Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Outono das paixões...

E vem chegando o outono das paixões,
Que voam como as folhas desgastadas,
Soltas ao vento, sem alento nem compaixão,
Num verde amarelado, queimado,
Carente de ilusão...
Melancolia que reina após o verão,
Aroma que invade o ar de solidão
Depois de acender fogueiras nos corações
E apagá-las no final da estação.

Algumas folhas resistem, esquecidas...
Que com a brisa,
Persistem em sobreviver ou renascer...
Perambulam pra não cair, sucumbir...
E não perder o verde de suas cores,
A frágil esperança incerta, reticente...
Tentam enraizar-se, ressuscitar amores,
Inutilmente...A brisa leve é impotente...
E incapaz de espalhar sementes...
E as paixões transformam-se em quimeras
Que se congelam no inverno de cada estação...

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Lúcia

A dor maior...(conto)

De repente faltara-lhe o chão. Acabara de ler o resultado de exame de sangue de seu filho.Há dias não dormia, não comia, não falava, não sorria, não vivia. A ansiedade a consumia.Mas nesse fatídico dia, se encheu de coragem, pediu à Maria,Mãe das Dores, que intercedesse por ela e que a mantivesse em pé, fosse qual fosse o resultado...mesmo aquele que ela mais temia.E era.HIV(reagente), seu filho adorado, lindo,inteligente, culto, sua razão de viver...tinha Aids.Jamais poderia supor que isso poderia acontecer...e agora estava ela, frente a frente com a dura realidade.
Uma assistente social veio dar-lhe o resultado, numa salinha tão funesta quanto ele e caso fosse preciso, ampará-la. Ampará-la?Depois de sentir a alma ter sido arrancada?Assistente social sabe da dor de se ter um filho aidético?Só mesmo quem o tem.Mas são preparadas para isso...consolar.
A mãe, ou o invólucro da mãe, voltou para casa, incumbida de dar a pior, terrível e mais trágica notícia...
Onde uma mãe encontra tanta coragem?Só mesmo Santa Maria pode explicar.
Encontrou o filho deitado num sofá...Dava para ver seu coração aos pulos, aguardando a sentença fatal.
Ela respirou profundamente, procurou não chorar e num gesto sôfrego, sem mesmo ouvir a própria voz, falou:
-Meu filho, você tem Aids!Hoje em dia há medicamentos modernos, os coquetéis, que o manterão vivo,se você se cuidar.Estarei sempre ao seu lado, o amarei cada dia mais.Abraçou-o fortemente para que o filho pudesse sentir todo o seu amor e seu amparo.
Em seguida, trancou-se no quarto, ajoelhou-se e agradeceu a Deus, a Jesus e a Maria, pela grande intercessão, por não a terem deixado fraquejar, para que o filho também não fraquejasse.
Quando uma mãe se põe de joelhos, o filho se mantém em pé.

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Lúcia

Adeus, amor! (conto)

Teria sido a carência afetiva, a solidão que sentia(mesmo rodeada de pessoas, que não a entendiam)que a arrastaram a viver aquele amor proibido?No começo ela recusava incessantemente...Mas foi, aos poucos, perdendo sua força e se entregando.Passou a viver momentos maravilhosos, intensos, inusitados.Não se conheciam pessoalmente, mas a alma os revelava.Palavras inesquecíveis pelo celular e internet.Tudo se transformara num conto de fadas.O mundo lhe sorria.Começou a se cuidar mais, a sorrir mais, a se amar mais.Era mais velha que ele e disso ele sabia.Dizia que não mais conseguiria viver sem ela.Nem ela sem ele.E esse romance arrebatador durou dois anos.Certo dia, a realidade caiu-lhe como o mundo em sua cabeça.Lembrou-se que era casada e que não lhe havia contado ainda.Sentia-se emocionalmente divorciada, já que o divórcio propriamente dito, por motivos alheios a sua vontade, não poderia acontecer agora. E ser casada, naquelas condições, não lhe significava nada.Era apenas um peso em sua vida.Mas como ele encararia o fato?Saberia entender?Claro que sim, pois conhecia, palmo a palmo a sua alma.Sabia do imenso amor que ela lhe dedicava.Sim...ele a compreenderia porque a amava muito também.Temendo perdê-lo, preferiu marcar um encontro, para que, olhos nos olhos, lhe revelasse a verdade.Estava certa de que nada mudaria, porque conhecia a fundo o seu íntimo, sua alma.Era seu aniversário.Dia do encontro. A emoção tomava conta de seu ser.Colocou uma roupa que lhe caía muito bem, ajeitou os cabelos e sorriu para o espelho. Admitiu a si mesma que estava bela.Talvez pelo brilho intenso em seu olhar.Chegou ao lugar combinado.Lá estava ele, dentro de seu carro. Ao vê-la, pelo retrovisor interno, abriu a porta e se aproximou. Ambos tremiam.Chegara o momento.Se ele a compreendesse, ela seria capaz de deixar tudo e partir com ele.Entrou em seu carro.Olharam-se por longos minutos.Então ela falou:-Sou casada!Porém...Ia lhe explicar tudo, mas ao perceber sua transfiguração, seu olhar gelado condenando-a, preferiu se calar. Assim como ele estava:sombrio e calado.De que serviriam palavras naquele momento?Um olhar fala mais alto. Um olhar de condenação é como um punhal fincado no peito, que fere e mata.E ela quis desaparecer, sair correndo daquele lugar, fugir...Ao despedirem-se, ele balbuciou algumas palavras, algo como:-Virei aqui mais vezes, para conhecê-la melhor.Como conhecê-la melhor se ela lhe havia aberto a alma?Ela lhe respondeu:-Não, aqui termina a nossa história.Uma linda história de amor, que me fez crescer, me fez reviver, mas que agora termina...Muito aprendi com você, que devolveu-me a capacidade de amar...e foi uma poesia em minha vida. Beijaram-se...Um beijo triste, com sabor de despedida.E nunca mais se viram.

