AS CRUZES
Paulo Gondim
22.04.2001
Velhas cruzes, fincadas
Expostas, abandonadas
Corroídas, desbotadas
Amontoadas e multiplicadas
Num cenário sem brilho
No triste estribilho
Da velha canção
Do grito perdido
De um povo esquecido
Sem voz, sem ação.
E assim são as cruzes
Franzinas, sem porte
Lembranças da morte
Comum no sertão
São assim tantas cruzes
De triste memória
A contar sua história
Quase só de discórdia
Tão vulgar no sertão
Tanta cruz lembra a guerra
Travada sem trégua
Do homem da terra
A procura do pão.
E assim são as cruzes
Disformes, tristonhas,
Lembranças medonhas
Do pobre sertão.
E por que tantas cruzes
Algumas sem braço
Ocupam o espaço
Em todo lugar?
Marcando a paisagem
Com a triste mensagem
Que não quer calar
Que é preciso coragem
Pra mudar tal imagem
Para se libertar
E assim são as cruzes
Em filas tão tortas
Mostrando revoltas
Pra mudar o sertão
Mas, assim são as cruzes
Dos pobres jazigos
Lembrando os castigos
De tantos perigos
E lutas em vão
Reflexo da fome
Injusta, infame
Que a muitos consome
No duro sertão.
E me vejo nas cruzes
Por todos os lados
Um crucificado
Mais um no sertão