Quando eras rei, te aclamava...
Eu... tua platéia, rainha ou escrava,
entre risos e gritos da meninada ouriçada,
aplaudia tuas bravatas...Contigo sonhava.
Juntos crescemos, adolescência atribulada,
eu, apaixonada, sem nunca ser notada.
De tuas paixões, a coadjuvante,
de teus enredos, figurante.
Como cineasta sempre davas as cartas.
Emaranhei-me nas teias de tuas desilusões,
choravas as minhas lágrimas derramadas...
Em teus filmes, fui figuração
enquanto a protagonista roubava teu coração.
Lado a lado, vivendo tua história,
lamentando teus erros, vibrando tuas vitórias,
fui sombra que protege de sóis que escurecem
ofuscando a visão aos valores que enobrecem.
Mas, nas vezes que te senti morrer
(e que de vez iria te perder)
tomei-te as cartas...Eu mesma as dei!
E sob a minha direção
transformei realidade em ficção.
Mudei a trama, fui produtora,
juntei-me a ti, protagonista e co-autora.
(Carmen Lúcia)