Menino bonito
De cabelos cacheados...
O que tanto te impede
De manter os olhos fechados?
O que tanto te assombra
Te perturba e tira o sono?
Parece que foges, perdido
Como um cão de rua, sem dono.
Mas será que foges?
Ou será que procuras?
Talvez um pouco de cada
Talvez uma escolha às escuras...
Pareces tão confuso
Inconsientemente assustado
Como se preso numa gaiola
Inevitavelmente castrado
Creio ser uma questão de escolha
Onde já sabes, mas não se permite
Não tem coragem, não se invade
E na angústia velada insiste...
Ah... como tanto lamento
Não sabes o quanto queria te ter
E partilhar contigo tais dúvidas
Te encontrar pra de vez te perder...
Deleitar-me de teu vigor de homem
E te fazer perceber novamente
Que ultrapassando o êxtase do prazer
Numa mulher a Vida se sente
Provocar-te a ir mais a fundo
Transpondo o superficial do teu olhar
Permitindo-me render aos teus encantos
Permitindo-te por mim se apaixonar
Mas se nada sou eu para ti?
O que ousarás ser tu para mim?
Talvez um doce perfume usado
Ou a lembrança de um lindo jardim
E não me faço sofrer nenhum pouco
Nem pelo quase desprezo, nem pela indiferença
Pois mais apaixonante que teu olhar selvagem
É a minha maneira de me ver: profunda e intensa
E assim ficamos no vazio de uma noite
Na frieza de um quarto de motel escondido
Na incongruência de uma segunda-feira
Na despedida de um olhar incompreendido...
Jéssica Andrade