Foto de Carmen Lúcia

Castelo Azul

Ali ela vivera os dias mais felizes de sua infância. Acordava cedinho, fazia seu desjejum, um pedacinho de pão e um copo de leite que seu pai guardara para ela, na noite anterior,
beijava os pais e ia para a escola, onde ficava toda a parte da manhã.
Era aluna exemplar, alegre, sorridente, cativante. Aprendia com facilidade, amiga de todos.E todos a amavam.
Apesar das dificuldades, pai desempregado, mãe com problemas de saúde, ela amava a vida.
Chegava da escola e ajudava o pai nos afazeres de casa.Morava num casarão antigo, que mais parecia um esconderijo, em um beco e que ela chamava de “Meu Castelo Azul”, pois assim imaginava que fosse.
Enchia a mãe de cuidados e carinhos, como se fora um bebê.Não sabia ao certo o nome do mal que a atingira, que a fizera ser diferente de todas as mães, mas lhe dispensava um grande amor.Ouviu falar em “ Alzheimer”, mas não sabia o que era, nem conseguia pronunciar tal palavra.
Procurava fazer seu pai sorrir com suas tagarelices e brincadeiras. As tardes eram sagradas para ela.Reunia os amiguinhos e ali mesmo, em frente ao seu castelo azul, tornavam-se personagens de contos de fadas. E os cantos vazios do lugar enchiam-se de risos, de alegria, de vida.Havia princesa e príncipe, rei e rainha, as malvadezas da bruxa má e a bondade da fada-madrinha, com sua varinha de condão.
A velha escadaria do casarão tornava-se luxuosa, com suntuoso tapete vermelho, por onde deveriam passar o rei e a rainha, frutos da imaginação fértil das crianças. À noite, fechada em seu quartinho, sob a paupérrima iluminação de uma lampadinha, relatava em seu precioso diário, os acontecimentos do dia.E vibrava com isso.Guardava- o como a um tesouro.
Hoje, a menina já crescida, sofrida pelas dores da guerra, já não sonha mais.O ódio, a ambição, o desejo desmedido pelo poder,levaram seus sonhos, pisotearam seu coração, destruíram seu “Castelo Azul”,quando seu pequeno mundo foi atingido por uma bomba vinda do céu.
Voltava da escola e ao ouvir o barulho terrível, correu para sua morada...e não achou mais nada, além dos escombros e de algumas pessoas que procuravam resgatar os corpos de seus pais. Entregaram-lhe algo encontrado no meio das ruínas:seu diário.
Tornou-se uma moça linda, porém uma grande tristeza habita seu olhar e uma grande dor, o seu coração.Fora morar com um casal amigo de seus pais, que se compadeceu de sua história.
Consegue abrir um lânguido sorriso, quando à noitinha, abre seu relicário, o grande tesouro que lhe restara, o velho diário e lhe vem a lembrança nítida de seu “Castelo Azul”. Pequena fresta de esperança!

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Impeça-me!

Tire-me o chão,
O rumo, a direção...
Corte minhas asas,
Impeça-me de voar...
Arrebata-me os sonhos,
O meu direito de sonhar...
Veda-me os olhos
“O que os olhos não vêem,
O coração não sente...”
Mas, pressente...
Lacra-me o sorriso,
Sorrirei com a alma, com a mente...
Escreva o meu destino,
Registre-o em seu pergaminho...
Cerque meus caminhos,
Obstrua o meu caminhar,
Excite a minha sede
Mostrando-me água a jorrar,
Prenda meus sentimentos
E o pranto que a alma quer lavar,
Cale meus pensamentos
Onde habitam desejos, ensejos...
Mas jamais poderá me roubar
A capacidade de amar.

(Carmen Lúcia)

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Pare o tempo...

