Não preciso do teu passado,
bem podes cultivá-lo em ti...
Mais te quero o arado
que o risco insuspeito de julgar-te.
Que em ti floresça meu sepulcro grato,
Malgrado o tempo dos teus enganos,
porque dos meus, ainda mais humanos,
deles todos me deserdei de enfado.
Não preciso do barco jovem e fugaz.
Mais me apraz a quilha carcomida
pelas ondas e escolhos da vida,
onde me rasgue em tépidos humores
e me acalmem as dores tuas algas,
fidalgas algas de tantos amores
e viagens tantas de destino incerto,
que me deserdem do meu deserto.
Desde que o teu caminho escuro,
repetido, em que juro em preces
a minha gratidão desvairada,
me ofereça a paz em que amanheces;
E sorva a luz dos olhos da fera
que me regenera o sulcado peito
feito uma seara infinda, onde pássaros
embrenhados cantem sua canção mais linda.