Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Faróis esverdeados...

Em teus olhos verdes
singrei o meu barco...
em tons esverdeados
o mar de meu destino...
navegando meu fardo
girei redemoínhos
em tua esfera íris negra
perdido em teu tornado...
ancorado em teus cílios
negros, longos, fartos...
encantou-me tal fascínio
deslumbre desvairado
fiquei sob o domínio
de uma luz cor esmeralda...
força inusitada
magnetizada...
atraindo para si
barcos desgovernados
desamparados...
naufragando na armadilha
dos faróis esverdeados
... olhar desesperançado...

_Carmen Lúcia_

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Perdida(mente)

Perdidamente, me pus em teu caminho...
Bebi tuas palavras, sorvi teus devaneios...
Aspirei os teus suspiros, desvirtuei teu ninho,
sagrei os teus segredos, rompi teus entremeios.

Perdidamente, cruzei o teu destino...
Lambi o teu suor, saboreei teu vinho,
desalinhei tua rota, arrombei a tua porta,
mudei a tua sina... em direção a minha.

Perdidamente, joguei-me em teus braços...
Forcei os teus abraços, me ofereci a ti,
forjei teus sentimentos, ceguei-me à realidade
e entre delírios loucos...aí que me perdi!

(Carmen Lúcia)

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Co-autora

Quando eras rei, te aclamava...
Eu... tua platéia, rainha ou escrava,
entre risos e gritos da meninada ouriçada,
aplaudia tuas bravatas...Contigo sonhava.

Juntos crescemos, adolescência atribulada,
eu, apaixonada, sem nunca ser notada...
De tuas paixões, a coadjuvante,
de teus enredos, figurante...
Como cineasta, sempre davas as cartas...

Emaranhei-me nas teias de tuas desilusões,
choravas as minhas lágrimas derramadas...
Em teus filmes, fui figuração...
Enquanto a protagonista roubava teu coração.

Lado a lado, vivendo tua história,
Lamentando teus erros, vibrando tuas vitórias,
fui sombra que protege de sóis que escurecem
ofuscando a visão aos valores que enobrecem...

Mas, nas vezes que te senti morrer
(e que de vez iria te perder)
tomei-te as cartas...eu mesma as dei...
E sob a minha direção
transformei realidade em ficção...
Mudei a trama, fui produtora,
Juntei-me a ti, protagonista e co-autora.

(Carmen Lúcia)

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A bela cigana

“A bela cigana”

texto inspirado no conto de Machado de Assis: "A cartomante"
(Homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis)

