Quem disse ser o ser humano o animal mais adaptável e que capaz ele seria de estar todos os dias,
nas manhãs quentes ou nas noites frias a labutar com a solidão?
Quem sangue frio teria de , naquela calmaria dos bares agitados de casais aconchegados, transitar
furtivamente sem ter quem lhe acompanhe e ainda querer beber champanhe?
Não me venham com discursos ou qualquer das parolices que só dizem mais tolices filosóficas ou hipócritas
tentando dar justiça, pois, partindo da premissa de que tudo tem sua vez. Eu prefiro a embriaguez!
Pois nela é oito o oitenta, ou alivia ou então arrebenta tudo que estiver por dentro: intestinos, pensamentos
cândidos ou impuros num clima assim, romântico para deixar tudo mais duro.
E vou para casa, onde, bêbado, me julgo, sentencio e executo a pena do total expurgo. Sinto sede, fico puto,
cambaleio, pelas pernas titubeio em meio aos móveis mais que móveis aos meus olhos. Que momentos
vexatórios!
Frente ao espelho lavo o rosto, lavo a boca, olhos vermelhos, voz rouca a murmurar palavras ocas de auto-ajuda, de auto-ofensa, daquelas que não se pensa refletindo sobre o dia que termina em agonia.
E amanhã, de cabeça assaz pesada, levanto a carcaça cansada para mais momentos de pesar até passar
o mal-estar e, num canto da minha mente, paro por alguns segundos para me ver diante do mundo, como fui,
estou e sou e vejo que nada mudou. Tanto faz ou tanto fez, tudo começa outra vez: solidão e insensatez.
12/10/99