Meu amor, meu Amado, vê... (Florbela Espanca)

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Meu amor, meu Amado, vê... repara:

Pousa os teus lindos olhos de oiro em mim,

- Dos beijos de amor Deus fez-me avara

Para nunca os contares até ao fim.



Meus olhos têm tons de pedra rara

- É só para teu bem que os tenho assim -

E as minhas mãos são fontes de água clara

A cantar sobre a sede de um jardim.

Sou triste como folha ao abandono

Num parque solitário, pelo Outono,

Sobre um lago onde vogam nenúfares...

Deus fez-me atravessar o teu caminho...

- Que contas dás a Deus indo sozinho,

Passando junto a mim, sem me encontrares? -

Florbela Espanca (1894-1930)