O velho relógio da matriz acabava de ribombar a nona badalada, que pairava no ar, feito fundo sonoro e enigmático da história empolgante que acontecia.
Passos apressados se fizeram ouvir, como os de alguém que ansiava chegar rapidamente ao destino a que se dirigia. Pelo toc-toc dos sapatos percebia-se serem de salto alto e consequentemente, de mulher.
Parou por uns instantes numa esquina, como que a espreitar, sem se fazer notar, ao ouvir o barulho de um trem. Esperou nervosamente sua passagem e atravessou a linha. Seus passos agora eram mais rápidos, como se quisesse recuperar o tempo perdido.
Seguiu pela Rua do Porto, tortuosa, escura e esburacada. Aquela noite sem luar estava
propícia para o que se propusera a fazer. Uma grande aliada! Após atravessar algumas esquinas úmidas e sombrias, chegou ao local que lhe haviam, sigilosamente, indicado.
Não era bem uma casa, mas algo parecido.Deparou-se frente a um barracão bastante surrado, meio fantasmagórico, mal iluminado por velas e lampiões.
Ficou assustada.Pensou em voltar, desistir de seu intuito, mas o motivo que a levara até ali era muito forte e resolveu continuar.
Olhou para os lados para certificar-se de não haver ninguém por perto e começou a bater palmas.
Uma figura excêntrica, trajando roupas exóticas e coloridas surgiu silenciosamente feito uma aparição. Escondia o rosto num véu, lembrando dançarina do Oriente Médio, deixando à mostra um par de olhos negros, grandes, belíssimos e um ventre bem torneado.
- Boa noite!disse-lhe Lígia.
A cigana fez um leve movimento com a cabeça, cumprimentando-a e estendeu o braço, apontando-lhe o local a que deveria se dirigir.
Ambas sentaram-se nas almofadas que havia ao redor de uma mesinha onde a misteriosa mulher, à luz de velas, começou a colocar cartas de um baralho sinistro, pedindo que Lígia escolhesse algumas. E assim ela o fez, sem tirar os olhos da bela cigana, agora sem o véu.
De repente, viu um largo sorriso em seus lábios, revelando dentes muito alvos e um canino revestido de ouro.
-Vejo imensa luz em seu destino!Seus sonhos serão realizados!Nada a afastará de seu grande amor.Somente a morte, após terem vivido longos anos de felicidade.
Em seguida, pegou a mão esquerda de Lígia :-Essa linha mais comprida da palma de sua mão vem comprovar o que lhe disse.
Lígia sentiu-se muito feliz e um alívio tomara conta de seu coração.Pagou a mulher, que já aguardava o pagamento pelo seu trabalho e retirou-se dali.
Eram vinte e três horas quando chegou à Avenida Coronel Alcântara, onde residia.Não ficava distante do local de onde viera.
Tirou as roupas, os sapatos, vestiu uma camisola branca e deitou-se, sem qualquer ruído, ao lado de Álvaro, seu marido, que roncava, dormindo profundamente.Apagou a luz do abajur e adormeceu logo em seguida, satisfeita com o que ouvira naquelas últimas horas.
Cássio a esperava no lugar de sempre, sem muito movimento de veículos e transeuntes.Final da Rua Vinte e Oito, local ideal para encontros clandestinos.Olhava seu relógio, pois, já passava das vinte horas, horário combinado por eles.

Lígia apontara na esquina, mais bonita que nunca, com um insinuante vestido preto colado ao corpo, ornamentado por um generoso decote, mostrando seu colo macio e branco e uma boa parte de seus seios.Deixava no ar um rastro de perfume francês.
Cássio a olhou com olhos de admiração e desejo.Saiu do carro e abriu a porta para que ela entrasse.
Partiram para um lugar retirado, onde pudessem conversar e namorar tranquilamente.
-Nada irá se opor a nós!As palavras da cigana foram convincentes.Seu misticismo é contundente.Não há como descrer.
Ele riu da credulidade infantil da amante, mas não proferiu qualquer palavra sobre o assunto.Preferia-a assim, crédula e feliz.
Cássio havia sido chamado ao gabinete de seu chefe. Esperava o elevador que demorou um bom tempo para chegar.Bateu à porta levemente e ouviu:-Pode entrar!
Álvaro girou sua poltrona e ficou frente a frente com seu assessor.Fumava um charuto cubano e fazia questão de soltar a fumaça em direção ao seu subalterno.
Este ficou um tanto constrangido, pois notou algo de diferente no ar. Pensou:-Será que ele descobriu tudo?
-Preciso resolver um problema da empresa, em São Paulo, e pela confiança inabalável que tenho em você, pela sua inegável competência, quero pedir-lhe que vá em meu lugar, pois tenho outros assuntos pendentes a resolver .
Deu uma pausa no falar para acender outro charuto.
Cássio jamais negaria esse pedido ao seu chefe e amigo, ainda mais pela consciência pesada que trazia, decorrente da traição amorosa com sua mulher.
-Conte comigo, Álvaro!Amanhã mesmo tentarei resolver isso.
Sentiu-se livre do mau presságio que o invadira.
Combinaram o horário da viagem, despediram-se e Cássio voltou para sua sala.
Lígia atendeu o telefone que tocava insistentemente.
-Olá, querida!Que tal irmos para São Paulo e termos uma semana somente para nós?
Do outro lado da linha, uma mulher pálida e trêmula, não sabia se chorava ou ria.
Ele a tranquilizou e até sugeriu uma desculpa ao marido.Ela diria que precisava visitar uma amiga de infância, em fase terminal de câncer, na cidade de Resende.
Bem, parecia que tudo conspirava a favor para que os amantes ficassem juntos por mais tempo e se amassem muito.
Poucas horas antes da viagem, Lígia fez um pedido ao Cássio:-Gostaria de agradecer à cigana por essa felicidade, que em grande parte, ela nos proporcionou, já que eu andava tão angustiada, acreditando numa possível desconfiança de meu marido.
Cássio colocou alguns obstáculos nessa idéia da amante, mas, se era para deixá-la mais feliz, concordou.
As horas passavam e Lígia não chegava. Preocupado, resolveu ir até lá. Já era noite e um chuvisco embaçava o vidro do carro, deixando-o impaciente. Parou próximo à linha do trem, para esperá-lo passar. Era um cargueiro que parecia não ter fim.
Finalmente, linha desimpedida! Acelerou o carro e chegou em frente ao barracão que sabia muito bem onde se localizava, graças às informações de Lígia.
Bateu palmas e ninguém apareceu. As velas acesas piscavam e os lampiões estavam apagados.
Resolveu entrar, na surdina. Pé ante pé...A cena que viu jamais sairia de sua mente. Abraçados sobre as almofadas, a bela cigana e Álvaro...e mais adiante, numa poça de sangue, o corpo sem vida de seu grande amor...Lígia!

