me vejo em oração
as feições contraídas
sobrevida da vida remexida
descida íngreme do ser
se aperceber do nada
saravaidas de tristezas
incertezas
só na firmeza da fé
é o que é
não adianta...
sacripantas é como sou
vou e vôo...
e enjôo da vida vulgar
só a pensar no que não dou
do que não sou
e peço e imploro
no meu choro quente deslavado
abafado dentro do peito
sem jeito de saber
nos trejeitos do fazer...
está a anoitecer
lá fora o clarão da lua
rua deserta
e os meus murmúrios
murmurantes de perdão
correm pelo ar
a me acusar
a entornar sobre a cabeça
e antes que eu ensurdeça
me ajoelho
e me aconselho com as estrelas
elas brilham pra mim
mas não me tocam
me olham,
me ignoram
enquanto o meu choro
e a minha dor
me defloram
Soninha Ferraresi Porto®