1.
caminho por campos noturnos,
vagueio entre muros soturnos,
cruzo esquinas de solidão
que sufocam a minha canção.
a melodia escapa no descompasso
do meu sorriso escasso:
me acompanham nesta invenção
meus passos e minha canção.
me perco em campos escuros,
ruas de imprevisíveis futuros,
me afogo na desunião
entre meus pés e a canção.
busco a música que existe
com sua melodia líquida e triste
nas pontas frágeis dos meus dedos,
nos meus lábios amargos de segredos.
2.
nada tenho
além desta vida
que me resta.
não existem caminhos,
somente meus pés
sobre o asfalto.
nesta rude viagem
que inicio
rumo ao desencanto
não há o que contemplar,
minha incerteza
é meu único guia.
fonte, fogo ou rosas,
o que me espera
além da noite?
3.
piso com meus pés indigentes o enigma
que o universo expõe e sobre o caos me apoio.
piso a manhã desmantelada sobre o asfalto
da cidade ruída.
queria percorrer a todo custo a origem
da admirável magia porém apenas me acovardo
e desmorono e tudo o que resta é a dissolução
do enigma que busco.