(Carmen Lúcia)

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Momentos...

Minha loucura me leva a bravuras
que a sã consciência
e a tímida prudência
não me permitiriam levar...

Dizer o que penso,
revelar como sou,
livre de consenso,
da moral que pesou...

Minha momentânea insanidade
é meu evangelho de verdades...
Impulsos não reprimidos,
reprimindo inverdades.

Esses discursos inflamados
traduzem meu verbo, meu outro lado...
Então me retrato... corpo, alma e mente,
conjugados em comunhão estridente
contando tudo o que sentem...

Quando me recato, desacato
a identidade, a vontade e a sede de falar...
Por fora me calo, sóbria insensatez...
Por dentro me violento...insensata lucidez.

(Carmen Lúcia)

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(RI)MAR!

Vejo o mar...
Mergulho em meu sonhar...
A dança das águas lançada aos rochedos
volta sempre ao mesmo lugar...
Alucina, incita , conduz a amar...
Num vaivém incessante,
Eloqüente, inebriante,
que me faz divagar
onde nunca se atreveu
a chegar meu pensar...

Movimento cíclico das ondas
inesperadas, esfuziantes,
construindo castelos de sonhos
para em seguida os desmoronar...
Trazendo mistérios
que não quer revelar...
Quebrando-se em camadas
brancas, sonoras, a espumar...

O bailado de duas gaivotas
a coroar o cenário no ar...
Vôo ritmado, imaginário e real...
O céu a singrar...Coreografia singular,
induzindo o homem
ao mais profundo olhar...
Para si e para o mar...
E todo esse encantamento
Em poema transformar...

(Carmen Lúcia)

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Fim de linha!

Fim de linha, Cinderela!
Nem sempre a vida é bela...
Hora de voltar aos borralhos,
criar novos atalhos,
juntar os trapos,
fincar o pé na estrada...
De tudo, não sobrou nada!
Peregrinar pelos caminhos...
Quem sabe um outro conto de fadas?
Ainda há rosas entre os espinhos...
Instantes de felicidade!
Fração de segundo...
Eternidade!
Andar por campos de lírios? De lírios!
Príncipe encantado? Sonho alado!
O despertar é outro...Triste engodo!
Pague seu tributo, com apresso...
Tudo tem seu preço.
A carruagem virou ao avesso...
Terminou o tempo!
Contratempo!
Resta agora...
...a abóbora...

