meu peito.
Um ninho tão bem feito.
E convidei alguém para morar.
Caprichei demais para muito bem o instalar.
Por muito tempo nele este alguém morou.
E um dia se mudou.
Não nego que sofri.
Chorei, me deprimi.
Até que descobri que no ninho abandonado pelo bem-te-vi,
veio morar um lindo colibri.

ESCREVO

Escrevo versos como quem tricota
uma longa coberta para o mundo esquentar.
Escrevo versos como quem tece
uma rede para os sonhos pescar.
Escrevo versos como quem sonha com pedrarias a brilhar.
Num colar abandonado no fundo do mar.
Escrevo versos como quem voa.
Pra um céu alcançar.
Escrevo versos como quem planta.
Palavras que vão germinar.

Escrevo versos pra quem ama, pra quem quer amar.
Pra quem vai amar.
Escrevo versos para quem gosta de sonhar.

E acima de tudo porque amo poetar.

VIDA QUE CLAMA

Águas cantando nas cachoeiras...
Rios a correr...
Artérias da terra que com a devastação vivem a sofrer.

MOMENTO DE RARA BELEZA

Momento de rara beleza.
Nós dois diante daquela mesa.
Olhos desnudando. Mãos se procurando.

DESCANSE, MEU BEM

Como dois felinos estamos tão enroscados.
Completamente extasiados.
Descanse, meu bem.
Deite sua cabeça sobre meus seios.
Fique bem encostado ao meu corpo.
Sinta meu calor.
Eu lhe tenho tanto amor.
Tanto. Tanto.
Procure descansar, meu amado.

NOSSO ENCONTRO

Diriam que em nosso encontro não teve nada de excepcional.
Mas teve.
Íamos caminhando.
Em estradas paralelas andando.
E nos esbarramos.
Numa manhã.
O dia mal nascia.
Falamos um pouco de tudo.
Até de poesia.
Até aí tudo normal.
Dois estranhos se conhecendo.
Mas com o passar do tempo estes dois estranhos que éramos fomos nos envolvendo.
Envolvendo.
Um dia nos descobrimos tão íntimos.
E descobrimos mais.
Descobrimos que existe tanta coisa entre nós...
Tesão, carinho, paz.

CADA BEIJO SEU

Que bom saber que você não me esqueceu!
Cada beijo seu...
Ah! Cada beijo seu me leva para o paraíso.
Mais que isso.
Cada beijo seu me leva para estradas já percorridas.
Estivemos juntos em todas as nossas vidas...
Não me pergunte como sei.
Simplesmente tenho flash dos caminhos que passei.
Que passamos.
Sempre nos amamos.

UMA CICATRIZ

Você me dizia...
Eu lhe tenho tanto bem querer.
Jamais lhe farei sofrer.
Como esquecer?
Foram palavras soltas ao vento.
Mas eu ficava tão comovida.
Achava que você era o que de mais importante eu tinha na vida.
Era grande o sentimento.
Foi imenso o sofrimento.
Mas aos poucos foi passando.
Encontrei no meu viver coisas que foram me agradando.
Hoje posso dizer que sem você eu vivo feliz.
Aprendi até a conviver com minha cicatriz.

OUTRO TEMPO... OUTROS CARINHOS

As pás ao vento...
O canto do vento.
Ah, que sofrimento!
Este lugar.
Este céu azul.
Este cheiro de mato.
Eu me mato.
Quando aqui venho.
Mas venho pensar.
Lembrar...
Toda uma vida ficou aqui.
Neste lugar.
Moinho de vento... moinho.
Não posso o passado recuperar.
Mas posso lembrar.
Ah, eu posso!
Posso sentir na aragem um beijo tão doce.
Será que a vida me trouxe?
De volta o que não volta.
Abro os olhos.
É uma miragem.
Me levanto.
Saio a caminhar.
É no hoje que preciso ficar.
Porque os ventos são outros.
Os tempos são outros.
Morreram no passado os beijos, os abraços.
E hoje recebo outros carinhos.

NUA NO TAPETE

Eu dormi aqui?
Não me recordo.
Só me lembro da taça na mão.
De uma dor no coração.
Dizem que coração não dói não.
Mas doía o peito.
Era um aperto...
Vejo a taça caída no chão.
O tapete todo manchado.
É do vinho derrubado...
O que é que faz da gente um ser tão desesperado?
Nua no tapete eu me espreguiço. Olho.
Busco.
Não me chega de ontem a recordação.
Só me lembro da taça.
Eu estava vestida então.