Olhei para me certificar
se tudo estava em seu lugar.
Perfeito! Tudo do mesmo jeito!
Seus chinelos,o evangelho,
a cadeira de balanço, seu descanso,
seus óculos, o jornal, a leitura trivial,
nossa cama, o lençol de cambraia,
um feixe de luz que na janela desmaia,
o travesseiro com seu cheiro,
o velho abajur que nos vigiava
quando impetuosamente nos entregávamos...
A vitrola, na mesinha, ainda está a tocar,
aquela valsinha de Chico que costumávamos dançar:
“Um dia ele chegou tão diferente
do seu jeito de sempre chegar...”
Só faltou o seu retrato que guardei em meus guardados.
Quero comigo levar ...e se a saudade apertar
vê-lo a todo instante... quando a memória falhar.
Não sei para onde vou.Vieram me buscar...
Alegam que estou sozinha...Querem me ajudar...
Não sabem que aqui está comigo.
Teimam em não lhe enxergar!
Só ouvem a minha voz e se negam a lhe escutar.
Não veem que sua presença está em todo lugar;
em cada canto da casa, impregnada no ar...
Que aqui é meu universo, sempre será o meu lar!
Ouço a buzina lá fora de um carro a me esperar.
Tranco a porta da sala, pego a mala, a emoção me cala...
Detenho-me no jardim e vejo diante de mim
o pinheirinho já crescido, que regávamos com carinho.
Era festa para os olhos, todo ano, no natal,
pisca-piscas e bolinhas, alegria, festival...
Mas hoje ele está triste, parece prever o final.
Outra vez a buzinada.Que gente mais apressada!
Bato o portão e...vejo cair ao chão...
uma placa escrito:VENDO! Não entendo...
Nem sei pra onde irei... Sei que um dia voltarei
pra ver de novo o seu olhar.
Fique aqui a me esperar!
-Carmen Lúcia-