(Carmen Lúcia)

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"Prece"

Caminhe comigo, Jesus!
Abranda as batidas de meu coração,
acalma minha mente...
Tu podes!Tu ...somente!
Mostra-me a eternidade do tempo
reduzindo meu ritmo apressado,
ansioso, estressado...
E ao meu cotidiano, de agitações tamanhas,
apresente a tranqüilidade das montanhas...
E a brisa que vem aliviar
com o vai e vem das ondas do mar...
Que a musicalidade mansa das águas dos rios
seja serenidade para meus tensos músculos...
E nervos em desvarios...

Conceda-me o prazer de parar e contemplar
a beleza de uma flor...
Abraçar um amigo de infância...
Afagar uma criança...
Mergulhar na fantasia...
Ler uma poesia...

Abranda meu passo, Senhor!
Para que eu possa sentir
entre ruídos e lutas incessantes
a Tua presença constante...

Abranda meu passo, Senhor!
Para que eu abrace a esperança...
Ajude o meu próximo
e cale-me para ouvir Tua voz.

Abranda meu passo, Senhor!
E inspire-me a plantar e cultivar
em solo produtivo, valores duradouros...
Para que eu possa crescer até as estrelas
e cumprir minha maior missão!

(Carmen Lúcia)

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Pátria amada!

Ah...Quisera eu trancar a voz ...Silenciar!
Não ter no sangue o arrojo... e me calar...
Acovardar-me às injustiças que poluem o ar,
desencantando a vida, desativando o verbo amar.
Mas me ficou de herança esse impulso que aflora
de rebelar, ter esperança, a toda hora...Agora!
Reativando o brado que um dia foi bradado
e no entanto jaz em terra que ainda chora.

Grito incontido, potente qual alarido,
lamúria triste de um povo sofrido...
Sem encontrar um eco e nada transformar...
E a lei do mais forte é a que se faz vingar...
Lágrima furtiva que rola condoída
como a pedir desculpa à pátria tão querida,
que em berço esplêndido privou de se deitar...
Tão linda e altaneira...injuriada e ultrajada,
onde o cantar do sabiá é um pátrio lamento
e as verdes palmeiras se curvam à voz do vento...

O que fazer senão extravasar o peito
e arrancar palavras que livres circulem
(já que o livre-arbítrio é poder aceito...)
em versos e poemas, mágoas que se difundem
bradando a honestidade em gesto varonil,
país de liberdade de um povo servil!

(Carmen Lúcia)

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O vôo do poeta...

Aguarda para alçar seu vôo,
não como ave de mau agouro...
mas como quem observa, à espreita,
o decorrer de fatos insensatos
na espera do momento exato
de um voar certeiro, inexorável,
circundando altos e baixos...
Desde a mais íngreme depressão
à mais alta e inatingível dimensão.
E quando chegar a hora esperada,
prevalecerá sua decisão irrevogável,
soltará a voz... Não como algoz,
nem como ser execrável...
Mas como guerreiro atingido
na luta desigual , sem salvo- conduto.
Bradará a indignação que sente,
que é a mesma de nossa gente,
deixando nosso povo descontente,
engolindo, oprimido, o que lhe é oferecido.
Seus versos que eram fantasia,
cantados em rimas e poesias,
rebelam-se à custa da hipocrisia...
(Armas contra a vil utopia)
Realidade incoerente à do poeta
Onde a insensibilidade o afeta,
Levando-o a vôos delirantes e sombrios,
Indecifráveis, frios e sem brilho...
Mas, por enquanto, aguarda...
Há sempre o momento sensato.
A paciência é grande virtude...
Sempre e em qualquer altitude...
Então, não haverá grade que segure
o combate às desigualdades sociais,
o não à corrupção, ao descaminho da nação,
a tudo que impede de prevalecer a paz!

( Carmen Lúcia)

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