Cigarrava encostado à parede, observava as histórias dum livro que abrira na passada noite. O que fumava era a companhia, não a mais amada mas a mais desejada.
Nunca amara por isso ainda não conhecia tal estado de alma. Apenas de ouvir falar sabia que tinha coisa parecida dentro daquele corpo.
As personagens passavam à velocidade do fumo, nunca permaneciam para mais que o instante para trocar de histórias, nem que fossem a preto e branco, qualquer coisa. Coisa simples.
Alguém somava as páginas do livro onde nada se passava, alguém que até o lia e desvendava a razão, a natureza, a função deste ser fumante e observador.
Este era um miradouro para outras vidas. Cigarrava, cigarrava até que o fumo lhe obstruiu a visão. Já de nada queria saber........
Numa noite uma nova figura integrou na história. Apenas o perfume lhe foi notado.
Esta por sua vez era a que tinha mais peso existencial, de figura sincera, bonita, sensual com contornos apetecíveis que lhe fez queimar a ponta dos dedos, as mesmas que no instante seguinte lhe desejavam tocar.
Por onde caminhava a nova personagem, seguia o perfume depois o fumante e o fumo. Deslumbrado estava este com a vontade de trocar histórias, mesmo a preto e branco com este magnifico ser humano que parecia uma Princesa. Queria muito!
Cigarrava encostado à parede quando sentiu o perfume e ouviu: - " Olá :) "
A sua alma fogueteou de alegria, tremeram-lhe as pernas que se assemelhavam a alicates, perguntou-se se para ele seria? Era! Foi! É! Ficou gago de espanto.
Largou o que sempre fumou com uma sacudidela para o chão e seguiu-a, mais à frente as mãos tocaram-se tornando tudo mais lógico. A vida é para além daquela parede.
O que sempre fumou, continua a fumegar no mesmo chão junto à parede daquela história.
Ser fumante
Data de publicação:
Quarta-feira, 22 Setembro, 2010 - 13:42
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