O QUE DEVO FAZER PARA ACHAR A MINHA VERDADEIRA POESIA?
O meu não encontro nos outros.
Aquietar-me, aprofundar-me,
No atual e no barroco.
Deixar fluir minhas asas,
Vagar sobre águas claras
E por cachoeiras raras.
Permitir-me ser a águia
Que, do infinito mais alto,
Percebe que tudo é nada.
Fazer, da música, o balanço
Que equilibra, na dança,
A vida e suas nuanças.
Dançar, na dança das árvores,
Mesmo com o corpo parado,
A chama, que no corpo arde.
Flutuar em suaves mundos,
Descer nos vales profundos,
Entre ângulos suaves e agudos.
E, quando enfim, encontrar-me,
Absorver, da ressonância, o pulsar
Que tudo une e faz vibrar.
A minha poesia é minha,
E, encontro-a também no outro
Porque não vivo sozinha.
O outro é meu espelho:
Mostra-me o que não vejo
Ou o que não queira ver.
SInto, no canto do vento,
A riqueza e o lamento
Do que vive ao relento.
Busco, na sombra, o sol,
Desvencilho-me do normal,
Aprecio, somente, o natural.
E, no claro azul infindo
Reconheço-me infinito
Neste mundo dualístico.
Marilene Anacleto
15/08/01