Pare o tempo...
Vamos voltar...
Resgatar a pureza
Que deixamos ficar...
Toda a simplicidade
Que ficou para trás,
Num passado distante,
Onde o sol acordava
A cidade inteira
Para ver o seu show,
Beleza deslumbrante
A resplandecer no céu...
Onde manhãs saltitantes
Convidavam a dançar,
Espalhando aromas
De todos os pomares
Chamando a criançada
De todos os lugares
Pra sorrir e brincar...

Pare o tempo,
Que só quer avançar...
Viajar nas galáxias,
Poluir o universo,
E nunca mais parar...
Destruir lindos versos
Que compõem a poesia,
Calar todo o encanto
Da paz, da harmonia,
Semeando a discórdia
Da tecnologia...
Substituindo o homem
Por máquinas e robôs
Trocando sentimentos
De amor e emoção
Pelo vazio do vácuo,
Apertando botões...
Explosão nuclear...
O desejo de matar
Nossos sonhos e ilusões.

Pare o tempo
Ainda há tempo
De recomeçar...
Para os sonhos
Não há contratempo,
Se insistir em sonhar...
Resgatar os momentos
Que ficaram pra trás
Emoções, sentimentos,
Simplicidade, encantamento,
Legados de nossos ancestrais.

(Carmen Lúcia)

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Em busca de palavras, na rota do Sol...

Sigo a rota do sol,
Quando o vejo bem longe
Irradiando sua luz já branda,
Expondo um entardecer tranqüilo
De cores tênues e pálidas,
Antes do anoitecer...
Vou a busca de palavras
No lusco-fusco, esparramadas,
Abandonadas ao ocaso...
E minha alma se inunda
Nessa cascata que magia infunda,
Aura abençoada, tobogã dos sonhos,
Ondulações de cores
Suaves como o outono
de folhas caídas,
Tapete verde-musgo
mesclado de amarelo-ouro...
Trilha para a fantasia...
Crepúsculo que finaliza o dia
E que sacia a alma ávida do poeta,
Transvestindo rotas em magias
Ao nascer da mais etérea poesia.

Carmen Lúcia

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Viaduto (in memoriam)

Nível divisório (e ilusório) entre dois mundos,
Que não se encontram, mesmo perto, sempre juntos,
Realidades paralelas, não se cruzam, se recusam,
A apoteose e o apocalipse, a discrepância, a discordância.

Em cima o sol, a passarela, a vida bela,
Poder sonhar, a ostentação, a ambição.
Embaixo a escória, restos de vida, degradação,
O submundo, o escracho, a solidão.

No alto, a vida indo ao encontro do sucesso;
Debaixo, escorrendo ao retrocesso.
Passa o burguês, indiferente à desigualdade,
E indiferente, o indigente...o que perdeu a identidade.

Muitos despencam lá de cima, lá do luxo,
Feitos suicidas, enclausurados pela dor...
Sombras que assombram, que retratam o desamor
São bichos-homens, vira-latas, degustam lixo.

E permanece lá em cima, a indiferença.
Todo o glamour, a arrogância, a burguesia,
E os maltrapilhos, recolhidos, embevecidos,
Com os out doors, os pisca-piscas...Zombaria!

Até quando esse cenário revoltante?
Só se aproximam pra tirar fotografias,
Virar manchete nas colunas de jornais,
Tão cordiais com tais problemas sociais!
E as soluções? Ora, quanta hipocrisia!

Quando acolhido pelo abraço maternal
E acarinhado pela morte, o indigente,
Seu corpo jaz, caído ao chão, sobre um jornal,
Do pedestal (aí se cruzam), a sociedade
Vem dissecá-lo para o bem da Humanidade.

(Carmen Lúcia)

Obs:Já havia postado essa poesia, mas não a encontro.

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Não desisti de mim

Ousei crer no que não via,
Ou não queria...
A minha própria realidade,
Amordaçada...
Enganada por mim mesma,
Mordaças apertadas pelo meu eu,
Emudecido pelo medo,
Por tudo que se perdeu...
(quase a própria identidade)
E que doeu...E como doeu!

Medo de outras experiências,
Novas convivências...
Amores mal sucedidos,
Mágoas não passadas a limpo
E que ainda doem...corroem...
Por mantê-las escondidas,
Latentes feridas...
A dor da alma não é visível,
Nem previsível...
Não manda recado,
Chega de improviso,
Sem aviso...
E deixa a porta escancarada...
Mas, calar-se é admitir,
Permitir que ela se instale,
É acomodar-se, não agir...

Sair da condição de silêncio
É o que vale...
E enfrentá-la...Arrebatá-la!
Tirar de cada experiência vivida
Uma lição de vida...
O melhor de nós
Ainda está dentro de nós...
Continuar sonhando...
Buscando emoções...
Porque o sonho
É o combustível
Das realizações.

Carmen Lúcia

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